Desfazendo alguns mitos sobre as vacinas, artigo de Alexandre Okamori
[EcoDebate] Diante do impacto da pandemia de Covid-19 sobre a vida de todos, a chegada de uma vacina segura e eficaz, atualmente, é a notícia mais aguardada em todo o mundo. Frente ao desafio de pesquisadores de diversos países, as informações circulam rapidamente e, junto delas, também correm os boatos e “fake news” sobre o tema, colocando em risco a credibilidade desta que representa um dos mais importantes avanços da história da medicina.
Dessa forma, garantir a veracidade das informações que chegam até nós sobre o assunto é vital para conseguirmos controlar e evitar a propagação das doenças.
A maioria das enfermidades que podem ser prevenidas por vacina é transmitida pelo contato com objetos contaminados ou por gotículas de saliva expelidas pela tosse, espirros ou fala.
Vale ressaltar que a vacina continua sendo a melhor forma de prevenção para muitas doenças graves e as complicações que podem surgir, inclusive já ajudou a erradicar a poliomielite e a varíola.
As vacinas são produzidas com o vírus ou bactéria inativa ou com partes desses agentes. Devido a isso, elas não provocam a doença, mas conseguem estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos para combatê-la. Assim, se a pessoa tiver contato com o agente causador da doença, já tem anticorpos para evitar que a doença progrida.
Além da proteção individual, a vacinação é de suma importância para a famosa imunidade de rebanho. Isso quer dizer que é necessário que uma porcentagem x da população (entre 85% e 95%) seja imunizada para evitar a circulação do vírus.
O ideal seria que todas as pessoas pudessem ser imunizadas, mas algumas não podem ser vacinadas. É o caso de pessoas que estão imunossuprimidas, ou seja, com alguma doença ou tratamento que diminua as suas defesas imunológicas e, portanto, não podem tomar a vacina.
No entanto, se todos que puderem tomar vacina o fizerem, vão proteger aqueles que não podem. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Universidade de Oxford apontam que a vacinação em massa evita de 2 a 5 milhões de mortes por ano no mundo.
Entre as diversas informações erradas sobre as vacinas, existem algumas que merecem esclarecimento:
“Não é necessário fazer vacinação de doenças já quase erradicadas”
A vacinação impede que essas doenças voltem, mesmo que estejam quase erradicadas. O sarampo, por exemplo, é um caso de doença que estava controlada e cujos números voltaram a crescer porque uma parcela da população parou de se vacinar.
“Vacinas causam autismo”
O tema ganhou força com a divulgação de um artigo escrito pelo médico Andrew Wakefield em 1998. No entanto, em 2010 essa hipótese foi totalmente retratada devido à descoberta de diversas informações falsas e acordos envolvendo o pesquisador e advogados relacionados a processos por danos vacinais.
“Vacinas tem vários efeitos colaterais ainda desconhecidos”
Em geral, as vacinas não apresentam efeitos colaterais graves. Os casos agudos são raros e não puderam ser associados exclusivamente à vacina, uma vez que outros fatores, como a predisposição genética, também estão envolvidos.
“Vacinas contém mercúrio, que é perigoso para a saúde”
Algumas vacinas podem conter timerosal, um composto orgânico a base de mercúrio. Porém, a quantidade usada é muito baixa, alguns trabalhos mostram que, na alimentação, por exemplo, a dose ingerida de mercúrio é maior.
Em resumo, os riscos associados ao uso de vacinas são largamente sobrepujados pelos riscos da não vacinação, que pode, como já dito, provocar a perda de milhões de vidas. Dessa forma, é obrigação dos profissionais de saúde divulgar os benefícios da vacinação e combater as informações e evidências supostamente científicas que tentam trazer descrédito à vacinação como forma de proteger a população.
Dr. Alexandre Okamori é imunologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2020
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