quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

BELO MONTE


A NESA afirma que sim, mas o Sistema de Transposição de Embarcações não funciona em Belo Monte 

denúncia

Altamira/PA, 28 de dezembro de 2012
A semana anterior ao Natal foi surpreendida com a circulação de uma matéria veiculada por uma das maiores mídias do País. A matéria dizia que o sistema de transposição para navegabilidade do rio Xingu, na área da ensecadeira do sítio Pimental, já estava concluído e em pleno funcionamento. A notícia logo se espalhou, mas para algumas pessoas que viajam constantemente para a volta grande do Xingu tudo isso não passava de mais uma grande mentira da Norte Energia (NESA).
Hoje as 09h30min uma equipe composta por nove pessoas, entre estas: um cinegrafista, uma repórter, ativistas socioambientais, um pescador, artistas que divulgam a luta contra Belo Monte e o piloto da voadeira, dirigiram-se até a ensecadeira para saber a verdade dos fatos. Encontraram o seguinte:
- Os trabalhos na ensecadeira do Pimental e no sistema de transposição continuam a todo o vapor. Todas as máquinas pesadas e outros veículos (escavadeiras, tratores, caçambas, caminhões, ônibus, veículos pequenos, balsas e voadeiras), estão funcionando na obra;
- Estão sendo realizados serviços de drenagem de lagos, aterramento de lagos e estradas, transportes de carros e trabalhadores entre a ensecadeira e a área de transposição. Há homens trabalhando em soldagem de ferros nas duas plataformas de transposição das embarcações;
- Topógrafos e engenheiros estavam a postos;
- A Empresa responsável pela transposição é a Transglobal, que está com uma equipe de 21 trabalhadores no local, 24h a disposição de ninguém, exceto da nossa equipe, que chegou hoje para fazer o transbordo sem sucesso;
- O canal de navegabilidade, com aproximadamente 600m, continua sendo o do curso natural do rio, que não foi fechado;
- Formou-se uma forte corredeira (os pescadores chamaram de cachoeira) que não existia no canal natural, mas logo foi detectada pelo piloto e pelo pescador que trabalham/trabalhavam nessa área do Xingu.
Conferi, nesse momento, 35 homens e mulheres trabalhando na parte da jusante do Sistema de Transposição de Embarcações (STE), mas existem trabalhadores espalhados por toda a obra. Nesse local, as obras estão assim: a estrada, com cerca de 2 km, está apenas no barro e com muita lama por conta das chuvas; as plataformas que farão o transbordo não estão concluídas; a rampa para o acesso das embarcações são improvisada; as embarcações serão levadas por uma carretinha acoplada a um trator. Nenhuma obra, tanto na ensecadeira quanto na transposição, estão concluídas.
A NESA afirma que sim, mas o Sistema de Transposição de Embarcações não funciona em Belo Monte
Nossa experiência para inaugurar a transposição foi decepcionante. Chegamos do lado da jusante (termo utilizado pelos funcionários) para fazermos o transbordo para a montante, ao pararmos na rampa improvisada fomos bem recebidos pelos funcionários da Transglobal, uma empresa de Manaus que será responsável pela transposição das embarcações e do povo. Perguntamos ao encarregado se eles já tinham experiência nesse ramo, a resposta foi não, mas segundo ele a equipe está preparada para o serviço, também informou que o tempo será de 40 minutos para o transbordo.
Depois de ouvirmos como se daria nossa travessia, ficamos aguardando uma van para nos transportar, enquanto isso um trator com um suporte de ferro se aproximava da rampa para levantar a voadeira de 12 lugares e assim transportá-la até a montante, ficamos aguardando na van aquela operação. Com muita dificuldade o manobrista do trator não conseguia posicionar o suporte corretamente para içar a voadeira, a van sem ar condicionado começou a esquentar e tivemos que abrir a porta para ventilar, em seguida veio o encarregado nos dar a noticia que o transporte da voadeira não seria possível por algum motivo que não prestei atenção, e assim seguimos na van pela estrada de lama até o provável lago chamado por eles de montante. Nossa voadeira teve que seguir seu trajeto pelo rio.
Após essa situação e de volta ao nosso transporte, o piloto nos disse que a mesma não chegou a ser colocada sobre o suporte porque o mesmo é curto e o motor ficaria forçando, correndo o risco de quebrar no transporte até o outro lado do rio. Essa aventura levou mais de 30 minutos e não se conseguiu fazer o transporte da nossa embarcação.
Imagem da plataforma
Imagem da plataforma
Um dos trechos da matéria que nos referimos no início diz o seguinte: “Para permitir a navegação, a empresa também construiu um sistema de transposição, que é um guincho usado para atravessar as embarcações por cima da barragem”; “O sistema já está operando para pequenos barcos”.
A presença da empresa responsável para fazer a transposição não significa que está acontecendo o transbordo. Nenhum pescador ou piloto de voadeira estão usando o STE e nem mesmo sabem como funciona. Mesmo assim, a empresa está sendo paga? As condições inacabadas da transposição não oferecem nenhuma condição e segurança para a sua operacionalidade. Fomos os primeiros a tentar o caminho da transposição. Tudo não passou de uma mentira que foi publicada.
Após a visita ao setor de transposição nos dirigimos para a ensecadeira do Pimental. As máquinas e trabalhadores continuam a trabalhar. Estão fazendo a drenagem dos lagos e subindo o nível das ensecadeiras, que aumentou consideravelmente em relação ao nível do rio Xingu.
As perguntas: por que estão querendo que os barcos e voadeiras comecem a utilizar o sistema de transposição sem antes concluírem a obra? O rio não foi todo fechado. Segundo o pescador que foi com a gente o canal por onde os barcos estão passando não tinha cachoeira, agora se formou uma, a correnteza está muito forte e ainda só está no inicio do inverno. Será que estão se prevenindo caso as rabetas e outros barcos, com motores menos potentes, não consigam passar com a força do inverno?
Em se tratando de Norte Energia (NESA), apoiada pela grande mídia e pelo Governo Federal, tudo sempre se transforma em incertezas, mentiras e ilusões.
Colaboração de Dion Monteiro para o EcoDebate, 02/01/2013

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