domingo, 18 de agosto de 2024

Rios Tietê e Sena estão poluídos: um é pobre o outro é rico .

 poluição no rio Tietê

Poluição no Rio Tietê. Foto EBC

Ensaio de Rosângela Trajano

Todos sabem do meu imenso amor pela natureza, mas hoje deixarei as árvores um pouco de lado para falar de dois rios importantes que merecem um pouco mais de olhar crítico e carinhoso das autoridades e dos cidadãos que fazem esta e a nação francesa.

Estamos em tempos de Olimpíadas 2024 que estão sendo realizadas na cidade linda de Paris. As autoridades públicas e privadas fizeram um esforço enorme para deixar o rio Sena despoluído antes que começassem as Olimpíadas, mas o esforço e todo o dinheiro investido nas obras de limpeza parece que foram desperdiçados.

O rio Sena não tem culpa de estar poluído e acabar com a beleza das provas de triatlo, esporte olímpico onde o atleta precisa nadar um quilômetro e meio para realizar as outras provas. O rio Sena está poluído devido a falta de educação ambiental dos parisienses que jogam lixo em seus leitos, que não se preocupam com a morte dos seus peixes e outros animais marinhos.

Eu sempre falo a mesma coisa quando se trata do meio ambiente, ou seja, de que a culpa é das autoridades públicas que deixam o problema crescer até se tornar grande demais ao ponto de não encontrarmos solução para ele. Quem acredita em Deus sabe que isso é falso, porque está escrito na Bíblia Sagrada que para todo problema haverá uma solução basta ter fé. No nosso casso para este problema que ora falo é preciso que as autoridades se mobilizem e façam dos seus cultos aulas de educação ambiental, também.

Aqui no Brasil, não é a fé que move os cidadãos, mas o jeitinho brasileiro. E na bela cidade de São Paulo temos um rio também poluído há vários anos: o rio Tietê. Não sendo diferente o seu problema do rio Sena ele faz parte da paisagem natural de uma grande metrópole com seus problemas de crescimento que não se preocupa com o meio ambiente. O rio Tietê tem os mesmos problemas do rio Sena: os dois estão poluídos.

O esforço que foi feito para limparem o rio Sena foi grande, mas de tão poluído os atletas que arriscaram a entrarem nas suas águas disseram que viram coisas horríveis nelas, como garrafas pets e outros lixos que nós humanos preguiçosos e irresponsáveis jogamos nas águas dos rios. Somos um lixo humano, raros são um luxo!

Problemas com a poluição hídrica urbana e rural de efluentes são descartados no rio Sena todos os dias, por isso nadar neste rio é proibido desde 1923. Apesar de vários processos de despoluição, pesquisas e esforços de biólogos e ativistas ambientais o rio Sena ainda não está propício para o nado. Alguns atletas olímpicos apresentaram sintomas de uma bactéria que pode tê-los infectados através das águas do rio.

No rio Sena foi investido milhões de dinheiro para a sua despoluição antes que as Olimpíadas começassem. Foi um grande esforço das autoridades públicas e privadas deixar o rio propício para os atletas poderem competir, e apesar de ele não está pronto totalmente, ainda assim aconteceram as provas olímpicas comprometendo a saúde dos atletas.

A diferença do rio Sena para o rio Tietê é que ele teve investimentos altos, sofisticados projetos foram elaborados para a sua despoluição, grandes profissionais foram contratados para que o rio ficasse limpo antes das Olimpíadas 2024 começarem, mas o esforço não deu certo.

E não deu certo porque deixaram para cuidar do rio muito tempo depois dele apresentar problemas de poluição e bactérias capazes até mesmo de matar um ser humano. Infelizmente, parece que as autoridades do mundo inteiro têm a mesma visão quando o problema é o meio ambiente, ou seja, eles vão empurrando o problema para debaixo do tapete.

Um projeto histórico e multibilionário prometia deixar as águas do rio Sena pronto para as competições de triatlo nas Olimpíadas 2024. Não foi o que aconteceu, na verdade. As provas até chegaram a acontecer para que a festa não perdesse o seu brilho, mas o rio continua poluído e continuará assim no decorrer dos anos se as autoridades depois das Olimpíadas esquecerem todo o investimento feito nele e não quiserem mais gastar dinheiro público simplesmente com um rio, é assim que pensam as autoridades.

A prefeita da cidade de Paris, Anne Hidalgo, prometeu deixar o rio Sena limpo e pronto para nado antes das Olimpíadas, mas talvez o tempo que o rio passou poluído tenha contribuído para que mesmo com tanto investimento financeiro os profissionais e as autoridades responsáveis não conseguissem este feito, mesmo a prefeita dizendo que o rio estava pronto para nado. Ela não teve a coragem de nadar no rio. Qual o motivo?

O nosso rio Tietê não é diferente do rio Sena. O mesmo acontece com ele. Há muito tempo que sofre com a poluição de esgotos clandestinos que correm para as suas águas e de todo tipo de lixo que corre para ele quando vêm as chuvas e as enchentes.

É triste ver dois rios tão bonitos sofrendo devido a mente insana dos seus habitantes. Pessoas que deveriam cuidar das águas dos rios, porque sem elas não poderemos viver.

