Brasil fica para trás na América Latina, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Publicado em maio 23, 2016
“Somos o que fazemos, mas somos, principalmente,
o que fazemos para mudar o que somos”
Eduardo Galeano
[EcoDebate] O Brasil é o maior país da América Latina e Caribe (ALC), em termos de território e de população. Mas em termos de renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp), o Brasil, em 2016, encontra-se no 14º lugar entre os 32 países da região.
O gráfico acima mostra que o Brasil já esteve melhor, mas vem perdendo terreno nas últimas décadas. Em 1980, a Argentina tinha uma renda per capita (em ppp) de US$ 6,3 mil, o México tinha renda de US$ 5,6 mil, o Brasil vinha logo a seguir com US$ 4,8 mil, depois o Uruguai com US$ 4,3 mil e por último vinha o Chile com US$ 3,4 mil. O Brasil tinha uma renda per capita 40% superior que a renda chilena.
De 1980 a 2016 todos os países da ALC tiveram crescimento da renda per capita, mas esse acréscimo ficou abaixo do desempenho da economia internacional. Além disto, alguns países saíram melhores do que os outros. Entre os países selecionados no gráfico, o Chile saiu do último lugar para o primeiro. O Uruguai saiu do penúltimo lugar para o segundo (empatado com a Argentina). O México caiu do segundo lugar em 1980 para o quarto lugar em 2016 e o Brasil saiu do terceiro lugar para o último. A renda per capita do Chile em 2016 já era 60% maior do que a renda brasileira.
As projeções para 2018 mostram que o Brasil vai continuar perdendo espaço nos próximos anos, pois sua renda per capita vai ficar estacionada na casa dos US$ 15 mil, enquanto a renda do Uruguai vai chegar a US$ 23,8 mil e a do Chile em US$ 25,3 mil. Ou seja, o Brasil que estava na frente do Chile em 1980 vai apresentar uma renda per capita US$ 10 mil menor em 2018.
A situação do Brasil vem se agravando nos últimos anos. A última vez que o Brasil apresentou crescimento econômico acima da média da América Latina e Caribe (ALC) foi em 2010. De lá para cá o Brasil vem crescendo abaixo da média da região e contribuindo para deprimir a renda da ALC.
Os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2016 mostram que o Brasil vai ter o terceiro pior desempenho econômico em 2016. O maior crescimento do PIB será do Panamá com 6,1%. O México deve crescer 2,4%, o Chile 1,5% e o Uruguai 1,4%. Mas a Argentina vai ter uma queda de 1,0% no PIB e o Brasil de 3,8%. O “gigante da ALC” só não será pior do que o Equador (-4,5%) e a Venezuela (-8,0%) em 2016, conforme mostra o gráfico abaixo.
Desde 1980, com o choque externo (da dívida e do balanço de pagamentos) que afetou principalmente o México e o Brasil – os dois maiores países da região – a ALC vem perdendo espaço na economia internacional. Entre 2004 e 2008 houve uma melhora devido ao superciclo das commodities. Mas o atual ciclo recessivo – liderado por Brasil e Venezuela – está comprometendo o processo de desenvolvimento econômico da ALC e pode provocar uma regressão social, além de agravar a situação ambiental.
Não adianta arranjar desculpas. Países mais pobres da Ásia, como Tailândia e Malásia (dentre outros) conseguiram avançar com o desenvolvimento humano e ultrapassar o Brasil e a ALC em termos de renda per capita e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Como disse Eduardo Galeano: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. E estamos fazendo pouco para mudar a situação para melhor.
Referências:
CEPAL. Panorama Social de América Latina, Santiago do Chile, 22/03/2016
ALVES, JED. Decrescimento econômico e aumento da pobreza na América Latina, Ecodebate, RJ, 23/03/2016
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, 23/05/2016
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