Calha Norte – o perigo do desmatamento explosivo nas florestas primárias do norte da Amazônia brasileira
Artigo de Bruno Versiani
[EcoDebate] A chamada calha norte, rodovia ainda não completa e não pavimentada corta o norte da floresta amazônica brasileira. Região onde ainda existem imensos blocos de floresta primária intacta, terras indígenas e unidades de conservação. Não é de importância muito relevante estrategicamente para a economia do país, pois já existem outra vias de saída para exportação, principalmente pelo pacífico, como as rodovias que partem de Rondônia, passam pelo Acre, e sobem pelos Andes peruanos, até desembarcar no pacífico. Sendo assim, não há argumento econômico plausível para uma obra tão onerosa e desastrosa do ponto de vista ambiental.
É claramente sabido que as rodovias pavimentadas constituem o grande vetor de pressão antrópica, a maioria dessa ocupação ocorre de maneira desordenada. As rodovias são o principal vetor de desmatamento. Não estou advogando a causa de deixar as populações que habitam a área sem assistência básica ou governabilidade. Acontece que a densidade populacional da região que a Calha Norte cruza é baixíssima, e haveria outros mecanismos de se levar cuidado básico a essa escassa população. Há estudo econômicos que hipotetizam que em áreas onde a densidade populacional é muito baixa, seria até mais viável economicamente levar a assistência básica e de urgência por via aérea do que abrir ou pavimentar uma imensa rodovia no meio do “nada”.
A tendência das florestas primárias intocadas da amazônia é, lamentavelmente diminuir drasticamente. Além do já difundido corte raso, há a exploração ilegal para madeira, que sobrepuja, em quantidade, em muito a exploração legal. Mesmo quando em uma floresta há exploração com manejo adequado, ela deixa de ser intocada, há mudanças micro climáticas, aumento da incidência solar e mudanças na fauna e flora. Além do mais, a floresta amazônica não é homogênea. A medida que se altera a latitude ou longitude, o clima, a umidade, a exposição solar, a composição florística e faunística mudam. Isso em si, justifica, do ponto de vista ambiental, a necessidade de preservação strictu sensu , e não apenas conservação – são conceitos, do ponto de vista ambiental, distintos.
Como tem sido extensamente propalado pela mídia, o governo está gastando rios de dinheiro em operações questionáveis com o exército na amazônia. O exército não possui a devida experiência para lidar com problemas ambientais, e apenas a “força bruta” não resolve. Enquanto isso a grilagem de unidades de conservação e terras indígenas continua aumentando brutalmente. Existe a sensação de que as reais medidas eficazes não estão sendo tomadas. Um marco ambiental dos governos anteriores foi o foco em unidades de conservação e terras indígenas, além de ações repressivas como a chamada “boi pirata” (retirada de gado de áreas embargadas).
Concluindo : existe a perspectiva de uma obra de astronômico impacto ambiental, sobretudo nos grandes blocos de florestas intocadas, sem ganho econômico, dado que há outras vias de escoamento, e sem argumento racional social que a justifique.
Bruno Versiani
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/08/2020
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