Potencialidades hídricas do Nordeste brasileiro, artigo de João Suassuna
Quando se faz referência a zonas áridas e semi-áridas do planeta, estão sendo denominadas áreas que possuem água em quantidade insuficiente para satisfazer as variadas demandas de sua população.
Essas áreas possuem características ambientais singulares que, nitidamente, as diferenciam de outras. Assim, por exemplo, é possível identificar entre elas um determinado tipo de vegetação; destacar fragilidades nos variados ecossistemas existentes; observar a presença humana e animal vivendo no limite de suas possibilidades e detectar um total descaso das autoridades com relação ao seu potencial econômico, salvo nas áreas que contenham recursos naturais valiosos (ouro, cobre, xelita, pedras preciosas, petróleo, etc.), ou em zonas destinadas ao turismo ou à experimentação científica.
De qualquer forma, essas áreas se caracterizam pela presença de importantes processos de degradação ambiental, motivada pela ação antrópica, resultando nas mais variadas condições de vida dos que habitam a região. Geralmente, os elementos diferenciadores de tais zonas são a carência de recursos hídricos – conseqüência da irregularidade na distribuição espacial das chuvas e dos baixos volumes caídos e acumulados em determinadas estruturas geológicas – e a ausência quase que completa de gerenciamento desses recursos, configurando-se num quadro inóspito e de difícil convívio para os seres vivos que habitam a região. Além do mais, as populações existentes nessas áreas, através dos diversos usos que fazem da água, provocam uma demanda social de regulação desse recurso, porquanto inúmeras situações conflituosas não raro acontecem entre pessoas, comunidades e até mesmo entre países, dada a importância estratégica que a água possui para o crescimento econômico de tais regiões.
Os possíveis conflitos, mais cedo ou mais tarde, terão que ser solucionados, através de planejamentos específicos, em busca da solução desejada. No presente trabalho, é feito um exercício de análise da situação hídrica do Nordeste, baseado na caracterização do seu ambiente natural, no qual são propostas algumas alternativas julgadas imprescindíveis para o pronto atendimento às demandas de água de sua população. É sugerida uma estratégia de ação que promova uma adequada gestão da água, com o fim de superar situações de emergência já existentes na região. Tal estratégia é embasada na elaboração de um orçamento das águas que venha a garantir, mediante a transposição e/ou interligação de bacias, volumes suficientes para o abastecimento humano e animal, uso industrial, irrigação e geração de energia, orçamento esse atrelado às características climáticas de cada ano. Além do mais, propõe-se a continuidade dos programas de construção de grandes represas, de cisternas rurais, de perfuração de poços no sedimentário e de incentivos aos projetos de reutilização das águas servidas, bem como de alerta com relação ao uso das águas do rio São Francisco para fins de abastecimento.
Finalmente, é lembrado que as alternativas elencadas acima demandam um certo tempo para serem concretizadas, e desse tempo o nordestino já não dispõe, uma vez que o desabastecimento é um fato concreto na região. Portanto, medidas emergenciais deverão ser postas em prática pelos governantes, a exemplo dos abastecimentos alternativos com caminhões-pipa, trens etc., bem como da identificação de fontes hídricas disponíveis para a efetivação dessas medidas. Infelizmente, essas ações têm que ser postas em prática, até que se resolva definitivamente o problema, para se evitar o mal maior: a instalação do caos social.
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Artigo enviado pelo autor e originalmente publicado em seu site pessoal
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/03/2020
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