Água da Torneira ou Engarrafada? artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho
A venda e o consumo de água engarrafada podem ter impactos ambientais e sociais cujas consequências ainda não são totalmente compreendidas
Um artigo do International Journal of Environmental Research and Public Health (1), de 2011, discute o crescimento de consumo de águas envasadas nos EUA e as causas dessa opção em relação as águas de torneiras provenientes de abastecimentos públicos.
Os autores dessa pesquisa científica comentam que apesar da crença comum de que a água engarrafada é mais segura para beber e tem um sabor melhor do que a água da torneira, estudos científicos mostraram que a crença não é necessariamente verdadeira. A pesquisa também mostra que a venda e o consumo de água engarrafada podem ter impactos ambientais e sociais cujas consequências ainda não são totalmente compreendidas, especialmente porque garrafas de plástico são um problema de desperdício, aumentando a sobrecarga do aterro quando não recicladas.
Segundo o artigo, as percepções de que a água engarrafada é de qualidade superior são desafiadas pelo número crescente de incidentes de qualidade da água com água engarrafada. Um estudo mostrou que apenas 5% da água engarrafada comprada em Cleveland, Ohio, tinha o flúor recomendado pelo estado, enquanto a água da torneira amostrada 100% atendia a esse requisito (2). Outro estudo com foco na temperatura e duração do armazenamento da água engarrafada descobriu que o crescimento bacteriano na água engarrafada era significativamente maior do que na água da torneira, especialmente em temperaturas mais altas (3).
As conclusões dessa pesquisa científica, sintetizadas a seguir, são importantes registros de análise, com ressaltes de questões que devem ser densamente discutidas.
A água é essencial à saúde e à vida humana. O acesso ao abastecimento de água potável e a acessibilidade são preocupações centrais da saúde pública e dos consumidores individuais. Neste estudo, constatou-se que as percepções da qualidade da água subterrânea e da segurança do abastecimento de água local estão associadas às decisões de comprar água engarrafada versus usar sistemas públicos de água para beber. Quando a água local não é considerada segura ou de alta qualidade, é mais provável que os consumidores dos EUA usem água engarrafada como fonte primária de água. Além disso, as percepções negativas de segurança aumentam a probabilidade de um consumidor comprar frequentemente água engarrafada, independentemente de sua fonte primária de água potável ser um pequeno sistema de abastecimento de água ou um grande sistema municipal de abastecimento de água.
Uma das implicações mais importantes das observações da pesquisa são que as autoridades de saúde pública e os líderes comunitários precisam trabalhar para garantir que o abastecimento público municipal de água potável seja seguro; além disso, devem encontrar formas eficazes de comunicar aos residentes locais a segurança do seu abastecimento de água.
Além disso, o público deve estar empenhado em compreender a relação entre a qualidade da água e a capacidade dos sistemas hídricos locais de manter os padrões de segurança e bom gosto. A desconfiança do consumidor em relação à qualidade de suas águas subterrâneas deve ser aproveitada para criar ações comunitárias para lidar com preocupações legítimas.
Os dados e considerações dessa pesquisa nos EUA se encaixam perfeitamente às condições em outras regiões, inclusive no caso potiguar. É relevante a necessidade de dados transparentes, abrangentes e seguros da qualidade da água disponibilizadas nas torneiras e engarrafadas. Essa seria a maneira, sem dúvida, mais consistente para a população poder exercer seu direito de opção entre os dois tipos de água, já que a escolha crescente, hoje, pelas águas envasadas se deve muito mais por uma concepção ou juízo pessoal de qualidade do que por uma decisão técnica.
Referências Bibliográficas
(1) Hu, Z., Morton, L.W, Mahler, R.L. 2011. Bottled Water: United States Consumers and Their Perceptions of Water Quality. Int. J. Environ. Res. Public Health, 8, 565-578.
(2) Lalumandier J.A.; Ayers, L.W. Fluoride and bacterial content of bottled water vs. tap water. Arch. Fam. Med. 2000, 9, 246-250.
(3) Raj, S.D. Bottled water: how safe is it? Water Environ. Res. 2005, 77, 3013-3018.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em pesquisa mineral e geoquímica ambiental. Geoquímico da empresa Canal Geoquímico.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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