domingo, 26 de janeiro de 2025
O rápido retorno da água para a atmosfera através das plantas .
Um novo estudo, liderado por cientistas da Universidade Chapman, fornece as primeiras estimativas globais abrangentes da quantidade de água armazenada nas plantas da Terra e a quantidade de tempo que leva para que essa água flua através delas.
A informação é uma peça que falta no quebra-cabeça na compreensão do ciclo global da água e como esse ciclo está sendo alterado por mudanças no uso da terra e no clima.
O estudo, publicado na revista Nature Water, descobriu que a vegetação da Terra armazena cerca de 786 km 3 de água, apenas cerca de 0,002% da quantidade total de água doce armazenada na Terra.
O estudo também descobriu que o tempo que leva para a água fluir através das plantas (referidas como tempo de trânsito ou rotatividade) e o retorno à atmosfera está entre os mais rápidos no ciclo global da água, variando de apenas cinco dias em terras agrícolas a 18 dias em florestas de folhas de agulhas sempre verdes.
O trânsito de água através das plantas é particularmente rápido em terras cultiváveis, pastagens e savanas. Os resultados ressaltam o papel dinâmico da vegetação no ciclo da água. Em comparação com a mediana anual global de 8,1 dias para a água transitar através de plantas da entrada para sair, estima-se que a água nos lagos leve 17 anos, e a água nas geleiras é estimada em 1600 anos.
A equipe de pesquisa observa que, combinando as estimativas do trânsito de água através das plantas com o trânsito de água através da atmosfera (cerca de 8-10 dias) e o tempo de trânsito da água através do solo antes de serem retomada pelas plantas (cerca de 60 a 90 dias), eles podem começar a estimar a quantidade completa de tempo que leva para uma gota de água se mover através do ciclo terrestre da água.
Para gerar as estimativas, a equipe de pesquisa primeiro calculou a quantidade de água armazenada em plantas usando dados da missão de satélite da Missão Passiva Ativa da Seril Umidade (SMAP) da NASA, que forneceu estimativas de alta resolução da água nos solos. A missão SMAP originalmente viu as plantas como interferindo nas medições de umidade do solo e estava corrigindo sua presença.
Os pesquisadores descobriram que essas correções realmente continham informações valiosas para entender o ciclo da água. A equipe combinou estimativas de armazenamento de água da planta com estimativas de ponta das taxas em que a água está deixando as plantas para determinar o tempo de trânsito da água através da vegetação.
Os pesquisadores descobriram que os tempos médios de trânsito de água através da vegetação acima do solo variam de 5 dias em terras agrícolas a 18 dias em florestas de folhas de agulhas perenes, com uma mediana global de 8,1 dias.
A equipe de pesquisa também descobriu que o tempo de trânsito da água através da vegetação variou consideravelmente em diferentes tipos de cobertura terrestre, clima e estações do ano.
O tempo de trânsito da água através das terras agrícolas foi significativamente e consistentemente o mais rápido, com a água transitando através de plantas em menos de um dia durante o pico da estação de crescimento.
Armazenamento de água na vegetação e tempo de trânsito. Fonte: Chapman University
Referência:
Felton, A.J., Fisher, J.B., Hufkens, K. et al. Global estimates of the storage and transit time of water through vegetation. Nat Water (2025). https://doi.org/10.1038/s44221-024-00365-9
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
O saldo comercial da China foi de quase 1 trilhão de dólares .
Com a estratégia de “dupla circulação” (fortalecer o mercado interno e as conexões globais), a China tende a se consolidar como um dos maiores atores do comércio global
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O crescimento da economia chinesa, desde as reformas iniciadas por Deng Xiaoping no final da década de 1970, não tem precedentes históricos. Nunca um país cresceu tanto em tão pouco tempo. Fazendo parte de uma estratégia global de desenvolvimento, o comércio exterior da China, desde 2001, tem sido um dos fenômenos econômicos mais impressionantes das últimas décadas.
A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro de 2001, foi um marco que impulsionou sua integração na economia global e catalisou mudanças profundas no comércio internacional.
