Localização do Aquífero Guarani na região Centro-Oeste do Estado de São Paulo. Fonte: DAEE et al. (2005).
Um estudo mais detalhado do mecanismo de funcionamento da recarga do Aquífero Guarani pode colaborar com as medidas para o disciplinamento, o controle e a gestão da retirada das águas do reservatório
Artigo de Heraldo Campos
Regionalmente, o Aquífero Guarani está intercalado entre as camadas permianas do Grupo Passa Dois e os derrames basálticos cretácicos da Formação Serra Geral. É constituído de arenitos eólicos e fluviais bem selecionados, com espessura média de 300 metros, atingindo profundidades de até 1.500 m.
Trata-se de um aquífero livre apenas nas bordas da Bacia do Paraná e confinado em 90% de sua extensão. Graças as suas excelentes características hidrogeológicas constitui-se na principal reserva de água subterrânea da maior província hidrogeológica brasileira, a Paraná.
O Brasil, por ter 70% da área do Aquífero Guarani em seu território, vem acumulando ao longo desses últimos 40 anos informação relevante, seja pelos levantamentos regionais realizados como, por exemplo, no Estado de São Paulo [1], ou mesmo pelas pesquisas acadêmicas desenvolvidas pelas universidades, entre outras instituições.
O município de Ribeirão Preto é 100% abastecido pelas águas desse reservatório e nesta região vem ocorrendo o uso intensivo de água subterrânea e uma numerosa quantidade de poços em atividade já evidenciam problemas de interferência entre eles. Ao mesmo tempo, percebe-se o aumento do risco de contaminação das águas subterrâneas por incremento de fontes instaladas sobre as partes do aquífero aflorantes, que são de alta vulnerabilidade.
Um estudo mais detalhado do mecanismo de funcionamento da recarga do Aquífero Guarani pode colaborar com as medidas para o disciplinamento, o controle e a gestão da retirada das águas do reservatório em Ribeirão Preto, que vêm sendo discutidas pelos órgãos envolvidos e sociedade civil no âmbito do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pardo. Uma das ações que levam a gestão local é, por exemplo, não permitir novas perfurações de poços, a não ser para substituição de poços do abastecimento público, na zona central da cidade.
Desse modo, o estudo das áreas de recarga do Aquífero Guarani, o entendimento do fluxo das águas subterrâneas no meio aquífero e a possível identificação de suas áreas de descarga, mediante sua representação cartográfica hidrogeológica e hidrogeoquímica no âmbito do território ribeirão-pretano, pode servir de base para a modelagem conceitual e matemática do reservatório, como uma das ferramentas a serem utilizadas para as diretrizes norteadoras dos órgãos gestores das águas, tanto na esfera municipal como estadual, no que diz respeito a explotação e superexplotação do reservatório.
A integração, interpretação, cartografia e modelagem destes dados na área de ocorrência do Aquífero Guarani em território ribeirão-pretano são uma necessidade para o prosseguimento das pesquisas e estudos em níveis mais avançados.
Considerando o estado da arte das pesquisas, este trabalho pode, assim, colaborar com um cenário mais atualizado da área e, portanto, de utilidade no que se refere aos fins científicos, acadêmicos e técnicos.
Por sua vez, os órgãos públicos, diretamente ligados à questão dos recursos hídricos, sem dúvida serão outros beneficiados por terem à disposição uma base técnica indispensável ao planejamento, ao controle e à gestão dos recursos hídricos subterrâneos.
“Há água suficiente para satisfazer as crescentes necessidades do mundo, mas não sem mudar a forma de geri-la.” (Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos da ONU – Organização das Nações Unidas).
Fonte
[1] DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), IG (Instituto Geológico), IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), CPRM (Serviço Geológico do Brasil). 2005. Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo. São Paulo: DAEE (3v, mapa e CD-ROM).
*Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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