Ademais, moradias irregulares e o uso excessivo de agrotóxicos contribuem para o crescimento da sua poluição. Com efeito, dos 160 quilômetros com água imprópria devido à poluição, 33 quilômetros indicaram uma qualidade péssima. O restante, indicou qualidade ruim. A mancha de poluição foi observada do vão da nascente até a cidade de Barra Bonita, na Hidrovia Tietê-Paraná.

A diferença do rio Sena para o rio Tietê é que no primeiro ainda foi feito um grande esforço para sua despoluição com os preparativos para as Olimpíadas 2024, mas o Tietê está largado ao Deus dará. Não tem quem se preocupe com ele. O governo e o prefeito de São Paulo nada fazem para despoluírem o rio e o deixarem bonito e pronto para nado.

É uma pena que tenhamos que ver esse descaso sem podermos fazer nada. O rio Tietê está morrendo aos poucos. A sua mancha de poluição já alcança quilômetros de extensão e a tendência é só aumentar com o crescimento desenfreado das moradias próximas aos seus leitos e com o uso de produtos agrotóxicos cada vez mais pelas indústrias e fábricas.

As cidades de Paris e São Paulo são lindas! É uma vergonha o que estamos vendo acontecer com os seus rios!

Quase inacreditável que depois de mais de um século só agora as autoridades francesas tenham realizado ações públicas para despoluírem as águas do rio Sena e sem êxito, porque o que disseram para a mídia foi mentira e eles sabem disso.

Tivemos alguns pequenos esforços por parte do governado Antônio Fleury Filho, no ano de 2005, que prometeu com seu projeto inovador que logo as águas do rio Tietê estariam tão limpas que ele próprio beberia delas, mas o projeto falhou. Como tudo falha quando se trata de meio ambiente no Brasil e no mundo. Não é que sejamos um país pobre, pois a França é uma das maiores economias do mundo. É que temos nos governos uma gente que só fala e nada faz de concreto.

Uma rápida pesquisa de imagens do rio Tietê pela Internet e veremos fotos com todo tipo de lixo que chega a ser inacreditável como os homens são ignorantes e teimosos na questão de educação ambiental. Não ensinamos às nossas crianças a não jogarem seus brinquedos velhos no lixo, e por isso eles vão parar nas águas dos nossos rios. É uma questão de educação ambiental desde a pequena infância, ou seja, desde a educação infantil, a começar dos primeiros anos da criança. Estamos falando de dois rios importantes para o mundo.

O rio Tietê com 1.010 km², nasce em Salesópolis, na serra do Mar, e atravessa o estado de São Paulo, banhando 62 municípios. Ocupa o topo do ranking por receber o esgoto doméstico e industrial no trecho da capital sendo considerado o rio mais poluído do Brasil. Não há previsão de que em breve o rio será despoluído, para as autoridades a cidade de São Paulo tem problemas mais graves.

É uma pena e chega a dar uma dor no coração quando visito a cidade de Paris ou a cidade de São Paulo. Por mais que pessoas iguais a mim se esforcem por um mundo melhor com respeito a natureza parece que ninguém quer nos ouvir. Muitas vezes penso em desistir de escrever sobre o meio ambiente, mas há uma força maior que me traz até aqui.

As águas dos nossos rios eram para aliviar as nossas sedes quando estivéssemos nas ruas e sem dinheiro para pagarmos água encanada nas nossas casas, era para matar as nossas fomes quando não tivéssemos dinheiro para comprar comida e era para aliviar o nosso calor quando a temperatura estivesse bastante elevada ou mesmo quando quiséssemos dar um mergulho e nadarmos um pouco nelas.

Espero que este meu pequeno ensaio chegue até alguma autoridade e possa causar reflexões necessárias à preservação do rio Sena e Tietê, principalmente o Sena que já foram dados os primeiros passos para a sua despoluição e que os projetos não parem e nem os investimentos.

Quanto ao rio Tietê, desejo que um dia as autoridades públicas do nosso país ou até mesmo a ministra do meio ambiente Marina Silva possa fazer alguma coisa por ele. Eu acredito que se nos unirmos, salvaremos as nossas florestas, rios, animais silvestres do abandono, da extinção e do descaso. A natureza pede socorro urgente! Não podemos viver sem água e antes de inventarmos de irmos passear em Marte gastando bilhões de dinheiro em busca de água poderíamos investir aqui mesmo no nosso planeta Terra que é tão lindo e merece tanto a nossa atenção e legítima preocupação.

Para finalizar, deixo vocês com os versos do poema do nosso querido poeta português Fernando Pessoa no seu heterônimo que amava a natureza, Alberto Caeiro, intitulado “O rio da minha aldeia” que nos diz “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia / Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia…” Pessoa sempre contraditório não se decide se o Tejo realmente é mais bonito ou não do que o rio da sua aldeia, mas nos alerta para que lembremos de que os rios são lindos e precisam de cuidados.

Rosângela Trajano, Articulista do EcoDebate, é poetisa, escritora, ilustradora, revisora, diagramadora, programadora de computadores e fotógrafa. Licenciada e bacharel em filosofia pela UFRN e mestra em literatura comparada também pela UFRN. É pesquisadora do CIMEEP – Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos. Com mais de 50 (cinquenta) livros publicados para crianças, ministra aulas de Filosofia para crianças na varanda da sua casa, de forma voluntária. Além disso, mora pertinho de um mangue aonde vai todas as manhãs receber inspiração para poetizar.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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