A adesão à OMC deu à China acesso mais amplo aos mercados globais, permitindo a redução de tarifas e outras barreiras comerciais para seus produtos. A China comprometeu-se a cumprir regras comerciais globais, o que aumentou a confiança de investidores e parceiros comerciais.
O país transformou-se rapidamente em uma base de manufatura global, oferecendo mão de obra abundante e de baixo custo, além de uma infraestrutura logística em rápido desenvolvimento. Isso atraiu grandes volumes de investimentos estrangeiros diretos (IED), com muitas empresas multinacionais estabelecendo fábricas na China para exportação.
A política macroeconômica de elevadas taxas de poupança, equilíbrio fiscal, baixa carga tributária, controle da inflação, política de pleno emprego e câmbio competitivo criou vantagens estruturais para o rápido crescimento econômico.
O governo chinês adotou políticas pró-exportação, incluindo incentivos fiscais, subsídios e zonas econômicas especiais. O planejamento estratégico enfatizou o desenvolvimento de setores competitivos no mercado global, como eletrônicos, têxteis e produtos químicos.
A China tornou-se a “fábrica do mundo”, reconfigurando as cadeias globais de produção e suprimento. Componentes de todo o mundo passaram a ser montados na China para exportação. A concorrência com produtos chineses afetou muitos setores industriais em países desenvolvidos e em desenvolvimento, forçando a realocação de indústrias e a revisão de políticas comerciais.
A expansão do comércio exterior da China contribuiu para sua ascensão como potência econômica e geopolítica.
A China manteve altas taxas de poupança e investimento e manteve uma política de superávits crescentes na balança comercial. A renda per capita e o consumo interno cresceram aceleradamente, mas a China manteve a política de fortalecer a produção sobre o consumo, criando uma situação de “excesso de capacidade produtiva interna”.
Muitos economistas internacionais recomendam políticas de transferência de renda para aumentar o consumo das parcelas pobres da população e um sistema de proteção social mais amplo. Mas a China busca reciclar o seu superávit comercial via investimentos em infraestrutura no restante do mundo. Assim, a iniciativa Belt and Road (Nova Rota da Seda) tem o objetivo de ser um canal de exportação do elevado nível de poupança interna e também de ampliação de sua influência comercial e diplomática. A China está fazendo a transição clássica de um país exportador de mercadorias para um país exportador de “capital”.
Com a estratégia de “dupla circulação” (fortalecer o mercado interno e as conexões globais), a China tende a se consolidar como um dos maiores atores do comércio global nas próximas décadas.
O crescimento comercial da China desde 2001 não é apenas um exemplo de sucesso econômico, mas também uma transformação estrutural que alterou profundamente as dinâmicas do comércio e das economias globais. A grande novidade é que a China está se transformando em exportadora de capitais, sem abandonar a estratégia de exportação de mercadorias e serviços.
Mas a desaceleração da econômica global e as tensões comerciais, como a guerra comercial EUA-China, podem afetar a estabilidade. Neste contexto, a China busca reduzir sua dependência de manufatura básica, priorizando inovação em setores como inteligência artificial, semicondutores, energia renovável, baterias e carros elétricos. A complexidade produtiva aumentou, mas a China mantém uma espécie de política mercantilista no comércio global.
Para efeito de comparação, o Brasil exportava mais do que a China há 40 anos. Em 1984, as exportação brasileiras foram de US$ 27 bilhões (1,4% das exportações globais) e as exportações chinesas de US$ 26 bilhões (1,3% das exportações globais). Em 2024, as exportações chinesas foram mais de 10 vezes superiores às exportações brasileiras. O Brasil manteve aproximadamente os mesmos 1,4% do comércio internacional, enquanto a China deu um salto para mais de 14% das exportações globais. A renda per capita do Brasil era 17 vezes maior do que a da China em 1980 e já está em 20% menor em 2024, segundo o FMI.
