O pior e o melhor do animal humano, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
[EcoDebate] A opção que se coloca no mundo não é apenas a permanência da democracia ou o controle fascista da humanidade, mas as conquistas básicas da civilização humana que permitem a convivência entre as pessoas.
A superação da “lei do talião”, dente por dente e olho por olho, é uma conquista da civilização humana. Embora com tantas críticas e resistências, a ideia de justiça passou da vingança privada para a esfera do Estado. É ele que detém o monopólio da violência e da justiça.
Embora o Estado seja na maioria dos países o espelho da estruturação real da sociedade, o exercício legal do poder pela classe dominante, que faz e executa as leis conforme as suas conveniências – a tal da superestrutura jurídica, como dizia Marx -, há que ser reconhecer que sem regras e sem uma instância de ordem a convivência humana de 7 bilhões na face da Terra seria impossível de existir.
Gandhi, quando criticava a lei do talião, dizia que “no olho por olho todos terminaremos cegos”. É simples acrescentar que no “dente por dente todos terminaremos banguelas”.
A civilização humana experimenta um quadro de rupturas drásticas, consigo mesma e com o ambiente necessário para a existência da vida, particularmente dos seres humanos. Entretanto, nesse momento que deveria ser o da razão, é quando os instintos piores do animal humano afloram, numa real “struggle for life”, construindo muros, enxotando pessoas, “desplazando” os mais fracos, os que menos tem espaços para sobreviver. Para muitos é a predominância do cérebro reptiliano que herdamos de nossos ancestrais.
O capital mudou. Antes desejava que toda humanidade consumisse seus produtos. Hoje, com a consciência dos limites ecológicos – água, solos, minerais, etc. – quer reservar o melhor para uma parte restrita da humanidade. Fala-se que, para sustentar o padrão mundial da classe dominante, a Terra comporta cerca de 2 a 3 bilhões de pessoas (Lovelock), sendo que o restante será fatalmente eliminado por tragédias sociais ou climáticas.
Existem novos humanismos, de respeito ao imigrante, ao meio ambiente, a todos os seres vivos (Laudato Si’), à todas as pluralidades, a consciência da interligação de todos com o tudo. Porém, esse novo é subalterno diante dos instintos primitivos de sobrevivência que se tornam lei, governos e cultura do ódio.
Esse é o embate desse início de milênio. Ou avançamos para formas mais civilizadas de convivência, ou chafurdaremos no pior do animal humano.
Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
www.robertomalvezzi.com.br
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/02/2017
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