sexta-feira, 30 de março de 2018

O CATOLICISMO ESTÁ MORRENDO NA EUROPA ?

O catolicismo está morrendo na Europa? 


afiliação religiosa de jovens de 16 a 29 anos em 22 países europeus
[EcoDebate]O Cristianismo vive um momento crítico nos países que dividem o mesmo território continental com o Vaticano. Tudo indica que a Europa caminha para uma sociedade pós-católica e pós-cristã, pois os jovens estão abandonando a religião.
Dados do relatório “Europe’s Young Adults and Religion” (Bullivant, 2018) indicam que a maioria das pessoas da geração do milênio, em 22 países selecionados, não segue nenhuma religião. A pesquisa com jovens de 16 a 29 anos mostra que a República Tcheca é o país menos religioso da Europa, com 91% da juventude dizendo que não têm filiação religiosa. Na Estônia são 80%. A percentagem de jovens sem religião também é muito alta na Suécia (75%), na Holanda (72%) e no Reino Unido (70%).
Outros países que possuem mais de 50% dos jovens de 16 a 29 anos que se declaram sem religião são: Hungria (67%), Bélgica (65%), França (64%), Dinamarca (60%), Finlândia (60%), Noruega (58%) e Espanha (55%). Os países com menor percentual de jovens sem religião são: Lituânia (25%), Polônia (17%) e Israel (1%), conforme mostra o gráfico acima.
Nos países nórdicos, entre os jovens religiosos, predominam os protestantes (evangélicos), vindo os muçulmanos em segundo lugar e os católicos em distante terceiro lugar. Na Suécia havia 16% de protestantes, 6% de muçulmanos, e 1% de católicos, 1% de ortodoxos e 1% de outras religiões não cristãs. Na Noruega, Finlândia e Dinamarca os protestantes são pouco mais de um teço da população, os muçulmanos em torno de 4% e os católicos em torno de 1%.
Na Holanda, os jovens católicos com 7%, perdem para os protestantes (9%) e os muçulmanos (8%). No Reino Unido, os católicos (10%) estão quase empatados com os protestantes (9%) e estão pouco à frente dos muçulmanos (6%). Na França os católicos são 23%, os protestantes 2% e os muçulmanos 10%. Na Rússia, são 40% de ortodoxos e 9% de muçulmanos (e praticamente não existem católicos). Em Israel são 78% de israelitas, 20% de muçulmanos e também, praticamente, não há católicos. Na Espanha os católicos são 37% e os muçulmanos 5%. Em Portugal, os católicos são maioria da população de jovens (com 53%), sendo o país europeu (junto com a Polônia e a Lituânia) com a menor proporção de muçulmanos (menos de 1%).
O gráfico abaixo apresenta a proporção de católicos entre os jovens de 16 a 29 anos de 22 países. Nota-se que os católicos são maioria em apenas 5 países, com destaque para a Polônia, com 82% de católicos, 17% de jovens sem religião e apenas 1% das outras religiões. Em segundo lugar vem a Lituânia com 71% de católicos, 25% de sem religião e 4% para todas as outras. Eslovênia, Irlanda e Portugal tinham em torno de 54% de católicos e algo em torno de 40% de sem religião. Em seguida, na ordem da proporção de católicos, vinha a Áustria (44%) e a Espanha (37%).
Nos demais 15 países, os católicos estavam bem abaixo de 30%, sendo Hungria (26%) e Suíça, França, Bélgica e Alemanha variando entre 24% e 20%. No Reino Unido os católicos são 10% e no restante das 9 nações, a proporção de católicos estava entre 7% e 0%.
proporção de jovens de 16 a 29 anos que se declaram católicos em 22 países europeus
O relatório também traz a proporção de jovens que frequentam as igrejas. Evidentemente, a maior participação nos cultos ocorre na Polônia com 39% dos jovens dizendo que frequentam os cultos uma ou mais vezes por semana. Estranhamente, na Lituânia – que tem 71% de população católica – apenas 4% dos jovens dizem frequentar os cultos uma ou mais vezes por semana. Já na República Tcheca, 70% dos jovens jamais vão aos cultos. O número de jovens ausentes das igrejas é também muito elevado (em torno de 60%) na Holanda, Espanha, Reino Unido, Bélgica e França.
