RIO – Um olhar sobre o investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil nos últimos dez anos mostra, por exemplo, que há caras novas entre os maiores investidores. Em 2002, na lista dos “dez mais” já estavam EUA, Holanda, Luxemburgo, Espanha, França e Canadá — que também aparecem na de 2012, em posições diferentes. Mas enquanto Ilhas Cayman, Bermudas, Portugal e Alemanha deixaram o ranking, Suíça, Chile, Reino Unido e Japão entraram. A segunda maior economia do mundo não aparece diretamente entre os maiores investidores, mas pode estar “disfarçada” em um deles.
Em 10 anos, o IED aumentou mais de 240%, de US$ 19 bilhões para US$ 65,3 bilhões, segundo cálculos feitos com exclusividade pela Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), com base nos dados das contas externas divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Central e também nos dados históricos da autoridade monetária. O IED é conhecido como o “investimento bom”, já que a maior parte dele vai para a produção (fábricas, infraestrutura, prestação de serviços).
Uma curiosidade sobre a lista de 2012 dos maiores investidores é que o Chile aparece na 7ª posição. É o único país em desenvolvimento entre economias avançadas. Em 2002, não estava. O Japão, terceira maior economia do mundo, há décadas em estagnação, figura como o 10º maior investidor. Suíça e Reino Unido estão em 4º e 8º, respectivamente. A Espanha, apesar de estar em crise, subiu no ranking, passando do 10º lugar em 2002 para o 5º em 2012.
Diretor-presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima aponta o que mudou nesses últimos anos: setores que estão se beneficiando do dinâmico mercado consumidor interno, como o de serviços, passaram a receber mais investimentos. Estão incluídos aí, por exemplo, os setores de saúde, de previdência privada, seguros, telecomunicações, de serviços financeiros, entre outros. Há mais investimentos na área de petróleo também.
Além disso, as operações são menores, mas em número maior, o que é considerado positivo, por serem mais pulverizadas:
— Outra coisa que mudou bastante foi a dimensão das operações realizadas. Há dez anos, eram grandes operações, boa parte acima de US$ 1 bilhão individualmente. Hoje, há mais operações abaixo de US$ 10 milhões do que acima de US$ 1 bilhão. As grandes corporações já vieram para cá e, ao mesmo tempo, novos setores que estão prosperando, como os de TI, não existiam antes, e as operações nem sempre são de grande porte — explica.
Segundo ele, dá para identificar os segmentos nos quais os países que estão entre os principais investem: Espanha, por exemplo, no setor de serviços, como os EUA que, no passado, investiam mais no setor industrial. A China ainda não aparece entre os dez mais, mas o analista explica:
— Os investidores fazem uma triangulação. O chinês, por exemplo, faz um aporte de capital nos Países Baixos (Holanda), que fazem a transferência para cá. Há novos investidores, mas não obrigatoriamente eles aparecem como investidores diretos, mas indiretos, “disfarçados”, há uma triangulação. Isso é possível, legal — diz.
Em dez anos, outro avanço: o Brasil melhorou sua posição no ranking de investimentos: já esteve abaixo da 20ª posição; em 2010, subiu para 14º; em 2011, pulou para a 5ª — o país recebeu 4,4% do total investido no mundo, e deve ter terminado 2012 em 4º lugar.
— Estamos na mira do investidor. As empresas pensam em vários países, entre eles, o Brasil. A economia cresceu menos no ano passado, mas continuamos recebendo investimento, porque temos um mercado consumidor que pouca gente têm. O ímã do investimento estrangeiro direto é o tamanho do mercado e sua perspectiva de crescimento. E ele cresce onde tem crédito, como no Brasil. Essa é a fotografia.
Em 2013, ele acha que o Brasil receberá menos IED, por volta de US$ 50 bi, abaixo, portanto, dos US$ 65,3 bi do ano passado. Diz, por exemplo, que as empresas enfrentam dificuldades nas matrizes, que há mais concorrentes, como o México. Já outros analistas, como Bruno Lavieri, da consultoria Tendências, preveem pequeno aumento do investimento estrangeiro direto este ano, para US$ 67 bilhões.
Na lista dos dez mais de 2013, devem aparecer novos investidores, como a China que, segundo a Sobeet, tem muito espaço para crescer e ficar entre os principais. O mesmo vale para outros países asiáticos.
— São novos candidatos a investir no país — diz Lima.
Fonte : O Globo Economia
Juros maiores atraem investidor estrangeiro ao Brasil
Apesar da retirada dos estímulos norte-americanos e do possível rebaixamento da nota de crédito brasileira, o fluxo cambial no país está positivo em quase US$ 2 bilhões
Para especialistas, mercado já assimilou impacto de uma possível revisão do rating do país (Divulgação )
Os investidores estrangeiros estão voltando ao Brasil, de olho nos ganhos com a alta da taxa de juros. Em janeiro, eles haviam retirado seus dólares investidos no país, em meio à turbulência nos mercados emergentes com a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de retirar estímulos, já que a maior economia do mundo está se recuperando bem. A possível redução da nota de crédito brasileira pelas agências de classificação de risco também pesou na decisão de migrar de emergentes para mercados desenvolvidos. Contudo, os dados de fevereiro mostram uma mudança no humor dos investidores.
A entrada de dólares superou a saída em 318 milhões de dólares no acumulado de fevereiro até sexta-feira da semana passada, informou, na quarta-feira, o Banco Central. O resultado parcial do mês fez com que o fluxo acumulado em 2014 ficasse positivo em quase 2 bilhões de dólares, resultado bem distinto do mesmo período do ano passado, quando 4 bilhões de dólares deixaram o país.
O ingresso de dólar está se dando pela chamada conta financeira, pela qual são registrados os investimentos estrangeiros diretos (em produção), as aplicações em carteira e as remessas de lucros e dividendos. Até sexta-feira, entrou por esse canal 1,72 bilhão de dólares. Em janeiro, a conta financeira contribuiu só com 19 milhões de dólares para o saldo de 1,6 bilhão de dólares.
Apesar do quadro de desconfiança dos investidores internacionais em relação à economia brasileira, principalmente pela piora das contas públicas e pela dependência cada vez maior de recursos externos, especialistas afirmam que o mercado já assimilou boa parte do impacto de uma possível revisão para baixo da nota do país por agências de classificação de risco.
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Retorno - Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, antes mesmo da decisão da Standard & Poors e seja ela qual for, os preços dos ativos brasileiros foram se desvalorizando e ficaram muito atrativos para os investidores. "Os mesmos que deram orientação para sair do Brasil vão recomendar comprar assim que a S&P se pronunciar sobre o país, para o bem ou para o mal."
Um dos sinais da melhora das expectativas de investidores em relação ao Brasil é percebido pela queda de 11,5% no mês até agora dos Credit Default Swaps (CDS), papel que serve como "seguro" contra eventual calote do país. Em janeiro, com a deterioração da situação cambial argentina, o CDS de referência que vence em cinco anos tinha subido quase 11%.
Uma das explicações para o aumento do interesse pelo país é o fato de que, como lembrou na terça-feira, o presidente do BC, Alexandre Tombini, o processo de alta da taxa de juros começou bem antes do de outras economias emergentes. Perfeito calcula que o real oferece 0,87% ao mês de juros, três vezes acima da taxa do México, nas operações de investimento em que o investidor toma um empréstimo em um país que tem juros baixos e investe os recursos em outro que possui juros altos (carry trade).
Fonte : Veja.com
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