Mariana Tassi Barbosa, 28, recebeu neste mês a última parcela do seguro-desemprego. A analista de mídias sociais, que está sem trabalho há oito meses, vinha usando o benefício para pagar prestações do apartamento que comprou com o noivo.
"Estou quase aceitando ganhar menos do que antes", diz ela, que achava que já estaria empregada a esta hora.
A reportagem é de Joana Cunha e Felipe Maia, publicada por Folha de S. Paulo, 27-05-2016.
À medida que o desemprego avança, piora a situação dos que perdem o direito ao benefício pago pelo governo, válido por até cinco meses (veja quadro).
Além de Barbosa, outras 542,4 mil pessoas receberam a última parcela do benefício neste mês. Desde o começo do ano, já foram 2,862 milhões, número 8% superior ao do mesmo período de 2015 (2,650 milhões), segundo o Ministério do Trabalho.
Ao mesmo tempo, fica mais difícil conseguir uma recolocação num momento em que a economia brasileira está fechando vagas em proporção maior que abrindo novas.
Em abril, pelo 13º mês seguido, o mercado de trabalho formal encerrou 62.844 postos de trabalho.
Mariana Tassi trabalha com redes sociais e está fora do mercado há 7 meses
ESPERA RECORDE
Mariana Tassi trabalha com redes sociais e está fora do mercado há 7 meses
ESPERA RECORDE
De acordo com o IBGE, 30,9% dos desocupados nas seis principais regiões metropolitanas do país em fevereiro estavam fora do mercado de trabalho havia mais de seis meses. Trata-se do maior índice para o mês desde 2006.
O seguro, com valor máximo de R$ 1.542, é em geral usado para despesas mais básicas, como as de alimentação e remédios.
"Ele já é usado no básico. Quando acaba, nem isso eu consigo manter. Carro e geladeira dá para postergar. Arroz, feijão e remédio, não dá", afirma Fabio Pina, assessor econômico da FecomercioSP.
Entre os profissionais entrevistados pela Folha, vários demonstraram surpresa pela duração do desemprego: mesmo com a crise, não achavam que levariam tanto tempo para se recolocar.
"Não imaginava que ia ser tão difícil. Minha área não é tão concorrida", diz a técnica em biblioteconomia Aline da Silva, 26, desempregada há quase dez meses e ainda recebendo o seguro-desemprego, que representa metade do que ganhava antes.
"Não imaginava que ia ser tão difícil. Minha área não é tão concorrida", diz a técnica em biblioteconomia Aline da Silva, 26, desempregada há quase dez meses e ainda recebendo o seguro-desemprego, que representa metade do que ganhava antes.
Imagem: Filipe Campoi/Editoria de Arte Folha de S. Paulo
A técnica já fez ajustes nas contas: a filha de um ano e oito meses foi para uma creche pública, por exemplo.
Ela desistiu de procurar vaga formal: está assessorando o cunhado, que tem um grupo de corrida, e vendendo almofadas personalizadas.
CICLO EM PROGRESSO
Para Pina, é difícil afirmar com precisão em que etapa do ciclo de desemprego o país está hoje. O número de beneficiários do seguro ainda pode variar muito conforme a evolução das demissões, das mudanças dos requisitos adotados para a concessão e do próprio caixa do governo.
A tendência, entretanto, é que os profissionais fiquem mais tempo fora do mercado. As seleções estão demorando mais –as empresas têm mais opções e, ao mesmo tempo, mais receio de errar na contratação.
"Tenho executivos que estão há quatro, cinco meses, em um mesmo processo seletivo", diz Claudia Monari, diretora de outplacement da consultoria Career Center, especializada em recolocação.
Katia Beltrão é formada em economia, tem pós-graduação em marketing e trabalha há mais de 20 anos na indústria farmacêutica. Há sete meses, foi demitida de um cargo de diretoria e, apesar de ter um bom planejamento financeiro, teve de reduzir o nível de consumo.
"Você elimina as despesas supérfluas, a academia fora do prédio, reduz o pacote de pacote de telefone, a frequência a restaurantes", conta ela.
"Você elimina as despesas supérfluas, a academia fora do prédio, reduz o pacote de pacote de telefone, a frequência a restaurantes", conta ela.
Beltrão tem consciência de que, para o seu nível hierárquico, a espera tende a ser maior. "Quando você vai contratar um diretor, há várias etapas, entrevistas. Até falar com todo mundo, é normal que demore um pouco mais."
Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, afirma que ficar desempregado por até seis meses é normal, mesmo em épocas de crescimento econômico. Porém os motivos são distintos: na bonança, é mais comum que a rotatividade seja causada por uma busca de melhores oportunidades. Agora, trata-se de necessidade.
Monari, da Career Center, diz que, durante seleções, os candidatos devem "criar uma narrativa" a respeito do que estão fazendo no período de desemprego e como estão se atualizando –cursos on-line gratuitos, ações para aumentar a rede de contato etc.
"Aos olhos dos recrutadores, não é grave ficar mais tempo fora do mercado em um momento de crise. O problema é quando o mercado está favorável e a pessoa não consegue se recolocar."
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos
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