quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A TRANSIÇÃO RELIGIOSA NO BRASIL .

A transição religiosa nas grandes regiões do Brasil, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


população do brasil e regiões, por grupos religiosos, em %
[EcoDebate] Quinhentos anos após a Reforma Protestante, o quadro religioso está mudando de maneira irreversível na América Latina. O Brasil e suas grandes regiões estão passando por uma acelerada transição religiosa que se manifesta em 4 aspectos:
1) Declínio absoluto e relativo das filiações católicas;
2) Aumento acelerado das filiações evangélicas (com diversificação das denominações e aumento dos evangélicos não institucionalizados);
3) Crescimento lento do percentual das religiões não cristãs;
4) Aumento absoluto e relativo das pessoas que se declaram sem religião (incluindo ateus e agnósticos);
O quadro que se desenha para um futuro próximo é de mudança de hegemonia entre católicos e evangélicos, com os segundos ultrapassando os primeiros e aumento da pluralidade de crenças e do processo de secularização (grande aumento da desafeição religiosa e da apostasia).
O censo demográfico de 1890, realizado logo após a Proclamação da República (1889), apontava que os católicos eram, praticamente, 100% da população brasileira. Mas esse número veio caindo e estava em praticamente 90% em 1980. Mas a partir daí a queda se acelerou e os católicos ficaram com 83,3% em 1991, 73,9% em 2000 e 64,6% em 2010.
Entre 1890 e 1970 os católicos perderam posição relativa na população total cerca de 1% por década. Entre 1991 e 2010 a perda passou a ser de 1% ao ano. Portanto, o ritmo de queda da presença católica no Brasil foi multiplicado por dez.
Todavia, esta queda não é uniforme e segue ritmos diferenciados nas regiões, nos Estados e nas cidades. A Unidade da Federação com menor proporção de católicos é o Rio de Janeiro e a com maior percentagem de evangélicos é Rondônia. O Rio de Janeiro também é a UF com maior pluralidade de crenças e com o maior percentual de pessoas que se declaram sem religião.
A região geográfica mais avançada na transição religiosa é a Sudeste (com mais de 80 milhões de habitantes em 2010) onde os católicos caíram de 69,2% para 59,5% entre 2000 e 2010, os evangélicos passaram de 17,5% para 24,6%, as outras religiões passaram de 4,9% para 7% e os sem religião passaram de 8,4% para 9%, no mesmo período.
Nas regiões Centro-Oeste e Norte o percentual de católicos é bem parecido com o percentual da região Sudeste. Já o percentual de evangélicos é maior na região Norte, que, no entanto, tinha um percentual de sem religião menor do que em outras regiões, com exceção da região Sul. A região Nordeste tinha o maior percentual de católicos e o menor de evangélicos. Já a região Sul fica na transição religiosa um pouco à frente da região Nordeste, mas atrás das demais regiões.
Nota-se que a transição religiosa não tem uma relação determinística com o grau de desenvolvimento, pois enquanto o Sudeste lidera o quadro de transformações religiosas, juntamente com a região Norte, a região Sul está mais próxima da região Nordeste. O fato comum entre as regiões é que os quatro pontos indicados no início deste artigo seguem ao longo do tempo, apenas com velocidades diferentes de transições.
Referências:
ALVES, J. E. D; NOVELLINO, M. S. F. A dinâmica das filiações religiosas no Rio de Janeiro: 1991-2000. Um recorte por Educação, Cor, Geração e Gênero. In: Patarra, Neide; Ajara, Cesar; Souto, Jane. (Org.). A ENCE aos 50 anos, um olhar sobre o Rio de Janeiro. RJ, ENCE/IBGE, 2006, v. 1, p. 275-308
https://pt.scribd.com/doc/249670739/A-dinamica-das-filiacoes-religiosas-no-Rio-de-Janeiro-1991-2000-Um-recorte-por-educacao-cor-geracao-e-genero
ALVES, JED, BARROS, LFW, CAVENAGHI, S. A dinâmica das filiações religiosas no brasil entre 2000 e 2010: diversificação e processo de mudança de hegemonia. REVER (PUC-SP), v. 12, p. 145-174, 2012.
http://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/14570
ALVES, JED, CAVENGHI, S. BARROS, LFW. A transição religiosa brasileira e o processo de difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro, PUC/MG, Belo Horizonte, Revista Horizonte – Dossiê: Religião e Demografia, v. 12, n. 36, out./dez. 2014, pp. 1055-1085
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2014v12n36p1055/7518
ALVES, JED. “A encíclica Laudato Si’: ecologia integral, gênero e ecologia profunda”, Belo Horizonte, Revista Horizonte, Dossiê: Relações de Gênero e Religião, Puc-MG, vol. 13, no. 39, Jul./Set. 2015
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2015v13n39p1315
ALVES, JED et. al. Cambios en el perfil religioso de la población indígena del Brasil entre 1991 y 2010, CEPAL, CELADE, Notas de Población. N° 104, enero-junio de 2017, pp: 237-261
http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/41954/1/S1700164_es.pdf
ALVES, JED, CAVENAGHI, S, BARROS, LFW, CARVALHO, A.A. Distribuição espacial da transição religiosa no Brasil, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 29, n. 2, 2017, pp: 215-242
http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/112180
ALVES, JED. CAVENAGHI, S. Igreja Católica, Direitos Reprodutivos e Direitos Ambientais, Horizonte, Belo Horizonte, v. 15, n. 47, p. 736-769, jul./set. 2017
http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.2175-5841.2017v15n47p736
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/12/2017

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