Cientistas chamam a atenção para o lento progresso rumo às metas de biodiversidade das Nações Unidas
Cientistas dos Estados Unidos e do Brasil alertam que o atual progresso global em direção às metas de sustentabilidade da ONU não é rápido o bastante para evitar a crise da biodiversidade
Equipe elogia o amplo empenho, mas pede participação mais abrangente para melhor proteger os ecossistemas marinhos do mundo todo
Academia de Ciências da Califórnia*
Cientistas dos Estados Unidos e do Brasil alertam que o atual progresso global em direção às metas de sustentabilidade das Nações Unidas (ONU) não é rápido o bastante para evitar a crise da biodiversidade.
Uma equipe científica liderada pela Academia de Ciências da Califórnia avaliou o progresso em direção às metas de biodiversidade, impulsionadas pela Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, especificamente direcionada à proteção dos oceanos e mares do mundo. Em um estudo publicado ontem na revista Perspectives in Ecology and Conservation, eles argumentam que a maioria dos países signatários não estão a caminho de alcançar as metas, que algumas das metas são estruturadas para dar uma falsa sensação de conquista de preservação e que essas metas precisam ser reestruturadas para incorporar incentivos adequados de preservação que incutem esperança válida para o futuro.
“Nós queremos chamar a atenção para o fato de que enquanto os comprometimentos das partes signatárias às metas de sustentabilidade da ONU são importantes e necessários, eles também estão desconsiderando desafios críticos à preservação,” diz o Dr. Hudson Pinheiro, autor principal e pesquisador pós-doutorado da Academia. “Nós queremos que os formadores de políticas reconheçam que algumas metas precisam ser reavaliadas e melhoradas para otimizar a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos do mundo e para fazer real progresso em direção a impedir a crise de biodiversidade.”
Em sua avaliação, a equipe considerou o Acordo de Paris, que inclui 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (mais especificamente o ODS-14, que lida com os problemas do oceano), e as Metas de Aichi (Meta 11 de proteger 10% do oceano até 2020). Esses objetivos são continuamente promovidos pela Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU e pelos países signatários, que na semana passada se reuniram no Egito.
A equipe apresentou desafios e recomendações relacionadas às seguintes áreas de prioridade de preservação: áreas marinhas protegidas, gestão do ecossistema costeiro, sobrepesca, poluição marinha e acidificação do oceano.
Um objetivo de sustentabilidade destacado pela equipe exige que os países signatários protejam 10% de suas águas costeiras como áreas marinhas protegidas, ou AMPs, até o ano de 2020. No entanto, muitos países estão protegendo vastas extensões do oceano que são de baixo conflito e com pouca diversidade biológica, em vez de focar em regiões costeiras que estão em maiores dificuldades, a fim de alcançar a meta.
“Águas do litoral tem uma maior diversidade de espécies e enfrentam mais ameaças imediatas provindas da extração de energia, turismo, desenvolvimento, degradação do habitat e sobrepesca,” diz o Dr. Luiz Rocha, co-líder da iniciativa Esperança Para os Recifes da Academia, que ano passado argumentou em um op-ed do New York Times que o estabelecimento de uma vasta MPA em mar aberto no Brasil foi bem-intencionada mas significativamente falha. “Se deixarmos esses altamente vulneráveis locais ricos em biodiversidade em risco, não estamos realmente cumprindo a meta de proteger os mares.”
Para dissuadir os países de proteger grandes faixas de habitat do oceano que favorecem áreas de baixo conflito e de baixa diversidade, a equipe recomenda abandonar a meta numérica de proteger 10% do território marinho do país. Em vez disso, os países deveriam focar em proteger o maior número de espécies e tipos de ecossistemas, para melhor alinharem-se com os objetivos finais de preservação.
A equipe também avaliou as metas de sustentabilidade que visam minimizar os impactos da acidificação do oceano em ecossistemas marinhos por reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Eles observam que, a fim de reduzir o consumo de combustíveis fósseis e alcançar esses alvos, muitos países mudaram seu foco para expandir os setores de energia “limpa”, como hidroeletricidade, que ainda depende de práticas que poluem o meio ambiente.
A equipe apoia diversas abordagens adaptáveis de gestão, incluindo encorajar os líderes da indústria e os governos locais a promover políticas que promovem a preservação marinha apesar da posição de seus respectivos governos nacionais. Por exemplo, a Academia de Ciências da Califórnia se tornou o primeiro grande museu a assinar o Acordo de Paris ano passado quando o governo federal se recusou a se comprometer, e os estados da Califórnia e de São Paulo estão avançando em um ritmo bem mais acelerado para alcançar as metas do que seus países (Estados Unidos e Brasil).
“Investimento em educação e assistência é essencial,” diz o Dr. Hudson. “Agora é a hora dos cientistas, gestores e partes interessadas trabalharem juntos para defender a biodiversidade marinha, serviços ambientais e recursos dos quais o mundo depende. E isso começa com uma reavaliação crítica dos objetivos de sustentabilidade, como eles estão sendo alcançados e como eles motivam a preservação marinha.”
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Referência:Hope and doubt for the world’s marine ecosystemsH.T.Pinheiro, J.B.Teixeira, R.B.Francini-Filho, A.Soares-Gomes, C.E.L.Ferreira, L.A.Rocha
* Tradução de Ivy do Carmo, Magma Translation (magmatranslation.com)
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/12/2018
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