domingo, 20 de agosto de 2017

RESSACA DANIFICA TRECHO DA ENSEADA DE BOTAFOGO.

Ressaca danifica trecho da Enseada de Botafogo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


Ressaca danifica trecho da Enseada de Botafogo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O fim de semana passado foi de ressaca no Rio de Janeiro, com ondas de até 4 metros. A Marinha do Brasil avisou que o fenômeno afetaria a cidade entre os dias 12 e 14 de agosto de 2017. A Prefeitura do Rio recomendou aos cariocas, fluminenses e visitantes ficarem distantes dos mirantes da orla ou de locais próximos ao mar durante o período de turbulência marinha.
O balanço da segunda-feira mostrou que a entrada da Baía da Guanabara foi bastante atingida. As ondas fortes arrastaram pedras para a praia do Flamengo, além de uma grande quantidade de lixo. Equipes da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) foram mobilizadas para limpar o local.
Um local que corre sério risco de erosão devido à força das ressacas é o dique de contenção que protege as pistas do Aterro do Flamengo, na Enseada de Botafogo, na altura do monumento Estácio de Sá (fundador da cidade do Rio de Janeiro).
A pista de caminhada e ciclismo que contorna a praia de Botafogo, especialmente em frente ao Morro da Viúva, está a dois metros do nível do mar e acima também das pistas do Aterro do Flamengo, que fazem a ligação do Centro para Copacabana, Lagoa e outros bairros da Zona Sul. As pistas funcionam como um dique que contém as águas e protege o bairro do avanço do mar.
Se a força da ressaca destruir os diques de proteção, o efeito sobre a mobilidade urbana pode ser desastroso. Existem muitas pedras protegendo a pista e os arrimos construídos para garantir a manutenção da pista. Porém, é difícil conter a fúria do mar, se não for feita uma manutenção adequada.
Como mostram as fotos acima, a ressaca do último fim de semana provocou rachaduras no dique de proteção e ameaçam a pista de caminhada e ciclismo. Se nada for feito para reparar os danos, uma próxima ressaca pode provocar uma erosão ainda maior e inundar toda a pista de trânsito do Aterro do Flamengo. Como morador do bairro, já comuniquei verbalmente o ocorrido ao administrador do Parque e escrevi um e-mail para a Secretaria de Obras da Prefeitura.
O Rio de Janeiro é uma cidade que vai enfrentar problemas de erosão cada vez mais sérios, devido ao aquecimento global e ao consequente aumento do nível do mar. Nos próximos anos e nas próximas décadas os desastres ambientais vão se agravar e no futuro a cidade pode ficar inviável, se as metas do Acordo de Paris não forem alcançadas e aprofundadas.
O problema não é de apenas uma cidade. As praias do Rio de Janeiro e da maioria dos aglomerados urbanos do planeta correm o risco de serem “varridas do mapa”. Este processo pode ser socialmente grave na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que é a maior e mais complexa aglomeração urbana da zona costeira brasileira, com mais de 12 milhões de habitantes.
Os professores Orrin Pilkey, da Universidade de Duke, nos EUA, e Andrew Cooper, da Universidade de Ulster, no Reino Unido, lançaram o livro “The Last Beach”, em que mostram que as intervenções humanas nas áreas costeiras, junto com a elevação do nível do mar e as tempestades e furacões, por conta das mudanças climáticas, estão provocando vasta erosão de areia em direção ao fundo dos oceanos, promovendo a “varredura” do solo costeiro. Para eles, a sentença de morte já foi proclamada para grandes extensões de praias densamente povoadas.
As estradas, as barreiras e os muros de concreto erguidos pela civilização para proteção contra as tempestades e elevação das águas são incapazes de deter as ondas e servem apenas para acelerar o processo de erosão dos terrenos litorâneos. As barreiras colocadas pelo ser humano fornecem o cenário para as destruições daquilo que foi construído em áreas de baixa altitude. Provavelmente, a subida dos oceanos será impiedosa com as construções antrópicas.
Se o nível dos oceanos subir 2 metros o impacto será devastador para a região metropolitana do Rio de Janeiro. Enquanto isto não acontece, a prefeitura precisa fazer a manutenção das barreiras que protegem o fluxo de pessoas e do trânsito. O estrago que aconteceu no último fim de semana no Aterro do Flamengo foi relativamente pequeno. Mas, se a erosão não for reparada rapidamente, uma nova ressaca pode provocar um rombo muito maior, com grandes prejuízos para as pessoas e a própria prefeitura que, em crise financeira, terá que desembolsar recursos mais vultosos.
Referências:
Orrin H. Pilkey Jr J. Andrew G. Cooper. The Last Beach. Duke University, 2014
https://www.amazon.com/Last-Beach-Orrin-Pilkey-Jr/dp/0822358093
ALVES, JED. Rio debaixo d’água e o fim da praia de Copacabana, Ecodebate, RJ, 14/12/2016
https://www.ecodebate.com.br/2016/12/14/rio-debaixo-dagua-e-o-fim-da-praia-de-copacabana-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. A translação do oceano no Leblon e a erosão do litoral brasileiro, Ecodebate, RJ, 03/11/2016
https://www.ecodebate.com.br/2016/11/03/a-translacao-do-oceano-no-leblon-e-a-erosao-do-litoral-brasileiro-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
 José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/08/2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário. Aguarde a publicação após a aprovação da Professora Conceição.