sexta-feira, 20 de maio de 2016

BRASIL : CRISE DO EMPREGO.

Crise do emprego, a geração perdida e a impopularidade do governo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em maio 20, 2016

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[EcoDebate] As mobilizações de junho de 2013 que ocorreram nas principais capitais do Brasil e que agitaram principalmente os jovens, foram reflexos da crise econômica que se abateu sobre as regiões mais dinâmicas do país.
O mercado de trabalho vinha criando vagas e abrindo oportunidades para os jovens, em especial, os mais escolarizados. A taxa de ocupação (População economicamente ativa – PO/População em idade ativa – PIA) aumentou entre março de 2002 e dezembro de 2012 nas 6 regiões metropolitanas. O nível de ocupação sempre foi maior em Belo Horizonte (BH), São Paulo (SP) e Porto Alegre (PoA), do que em Salvador, Recife e Rio de Janeiro (RJ), segundo dados da PME do IBGE.
Mas de 2013 para a frente, os jovens sentiram o esfriamento do mercado de trabalho. A dimensão da crise não estava clara, mas os jovens na rua mostraram que existia algo errado. O governo Dilma Rousseff e os ideólogos do PT cometeram um erro grave de não perceber a real causa da insatisfação da juventude. O bloco governista considerou que as manifestações eram de direita e que existia que aquelas manifestações contra o governo eram sinais de um fascismo impregnado na sociedade brasileira. A esquerda governista não teve a humildade de perceber que as manifestações contrárias ao governo petista tinham bases reais e não reconheceram os erros cometidos nos anos anteriores.
O que já estava ruim em 2013 piorou muito em 2015 e 2016. A taxa de ocupação de jovens de 18 a 24 anos caiu em todas as 6 Regiões Metropolitanas. No Rio de Janeiro, Recife e Salvador a taxa ficou abaixo de 45% (isto quer dizer que 55% destes jovens não tinham emprego). Em Belo Horizonte a taxa de ocupação caiu de quase 70% para menos de 50%. Em São Paulo e Porto Alegre a taxa caiu mais ainda há mais jovens ocupados do que desocupados e fora da PEA.
O gráfico abaixo mostra que o número de jovens de 18 a 24 anos ocupado subiu de 3 milhões em março de 2002 (taxa de 52,4%) para 3,3 milhões (taxa de 62,5%) em dezembro de 2012, embora a PIA de 18 a 24 anos estivesse diminuindo. Porém, em dezembro de 2014 o número de jovens na PO tinha caído para 2,9 milhões e a taxa de ocupação abaixou para 58,5%. Mas a situação piorou muito com a estagflação de 2015, sendo que o número de jovens na PO caiu para 2,4 milhões em fevereiro de 2016, representando uma taxa de ocupação de 49,6%. Nunca, na série da PME, a taxa de ocupação de jovens de 18-24 anos foi tão baixa e nunca tinha ficado abaixo de 50%. A diminuição absoluta do número de jovens abriu uma janela de oportunidade para melhorar a taxa de ocupação e a qualidade do emprego e dos salários. Mas a crise jogou tudo por terra, parindo uma geração perdida.

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Essa crise no mercado de trabalho e a falta de perspectiva para os jovens é uma das causas da queda de popularidade da presidenta Dilma Rousseff. Na consulta à opinião pública em março de 2013, a Datafolha apurou um índice de ótimo e bom da avaliação do governo de 65%. A avaliação regular estava em 27% e o índice de ruim e péssimo estava em apenas 7%. Esta avaliação excepcional tinha sido poucas vezes atingida na história da República. Porém, em julho de 2013, os índices tinham passado para 30% de ótimo e bom; 43% de regular e 25% de ruim e péssimo. Ou seja, a estagnação do mercado de trabalho, especialmente para os jovens, explica grande parte desta queda de popularidade (nota-se de que a operação Lava-jato contra a corrupção foi lançada só em 2014). Após as manifestação, o governo começou a tomar uma série de medidas para estimular a economia e para ampliar as políticas sociais visando recuperar a popularidade e ganhar as eleições de 2014. De fato, os índices de ótimo e bom voltaram para a casa dos 40% no segundo semestre de 2014 e garantiram a reeleição.

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Houve um colapso do emprego a partir de dezembro de 2014, logo após as eleições presidenciais. Junto com a perda de vagas caiu também os indicadores de avaliação da presidenta Dilma. O índice de ruim e péssimo, que estava em 20% na época das eleições subiu para 62% em março de 2015 e 71% em agosto de 2015. O índice de ótimo e bom que estava em 40% na época das eleições caiu para 8% em agosto de 2015. Toda a sociedade brasileira sentiu que houve um golpe chamado estelionato eleitoral.
Como consequência, e reforçando os efeitos da crise e da queda da popularidade da presidenta Dilma Rousseff, as manifestações de rua do dia 13 de março de 2016 foram as maiores da história do Brasil. Estima-se em mais de 6 milhões de pessoas nas ruas de todas as capitais das UFs e de centenas de cidade pelo Brasil afora. O destino do governo foi selado nas ruas.

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Existem muitas teorias conspirativas para explicar a queda da presidenta Dilma Rousseff que deixou o Palácio do Planalto no dia 12 de maio de 2016. Muitos estudos precisam ser feitos para descrever com detalhes este período histórico. Mas sem dúvida a crise no mercado de trabalho e a falta de perspectiva para a juventude brasileira foi um fator decisivo para o que ocorreu no Brasil.
O gráfico abaixo mostra a taxa de ocupação (PO/PIA) dos jovens de 18-24 anos, segundo a PME, e o índice de ótimo/bom da pesquisa de avaliação do governo Dilma Rousseff. Nota-se que existe uma relação entre as duas curvas. De 2011 a dezembro de 2012 a taxa de ocupação dos jovens cresce e também a avaliação positiva do governo. Mas no primeiro semestre de 2013 a taxa de ocupação cai e também o índice de aprovação do governo. No segundo semestre de 2013 ambos se recuperam. O mesmo acontece em 2014 com ambos os indicadores caindo no primeiro semestre e se recuperando no segundo semestre. Em 2015 existe um colapso na taxa de ocupação dos jovens e um colapso na popularidade da presidenta Dilma.

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Os jovens são o futuro do Brasil. Jovens sem futuro significa Brasil sem futuro. Jovens sem oportunidades no mercado de trabalho significa uma economia capenga, falta de mobilidade social ascendente e carência de força de trabalho para financiar as contribuições à previdência social e para garantir a qualidade de vida dos idosos. Não dar opções para uma geração perdida é fazer com que o Brasil também fique perdido.
O novo governo precisa aprender a lição dos últimos anos e dar esperança para essa geração perdida. Senão quem vai estar perdido é o novo governo e os governantes que não conseguirem dar alento para os filhos da população brasileira. Mas a juventude pode envelhecer antes de ficar adulta e o Brasil pode ficar decrépito precocemente.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 20/05/2016

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