O gráfico abaixo mostra os dados do comércio exterior chinês no século XXI. Em 2001, as exportações chinesas eram de US$ 266 bilhões, as importações de US$ 244 bilhões e o saldo comercial era de US$ 22 bilhões. Em 2007 as exportações ultrapassaram US$ 1 trilhão e em 2012 ultrapassaram US$ 2 trilhões, com um saldo comercial de US$ 230 bilhões. Os números preliminares de 2024 indicam exportações de cerca de US$ 3,6 trilhões e importações em torno de US$ 2,6 trilhões, o que implica em incrível superávit comercial de quase US$ 1 trilhão.
As exportações chinesas para os Estados Unidos da América (EUA), evidentemente, tiveram um papel importante na expansão das exportações e para o aumento do superávit comercial do gigante asiático. Em 1994, a China tinha um superávit comercial com os EUA de apenas US$ 30 bilhões. Em 2001 passou para US$ 83 bilhões. O déficit comercial dos EUA com a China aumentou muito nos anos seguintes e bateu o recorde de US$ 418 bilhões em 2017, durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump. Nos 4 anos, no governo Joe Biden, o déficit comercial se manteve alto, mas com tendência de diminuição, com US$ 270 bilhões em 2024.
Portanto, o saldo comercial global da China tem aumentado nos últimos anos, embora o saldo bilateral com os EUA tenha diminuído. As exportações da China para os Estados Unidos representavam quase 40% das exportações totais chinesas em 2001 e agora em 2024 representam menos de 15%. Isto quer dizer que a China está menos dependente do comércio com os EUA. Desta forma, a China está investindo em uma cadeia de produção internacional e pode ser menos afetada pelas medidas protecionistas de Donald Trump do que em tempos passados.
Enquanto o presidente eleito Donald Trump mantém suas visões negacionistas do clima, a China navega soberana nas tecnologias e exportações de produtos e serviços da transição energética. As exportações chinesas, de carros a painéis solares criaram milhões de empregos, não apenas para os trabalhadores das fábricas, cujos salários ajustados pela inflação quase dobraram na última década, mas também para engenheiros, designers e cientistas de pesquisa de alto rendimento.
Ao mesmo tempo, as importações chinesas de produtos industriais desaceleraram acentuadamente. O país tem perseguido a autoconfiança nacional nas últimas duas décadas, principalmente através de sua política “Made in China 2025”, para a qual prometeu US$ 300 bilhões para promover a manufatura avançada. Portanto, a China está ficando mais auto suficiente, ao mesmo tempo que diversifica as bases do seu comércio internacional e amplia o controle sobre as cadeias produtivas.
Embora a população da China já esteja caindo desde 2022, o crescimento do PIB, impulsionado pelas exportações, foi de 5% em 2024. A transição demográfica e a transição energética estão orientando a estratégia de desenvolvimento do país com grande crescimento da renda per capita e redução da pobreza.
A China tem investido na construção de uma rede mundial de energia buscando garantir uma soberania energética. Tem investido também em uma rede de infraestrutura de transporte, como rodovias, ferrovias, aeroportos e, principalmente, portos e transporte marítimo, dependendo menos da produção de mercadorias simples e aumentando o grau de complexidade econômica do país.
Neste quadro, o mundo aguarda o que vai acontecer após a posse de Donald Trump nesta segunda-feira, 20 de janeiro de 2025. Os EUA são a maior economia do mundo (em dólares correntes) e a segunda maior economia, atrás da China (em poder de paridade de compra). Os estudiosos das relações econômicas internacionais têm alertado para o fato de que nenhum país ganha com uma guerra comercial global com base na elevação de tarifas protecionistas.
Evidentemente, o mundo não suporta superávits chineses anuais na casa de 1 trilhão de dólares. Este desequilíbrio precisa ser, no mínimo, amenizado. O ideal seria que houvesse acordos comerciais para criar um comércio internacional mais equilibrado.
