Viaduto do Chá faz 120 anos
A convite do 'Estado', artistas e escritores homenageiam um dos símbolos de SP
11 de novembro de 2012 | 2h 06
EDISON VEIGA - O Estado de S.Paulo
Marco do centro paulistano, o Viaduto do Chá acaba de completar 120 anos - ele foi inaugurado em 6 de novembro de 1892 e entrou para a história como o primeiro viaduto de São Paulo.
Concebida pelo litógrafo francês Jules Martin (1832-1906), a estrutura original era muito diferente da atual. "Não passava de uma treliça de ferro, extremamente simples", conta o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, que detalha essa história no livro Anhangabahú, de 1989. "Logo nos primeiros anos, a Prefeitura resolveu pedagiar o viaduto. Mas isso não durou muito tempo."
Nos anos 1930, o viaduto antigo já estava obsoleto e saturado pelo trânsito. Em 1934, foi aberto um concurso público para escolher um novo projeto. Ganhou a proposta, em estilo art-déco, do arquiteto Elisiário Bahiana (1891-1980). "Sem dúvida, um superprojeto", avalia Toledo, que conviveu com Bahiana quando ele dava aulas no Mackenzie.
Para comemorar os 120 anos do mais simbólico viaduto da cidade, o Estado convidou artistas plásticos, poetas e escritores para homenageá-lo. Os resultados estão nesta página.
Siedschlag
Um poema de Fabrício Carpinejar*
Um poema de Fabrício Carpinejar*
Você ouve com as pálpebras.
As pálpebras são as unhas dos seus olhos,
pintadas de azul, laranja, preto.
As pálpebras são as unhas dos seus olhos,
pintadas de azul, laranja, preto.
Marcamos de nos ver no alto
do Teatro Municipal,
a meio caminho
entre a comédia
e a ópera.
do Teatro Municipal,
a meio caminho
entre a comédia
e a ópera.
Seu rosto tremia suavemente
com o ritmo do Viaduto do Chá.
A pressão sanguínea dos passos
na pele, a vibração envenenando.
com o ritmo do Viaduto do Chá.
A pressão sanguínea dos passos
na pele, a vibração envenenando.
Os passantes reverberavam
em seu corpo sestroso,
em seus seios fartos,
em suas ancas deliciosas.
em seu corpo sestroso,
em seus seios fartos,
em suas ancas deliciosas.
A cidade ondulava no vestido.
Você segurava na barra da grade
e oferecia o pescoço
à mordida do vento.
Você segurava na barra da grade
e oferecia o pescoço
à mordida do vento.
Belvedere:
como se houvesse um mar,
como se houvesse uma serra.
como se houvesse um mar,
como se houvesse uma serra.
Escorada no parapeito,
seus olhos fecharam
como um longo beijo
na boca do precipício
seus olhos fecharam
como um longo beijo
na boca do precipício
de São Paulo.
Assim que eu lhe vi
pela primeira vez,
fez cena de ciúme
com as pedras.
pela primeira vez,
fez cena de ciúme
com as pedras.
Todo viaduto é um amante
apressando o abraço.
apressando o abraço.
* O poeta e cronista Fabrício Carpinejar é autor de Cinco Marias, entre outros.
FONTE: Estadão. com.br
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