Entomofagia, o consumo de insetos por seres humanos, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Entomofagia é o consumo de insetos por seres humanos. A entomofagia é praticada em muitos países ao redor do mundo, principalmente em partes da Ásia, África e América Latina.
Insetos complementam o cardápio de aproximadamente dois bilhões de pessoas e tem sido parte da dieta humana desde tempos remotos.
Consta que os organismos dos insetos, são enriquecidos em Nitrogênio. Se alimentar de insetos é mera questão cultural e histórica.
Contudo, apenas recentemente a entomofagia tem atraído a atenção da mídia, instituições de pesquisa, chefes de cozinha e outros membros da indústria de alimentos, além de legisladores e agências de regulamentação na área alimentícia.
O Programa de Insetos Comestíveis da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) também tem examinado o potencial de aracnídeos (aranhas e escorpiões) para a alimentação animal e humana, uma vez que, por definição, estes não são considerados insetos.
O uso de insetos como alimento, tanto para humanos quanto na nutrição animal, conferem muitos benefícios ao meio ambiente, à saúde, à sociedade. Insetos têm altas taxas de eficiência na conversão alimentar pelo fato de serem animais de sangue frio.
A razão de quantidade de alimento por produção de carne (quanto de alimento é necessário para produzir o aumento em 1 kg no peso do animal) varia grandemente dependendo da classe do animal e das práticas de produção utilizadas, sendo que os insetos são extremamente eficientes nessa questão.
Em média, insetos podem converter 2 kg de alimento em 1 kg de massa corporal, em comparação a bovinos que necessitam de 8 kg de alimento para produzir 1 kg de ganho de peso.
Produzem menos gases de efeito estufa do que a pecuária convencional. Por exemplo, suínos produzem de 10 a 100 vezes mais gases de efeito estufa por quilograma de peso.
Podem se alimentar de resíduos orgânicos, como restos de alimento e dejetos humanos, compostagem e esterco animal, podendo transformá-los em proteína de alta qualidade, inclusive para utilização na alimentação animal.
Insetos utilizam muito menos água que a pecuária convencional. Besouros, por exemplo, são mais resistentes à seca do que o gado.
A criação de insetos é muito menos dependente de extensões de terra que a pecuária convencional.
O conteúdo nutricional dos insetos depende de seu estágio de desenvolvimento ou estágio metamórfico, habitat e dieta. No entanto, é amplamente aceito que insetos são fontes de nutrientes e proteínas de alta qualidade se comparados à carne bovina e ao pescado.
Insetos são particularmente importantes como suplemento alimentar para crianças que sofrem de má nutrição, pois a maioria das espécies tem alto teor de ácidos graxos (comparáveis ao pescado). Também são ricos em fibras e micro-nutrientes como cobre, ferro, magnésio, manganês, fósforo, selênio e zinco.
Insetos são considerados animais de baixíssimo risco em relação a zoonoses (doenças transmitidas de animais para humanos) como o vírus H1N1 (gripe aviária) e o mal da vaca louca.
A coleta e a criação de insetos podem se colocar como uma importante estratégia na diversificação dos meios de subsistência. Insetos podem ser diretamente e facilmente coletados na natureza. Para tal atividade se requer um mínimo de conhecimento técnico e pouco investimento para a aquisição de equipamentos básicos de coleta e criação.
Os estamentos mais pobres da sociedade, incluindo mulheres e pessoas sem terra, seja em áreas urbanas ou rurais, podem se encarregar de coletar os insetos diretamente do ambiente, de cultivar, processar e vender.
Essas atividades além de melhorar diretamente a alimentação, podem servir como opção de renda por meio da venda do excedente da produção em mercados livres de rua.
A coleta e criação de insetos pode também oportunizar ações empreendedoras sejam em economias desenvolvidas, em transição ou em desenvolvimento.
O processamento de insetos para a alimentação humana ou animal é algo que pode ser feito com relativa facilidade. Algumas espécies podem ser consumidas inteiras. Podem também vir a ser processados em pasta ou moídos como farinha, além disso, suas proteínas podem ser extraídas.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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Referência:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/12/2019
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