Mas um governo disruptivo nos EUA pode agravar as tensões entre os interesses nacionais das grandes potências, afetando a dinâmica econômica de todos os países da comunidade internacional.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A China está vencendo a guerra comercial. Ecodebate, 05/02/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/02/05/a-china-esta-vencendo-a-guerra-comercial/
ALVES, JED. A ascensão da China, a disputa pela Eurásia e a Armadilha de Tucídides. Entrevista especial com José Eustáquio Diniz Alves, IHU, 21/07/2018
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/159-entrevistas/580107-a-ascensao-da-china-a-disputa-pela-eurasia-e-a-armadilha-de-tucidides-entrevista-especial-com-jose-eustaquio-diniz-alves
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
União Europeia padroniza carregadores .
Foto:Earth.Org
União Europeia padroniza carregadores USB-C para dispositivos eletrônicos, simplificando o uso e reduzindo resíduos eletrônicos e custos.
Artigo de Vivaldo José Breternitz
Em 28 de dezembro entrou em vigor a nova norma europeia sobre padronização de carregadores para equipamentos eletrônicos.
Os principais dispositivos vendidos nos países do bloco deverão ter uma porta de carregamento padrão USB tipo C, já amplamente difundido entre os principais fabricantes de tecnologia.
A novidade também se aplica a objetos “menores”, como mouses e teclados, além de fones de ouvido, consoles de jogos e leitores de e-books, que se juntam aos smartphones, tablets, câmeras digitais, alto-falantes e GPS.
A partir de 28 de abril de 2026, a obrigatoriedade se estenderá também aos computadores portáteis. A norma se aplica aos novos dispositivos vendidos mas não àqueles que já vem sendo comercializados.
A decisão traz consigo inúmeras vantagens. Em primeiro lugar, simplifica a vida dos consumidores, eliminando a necessidade de ter vários carregadores diferentes e muitas vezes pouco usados. Além disso, contribui para reduzir o impacto ambiental, limitando a produção de resíduos eletrônicos pela diminuição do número de carregadores fabricados.
Espera-se também que sejam reduzidos os custos: atualmente, os europeus gastam cerca de 250 milhões de euros por ano em carregadores.
Para tornar os usuários mais conscientes, as empresas deverão fornecer informações claras sobre as características de carregamento dos dispositivos que vendem.
A lei permite que cada marca adote padrões proprietários para carregamento rápido, sem, no entanto, excluir a porta USB tipo C.
É mais um passo, embora pequeno, na busca da preservação do meio ambiente.
Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
2024 teve a temperatura mais alta do Holoceno e recorde de degelo no Ártico .
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O ano de 2024 foi o mais quente do Holoceno (últimos 12 mil anos) e a anomalia da temperatura ultrapassou a marca do limite mínimo no Acordo de Paris, de 1,5ºC acima do período pré-industrial (1850-1900).
O Acordo de Paris foi assinado em 2015 e estabeleceu uma série de ações para mitigar o aquecimento global. Porém, os últimos 10 anos foram os mais quentes da série histórica e existe uma tendência de aceleração das médias da temperatura planetária. Não é apenas o reconhecimento da emergência climática que preocupa, mas sua magnitude que é chocante.
O gráfico abaixo mostra a anomalia diária da temperatura global e as médias de 91 dias e de 365 dias de 2014 a 2024. Nota-se que as maiores anomalias ocorreram no segundo semestre de 2023 e no primeiro semestre de 2024, quando havia a presença do fenômeno El Niño. O segundo semestre de 2024 apresentou variações das anomalias em um nível um pouco mais baixo, mesmo assim superior a todos os semestres anteriores a 2023. As anomalias dos primeiros dias de 2025 estão batendo recordes em relação aos inícios dos meses de janeiro de 2024 e 2023.
O gráfico abaixo, do professor Eliot Jacobson com dados do Instituto Copernicus, mostra a anomalia da temperatura global entre 1940 e 2024, com referência ao período pré-industrial (1850-1900). Observa-se que houve um aumento muito significativo nos últimos 2 anos, com a anomalia atingindo 1,48ºC em 2023 e 1,6ºC em 2024 (os dados para 2024 ainda são preliminares, mas devem ficar entre 1,61º e 1,59º).
