Fumaça Preta – Porque não é muito inteligente queimar pneus ou ônibus, artigo de Norbert Suchanek
Foto: EBC
[Ecodebate] O dia 28 de abril de 2017, foi o dia da fumaça preta. No Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, São Luiz e várias outras cidades brasileiras, manifestantes e black blocs do evento chamado “Greve Geral” queimaram dezenas de pneus e vários ônibus inteiros e colocaram ruas e bairros em nuvens de fumaça preta. Isto foi um ato não somente contra a saúde das populações dos lugares afetados, mas também contra os próprios manifestantes. O resultado desta orgia de chamas pode ser fatal para as pessoas que involuntariamente inalaram este ar pesado da fumaça preta.
Pneus não são fabricados apenas com borracha natural dos seringueiros do Acre. Eles são um produto industrial bastante complexo e contém um verdadeiro cocktail de químicos: vários tipos de borracha natural e borracha sintética à base de petróleo, o elemento químico negro de fumo, poliéster e nylon, fios de aço, óxido de zinco e ácido esteárico, enxofre e vários antidegradantes, aceleradores e retardadores. Concretamente um pneu comum contem 27% borracha sintética, 14% borracha natural, 28 % negro de fumo, 17 % de derivados de petróleo e produtos químicos, 10 % aço e 4 % têxtil, que também são produtos químicos.
Por isto, quando se queima um pneu vários gases tóxicos são liberados e tantos outros nascem das chamas, como por exemplo: monóxido de carbono, ácido benzeno, óxido de enxofre, óxidos de metais pesados, furanos e várias dioxinas.
Especialmente as dioxinas e furanos são substâncias perigosíssimas, porque elas são teratógenas (causam má formação fetal), mutagênicas (causam mutações genéticas) e carcinogênicas (causam vários tipos de câncer no corpo). Sem dúvida, as dioxinas estão no top da lista das químicas mais tóxicas da humanidade e podem criar deformações embrionárias horríveis. A dioxina TCDD, por exemplo, é conhecida como a grande vilã dentro do famoso agrotóxico chamado Agente Laranja (Agent Orange), usado pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã, que criou sofrimento inexplicável aos milhões de vietnamitas afetados.
“Para que tenhamos uma ideia: a queima de pneus a céu aberto é 13 mil vezes mais mutagênica que a queima de carvão”, escreveu o Deputado Marcos Mullerem, em 2016, na justificativa do seu projeto de lei Nº 2176/2016 para proibir a queima de pneus. E a diretora do Departamento de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos do Ministério do Meio Ambiente, Zilda Maria Faria Veloso, disse: “Se queimado, o produto (pneu) libera componentes químicos pesados e poluentes classificados pelas organizações internacionais como os mais tóxicos já produzidos pelo homem. Esses elementos não são degradados nem pela atmosfera, nem pelo corpo humano, que desenvolve doenças como o câncer e a infertilidade.”
Uma substância altamente perigosa da fumaça dos pneus também é o benzeno. “Há relação causal comprovada entre exposição ao benzeno e ocorrência de todos os tipos de Leucemia”, disse Danilo Costa, médico da Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo na sua publicação “A luta contra a intoxicação pelo Benzeno no Brasil”.
Em conjunto, qualquer pessoa que esteja inalando a fumaça tóxica dos pneus queimados pode ter alergia respiratória, como rinite, tosses e espirros. Mais vulneráveis são ainda crianças, idosos, grávidas e asmáticos. “As pessoas nem imaginam o quanto é tóxico à saúde. Quem tem tendência à insuficiência respiratória fica mais suscetível a ter infecções, a exemplo de gripes, viroses e até a pneumonia”, alerta a pneumologista Fátima Alécio.
Mas dentro deste cocktail de tóxicos da fumaça preta da queima de pneus ou de transportes coletivos cheio de produtos plásticos, tem uma substância ainda mais perigosa e mortal. Um veneno extraordinário chamado cianureto de hidrogênio ou ácido cianídrico ou ácido prússico. Este gás cianídrico é um verdadeiro assassino e já causou o morte de milhares de vítimas envolvidas em incêndios com produtos plásticos. Este tóxico também é a base de um gás conhecido como Zyklon B (Ciclone B) produzido pela empresa alemã “Degussa AG” e usado nas “câmaras de gás” dos campos de extermínio do regime do Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial.
Por isto: Queimar pneus ou ônibus para bloquear ruas ou para mostrar presença não é uma boa ideia, é uma violência contra o meu ambiente, contra o povo brasileiro – e para o próprio manifestante é uma forma de suicídio mais ou menos lento e doloroso.
Norbert Suchanek, Rio de Janeiro, Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, é colaborador internacional do EcoDebate. www.norbertsuchanek.org
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/05/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário. Aguarde a publicação após a aprovação da Professora Conceição.