Reciclagem: índice nacional é de apenas 3%; Estudo revela que mais de 3 mil cidades ainda destinam resíduos para lixões
O Brasil gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSUs) em 2018, uma média de 216.629 toneladas por dia. Para atingir este patamar, cada habitante gerou em média 380 kg de resíduos naquele ano, algo em torno de 1 kg por dia.
Por Thiago Ienco
O mais recente Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil da Abrelpe, com dados coletados em 2018 e analisados em 2019, reforça o alarmante quadro de ineficiência na gestão dos resíduos pelas autoridades, resultando em graves problemas urbanos.
O estudo revela que 29.5 milhões de toneladas acabaram em lixões ou locais similares. Em outras palavras, 40,5% do total de RSUs gerados em 2018 foram destinados por 3.001 municípios para locais desprovidos de qualquer controle.
Além do aspecto sanitário e ambiental, pode-se acrescentar aí também uma questão social, já que muitas pessoas infelizmente sobrevivem a partir do conseguem aproveitar da coleta nestes locais, expostos à toda sorte de doenças e contaminações.
Enquanto 59,5% (43.3 milhões) foram coletados e destinados a aterros em condições, 8% (6.3 milhões) simplesmente não foram recolhidos, ou seja, não houve quem retirasse o lixo da casa destas pessoas.
Outro aspecto infeliz deste quadro é que provavelmente uma parcela considerável destas toneladas é formada por resíduos totalmente recicláveis, que poderiam ser reaproveitados no ciclo do próprio produto ou até mesmo em novos materiais.
Dos 5.570 municípios do Brasil, 70% (4.070) relatam a existência de ao menos uma iniciativa de coleta seletiva. Parece um quadro razoável, mas que fica bem aquém do esperado quando se revela que este tipo de coleta pode não atender a todos os bairros.
O índice nacional de reciclagem é de apenas 3%, o que nos leva a concluir que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei que está prestes a completar 10 anos, segue à deriva enquanto um valioso montante de possíveis matérias-primas acaba no lixo.
A solução passa por iniciativas inovadoras. É o caso da Indústria Santa Luzia em Santa Catarina, que redirecionou sua base de produção de perfis decorativos e revestimentos da madeira para resíduos plásticos no início dos anos 2000.
A empresa recolhe sobras, aparas e resíduos de plásticos como Isopor® (poliestireno expandido ou EPS) e poliuretano (PU) a partir de parcerias com empresas e cooperativas, transformando-os em materiais de construção reciclados e recicláveis.
Desde a mudança de matéria-prima, quase 50 milhões de kg de resíduos de EPS e PU foram reciclados pela empresa, fundada em 1942 como uma modesta fabricante de espelhos, sediada em Braço do Norte (SC).
A iniciativa é louvável, mas depende também de ações integradas entre poder público, empresas e a população em geral. O EPS, por exemplo, é pouco reconhecido como plástico e muitas pessoas sequer sabem que se trata de algo reciclável.
Além disso, trata-se de um material leve (98% é ar) e que ocupa muito espaço, tornando-se pouco atrativo para catadores e cooperativas. Isso faz com que apenas 34,5% sejam reciclados no Brasil, boa parte disto devido ao trabalho da Santa Luzia.
Com mais iniciativas de logística reversa e a integração delas dentro de um contexto de economia circular, vamos colaborar com a construção – literalmente, no caso dos materiais de construção ecológicos – de um futuro viável.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/03/2020
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