sábado, 19 de novembro de 2022

OS PAÍSES COM MENOR FECUNDIDADE POSSUEM MAIOR IDH.

Os países com menor fecundidade possuem maior IDH, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A maior parte dos países com elevado IDH já apresentam decrescimento demográfico, tendendo a diminuir os impactos negativos sobre o meio ambiente

transição demográfica (redução das taxas de mortalidade e de fecundidade) é um pré-requisito para o desenvolvimento econômico. Os dois fenômenos são sincrônicos e se auto reforçam no desenrolar do avanço das forças produtivas ao longo do tempo. Países com baixa taxa de fecundidade total (TFT) possuem alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e países com alta TFT possuem baixo IDH.

Isto ocorre porque altas taxas de fecundidade estão relacionadas com elevada proporção de crianças e jovens na população, gerando alta razão de dependência demográfica, baixa taxa de ocupação e baixas taxas de poupança e investimento. Mas a queda das taxas de fecundidade provoca uma mudança da estrutura etária e gera um bônus demográfico que favorece o desenvolvimento econômico. Desta forma, a queda da TFT é um pré-requisito para o aumento do IDH.

O gráfico abaixo mostra a relação entre a taxa de fecundidade e o IDH para 187 países em 2021. Todos os países com IDH acima de 0,500 possuem menos de 3 filhos por mulher e todos os países com mais de 6 filhos por mulher possuem IDH abaixo de 0,500. Nota-se que 71,3% do aumento do IDH está associado com a queda na TFT.

taxa de fecundidade total e idh

 

A Coreia do Sul, que era um país pobre e com baixo grau de desenvolvimento em meados do século passado, iniciou um processo de transição demográfica e de desenvolvimento econômico a partir da década de 1960 e chegou em 2021 com a menor TFT do mundo (0,9 filho por mulher) e um IDH acima de 0,900.

Todos os países com IDH acima de 0,900 possuem TFT abaixo de 2 filhos por mulher, a única exceção é Israel (que por razões geopolíticas e religiosas) tem TFT de 2,9 filhos por mulher. Os países com menor IDH (abaixo de 0,400) possuem alta fecundidade, por exemplo , Níger e Chad apresentam mais de 6 filhos por mulher e o Sudão do Sul apresenta TFT de 4,5 filhos por mulher. A República Democrática do Congo apresenta IDH de 0,479 e TFT de 6,2 filhos por mulher.

Quando um país avança com o processo de desenvolvimento das forças produtivas, avança também com o processo de urbanização e passa pela reversão do fluxo intergeracional de riqueza, isto é, aumentam os custos e diminuem os benefícios dos filhos. As famílias passam a investir menos na quantidade e mais na qualidade da prole, ou seja, filhos com mais direitos de saúde, educação, mercado de trabalho, etc.

Desta forma a “cidadania se torna o melhor contraceptivo” (Martine, Alves, Cavenaghi, 2013). Uma população mais urbanizada, mais educada e com mais acesso ao conhecimento se torna mais produtiva e, em geral, produz mais com menos. A menor fecundidade está relacionada com a maior produtividade. E a maior parte dos países com elevado IDH já apresentam decrescimento demográfico, tendendo a diminuir os impactos negativos sobre o meio ambiente.

Neste momento em que a população mundial está alcançando a marca de 8 bilhões de habitantes, em 15 de novembro de 2022, é preciso reconhecer que a dinâmica demográfica importa para o bem-estar humano e ambiental.

A transição demográfica é fundamental para o desenvolvimento econômico e também para o desenvolvimento sustentável.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

George Martine, Jose Eustáquio Alves, Suzana Cavenaghi. Urbanization and fertility decline: Cashing in on Structural Change, IIED Working Paper. IIED, London, December 2013. ISBN 978-1-84369-995-8
https://pubs.iied.org/pdfs/10653IIED.pdf

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 18, n. 1, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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