O Reino Unido teve mais óbitos que nascimentos em 2020, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A pandemia da covid-19 teve o efeito de aumentar o número de mortes e diminuir o número de nascimentos no Reino Unido em 2020.
Assim, pela segunda vez em mais de um século houve decrescimento natural da população da Grã-Bretanha.
O gráfico abaixo, da BBC com base nos dados do Office for National Statistics, mostra que ano passado foram registrados 683 mil nascimentos e 690 mil óbitos. As duas curvas já vinham apresentando uma tendência de convergência na última década e as projeções demográficas indicavam que a curva de mortalidade iria ultrapassar a curva de nascimentos em algum momento na próxima década. Mas a pandemia antecipou o decrescimento vegetativo da população.
A queda do número de nascimentos decorre da diminuição do percentual de mulheres no período reprodutivo e da queda da fecundidade que estava em 1,92 filhos por mulher em 2012 e caiu para 1,6 filhos por mulher. As taxas de fecundidade do Reino Unido não são tão baixas como em Portugal, Itália e Alemanha, mas estão bem abaixo do nível de reposição. Neste quadro somente a imigração internacional poderia contrapor ao decrescimento populacional. Mas a queda da fecundidade em 2020 ocorre porque muitas mulheres e casais resolveram adiar suas decisões reprodutivas diante dos perigos da covid-19.
Mas o maior impacto em 2020 ocorreu em função do aumento dos óbitos provocados pelo novo coronavírus. O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra a média móvel do número de mortes por 100 mil habitantes para o Reino Unido, Brasil, Índia e EUA. Nota-se que a Grã-Bretanha teve uma grande onda de mortalidade em abril de 2020 e uma onda ainda maior em janeiro de 2021. Desta forma, é bastante provável que os óbitos superem os nascimentos também em 2021. Pode ser que haja uma recuperação em 2022, mas a tendência ao decrescimento populacional nas próximas décadas é uma perspectiva quase inexorável para a maioria dos países Europeus.
Já são muitos países – como Rússia, Japão, Bulgária, etc. – que apresentam decrescimento da população. Esta realidade vai se generalizar. A China que ainda é o país mais populoso do mundo vai começar o decrescimento populacional nos próximos anos e deve perder mais de 400 milhões de habitantes até 2100. A Índia vai ultrapassar a China e vai continuar crescendo até a década de 2060, mas também vai ter decrescimento populacional na segunda metade do século XXI.
Do ponto de vista ambiental, o decrescimento demográfico é uma boa notícia. Mas evidentemente trará muitos desafios, especialmente, em decorrência do envelhecimento populacional. Mas há a possibilidade de um bônus da longevidade e um decrescimento demoeconômico planejado pode trazer maior qualidade de vida humana e ecológica.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referência:
ALVES, JED. Economia Ecológica e dinâmica demográfica global e nacional: cenários para o século XXI, ECOECO, 24/06/2021 https://www.youtube.com/watch?v=baxzJkmgazE
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/06/2021
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