domingo, 14 de dezembro de 2014

PETRÓLEO: QUEDA NO PREÇO E SUAS CONSEQUÊNCIAS.

Preço do petróleo e nível de equilíbrio dos orçamentos nacionais, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em dezembro 12, 2014 
preço do petróleo e equilíbrio dos orçamentos nacionais
 [EcoDebate] A decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de manter o atual nível de produção e exportação de petróleo deve manter o preço da commoditie abaixo de US$ 65 nos próximos meses, o que deve gerar graves problemas para as economias dependentes do combustível e inviabilizando economicamente explorações alternativas, como a do gás não convencional dos Estados Unidos e o pré-sal brasileiro.
Há teorias que dizem que a queda do preço do petróleo é um plano dos Estados Unidos (EUA) e da Arábia Saudita para quebrar a Rússia e o Irã. Outros dizem que se trata de uma tática da Arábia Saudita para inviabilizar a produção de gás de xisto nos EUA. O certo é que o recuo dos preços é o maior desde a crise do sistema financeiro internacional em 2008 e pode provocar o mesmo impacto global de queda de preços de três décadas atrás, que gerou a crise da dívida do México e levou à dissolução da União Soviética.
Segundo reportagem do jornal O Globo (Ordoñez, 01/12/2014): “A Rússia, cuja metade das receitas proveem da venda de petróleo, não pode mais contar com o mesmo nível de entrada de recursos de antes para resgatar uma economia já abalada pelas sanções da União Europeia (UE) e Estados Unidos. O Irã, que também está sendo afetado por sanções internacionais, se verá obrigado a reduzir os subsídios, que haviam, pelo menos parcialmente, preservado sua crescente população. Nigéria, que enfrenta uma insurgência islâmica, e Venezuela, afetada por medidas políticas e econômicas que se mostraram falhas, também estão entre os países mais afetados pelo derretimento da cotação do petróleo após a decisão da Opep, disseram analistas. Alguns deles veem uma situação de queda livre dos preços, a primeira em décadas. No Brasil, especialistas ressaltam que esse movimento de queda pode afetar os investimentos futuros da Petrobras, principalmente no pré-sal. Para cumprir os investimentos de US$ 220,6 bilhões previstos no Plano de Negócios 2014/18, a companhia trabalhava com preço médio do barril a US$ 105 este ano, caindo para US$ 100 em 2017 e, a longo prazo, a US$ 95”.
Artigo de Brad Plumer (14/10/2014), publicado no site Vox, mostra os diferentes níveis de preços de petróleo necessários para equilibrar os respectivos orçamentos nacionais. Enquanto Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos suportam preços do barril abaixo de US$ 70 o barril, o Irã necessita do preço a US$ 136 o barril, enquanto a Venezuela e a Nigéria trabalham no vermelho com o preço abaixo de US$ 120. A Rússia necessita do preço de US$ 100 o barril, para equilibrar o orçamento do país.
Esta situação é péssima para o Brasil. No plano interno a Petrobras já perdeu mais um posto entre as maiores empresas brasileiras na bolsa. As ações preferenciais da Petrobras despencaram no dia 08/12/2014, para R$ 11,50, menor valor desde 20 de outubro de 2005, enquanto os papéis ordinários caíram para R$ 10,72, menor valor desde 13 de maio de 2005. A empresa que já foi “orgulho nacional” e liderou o ranking das maiores companhias em valor de mercado, foi superada pelo Bradesco, que assumiu a 3ª posição, deixando a Petrobras na quarta posição.
Segundo reportagem do G1, ao término do pregão do dia 08/12, o valor de mercado do Bradesco estava em R$ 147,5 bilhões, enquanto a Petrobras somava R$ 144,2 bilhões. A lista é liderada pela Ambev, com R$ 251 bilhões, seguida pelo Itaú-Unibanco, com mais de R$ 190 bilhões. Em pouco mais de 3 meses, a Petrobras perdeu R$ 166 bilhões em valor de mercado. No início de setembro a empresa tinha valor de mercado de R$ 310,9 bilhões. Em quatro anos – desde o início do atual governo – a perda chega a mais de 70%.