Para 2025 as previsões indicam uma anomalia menos acentuada do que nos últimos 2 anos, porém superior a todos os anos anteriores a 2023. Porém, novos recordes podem surgir, principalmente se houver reincidência do fenômeno El Niño em algum momento de 2025.
O aquecimento global tem uma ampla gama de efeitos em escala global, afetando ecossistemas, sociedades e economias. Os principais efeitos são:
Alterações nos Padrões Climáticos (Mudanças no ciclo das chuvas, correntes oceânicas e padrões de vento).
Acidificação dos Oceanos (Diminuição do pH da água, prejudicando organismos marinhos como corais, moluscos e outras espécies que dependem de carbonato de cálcio).
Impactos na Biodiversidade (Extinção de espécies que não conseguem se adaptar, migração de outras para novas áreas e desequilíbrios ecológicos).
Consequências para a Saúde Humana (Aumento de doenças respiratórias, surtos de dengue, malária e outros problemas relacionados ao clima).
Impactos Econômicos (Perdas agrícolas, carestia, insegurança alimentar, aumento dos custos de seguros, deslocamento de populações e pressão sobre recursos financeiros globais).
Crises Humanitárias e Deslocamentos (Migração climática, xenofobia, conflitos por recursos e aumento da desigualdade global).
Ondas letais de calor (Maior risco de incêndios florestais, estresse térmico em humanos e animais, aumento da mortalidade e diminuição da expectativa de vida).
Derretimento de Gelo e Elevação do Nível do Mar (Inundações em áreas costeiras, perda de habitat, e aumento da vulnerabilidade de cidades e ilhas).
Esses efeitos estão interligados e tendem a se intensificar à medida que as emissões de gases de efeito estufa continuam aumentando. Por exemplo, o Efeito Albedo diminui com a redução do gelo marinho, pois o gelo e a neve possuem altíssimo albedo, refletindo até 85% da luz solar, enquanto a água líquida tem baixíssimo albedo, absorvendo cerca de 90% da luz solar.
Quanto mais luz for absorvida, maior é o efeito do aquecimento, pois a água escura do oceano absorve mais calor. Assim, cria-se um ciclo de retroalimentação positiva, uma vez que menos gelo gera menor albedo que provoca maior absorção de calor e mais derretimento, o que coloca em risco as geleiras da Antártida e da Groenlândia.
Por conta disto há um aquecimento acelerado no Ártico já que a região tem aquecido cerca de 3 a 4 vezes mais rápido do que o resto do planeta, em um fenômeno conhecido como amplificação polar. O Ártico atua como um regulador climático global. Sua perda de gelo pode desencadear mudanças extremas no clima mundial.
O gráfico abaixo mostra que a extensão de gelo do Ártico no último trimestre de 2024 foi a menor da série histórica. No dia 31 de dezembro de 2024 o degelo ficou cerca de 300 mil km2 abaixo da média do período 1981-2010. O ano de 2025 começou com a menor formação de gelo marinho do Ártico de todo o período do Holoceno (últimos 12 mil anos).
O ciclo entre o derretimento do gelo e o efeito albedo destaca a urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para mitigar essas mudanças. Para complicar, o degelo do Ártico ocorre concomitantemente ao degelo da Groenlândia, da Antártida e dos glaciares.
O fato é que este processo tende a se acelerar nas próximas décadas à medida em que cresce a concentração de CO2 na atmosfera e o consequente aumento da temperatura global. Muitas áreas litorâneas irão ficar debaixo d’água e os danos sociais e econômicos serão incalculáveis.
As gerações atuais e, principalmente, aquelas que ainda irão nascer vão herdar um mundo mais complicado e mais inóspito, podendo haver uma mobilidade social descendente em um mundo com muitas injustiças ambientais, apartheid climático e conflitos de diversas ordens.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. O gelo da Antártida encolhe para mínimos históricos pelo 3º ano consecutivo, 18/03/2024
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595
in EcoDebate, ISSN 2446-9394