Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Declínio populacional da Coreia do Sul – Altas do custo de vida, falta de moradia acessível, mercado de trabalho precário e sistema educacional rígido são alguns dos obstáculos para os jovens.
A Coreia do Sul era uma colônia japonesa até 1945, conquistou a independência após o fim da Segunda Guerra Mundial, mas entrou em guerra contra a Coreia do Norte entre 1950 e 1953 e saiu arruinada, sendo uma nação pobre, rural e com poucos recursos naturais. A Taxa de Fecundidade Total (TFT) estava acima de 6 filhos por mulher na década de 1950.
Contudo, a Coreia do Sul buscou superar o período de guerra, iniciando um processo de rápida transição demográfica e de intenso desenvolvimento econômico. A TFT estava em 6 filhos por mulher em 1960, caiu pela metade (para 3 filhos por mulher) em 1977 e reduziu para 1,93 filhos por mulher em 1984. Portanto, as mulheres sul-coreanas passaram de 6 filhos para menos de 2 filhos em 24 anos, perfazendo uma transição da fecundidade super rápida (lembrando que a taxa de reposição é de 2,1 filhos por mulher).
Mas o processo não parou aí e a TFT alcançou 0,78 filho por mulher em 2022 e 0,72 filho em 2023, as taxas mais baixas do mundo. Como resultado, a população total chegou ao pico de 52 milhões de habitantes em 2020 e já iniciou o processo de decrescimento demográfico. Quanto mais baixa for a fecundidade, maior será o encolhimento da população (considerando baixo saldo migratório).
O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, considerando a hipótese mais baixa das tendências da fecundidade, mostra que a TFT pode ficar em torno de 0,6 filho por mulher na atual década e subir um pouco nos anos seguintes, embora sempre ficando abaixo de 1 filho por mulher. Neste cenário, a população sul-coreana deve decrescer de 52 milhões de habitantes em 2022 para 26 milhões de habitantes em 2078. Ou seja, a população da Coreia do Sul deve diminuir pela metade em 56 anos.
Para evitar uma queda tão rápida da população, o governo sul-coreano já investiu US$ 270 bilhões em programas para incentivar os casais a terem mais filhos, incluindo subsídios em dinheiro, serviços de cuidado de crianças e apoio ao tratamento da infertilidade. A atual administração, liderada pelo presidente conservador Yoon Suk Yeol, fez da meta de aumento da taxa de natalidade uma prioridade nacional e prometeu apresentar medidas extraordinárias para enfrentar a situação.
Mas os incentivos financeiros e sociais não estão conseguindo convencer os casais a ter mais filhos. Os jovens citam o aumento vertiginoso dos custos de criação dos filhos e dos preços dos imóveis, a falta de empregos bem remunerados e o sistema educativo implacável do país como obstáculos à criação de famílias maiores.
Os demógrafos afirmam que os fatores culturais e as desigualdades de gênero também são responsáveis, incluindo a dificuldade que as mães trabalhadoras têm em conciliar o seu trabalho com a expectativa de que sejam as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo cuidado dos filhos. Ser casado é visto como um pré-requisito para ter filhos na Coreia do Sul, mas os casamentos também estão diminuindo, sendo o custo de vida frequentemente apontado como a principal razão.
Os grandes partidos políticos da Coreia do Sul apresentaram políticas para conter o declínio populacional antes das eleições para a Assembleia Nacional de abril de 2024, incluindo mais habitação pública e empréstimos mais fáceis, na esperança de atenuar o alarme crescente de que o país está em processo de “extinção nacional”.
Outra preocupação é com o rápido processo de envelhecimento. A idade mediana da Coreia do Sul ficou em 44 anos em 2023 e deve superar 60 anos no final do século. A população em idade ativa já está diminuindo desde a década passada e a razão de dependência demográfica tem subido de forma rápida. Isto quer dizer que o país já passou pelo fim do 1º bônus demográfico e agora só pode contar com o 2º bônus (da produtividade) e o 3º bônus (da longevidade).
A vantagem é que a Coreia do Sul já é um país rico, com excelentes sistemas de saúde e educação e possui uma das expectativas de vida mais elevadas do planeta. Por fim, mas não menos importante, o decrescimento populacional ajudará o país a reduzir a Pegada Ecológica, diminuindo as emissões de carbono e fazendo a transição energética. Equilibrar a dinâmica da economia, da demográfica e do meio ambiente será a tarefa das próximas décadas.
Referências:
ALVES, JED. Parceria Econômica Global Abrangente (RCEP) e a trilateral China-Japão-Coreia do Sul, Ecodebate, 15/10/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/01/15/parceria-economica-global-abrangente-rcep-e-a-trilateral-china-japao-coreia-do-sul-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. População da Coreia do Sul de 1950 a 2100, Ecodebate, 08/05/2023
https://www.ecodebate.com.br/2023/05/08/populacao-da-coreia-do-sul-de-1950-a-2100/
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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