Cientistas alertam para as consequências da superexploração da Terra, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”
Victor Hugo (1802-1885)
O ano de 2021 tem sido marcado por diversas tragédias climáticas, com ondas letais de calor atingindo zonas frias do Planeta, queimadas destruindo plantações e cidades, degelo dos polos e da Groenlândia e tempestades provocando grandes inundações e mortes.
Nada disto é surpreendente. Ao contrário, os cientistas têm alertado que pontos de inflexão climática são “iminentes”, pois a “superexploração da Terra” tem gerado uma degradação geral da natureza e desestabilizado o equilíbrio homeostático global.
Antes mesmo do último relatório do IPCC (09/08/21), milhares de cientistas repetiram apelos por ação urgente para enfrentar a emergência climática, alertando que vários pontos de inflexão agora são iminentes.
Os pesquisadores – parte de um grupo de mais de 14.000 cientistas que assinaram uma iniciativa que declara uma emergência climática mundial – disseram em um artigo publicado na revista BioScience, no dia 28 de julho de 2021, que os governos falharam consistentemente em lidar com “a superexploração da Terra” , que eles descreveram como a causa raiz da crise.
Desde uma avaliação semelhante em 2019, eles notaram um “aumento sem precedentes” em desastres relacionados ao clima, incluindo inundações na América do Sul e sudeste da Ásia, ondas de calor e incêndios florestais recordes na Austrália e nos EUA e ciclones devastadores na África e no Sul da Ásia.
Para o estudo, os cientistas utilizaram os “sinais vitais” para medir a saúde do planeta, incluindo desmatamento, emissões de gases de efeito estufa, espessura das geleiras e extensão do gelo marinho e desmatamento. Dos 31 sinais, eles descobriram que 18 atingiram altas ou baixas recordes. Por exemplo, apesar de uma queda na poluição ligada à pandemia COVID-19, os níveis de CO2 e metano atmosféricos atingiram níveis históricos em 2021.
A Groenlândia e a Antártica mostraram recentemente os níveis mais baixos de massa de gelo e as geleiras estão derretendo 31% mais rápido do que há apenas 15 anos. O calor do oceano e os níveis globais do mar estabeleceram novos recordes desde 2019, e a taxa de perda anual da Amazônia brasileira atingiu o máximo em 12 anos em 2020.
Ecoando pesquisas anteriores, os pesquisadores disseram que a degradação florestal associada a incêndios, secas e extração de madeira está fazendo com que partes da Amazônia brasileira agora atuem como uma fonte de carbono, em vez de absorver o gás da atmosfera: “há evidências crescentes de que estamos nos aproximando ou já cruzamos uma série de pontos de inflexão climática”.
Desta forma, os autores repetiram apelos anteriores por mudanças transformadoras em seis áreas: eliminação de combustíveis fósseis, redução de poluentes, restauração de ecossistemas, mudança para dietas baseadas em plantas, afastamento de modelos de crescimento indefinidos e estabilização da população humana.
Vale a pena ler o artigo apresentado na referência abaixo (Ripple, 2021). Apresento também na referência abaixo (Alves, 2021) uma aula que tive a honra de administrar no curso AM088 “Antropoceno: desafios da complexidade ambiental”, da Unicamp, falando sobre a crise climática, a ultrapassagem da capacidade de carga do Planeta e o decrescimento demoeconômico. Tentei dar um panorama geral da discussão sobre população e desenvolvimento (sustentável). Espero que gostem da aula!
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
Groenlândia bate recorde de degelo em 2021
https://nsidc.org/greenland-today/
William J Ripple et. al. World Scientists’ Warning of a Climate Emergency 2021, Bioscience, 28/07/2021
https://academic.oup.com/bioscience/advance-article/doi/10.1093/biosci/biab079/6325731
ALVES, JED. Aula 11 AM088: Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta, IFGW, 11/04/21
https://www.youtube.com/watch?v=QVWun2bJry0&list=PL_1__0Jp-8rhsqxcfNUI8oTRO1wBr86fh&index=9
Nota da redação EcoDebate: Leia a síntese das principais conclusões do relatório do IPCC clicando aqui
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/08/2021
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