sábado, 31 de agosto de 2013

EX- IUGOSLÁVIA



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A ex-República Socialista Federativa da Iugoslávia desintegrou-se pela guerra civil étnica 
desencadeada nos princípios da década de 1990. As várias etnias que a compõem (sérvios, croatas, eslovenos, montenegrinos, albaneses e macedônicos), a partir do colapso do socialismo, retomaram as antigas guerras tribais que tanto infelicitaram a região, aquela esquina do mundo, onde, no passado, interesses conflitantes das grandes potência imperais (da Áustria, da Rússia, da Turquia otomana) se encontravam, acirrando o ódio das populações locais, umas contra as outras. Quando todos analistas pensavam que as velhas rivalidades e antigos ódios estivessem sepultados por mais de quarenta anos de convívio de paz sob um regime comum (o comunismo não-stalinista de Tito), eis que os fantasmas vingativos, vindo de tempos remotos, resolveram reaparecer para uma mortífero acerto de contas entre as diversas tribos balcânicas, banhando as montanhas, os vales e as cidades da Iugoslávia com o sangue dos inocentes. Como uma mancha, o desacerto intra-étnico começou em 1990 com a "guerra dos dez dias" da Eslovênia contra o exército iugoslavo, estendendo-se depois para o centro e finalmente chegando, dez anos depois, à Macedônia, a mais meridional das repúblicas balcânicas. Churchill disse certa vez que os Bálcãs produziam mais história do que podiam consumir, enquanto Otto von Bismarck, o chanceler alemão, desprezava aquela região pobre, assegurando que "os Bálcãs não valem os ossos de um granadeiro alemão."
Nos tempos antigos, a partir do século IV, a região balcânica, genericamente chamada de Dácia pelos romanos, serviu como zona limítrofe entre o Império Romano Ocidental, com capital em Roma, e o Império Bizantino, com capital em Constantinopla. Quando, mais tarde, a Igreja cristã dividiu-se em duas, uma parte católica obedecendo ao papa de Roma, outra greco-ortodoxa, fiel ao patriarca de Bizâncio, durante o chamado Cisma do Oriente, no séc. XI, os habitantes da região também foram obrigados a optar, por uma ou por outra das religiões. Para piorar ainda mais os problemas geográficos e religiosos, no século XV a região foi invadida pelos turcos otomanos, vindo do Sul, depois de terem ocupado Constantinopla em 1453, que terminaram por introduzir mais um elemento complicador nos Bálcãs (Balcãs, em turco, significa montanhas ou zona montanhosa). Para assegurar-se da fidelidade das suas áreas ocupadas, eles obrigaram a população local, especialmente os moradores da Albânia e da Bósnia, à conversão ao islamismo. Faziam isto para as usar como barreiras hostis ao cristianismo. Enquanto a parte norte da atual Iugoslávia, as regiões da Eslovênia e da Croácia, ficaram sob a tutela dos imperadores austríacos, de cultura alemã e religião católica, o centro-sul ficou sob controle dos turcos muçulmanos até o início do século XX. Portanto, há cinco séculos, os Bálcãs ficaram divididos em três religiões rivais: o catolicismo (predominante na Eslovênia e Croácia), a greco-ortodoxa (predominante entre os sérvios, montenegrinos e os macedônicos), e o islamismo (majoritário entre os albaneses e os bósnios).

