2018, antipolítica e as chances dos que tentam sobreviver ao tsunami
Odebrecht
Mesmo antes de consumado o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, já se falava em eleições presidenciais. Agora, com a divulgação da lista do ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin – que abriu 98 inquéritos e remeteu mais de 200 petições para outras instâncias do Judiciário –, as especulações ganharam novos ares. Não é por menos. Na lista estão alguns dos principais nomes da política brasileira, o que levantou a questão: quem está de fora e quem – dos que estão dentro – chegará ileso ou ao menos vivo politicamente para disputar a corrida eleitoral de 2018 que deve começar para valer daqui, mais ou menos, um ano.
A reportagem é de André de Oliveira, publicada por El País, 16-04-2017.
Do lado do PT e do PSDB, partidos que polarizam as disputas eleitorais nacionais desde 1994, as incertezas são enormes. Lula, que antes das delações da Odebrecht vir a público vinha aparecendo como líder em todas as sondagens para 2018, apesar de também registrar alta rejeição, é réu em cinco ações judiciais e, nos últimos dias, teve o nome amplamente ligado as esquema de corrupção da construtora. O ex-presidente é o principal e único nome, por enquanto, do PT. Do lado dos tucanos, o senador Aécio Neves foi um dos mais atingidos na lista de Fachin. Ao todo, cinco inquéritos pesam sobre seu nome.
Geraldo Alckmin, por outro lado, que já vinha enfrentando especulações de uma concorrência de seu afilhado político e prefeito de São Paulo, João Doria, também foi citado nas delações e tem uma petição de investigação encaminhada ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), responsável por julgar governadores. Assim, o caminho, avaliam analistas e cientistas políticos, fica nebuloso, mas pontuado por alguns cenários possíveis – sem falar que as regras eleitorais, especialmente para o Legislativo, podem mudar até lá, a depender da capacidade do Congresso para aprovar uma reforma política antes de outubro.
O discurso da antipolítica, por exemplo, ganha mais um ponto, abrindo caminho para candidatos como o próprio Doria ou Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), que apesar de terem carreira longa na política, tem um discurso antissistema. “No Brasil, o candidato precisa da máquina partidária. As eleições passadas mostraram isso com as candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes, que chegaram a empolgar, mas que depois caíram por erros próprios e também por falta de estrutura”, diz o Alberto Carlos Almeida, analista político e presidente do Instituto Análise. Para ele, o sucesso deles depende muito do apoio que conseguirão.
“No PSDB de São Paulo a conversa sobre a candidatura do Doria já é considerada bem plausível”, diz Almeida. Contudo, ele faz a ressalva de que acredita que Doria teria poucas chances se tentasse um voo solo, por exemplo. Para Thiago de Aragão, da consultoria política Arkos, Ciro Gomes é um nome relevante, mas terá muita dificuldade em alavancar apoios partidários. Já Marina Silva, que sempre é forte, já mostrou que lhe “falta compreensão política” em temas relevantes e que há um exagero de uma “postura messiânica”. “Doria, a meu ver, é o nome mais forte, ainda não tem um ‘passado’ político que possa ser atacado e, se desbancar Alckmin, conta com a máquina do PSDB”, avalia.
Para a pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) Maria Hermínia Tavares, as chances de Lula ficaram reduzidas. “Se não for condenado até lá, deve caminhar para uma derrota”, diz. Pela lei da ficha limpa, Lula só seria inabilitado se tiver condenação na primeira e na segunda instâncias judiciais. Aragão faz avaliação semelhante: “Vejo ele como em 1994, com saída forte e teto baixo, já que polarizou muito com a classe média, que foi responsável por grande parte dos votos dele”. Sua candidatura, seja em qual cenário que se der, contudo, será uma das mais fortes.
Segundo Almeida, o futuro de Lula é incerto, dependendo mais de questões jurídicas – como se desenvolveram seus processos – do que políticas. “Se o Lula for candidato, já começa com as intenções de voto lá no alto, se o PT apoiar ou lançar outra pessoa, haverá o problema da largada. Será necessário construir a candidatura de baixo”, diz. Agora, avalia, caso o PT decida apoiar Ciro Gomes, por exemplo, as eleições de 2018 terão um candidato forte de centro-esquerda, que já começa a corrida eleitoral com intenções de voto e que tem apoio de uma grande estrutura partidária. Hermínia, por seu lado, avalia também que do lado dos eleitos, as aspirações que levam ao PT ao Governo continuam presentes. “Essa é uma sociedade com muitos pobres e eles votam. Os candidatos terão que tentar falar para eles e vencer a enorme desconfiança com relação à política”, completa.
"Os não atingidos não tem qualquer centralidade no sistema político e esse é o motivo por qual não foram atingidos"
Antipolítica e 2018 x 1989
O impasse atual, avalia o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Leonardo Avritzer, é também resultado “do equívoco de toda a investigação Lava Jato”. “Nunca se diferenciou o que era caixa 2 e o que era corrupção, agora todos são atingidos e tratados da mesma maneira”, avalia. “Não é que os não atingidos pela lista não sejam corruptos. O contrário é que é verdadeiro: os não atingidos não tem qualquer centralidade no sistema político e esse é o motivo por qual não foram atingidos”. De certo, conclui Avritzer, é que a qualidade das candidaturas e do sistema político vai baixar ainda mais, deixando o caminho aberto para a antipolítica.
Para o professor da Faculdade Getúlio Vargas, Claudio Couto, o sentimento favorece a subida de outsiders completos, como o extremista Jair Bolsonaro (PSC). Esse assunto, contudo, é mais tratado como uma consequência do discurso antipolítica do que como uma realidade que possa se consolidar em 2018. Para Fernando Limongi, da Universidade São Paulo, “Bolsonaro morre pela boca, não tem discurso”. A tentativa de se eleger como presidente da Câmara, avalia, deixou isso bem claro - ele teve apenas quatro votos. Hermínia concorda: “Acho por ser muito radical, ele tem problemas de crescer como candidato majoritário”.
Por fim, Couto, traça um paralelo entre o cenário de hoje e o desenhado em 1989, quando havia intensa fragmentação política e muita incerteza – o que acabou resultando na eleição de Fernando Collor, um marginal do sistema tradicional. É a avaliação de Claudio Couto, professor de ciência política na Faculdade Getúlio Vargas. “A diferença é que naquele momento vivíamos a construção do sistema político, principalmente no que concerne aos partidos políticos. Hoje, o cenário é de desconstrução e, por isso mesmo, mais desalentador”, diz.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos
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