Estudo revela que bitucas de cigarro são a maior parte do lixo em praias brasileiras
Um estudo inédito revelou que os banhistas que frequentam as praias no país dividem espaço, a cada trecho de 8 quilômetros (km), com mais de 200 mil bitucas de cigarro, 15 mil lacres, tampas e anéis de lata, 150 mil fragmentos de plásticos diversos, 7 mil palitos de sorvete e churrasco e 19 mil hastes plásticas de pirulitos e cotonetes.
Os dados são resultado da segunda fase do projeto Lixo Fora D’Água, que visa combater as fontes de poluição marinha por resíduos sólidos, coordenado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e um acordo de cooperação com Secretaria de Meio Ambiente de Santos, com apoio da Agência de Proteção Ambiental da Suécia.
O projeto existe desde 2018 e nesse período identificou que as três principais fontes de vazamento de lixo e resíduos para o mar são as comunidades nas áreas de palafitas, os canais de drenagem que atravessam a malha urbana e a própria orla da praia em sua faixa de areia.
De acordo com o estudo, entre os resíduos mais encontrados e em maior quantidade nas praias estão os materiais plásticos e de forma variada, como plástico filme, pequenos tubos plásticos, hastes plásticas e isopor (52,5%); a bituca de cigarro, responsável por 40,4% do lixo coletado; e borracha, metal, madeiras, embalagens e outros (7,11%).
“Os resultados desse projeto inédito são fundamentais para enfrentar o problema do lixo no mar. Mais do que limpar praias e retirar resíduos do oceano, o plano de ação permitirá às cidades o desenvolvimento de melhores práticas para evitar que os resíduos continuem a poluir o estuário e a orla da praia”, disse o diretor presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho.
Operação Areia Limpa
Com base nos números apurados a Abrelpe decidiu criar a Operação Areia Limpa, que começa no dia 25 de janeiro e dura um mês. Serão escolhidas duas barracas na praia de Santos, litoral de São Paulo, que receberão mobília e assessórios novos, como mesa de apoio com lixeira; taças e copos retornáveis; canudos compostáveis que serão segregados e, ao final do projeto, levados para compostagem; bituqueiras ‘individuais’ de bambu; e carrinho coletor (de 100 litros) para limpeza frequente ao longo do dia. Haverá ainda placas sinalizadoras e um “cardápio” com informações sobre descarte e sobre a operação.
“É a primeira vez que uma ação de prevenção e combate ao lixo no mar é pensada e implementada a partir de estudos metodológicos multissetoriais, com a execução idealizada a partir da prototipagem de soluções que tenham viabilidade econômica, técnica e operacional com vistas à mudança de comportamentos para que se possa alcançar o objetivo maior de reduzir a quantidade de resíduos que vão parar no mar”, explicou Filho.
Indicadores internacionais mostram que cerca de 80% do lixo marinho tem origem no ambiente terrestre. No Brasil, mais de 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos vão parar nos rios e mares todos os anos, quantidade suficiente para cobrir 7 mil campos de futebol.
O Projeto Lixo Fora D’Água acontece simultaneamente em outras seis cidades litorâneas: Balneário Camboriú (SC), Bertioga (SP), Fortaleza (CE), Ipojuca (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Luís (MA). Para essas cidades também serão elaborados diagnósticos individualizados. As ações de prevenção, limpeza e monitoramento do lixo no mar serão desenvolvidas e implementadas com base no aprendizado desenvolvido inicialmente em Santos.
Por Flávia Albuquerque, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/01/2020
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