O exemplo do Japão: lixo é um problema de cada cidadão
Do batom à bolinha de pingue-pongue, tudo deve ser descartado no lugar certo
No Japão, uma estação de metrô em Yokohama, sem lixeiras e impecavelmente limpaoglobo.globo.com
CLAUDIA SARMENTO / O GLOBO
TÓQUIO - A capital japonesa é uma das cidades mais limpas do mundo, mas nem adianta procurar latas de lixo nas ruas, a não ser em frente às lojas de conveniência. O lixo é um problema de cada cidadão e se desfazer dele adequadamente é lei. O certo, portanto, é levá-lo para casa e separá-lo para a coleta. A divisão dos resíduos varia de uma região para outra e pode englobar mais de dez categorias, de tampinhas a eletrodomésticos (só os pequenos aparelhos, até 30 centímetros, pois os grandes devem ser recolhidos por um serviço especial). É bastante trabalhoso. Mas funciona.
Você tem o hábito de separar o lixo em casa?
O Japão produz uma grande quantidade de lixo cerca de 52 milhões de toneladas vindas apenas de domicílios , mas cada cidade já tem suas leis para a reciclagem. Não basta pensar apenas nos conceitos de incinerável ou não. O processo está num estágio bem mais avançado que isso.
— A maneira como você cuida do lixo é fator fundamental na relação com os vizinhos. Os próprios moradores fiscalizam a separação, ficam sempre de olho para ver quem não está fazendo a coisa certa , conta a brasileira Sueli Gushi, que vive na região metropolitana de Tóquio.
A única maneira de aprender é seguindo um manual. O plástico exige maiores cuidados, tendo que ser dividido nas seguintes categorias: tubos; garrafas (mas não as PETS, que devem ser tratadas separadamente); tampas; caixas; sacolas e filmes; recipientes e copos; bandejas e itens que não se encaixarem em nenhuma dessas divisões, como colheres, cabides e pratos. Tudo tem que ser lavado e colocado em sacos transparentes para serem recolhidos uma vez por semana.
Na cidade de Yokohama, a meia hora da capital, os moradores recebem uma lista de instruções com quase 30 páginas. O detalhamento abrange mais de 500 itens. Quando a prefeitura iniciou a campanha, foi criticada pelo radicalismo. Até para se livrar de um batom, o morador precisava consultar o manual: o tubo devia se juntar à pilha de "metais pequenos" (que inclui também frigideiras menores do que 30 centímetros, por exemplo), mas antes o conteúdo que restara tinha que ser retirado e levado para o saco de restos incineráveis, onde também se encaixam bolinhas de pingue-pongue.
Apesar da trabalheira, a população acostumada às regras rígidas de uma sociedade onde o coletivo está acima do individual aderiu. Entre 2001 e 2009, o volume de lixo que não pode ser reciclado caiu 42%.
Em Odaiba, um dos bairros mais modernos de Tóquio, com prédios futuristas de cara para a baía, o reaproveitamento do lixo é de 100%. Os detritos não biodegradáveis são enviados diretamente para uma usina de processamento através de uma extensa rede. A energia produzida é utilizada pelos prédios da própria região. Já a parte biodegradável vira fertilizante.
Globo Rio
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