segunda-feira, 1 de junho de 2015

A MEDITAÇÃO POR MATHEUS SCHARF


A Meditação como princípio do autoconhecimento


Você decidiu ler este texto por alguma razão. Independente da motivação que o levou até aqui, peço o máximo da sua atenção com alguns simples e rápidos procedimentos para podermos prosseguir com este tema logo adiante. Você não é obrigado a seguir o que se pede, mas para que compartilhemos mais profundamente esta experiência, acredito que terá mais efeito se fizermos esta pequena pausa.
Pare por um instante.
Feche todas as janelas e abas do seu computador com exceção deste texto. Coloque o seu computador e seu celular no modo offline enquanto lê o post. Talvez você esteja no seu ambiente de trabalho, em sua casa ou em qualquer lugar passando seu tempo lendo as últimas atualizações. Não importa. Apenas reserve um minuto para realizar este pequeno experimento. Se por algum motivo não for possível se desconectar ou fazê-lo agora, continue lendo e faça em uma hora melhor.
Corrija sua postura de maneira que fique mais confortável e possa respirar melhor. Escolha algum ponto ou objeto para fixar seu olhar ou, se preferir, feche seus olhos. Durante este tempo, tente não desviar o olhar ou a sua atenção para nenhum outro ponto que não seja sua respiração.
Respire.
Preste atenção em como o ar entra e sai de seu corpo. Sinta-o fluindo por suas vias aéreas até encher completamente seu pulmão. Perceba como ele infla seu abdome e seu tórax e em seguida relaxa com a expiração. Faça isto com plena atenção, inspire e expire lentamente. Repita pelo menos dez vezes. Em seguida, continue a leitura abaixo.
Percebeu como há uma oscilação na sua atenção entre seu pensamento e a realidade? Uma espécie de flutuação entre o nosso mundo interno e externo? Dependendo do ambiente em que você está, a intensidade será diferente. Quanto mais estimulado você foi ao longo do dia, mais sua mente trará pensamentos relacionados ao passado, ao que você viu e experimentou durante os últimos dias, ao que você projeta no futuro distante ou nas próximas horas.
Se o experimento não foi realizado, tudo bem. Você conseguirá sentir, mas não com tanta profundidade, o que estou te dizendo simplesmente prestando atenção às palavras.
O exercício que passei para você é um dos mais básicos e simples da meditação. Por ser um hábito presente desde a antiguidade, ele está presente em várias religiões antigas em todo o mundo sob diferente práticas. Recentemente, a ciência Ocidental, especialmente a psiquiatria, está aos poucos explorando e comprovando resultados benéficos que a prática da meditação é capaz de proporcionar.
Temos uma mente fantástica, porém, pouquíssimos de nós realmente tivemos um treinamento para usá-la de maneira mais disciplinada, tranquila e saudável em nossas vidas. Alguns nem fazem essa dissociação porque em nenhum momento foi ensinado a elas que sua mente é uma parte da totalidade do seu ser. Elas não têm plena consciência disso. Consequentemente, é cada vez mais comum encontramos pessoas extremamente estressadas e sem saber como lidar com as suas perturbações.
Somos quase que ininterruptamente estimulados e identificados com nossos pensamentos. Esta centralização da mente acaba sendo predominante em todas as nossas relações.  Nos identificamos com ela, dialogamos, fomentamos uma autoimagem de quem somos a todo momento. Assim, dificilmente paramos para sentir aquele silêncio dentro de nós e estudar mais a sua natureza.
Por anos eu senti que meus pensamentos estavam no comando de minhas decisões. Eu não conseguia distinguir o ego da minha existência. Era algo que estava enraizado e naturalizado em meu viver até eu descobrir a meditação.
Práticas meditativas são constantemente associadas a algo místico e religioso. Eu, por exemplo, costumava as relacionar com os monges budistas tibetanos ou aos hinduístas e várias outras religiões do Oriente. Mas a curiosidade me fez dissipar esses estereótipos, de modo que agora as vejo como um verdadeiro treinamento da mente, um momento em que paro para simplesmente observar, sentir minha base natural silenciosamente e viver o presente.
Por isso, a meditação não precisa estar necessariamente vinculada com algum cunho religioso ou místico. Você pode fazer em casa, sem precisar recitar mantras ou fazer posturas específicas. Faça do seu modo, em um ambiente agradável e tranquilo de sua escolha. Não se prenda às imagens ou técnicas.
