Terra, água e estresse hídrico, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate]
A água é um dom do Universo e um bem escasso. Nenhuma espécie animal ou
vegetal vive sem água. Porém, o ser humano está maltratando, poluindo e
superexplorando as fontes limpas de água doce, além de estar sujando,
danificando e acidificando os oceanos. Diversos países do mundo,
especialmente no Oriente Médio e a China, estão esgotando suas reservas
de água subterrâneas mais rapidamente do que elas podem ser repostas.
As pessoas pensam que a água é um bem abundante porque ela cobre 71%
da superfície da Terra. Todavia, o Serviço Geológico dos EUA produziu
uma imagem comparando a quantidade de água total, a água doce e o volume
na Terra. Na ilustração, a esfera à esquerda representa a Terra com
toda a água removida. A esfera azul à direita mostra o volume aproximado
de toda a água da Terra. O minúsculo ponto azul na extrema direita
representa a água doce disponível no mundo. Ainda segundo o Serviço
Geológicos dos EUA, outra maneira de visulisar é representando o tamanho
da Terra com uma bola de basquete, toda a água do planeta como uma bola
de pingue-pongue e toda a água doce disponível seria menor do que um
milho de pipoca.
Quando comparado com os demais planetas, a Terra tem uma riqueza
imensa de água. Porém, do total dos recursos hídricos, os oceanos
abarcam cerca de 97% do volume, restando apenas 3% de água doce para
satisfazer as necessidades de todos os seres vivos do Planeta que não
vivem nos oceanos. Desta pequena quantidade de água potável, 2,4% estão
congeladas nas geleiras e calotas polares e somente 0,6% encontram-se
nos rios, lagos e represas.
Mas a população e a economia continuam crescendo e demandando maiores
volumes de água doce ao mesmo tempo em que aumenta a poluição provocada
pelos esgotos e resíduos sólidos. O Rio de Janeiro, por exemplo, que é
um município que sediou duas Conferências Internacionais sobre o Meio
Ambiente (em 1992 e 2012) e mesmo sendo uma cidade que tem “rio” no
nome, não tem respeitado os seus cursos dágua, pois transformou o rio
Carioca, o rio Maracanã e outros em verdadeiros esgotos a céu aberto. A
Baia da Guanabara virou “Pinicão da Guanabara”.
Contudo, ao invés de aprender a lição e reconhecer que a água doce da
Terra é uma riqueza limitada, o ser humano tem ido buscar o precioso
líquido nas reservas subterrâneas, passando a superexplorar os
aquíferos.
Segundo o hidrologista canadense Tom Gleeson existe um aumento do
estresse hídrico no Planeta. Dentre os países que mais superexploram
suas reservas de água subterrânea estão: Estados Unidos, Índia, China,
Paquistão, Irã, Arábia Saudita e México. Os três primeiros são os países
mais populosos do mundo e já estão sofrendo as consequências das secas e
da falta de água para sustentar as atividades antrópicas e garantir a
biodiversidade e a vida selvagem.
O corpo do ser humano é formado por cerca de 60% de água, mas
ironicamente, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo ainda não tem acesso à
água potável. Contudo, segundo a ONU, a extração das reservas
subterrâneas de água se multiplicou por três durante os últimos 50 anos,
proporcionando cerca da metade da água que se bebe no mundo. Mesmo
assim, cerca de 1,7 bilhão de pessoas (25% da população mundial) moram
nas regiões onde a água subterrânea é superexplorada.
O Brasil é um dos países mais privilegiados do mundo em termos de
recursos hídricos. Mas além das áreas do semi-árido do polígono da seca,
até cidades com grandes reservas subterrâneas estão sofrendo com o uso
inadequado das águas. Em Ribeirão Preto (SP) a falta de ações efetivas
para evitar a atual superexploração do aquífero Guarani pode tornar a
situação insustentável em pouco anos. Embora o aquífero seja um dos
maiores reservatórios de água doce do mundo, a superexploração pode
comprometer o abastecimento de Ribeirão Preto e outras cidades da
região.
Além do consumo da população, atualmente os grandes usuários da água
são empresas ligadas ao agronegócio, que têm capacidade de perfuração de
grandes poços artesianos. Segundo Paulo Finotti, presidente da
Sociedade de Defesa Regional do Meio Ambiente: “Hoje se sabe que em
Ribeirão o consumo é 13 vezes maior que a recarga.” No verão de 2012,
moradores de 47 bairros das zonas leste, oeste e norte de Ribeirão Preto
sofreram com a falta de água, num clima de mais de 40º centígrafos.
Todos estes exemplos mostram que a água pura e limpa, que é uma
riqueza com limites inelásticos, está ficando cada vez mais escassa e
mais controlada por interesses do lucro. O mercado da água engarrafada é
cada vez maior e a comercialização do líquido assume proporções
crescentes na economia. Nas grandes cidades brasileiras, duas
garrafinhas de água (de 500 ml) custam mais caro do que um litro de
gasolina.
O fato é que a humanidade tem monopolizado os recursos hídricos,
transformando-os em commodities, sem respeito aos direitos da água e nem
ao direito que as demais espécies vivas da Terra devem ter ao acesso às
mesmas fontes da sobrevivência. A incrível disponibilidade de água
transforma a Terra em um planeta excepcional. A água é a fonte da vida.
Sem água limpa e pura não existe possibilidade de sobrevivência, nem no
presente e muito menos no futuro.
José Eustáquio Diniz Alves,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor
titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da
Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 19/09/2012
tigei nota 10 grasas a ese texto urun
ResponderExcluirMuito boom . Parabéns. Achei super interessante
ResponderExcluirEsse texto é muito bom, tirei 10 no meu trabalho sobre a aguá, porém fiquei chocado, quando soube que o planeta ficaria assim, sem água!!! É uma tristeza o nosso planeta sem água.
ResponderExcluirÓtimo conteúdo, a maioria das pessoas deveriam lê este texto. !!!!
ResponderExcluir