Para o continente como um todo, o cenário é de prevalência dos jovens sem religião ou daqueles que declaram uma filiação religiosa mas frequentam muito pouco os cultos semanais. O declínio da influência cristã (católicos e protestantes/evangélicos) é evidente. Os muçulmanos, em geral, são ampla minoria, mas fazem parte do grupo religioso com o maior crescimento e na Holanda e nos países nórdicos já superam os católicos.
O que estes números representam para o Brasil?
Embora seja difícil fazer uma comparação muito refinada, o Brasil, que conta com uma tradição cultural predominantemente europeia e católica (portuguesa, espanhola, italiana, etc.), não está totalmente distante do novo padrão europeu de secularização e declínio do catolicismo e do cristianismo. O Brasil talvez tenha um comportamento intermediário entre o que acontece com Portugal e Espanha.
Os dados dos censos demográficos do IBGE mostram que os cristãos no Brasil, em 1970, representavam 97% da população (91,8% de católicos e 5,2% de evangélicos) e diminuíram para 87% em 2010 (64,6% de católicos e 22,2% de evangélicos). Ou seja, o cristianismo como um todo está em declínio, mas permanece ampla maioria no país.
Enquanto os evangélicos crescem no Brasil, a situação é crítica para o catolicismo. Como já mostrei em vários outros artigos, o país passa por uma transição religiosa. Os católicos continuam como o grupo majoritário, mas perdem espaço em termos absoluto e relativo. Os evangélicos, em sua multiplicidade e diversidade, fazem parte do grupo que mais cresce. Mas também tem aumentado as demais denominações não cristãs e o número de pessoas que se declaram sem religião. Isto quer dizer que o Brasil está passando por uma mudança de hegemonia entre os dois grupos cristãos (católicos e evangélicos), ao mesmo tempo em que aumenta a pluralidade religiosa, pois cresce e diversifica a proporção das filiações não cristãs.
Uma projeção linear com base nos dados dos censos demográficos (Alves, 11/01/2017) mostra que haverá uma mudança no grupo religioso hegemônico em 2036, quando os evangélicos (em sua multiplicidade), estarão com 40,3% das filiações brasileiras e ultrapassarão os católicos, que estariam com 39,4%.
Já uma projeção linear com base nos dados das pesquisas do Instituto Datafolha (Alves, 18/01/2017) indicam que a mudança de hegemonia entre os dois grupos cristãos pode ocorrer em 2028, quando os evangélicos teriam 37,2% das filiações e os católicos teriam 36,4%.
Desta forma, percebe-se que em ambas as projeções os cristãos brasileiros continuarão representando mais de dois terços das filiações religiosas, mas os católicos deverão ficar abaixo de 40% nos próximos 10 ou 15 anos. A dúvida é em relação ao crescimento dos sem religião. No último censo demográfico havia 8% de pessoas se declarando sem religião. Na pesquisa Datafolha de dezembro de 2016, este percentual foi de 14%. Vamos seguir o padrão europeu?
O Brasil ainda está longe de atingir o grau de secularização europeia. Mas não é improvável, que no longo prazo, o cenário religioso da Europa atual, com alta presença de jovens sem religião, também se reproduza nos trópicos, ao sul do Equador.
Referências:
ALVES, JED. Uma projeção linear da transição religiosa no Brasil: 1991-2040, Ecodebate, 11/01/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/01/11/uma-projecao-linear-da-transicao-religiosa-no-brasil-1991-2040-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. A transição religiosa em ritmo acelerado no Brasil, Ecodebate, 18/01/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/01/18/transicao-religiosa-em-ritmo-acelerado-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
BULLIVANT, Stephen. Europe’s Young Adults and Religion Findings from the European Social Survey (2014-16) to inform the 2018 Synod of Bishops. St Mary’s University, Twickenham,
UK, Institute Catholique de Paris, France, Benedict XVI Centre for Religion and Society, 2018
https://www.stmarys.ac.uk/research/centres/benedict-xvi/docs/2018-mar-europe-young-people-report-eng.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/03/2018

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