terça-feira, 27 de novembro de 2018

APENAS NOVE ESTADOS BRASILEIROS MONITORAM A QUALIDADE DO AR.

Apenas nove estados brasileiros monitoram a qualidade do ar


Qualidade do Ar – “Abaixa cobertura de estações de monitoramento significa que na maior parte do país a população não sabe o ar que está respirando”

Por Isis R. Nóbile Diniz
poluição
Dos 27 estados do Brasil, apenas nove realizam o monitoramento da qualidade do ar. São eles Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Distrito Federal.
Embora o estado com melhor cobertura do monitoramento seja São Paulo, em geral, a cobertura da rede é insuficiente no país, sendo mais crítica nas regiões Nordeste e Centro-Oeste; e no Norte, onde não há nenhum monitoramento. Atualmente sete poluentes são regulados no Brasil por seus reconhecidos danos à saúde: partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis (MP10), fumaça, dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O3). Sendo que o material particulado fino (MP2,5) e o ozônio são os poluentes cujo o controle das concentrações é mais desafiador. Esses poluentes são pouco acompanhados, apesar de seus impactos à saúde, o MP2,5 é monitorado em apenas quatro estados e o ozônio, em sete.
Esses e outros dados sobre a poluição do ar no Brasil estão compilados na nova versão da Plataforma Nacional de Qualidade do Ar (http://qualidadedoar.org.br/) desenvolvida e lançada dia 14 de novembro pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (http://www.energiaeambiente.org.br/), organização sem fins lucrativos que produz dados técnicos para influenciar políticas públicas. A ferramenta online é a única no país a reunir dados de concentração de poluentes e a indicar as ultrapassagens dos padrões nacionais e das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que pode auxiliar especialistas e gestores na avaliação dos efeitos da poluição do ar na saúde.
A baixa cobertura de estações de monitoramento significa que na maior parte do país a população não sabe o ar que está respirando”, diz a meteorologista Beatriz Oyama, analista de qualidade do ar do IEMA. “O monitoramento de qualidade do ar é uma ferramenta importante para a gestão pública.” Com monitoramento adequado nas cidades, é possível saber quando o ar está inadequado e tomar medidas para reduzir as emissões de poluentes, como restringir algumas atividades industriais e o uso de automóveis e incentivar o uso do transporte público. No limite, é possível recomendar que os cidadãos e os profissionais de saúde fiquem mais alertas nos dias mais críticos.
O monitoramento pode ajudar a identificar as fontes poluentes, como indústrias específicas ou locais com trânsito intenso de veículos, e agir para reduzir essas emissões. Medir a qualidade do ar é também um dos instrumentos relevantes para verificar a eficácia do programa de controle veicular (Proconve), que regulamenta a tecnologia dos motores e a qualidade dos combustíveis. Também é uma informação necessária para o poder público autorizar a instalação de novas indústrias em áreas sensíveis para a saúde da população.
Referência para a OMS desde 2016, a nova versão da Plataforma do IEMA disponibiliza informação detalhada sobre a distribuição das estações de monitoramento e sobre as variações das concentrações de poluentes monitorados. Ela também está mais interativa e prática de consultar, mas a maior novidade são os dados de concentração por hora do dia. Eles permitem saber, por exemplo, quais são os horários do dia com picos de um tipo específico de poluente, os meses do ano em que se observam maiores concentrações.
Uma vez que cada estado tem sua metodologia para calcular concentrações de poluentes, após estudar essas diferentes metodologias adotadas, a plataforma do IEMA empregou o método utilizado pela maior parte dos estados para padronizar os cálculos tornando dados de diferentes estados comparáveis.
Entre os poluentes atualmente medidos no Brasil, os únicos que não apresentam uma tendência clara de queda são o material particulado fino e o ozônio. Assim, esses são os poluentes que mais preocupam por representarem altos riscos para a saúde quando em concentrações elevadas.
O material particulado mais fino (MP2,5) é um dos maiores responsáveis por doenças respiratórias e cardiovasculares no mundo. Ele é emitido pela queima de combustíveis nas indústrias e nos veículos, essa segunda fonte se torna ainda mais relevantes nos centros mais urbanizados. Também é formado na atmosfera a partir de reações químicas com outros gases e poluentes. Embora o MP2,5 tenha seus danos à saúde cientificamente comprovados, somente quatro estados fazem o monitoramento desse poluente: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, e Espírito Santo, sendo que somente nesses dois últimos o MP2,5 é regulado. Na Plataforma de Qualidade do Ar, é possível verificar como a concentração de material particulado evoluiu em vários pontos do país. Na estação do bairro de Cerqueira César, na região da Avenida Paulista, da cidade de São Paulo, a concentração média anual de material particulado teve uma queda de 24 para 16 microgramas por metro cúbico entre os anos 2000 e 2009. Depois começou a oscilar sem queda aparente. Sempre acima da concentração de 10 microgramas por metro cúbico, recomendada pela OMS.
O ozônio é outro poluente que tem apresentado concentrações bem acima dos valores recomendados pela OMS. Quem se expõe a ele regularmente, corre risco de desenvolver asma e outras doenças cardiovasculares e de ter sua capacidade pulmonar reduzida. Como não é emitido diretamente por nenhuma fonte poluente, o controle do ozônio é um grande desafio. Ele é formado durante o dia, a partir da reação entre poluentes originados de processos incompletos de queima (combustíveis, queimadas).
A Plataforma de Qualidade do Ar também permite verificar as concentrações de ozônio em várias cidades.  A máxima média de 8 horas de ozônio, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, variou entre cerca de 200 e 160 microgramas por metro cúbico entre os anos de 2013 e 2016. Ou seja, ainda acima das recomendações da OMS, de 100 microgramas por metro cúbico.
A plataforma mostra como os poluentes mais críticos hoje são o MP2,5 e O3, além dos demais poluentes regulados. Por outro lado, a boa notícia da plataforma é que outros poluentes apresentam queda. É o caso de material particulado (MP10), o dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) e dióxido de nitrogênio (NO2). Todos esses poluentes têm apresentado uma tendência de redução das concentrações ao longo dos anos e, na maioria das estações, têm atendido as recomendações da OMS.
Link para a Plataforma de Qualidade do Ar do IEMA
Colaboração de Isis R. Nóbile Diniz, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/11/2018

