Não faz nem uma década que as bolsas em todo o mundo desabaram com o anúncio da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e já há quem sinta as vibrações de um novo terremoto financeiro de proporções globais.
A reportagem é de Ruth Costas, publicada por BBC Brasil, 15-02-2016.
Diante da freada da economia chinesa, da brusca queda do preço do petróleo e da expansão do fenômeno dos juros negativos em países ricos, alguns economistas têm defendido que uma nova crise como a de 2008 estaria se avizinhando.
O megainvestidor George Soros, por exemplo, levantou essa possibilidade durante um evento no Sri Lanka, no mês passado. "Quando olho para os mercados financeiros há um sério desafio que me faz lembrar da crise de 2008", disse.
Há, certamente, quem considere as comparações exageradas - ou mesmo perigosas, como afirmou o Secretário do Tesouro americano, Jacob Lew.
"Adoto um otimismo cauteloso ao olhar essas muitas áreas (da economia global) em que há riscos", disse Lew em entrevista a BBC News. "Acho importante não permitir que esses riscos se tornem profecias autoanunciadas."
No entanto, mesmo autoridades e economistas mais céticos sobre um novo crash global admitem que 2016 começou com um perigoso "coquetel" de ameaças econômicas - como definiu recentemente o ministro das Finanças britânico,George Osborne.
Mas, afinal, quais são os sinais que estão gerando tanta incerteza no que diz respeito à economia internacional? E como essas turbulências poderiam afetar o Brasil em um momento em que o país tenta superar dificuldades internas?
Para o professor de economia da PUC Antônio Carlos Alves dos Santos, a economia internacional enfrenta uma espécie de "tempestade perfeita".
As dificuldades começaram com o desaquecimento da China e seu impacto sobre os preços das commodities.
No início do ano, uma grande instabilidade da bolsa de Xangai reforçou as suspeitas de que a economia chinesa poderia ter uma desaceleração drástica - o que no jargão econômico é conhecido como "hard landing".
Soros, ao fazer o paralelo com 2008, mencionou justamente as incertezas sobre o gigante asiático.
"A China tem um grande problema de adaptação", disse, explicando que o país está com dificuldades para encontrar um novo modelo de crescimento.
Petróleo e juros
A queda do preço do barril de petróleo para abaixo dos US$ 30 também foi um fator que ampliou o clima de incertezas em 2016.
O produto já acumula uma desvalorização de 70% desde 2014. Primeiro, em função de uma demanda fraca - para a qual também contribuiu o desaquecimento chinês. Segundo, porque o período de bonança do setor impulsionou uma série de investimentos em novas áreas de exploração e fontes alternativas de combustível fóssil - o que acabou levando a uma superprodução.
"Agora, a incógnita é como as empresas do setor e seus credores serão afetados por esse novo patamar de preços", diz Santos.
"Temos rumores, por exemplo, de que produtoras de gás de xisto nos EUA estão passando por sérias dificuldades financeiras", completa Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres.
"E também há dúvidas sobre o impacto desse novo cenário nos bancos que emprestam para empresas e países produtores."
A terceira fonte de incertezas no cenário global são as taxas de juros negativas adotadas por alguns países para seus títulos e depósitos das instituições financeiras nos Bancos Centrais.
Colmerauer explica que essas taxas negativas comprimem as margens de lucro dos bancos - então há quem acredite que alguns deles podem ter problemas.
"A verdade é que nunca vimos tantos países adotarem essa política de juros negativos, trata-se de um fenômeno novo. Então há muita incerteza sobre quais podem ser suas consequências", diz.
Segundo o banco J.P. Morgan, há hoje cerca de US$ 6 trilhões em títulos públicos com juros negativos, o dobro do que há dois meses.
Na semana passada, até o FED, o Banco Central americano, anunciou que deixaria em aberto a possibilidade de adotar os juros negativos em função das adversidades da economia global, gerando grande alvoroço nos mercados
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.
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