Na segunda semana de dezembro de 2014 a tendência de queda dos papeis da Petrobras foi reforçada pela ação judicial coletiva enfrentada pela estatal e seus principais executivos em um tribunal federal de Nova York. No dia 11/12/2015 as ações da Petrobras na Bovespa (PETR3.SA) estavam abaixo de R$ 10, em seu menor nível dos últimos 10 anos. Ao mesmo tempo o valor do dólar aumentou, o que vai encarecer o custo de rolagem da dívida em dólar da empresa.
A Petrobras e o Brasil vão ter dificuldade para captar recursos financeiros no exterior. Um relatório do BofA ML (Bank of America Merrill Lynch) traz a recomendação para que os investidores esqueçam os BRICS e fiquem com IC (Índia e China) em vez de Brasil, Rússia e África do Sul. O “passaporte para o futuro” do pré-sal está cada vez mais parecido com o pesadelo do presente. Ou seja, as maiores empresas brasileiras são do ramo de cerveja e dinheiro/juros e o país não tem grandes empresas ligadas ao setor da sociedade da informação e do conhecimento. O século XXI começa mal para o Brasil.
Vivendo das tecnologias e setores da sociedade tecnológica do passado, o Brasil já enfrenta os problemas da crise. Reportagem da Folha de São Paulo (30/11/2014) mostra que a cidade de Macaé – “capital do petróleo” – vive uma onda de demissões nas empresas que prestam serviços à Petrobras, refletindo no salto do número de ações trabalhistas abertas na cidade, que triplicou neste ano. Foram cerca de 14 mil novos processos, ante 4.800 em 2013. Cerca de 63% dos empregos formais em Macaé são ligados à indústria do petróleo. As dispensas decorrentes da crise na estatal atingiram operários a executivos. A política de revisão de contratos da Petrobras, iniciada em 2013 e ampliada em março após a Operação Lava Jato, acentuou o desaquecimento da indústria petroleira.
Outra reportagem da Folha de São Paulo (04/12/2014) diz que a empresa Sete Brasil, criada pela Petrobras para construir e alugar as sondas bilionárias para exploração do pré-sal, enfrenta uma situação dramática, pois não tem dinheiro para os compromissos de curto prazo, dois sócios minoritários acabam de abandonar o projeto e o escândalo de corrupção na Petrobras prejudica os negócios. As dificuldades da Sete Brasil, que tem hoje um dos maiores contratos com a Petrobras, no valor de US$ 25 bilhões (R$ 64 bilhões), mas já comprometeram os ganhos que os acionistas esperavam obter. Pela segunda vez pode atrasar pagamentos aos estaleiros que fazem as sondas. O esperado impacto positivo sobre a cadeia produtiva industrial brasileira pode se tornar um fiasco e a ideia da Petrobras liderar o crescimento industrial do país pode morrer na praia. Em vez de efeito multiplicador poderemos ter efeito diminuidor.
O fato é que uma queda persistente do preço do petróleo pode quebrar companhias petrolíferas, assim como vários governos, enquanto um forte aumento pode jogar a economia internacional na recessão. A esperança da salvação do petróleo, pode se converter em desesperança.
Por outro lado, a continuidade da exploração dos combustíveis fósseis leva ao aumento das emissões de gases de efeito estufa, acelerando as consequências negativas do aquecimento global. A alternativa seria superar a dependência dos combustíveis fósseis e construir uma economia descarbonizada. Mas o caminho não é fácil e os obstáculos são enormes, além de faltar vontade política.
Referências:
ALVES, JED. Bolha de Carbono: crise ambiental ou crise financeira? EcoDebate, RJ, 05/02/2014
Lucas Vettorazzo. Capital do petróleo, Macaé (RJ) vive onda de demissões, Folha de São Paulo, 30/11/2014
David Friedlander E Julio Wiziack, Maior empresa do pré-sal está sem dinheiro e perde sócios, Folha de São Paulo, 04/12/2014

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, 12/12/2014

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