Rio de Janeiro com crescimento demográfico zero em 2021, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O período de crescimento populacional contínuo do estado do Rio de Janeiro vai, em pouco tempo, ficar para trás. Isto é, nas próximas duas décadas a população fluminense deve continuar crescendo, mas em ritmo cada vez mais lento
“Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer”
Marguerite Yourcenar (1903 – 1987)
O dia de finados (02/11/2021) no estado do Rio de Janeiro vai ter uma característica inédita nos 521 anos da história brasileira. Pela primeira vez em uma Unidade da Federação o número de óbitos praticamente se igualou ao número de nascimentos. Assim, o Rio de Janeiro, que é o estado mais envelhecido do país, apresentou crescimento próximo de zero de 01/01 a 31/10, ou seja, o número registrado de óbitos (caixões) quase se igualou ao número de nascimentos (berços).
O gráfico abaixo, com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, mostra que o número de nascimentos no estado do Rio de Janeiro foi de 159,8 mil bebês e o número de mortes foi de 159 mil óbitos entre 01 de janeiro e 31 de outubro de 2021, consequentemente houve um pequeno crescimento vegetativo de 792 pessoas. Isto é, sem considerar a migração, a população fluminense apresentou uma estabilidade demográfica nos primeiros 10 meses de 2021.
Antes da pandemia, em 2019, o Rio de Janeiro registrou 212 mil nascimentos e 148 mil óbitos, com crescimento vegetativo de 64 mil pessoas. Em 2020, o RJ registrou 197 mil nascimentos e 173 mil óbitos, com crescimento vegetativo de 24 mil pessoas. Desta forma, fica claro que a pandemia reduziu o número de nascimentos e aumentou o número de óbitos, reduzindo a sobrevida principalmente de homens idosos.
O gráfico abaixo, também com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, mostra a distribuição por idade e sexo dos óbitos do Rio de Janeiro nos primeiros 10 meses de 2021 (visitado em 31/10/2021). Nota-se que a maioria dos óbitos da covid-19 são de homens e de idosos.
O número de óbitos superaram o número de nascimentos no Rio de Janeiro até setembro de 2021. Mas com a redução do impacto da pandemia, houve um pequeno saldo a favor dos nascimentos. Nos próximos anos deve ocorrer redução dos óbitos e aumento dos nascimentos, mas dentro do marco das projeções do IBGE que indica decrescimento populacional a partir da década de 2030. Ou seja, o período de crescimento populacional contínuo do estado do Rio de Janeiro vai, em pouco tempo, ficar para trás. Isto é, nas próximas duas décadas a população fluminense deve continuar crescendo, mas em ritmo cada vez mais lento. Com menores taxas de fecundidade, a base da pirâmide etária vai diminuir e haverá um aumento do envelhecimento populacional. Indubitavelmente, a situação conjuntural de 2021 é apenas uma pequena amostra do que deve acontecer de forma estrutural em um futuro não muito distante.
Esta nova realidade parece ser inexorável mesmo na hipótese de aumento do fluxo imigratório. Evidentemente, como mostramos em artigo recente (Alves e Cavenaghi, 2021), muitas pessoas vão lamentar o passado e estranhar o novo padrão demográfico. Porém, não adianta querer contrariar as opções das pessoas e a nova realidade demoeconômica, mas sim defender políticas públicas que garantam o bem-estar social e ambiental diante de um novo cenário que deverá preponderar nas próximas décadas e séculos. A tendência secular é de crescimento da população idosa e diminuição da população total do Rio de Janeiro.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. Óbitos podem superar os nascimentos no Brasil pandêmico, Ecodebate, 05/04/21
https://www.ecodebate.com.br/2021/04/05/obitos-podem-superar-os-nascimentos-no-brasil-pandemico/
ALVES, JED. Três séculos de população no Brasil e os três bônus demográficos, Apresentação Webinário IPEA, 23/06/2021
https://drive.google.com/file/d/1JQW9TcZi3DFFfvEuIM1C78jQIxHLInVn/view
ALVES, JED, CAVENAGHI, S. A Recessão, a Pandemia e o Desempoderamento das Mulheres Brasileiras, Gênero na Amazônia, julho 2021
http://www.generonaamazonia.com/edicoes/edicao-19/03-A-Recessao-A-Pandemia….pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/11/2021
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