Geração nem-nem e violência contra jovens na América Latina, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou o relatório “Trabalho Decente e Juventude na América Latina: Políticas para Ação”, em fevereiro de 2014, onde mostra que 21,8 milhões dos latino-americanos entre 15 e 24 anos não estudam, nem trabalham, o que representa 20,3% dos jovens. Destes 21,8 milhões denominados “geração nem-nem”, 30% são homens e 70%, mulheres.
Aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam trabalho; mas não conseguem, 16,5 milhões não trabalham, nem buscam emprego e cerca de 12 milhões dedicam-se a afazeres domésticos. Mulheres jovens constituem 92% desse grupo. Cerca de 4,6 milhões de jovens são considerados pela OIT o núcleo duro dos excluídos, pois estão sob risco permanente de exclusão social, já que não estudam, não trabalham, não procuram emprego e tampouco se dedicam aos afazeres domésticos.
Os países com maior percentual de jovens nem-nem são Honduras, com 27,5%, Guatemala, com 25,1%, e El Salvador, com 24,2%. Os países com menor percentual são Paraguai, com 16,9%, e Bolívia, com 12,7%. No Brasil, 19% de jovens não trabalham, nem estudam. Em grande parte, as jovens mulheres da geração nem-nem são sobrecarregadas pelo peso da responsabilidade das tarefas reprodutivas, pois é grande o número de maternidade precoce na região.
O relatório do UNFPA “Maternidade Precoce: enfrentando o desafio da gravidez na adolescência”, de 2013, aborda, entre outras questões, “as implicações da gravidez na adolescência e o que pode ser feito para garantir uma transição saudável e segura para a vida adulta”. As principais causas apontadas para a gravidez precoce são: casamentos muito cedo, pobreza, obstáculos a direitos humanos, violência sexual, restrições a políticas de métodos anticoncepcionais, falta de acesso a educação e serviços de saúde ligados ao tema dos direitos sexuais e reprodutivos.
Por outro lado, os jovens homens da geração nem-nem são, muitas vezes, vítimas de mortes violentas. Os números de homicídios na América Latina são alarmantes. Em apenas um ano, 330 milhões de anos de vida foram perdidos na região. De 2000 a 2010, houve 1 milhão de homicídios. Apesar do crescimento econômico e da redução da pobreza que ocorreu na última década, a América Latina não conseguiu impedir o aumento da criminalidade, que atingiu principalmente os jovens. As taxas específicas de mortalidade mais elevadas ocorrem no grupo etário 15-24 anos.
Em acordo com Waiselfisz (2008), a América Latina e o Caribe (ALC) apresentaram as mais elevadas taxas de óbitos por causas violentas em décadas recentes, quando referentes à população juvenil – com idades entre 15 e 24 anos. Comparando as taxas de mortalidade violenta de 83 países foi observado que entre os dez países com as maiores taxas de mortalidade violenta para a população juvenil, oito eram da região da ALC: El Salvador (1º), Colômbia (2º), Venezuela (3º), Brasil (4º), Guiana (6º), Guatemala (7º), Sta. Lúcia (8º) e Equador (10º). Há um homencídio e um femicídio no continente. Reportagem do jornal O Globo (23/03/2014) mostra que o Brasil tem 16 cidades no grupo das 50 mais violentas do mundo.
Desta forma, a América Latina e o Brasil estão descuidando de uma parcela significativa de seus adolescentes e jovens, sendo que muitas das jovens mulheres são, em geral, vítimas da violência sexual e da gravidez indesejada e muitos dos jovens homens são vítimas, especialmente, de homicídios e da violência urbana. O futuro nem é bom e nem é promissor para uma região que não consegue oferecer boas perspectivas para as suas jovens gerações.
Fonte : EcoDebate
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