quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

EDUCAR EM TEMPOS DE FAKE NEWS E NOTÍCIAS NEGATIVAS.

Educar em tempos de Fake News e notícias negativas



Fake News
Imagem: EBC

Como lidar com fake news e notícias negativas na sala de aula

Por Ivani Cardoso
Vivemos um momento difícil para os professores. Envolvidos por tantas notícias ruins e fake news, muitas vezes eles ficam sem saber como lidar com a curiosidade de seus alunos. A relação que o professor estabelece com seus alunos é uma ferramenta poderosa para ajudar no amadurecimento e na autonomia, além de prepará-los, em cada fase, para um mundo em que estão presentes temas como Fake News, depressão, desigualdade social, pessimismo e falta de solidariedade. Quem fala sobre o tema é a educadora, escritora e professora Lúcia Teixeira, autora 11 livros (O mais recente, “Caminho para ver estrelas”). Ela diz que as crianças e jovens dessa geração recebem enxurradas de fake news e notícias negativas e, se não têm o apoio dos pais e educadores para conversar sobre isso, ficam perdidos.
“Não é possível fugir da realidade, mas ela deve ser levada para a sala de aula com linguagem e abordagem adequadas a cada faixa etária. Os alunos convivem com esses temas no dia a dia, na rua, nas mídias, nas conversas. A verdade, hoje em dia, é um bem valioso. As crianças e jovens dessa geração recebem enxurradas de fake news e notícias negativas e, se não têm o apoio dos pais e educadores para conversar sobre isso, ficam perdidos. Professores e pais precisam abrir as portas para o diálogo e identificar inclusive os sinais de alerta como isolamento, tristeza, desânimo de crianças e jovens, em função de fatos da realidade que os rondam”, alerta.
Alunos vêm para a escola com um outro ritmo mental. Vivência virtual gera urgência, excitação constante. “A escola não pode ignorar isso, mas precisa lhes dar elementos que os faça refletir sobre toda essa informação, com a qual lidam de forma impaciente, superficial”

Crianças

Como as crianças não sabem às vezes verbalizar algumas coisas, podem aproveitar o “faz de conta” para se comunicar e elaborar suas próprias questões. A ficção e a fantasia, em livros, peças e filmes, não são apenas entretenimento, como explica Lúcia: “Elas ajudam a criança a compreender emoções, motivações e pensamentos dos personagens e formar, assim, um repertório para se comunicar e produzir suas próprias ideias. Assuntos adequados à compreensão de cada faixa etária podem ser introduzidos na contação de histórias, desenhos, expressão oral, músicas, atividades físicas, de lazer e outras. Trazer isso para a sala de aula requer um professor com conhecimento sobre o processo criativo, a representação do mundo na criança, a aquisição de conhecimentos, a vida real e os sonhos de seus alunos”.

Jovens

Com os jovens, falar de temas complicados exige a mediação de um professor maduro, seguro, claro e motivador, que aborde histórias reais e fictícias, para que alunos reflitam e opinem, permitindo diferentes pontos de vista, abrindo espaço também para a alegria.
“A relação que o professor estabelece com seus alunos também pode ajudar no amadurecimento e na autonomia dos mesmos e na relação de um aluno com outro. A afinidade dos jovens com as novas tecnologias e a internet podem ser usadas para pesquisas, estendendo a aprendizagem além dos limites da sala de aula. Incentivar o bom desempenho, com disciplina, compaixão, empatia e perseverança. Família e escola são complementares, formam valores e a motivação de crianças e jovens. O ambiente da escola e de casa precisam incentivar um bom comportamento, atitudes corretas, éticas e responsáveis.
O exemplo vale mais que mil palavras”, completa a educadora.
Para ela, educadores e pais podem apoiar e apontar caminho para que os jovens compreendam a importância da justiça global, com um desenvolvimento humano e ambiental de qualidades, alinhados às metas do desenvolvimento sustentável até o ano de 2030.
A BNCC (Base Nacional Curricular Comum) preconiza a necessidade de os alunos serem capazes de utilizar os saberes adquiridos para dar conta do seu dia a dia, sempre respeitando princípios universais, como a ética, os direitos humanos, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. Sobre o tema, Lúcia analisa: “Na prática, as escolas devem promover não apenas o desenvolvimento intelectual, mas também o social, o físico, o emocional e o cultural, compreendidos como dimensões fundamentais para a perspectiva de uma educação integra”.

Sugestões para os professores

Incentivar o protagonismo dos estudantes, no conhecer, fazer, ser e conviver, através de projetos, discussões e realizações de trabalhos; participação em espaços makers (atividades mão na massa, que estimulam criatividade, colaboração e autonomia dos alunos) são dicas de Lúcia Teixeira para os professores.
“O professor pode escolher textos, pedir que os estudantes tragam suas histórias e seus relatos para que possamos confrontar com os textos; convidar escritores ou outras pessoas para debater temas com os alunos, ou acessar entrevistas dos mesmos pelo You Tube.
Atingir com isso as 10 competências contidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC): conhecimento; pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; trabalho e projeto de vida; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; e responsabilidade e cidadania”, sugere.
A tecnologia deve ser usada sempre a favor do aluno: “O celular, por exemplo, por um lado, facilita, e por outro dificulta. Há sites, aplicativos e sistemas para dinamizar e muito a sala de aula, em várias matérias. Existe uma linha tênue, que depende da familiaridade do professor e deve ser muito bem trabalhada, pois a tecnologia remete a maior imediatismo, maior impulsividade e menor paciência. O professor precisa estar antenado com a cultura digital”.
Lúcia reforça que as mídias eletrônicas podem e devem ser aliadas dos educadores: “Em tempos de uso das novas Tecnologias da Informação em Educação (TIC´s), incentivar alunos a deixarem de ser meros receptores de informações e passarem a ser protagonistas do conhecimento. Ao invés de pedir para que o aluno faça uma pesquisa pela Internet, por exemplo, podemos estimular para que ele use os dados desta ferramenta de pesquisa para criar textos próprios (nem que seja num blog ou até mesmo uma produção de sua autoria, envolvendo imagens num canal do Youtube…)”.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/02/2020

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