Assim, você pode dar um significado pessoal a sua prática de meditação. Particularmente, eu a considero um exercício fundamental para o autoconhecimento. É por meio de sua prática que eu consigo perceber e observar minhas emoções e fraquezas, a maneira como meus pensamentos flutuam em meu consciente e como lido com eles. Quanto mais eu medito, mais eu consigo lidar com as minhas reações e pensamentos. Com este aprofundamento e o cultivo da plena atenção ao presente, passei a notar que poderia tomar ações mais autênticas e menos condicionadas a minha mente. Passei a ter consciência de um ser muito maior do que a ideia ou o pensamento que tenho de mim mesmo. Uma energia mais harmonizada com a realidade e a natureza.
Esta base natural existente em nós é inerente a nossa existência e corresponde a condição natural da nossa mente. Para conseguir senti-la com veemência, precisamos cultivar um estado de ‘não-mente’. Isto é, um estado de não manifestação ou reação. Isto não significa ter que atingir um estágio superior ou iluminado, querer eliminar o seu ego, se vestir de forma diferente ou de se privar de alguma coisa. Pelo contrário. Não é algo que se mensura ou que implica uma meta, mas em descobri-la uma vez que ela sempre esteve presente dentro de nós. Significa senti-la e se tornar mais íntimo dela, se aprofundar em nossas camadas com a simples observação autêntica dos nossos pensamentos e condicionamentos. Este processo proporciona mais confiança e completude, mais autenticidade e liberdade em sua relação com o mundo.
“O caminho da meditação é o caminho da compreensão progressivamente mais profunda dessa base natural” – Lama Padma Samtem.
Se você tem vontade de se aprofundar neste desenvolvimento através da prática da meditação, procure se atentar a estas recomendações:
  • Procure estabelecer um lugar, um ponto da sua casa para você praticar regularmente. É interessante notar que em muitas casas no Oriente, as famílias têm uma sala ou um lugar no terreno de suas propriedades especialmente dedicados para serem realizadas estas práticas de meditação e oração. Em comparação, seria como a nossa sala de estar para se sentar e relaxar. Como eu não tenho espaço suficiente para criar uma sala própria de meditação no momento, procuro fazer este ambiente no meu próprio quarto, em cima da minha cama com os meus travesseiros. :)
  • Tente transformar a meditação num hábito, assim como escovar os dentes, tomar banho ou ir para a academia. Procure incorporar de maneira mais natural possível no seu dia a dia. No início, você sentirá uma resistência e encontrará os primeiros obstáculos. Não desista. Depois de algumas semanas, será algo normal e prazeroso como tomar um café da manhã.
  • Estabeleça um horário que seja mais propício e calmo, que você não seja interrompido e possa se desligar do mundo externo. Este é um momento que deve ser exclusivamente seu. Geralmente o horário da manhã, antes de ir ao trabalho e no fim da noite são os melhores. Inicie fazendo sessões de 5 minutos para você se adaptar, podendo estender mais conforme você vai se sentindo mais a vontade.
  • Não se preocupe com a maneira como você está realizando esta prática. Aprenda as posturas e os passos básicos e aprimore com o tempo. Conhecer e pesquisar mais auxilia a você melhorar e intensificar seu treinamento. Como disse, a curiosidade é o seu impulsionador e a prática o caminho.
  • Seus pensamentos não param? Parabéns! Você está começando a ter consciência e a observar como eles se comportam quando você não está fazendo nada além de prestar atenção. Aos poucos você vai notar como eles têm influência em suas ações e nas suas emoções.
  • Está sentindo muita dificuldade e ansiedade em se manter sentado sem que sua mente interfira? Isso faz parte do autoconhecimento. Se você não está conseguindo administrá-los, não force ou alimente mais pensamentos. Tente observá-los sem julgamentos ou racionalizações. Ou seja, não corte o pensamento com o pensamento. Este é o momento de somente sentir o silêncio em você, observar seus ruídos internos e aprender como eles te influenciam. Portanto, observar a realidade inclui também as suas flutuações mentais. Afinal, está tudo relacionado. Seja um espectador neutro, sem opinião. Somente assista.
  • Embora a prática da meditação seja progressiva, não espere que vá acontecer algo durante suas sessões. Apenas sinta o seu corpo respirar e preste atenção ao momento presente. A meditação é tão simples que parecerá algo não tão interessante para se dedicar, uma vez que é só sentar, respirar e observar. Isso é resultado de nossa cultura extremamente ansiosa por algum entretenimento e por algo que nos surpreenda. Conhecer e lidar com este fator cultural presente em nosso comportamento faz parte do treinamento.
  • Fonte : Matheus Scharf

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