Os dois lados da Ciência, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] Ao mesmo tempo em que algumas pessoas morrem, muitas outras se desesperam com o desemprego e o fechamento de locais de trabalho. O que fazer quando acaba o dinheiro pra comida e não há sequer esperança de emprego?
Isolamento social não é cura, é um tempo para equipar o sistema de saúde, mas que ao mesmo tempo desestrutura a sobrevivência das pessoas. A ciência médica recomenda o isolamento, a ciência econômica recomenda o funcionamento do que for possível para evitar a miséria e a fome.
O dilema é imenso, porque as mortes começam a aumentar, até a metade de abril o Brasil perdera mais de 1500 vidas devido ao Covid-19 (chegando a 200 por dia), a grande maioria em SP, e estava perto das 20 mortes no RS.
Por outro lado, nesse mesmo período havia mais de 400 municípios gaúchos sem casos de Coronavírus – porque eles teriam de ter as mesmas restrições que os cerca de 90 municípios contaminados? A China isolou a região onde iniciou a pandemia, o que foi eficaz naquele momento. Não seria mais lógico impedir a circulação de um município para outro, ao invés de fechar o município todo?
Essa hipótese afetaria o “direito de ir e vir”, mas não há precedentes para esse tipo de crise, que gera a maior crise econômica desde 1929. Um município prefere fechar seu comércio ou suas estradas, entrando só os caminhões de abastecimento? No município de Campo Bom o primeiro caso que apareceu (de paciente que viajara ao exterior) foi identificado pela saúde municipal, isolado, e seus parentes não se contaminaram. A ciência poderia ter uma estratégia de controlar essas situações.
Os riscos de fato são grandes, porque as mortes começam a aumentar, até a metade de abril o Brasil perdera mais de 1500 vidas devido ao Covid-19 (chegando a 200 por dia), a grande maioria em SP, e estava perto das 20 mortes no RS.
O fato é que não existe só um drama – o da contaminação e risco de morte pelo vírus – mas dois dramas igualmente graves, porque desemprego e fome também são trágicos. Não existe uma fórmula mágica e o mundo todo vive esse dilema.
A melhor alternativa não depende de só uma ciência, a Medicina, mas de duas, integrada à Economia. Para que funcionem precisam de instrumentos adequados: testagem, rede hospitalar, respiradores, equipes de saúde. Pois se o prejuízo econômico é para a saúde ter tempo de se preparar, a estratégia de saúde tem de ser urgente, para permitir que as pessoas possam ser protegidas enquanto lutam também pela subsistência.
Montserrat Martins, Médico, autor de “Em busca da Alma do Brasil”
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/04/2020
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