A Guerra Balcânica e a Grande Sérvia
Em 1908, um grupo de jovens oficiais turcos deu início a uma revolução reformista que pretendia modernizar o Império Turco Otomano, mergulhando numa longa estagnação. Ao deporem o sultão, porém, terminaram por incitar uma onda de descontentamento geral contra o domínio turco. Aproveitando-se da confusão provocada pelas reformas, o Reino da Sérvia de Pedro I, da dinastia dos Karagerogevitch, aliou-se aos búlgaros e romenos para dar início a uma guerra que tinha por objetivo afastar os turcos dos Bálcãs. Travou-se então, de 1911 a 1913, a primeira guerra balcânica, que assegurou a independência das nações daquela região. Logo em seguida, as ambições da Sérvia voltaram-se para o Oeste, em vistas da formação da Grande Sérvia, que, por ser um reino geograficamente fechado, desejava anexar a Bósnia, para desta forma por um pé no Mar Adriático. Ocorre que a Bósnia era província do Império Habsburgo desde 1908 e os austríacos viram, por detrás das manobras expansionistas da Sérvia, os interesses de Moscou. Como os czares da Rússia não tinham, nos últimos séculos, conseguido abrir caminho para o Mediterrâneo, devido ao controle que os turcos exerciam sob as duas margens do Bósforo, o governo russo estava insuflando a Sérvia para obter tal fim. No complicado tabuleiro de xadrez balcânico, os povos locais sempre foram vistos como peões sem vontade própria, a não ser a de vingarem-se uns dos outros, movidos pelos que jogavam pesado, isto é, as grandes potências. Como atualmente muitos analistas acreditaram que o bombardeio da Sérvia, executado pela Otan em 1999 durante 72 dias, era uma maneira de atingir e humilhar a Rússia pós-glasnost, uma ex-potência empobrecida e desmoralizada.

O Reino da Iugoslávia (1918-1941)
Com a derrota dos três grandes impérios (austro-húngaro, o russo e o turco otomano), os Bálcãs finalmente livraram-se da tutela estrangeira. Pelos Tratados de Paris, em 1919, garantiu-se a autonomia do Reino da Sérvia, da Croácia e da Eslovênia (formada pela Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia), depois entendido como Reino da Iugoslávia, com capital em Belgrado, sendo a coroa pertencente a Pedro I. Mas não durou muito a tranqüilidade daquele reino. Em março de 1941, Pavel, o príncipe regente da Iugoslávia, cedendo à pressão dos nazistas e dos fascistas italianos, foi constrangido a assinar um tratado com o Eixo, o que colocava os Bálcãs subordinados às potências fascistas. Foi o que bastou para que uma rebelião popular antimonárquica e antifascista tomasse conta das ruas de Belgrado. Adolf Hitler aproveitou-se da situação confusa em que o reino caiu e ordenou, em abril de 1941, que suas divisões, juntamente com tropas húngaras, italianas e búlgaras o ocupassem. Para os estrategistas militares, a necessidade de manter os Bálcãs militarmente ocupados fez com que Hitler fosse obrigado a atrasar em dois meses a invasão da URSS, contribuindo assim os iugoslavos, indiretamente, para o retardo do início da guerra contra os soviéticos.

O Acirramento do Ódio
Aproveitando-se da presença das tropas nazistas, os croatas, que se diziam oprimidos no Reino da Iugoslávia, proclamaram sua independência. Logo restauraram a monarquia com o rei Tomislau II, que entregou o poder aos nacionalistas croatas pró-nazistas do partido Ustacha, liderado por Ante Pavlevic. O Estado da Croácia, alargado enormemente com a anexação da Bósnia-Herzegovina e da Dalmácia, com o consentimento de Hitler, deu então caça aos seus inimigos: os sérvios, os judeus, os ciganos, e todos antifascistas que se lhe opunham. Conduzidos ao campo de concentração de Jasenovac, estima-se que os fascistas croatas assassinaram entre 350 a 450 mil pessoas! O nome dos ustachi, a milícia croata, causou o mesmo horror à população balcânica que as tropas de ocupação da SS. Como não podia deixar de ser, como tantos outros invasores dos Bálcãs no passado, os nazistas também exploraram a seu favor os eternos ódios locais. Em geral, verificou-se que os católicos eslovenos e croatas, e os albaneses muçulmanos alinharam-se com os nazi-fascistas (inclusive formando regimentos SS para combater ao lado deles), enquanto as outras etnias perseguidas foram para as montanhas juntar-se à resistência organizada pelos monarquistas sérvios, os chétniks do general Draza Mihailovic, o ex-ministro da Defesa do governo iugoslavo, agora no exílio, e pelos partisans, os guerrilheiros comunistas de Tito. Quando a guerra terminou, com a derrota dos nazi-croatas, os sérvios foram orientados por Tito a não praticar retaliações contra os civis, justiçando apenas os ustachi.

Fontes: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/iugoslavia.htm

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