Ensino médio sofre com professor sem formação específica
Quase a metade dos professores do ensino médio do País dá aulas de disciplinas para as quais não têm formação específica. O problema atinge redes públicas e escolas privadas e é mais grave em algumas matérias, como física. Mais especificamente: dos 494 mil docentes que trabalham no ensino médio, 228 mil (46,3%) atuam em pelo menos uma disciplina para a qual não têm formação. O número de professores com formação adequada em todas as aulas dadas representa 53,7% do total.
Quase um terço (32,3%) só dá aulas em matérias para as quais não tem formação específica. Outros 14% se desdobram entre a área em que são titulados e outras para as quais não são habilitados.
Ao comentar os dados do Censo Escolar de 2015, tabulados pelo Movimento Todos pela Educação, a professora Elaine Assolini (Departamento de Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto) ressalta que a situação, no que se refere à formação inicial do professor, é grave e bastante delicada. Os baixos salários, aliados às condições de trabalho e às poucas perspectivas de desenvolvimento profissional, têm tornado essa formação cada vez menos atrativa.
“A raiz de todo o problema”, argumenta ela, “se encontra no processo de formação inicial, ou seja, nos cursos de graduação, em especial nos cursos de licenciatura, responsáveis pela formação do professor. E uma formação acadêmica forte, uma formação inicial consistente que, de fato, prepare o professor para os desafios das salas de aula ao longo de seu magistério, é imprescindível”.
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Na ausência de professores com formação específica, mobilizam-se aqueles professores com formação em áreas afins. Por exemplo: na falta de professores de física ou química, são recrutados professores com formação em matemática. “Ocorre que cada área do conhecimento, cada disciplina, tem as suas especificidades e a sua didática concernentes àquela área.” Ou seja, não se trata de desconsiderar professores com formação em áreas afins, mas de mostrar a necessidade de uma formação específica.
A professora Elaine defende uma reformulação dos cursos de licenciatura. Hoje, as disciplinas não se inter-relacionam ou são ministradas de forma estanque. Além disso, nem sempre o estágio curricular remunerado atende às necessidades formativas do estudante. É preciso estar sensível também às mudanças vertiginosas e ininterruptas ocorridas em uma sociedade em plena transformação.
A professora Elaine sublinha a importância de uma formação profissional decente para o processo educacional e de aprendizagem, ou mesmo para o desenvolvimento de um trabalho pedagógico. “Se estamos partindo do pressuposto de que (o professor) não conhece as particularidades daquela disciplina, ele chega à sala de aula com algumas lacunas, que poderão impedi-lo de preparar a sua aula de forma a torná-la interessante e instigante.”
Para ela, esse é um momento de reflexão, de debate, que merece a atenção dos estudiosos e pesquisadores que se dedicam a investigar o complexo quadro da formação inicial dos professores.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/02/2017
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