COM O DEGELO, A ANTÁRTIDA ESTÁ SE TORNANDO MAIS PARECIDA COM A GROENLÂNDIA?

Com o degelo, a Antártida está se tornando mais parecida com a Groenlândia?

Em uma nova perspectiva, cientistas pedem mais atenção ao derretimento da superfície da Antártida

University of Colorado Boulder**
Antártida
A Antártida é alta e seca e, na maioria das vezes, muito fria, e é fácil pensar no gelo e na neve trancados em um freezer, protegidos do derretimento, exceto em torno de suas costas baixas e plataformas de gelo flutuantes. Mas essa visão pode estar errada.
A água de degelo está agora se acumulando na superfície do gelo interior da Antártica e em lagos maiores e mais numerosos nas plataformas de gelo que cercam o continente. Isso cria tensões que poderiam romper as plataformas de gelo, que sustentam o gelo interior, de forma mais rápida para o oceano. E os modelos sugerem que, até o final deste século, será um ar mais quente – em vez de água do oceano mais quente – que desempenhará o maior papel na condução das contribuições da Antártida para a elevação do nível do mar.
“É crucial que desenvolvamos uma melhor compreensão da dinâmica dos 190 pés (58 m) de aumento potencial do nível do mar da Antártida, congelados no continente”, disse Alison Banwell , bolsista visitante da CIRES* e co-autora de uma avaliação publicada. esta semana na Nature Climate Change . “Nós ganhamos algumas percepções da Groenlândia, onde há muito mais derretimento superficial ocorrendo hoje, e uma série de diferentes processos estão em jogo. Por exemplo, se houver derretimento suficiente da superfície no gelo triturado da Antártida, parte dessa água poderá chegar até a base da camada de gelo e afetar o fluxo do gelo no oceano, como já ocorre em grande parte da camada de gelo da Groenlândia. ”
Em suas perspectivas, Banwell e seus colegas – do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Colúmbia e da Universidade Rowan – identificam lacunas importantes na compreensão dos cientistas sobre a Antártida. Eles discutem a necessidade de mais pesquisas sobre, por exemplo, como a neve no continente se compacta em fogo e depois o gelo; como e se o derretimento da superfície pode finalmente atingir a base da camada de gelo; e a possibilidade de lagos de superfície e subsuperfície mais comuns se formarem em plataformas de gelo.
Compreender e ser capaz de prever a ocorrência de tais processos é crucial para os cientistas que querem entender o aumento do nível do mar global e os riscos para os habitantes do litoral em todo o mundo.
Em última análise, compreender o futuro da Antártida requer o reconhecimento de que o continente está mudando de novas maneiras, disse Banwell. “E isso, em última análise, requer um esforço multidisciplinar e internacional crescente. Precisamos de observações hoje, de equipes de campo em terra, aviões e satélites, e é crucial que os modelos de gelo e clima sejam capazes de representar com precisão os diversos processos que afetam o derretimento, a hidrologia e a dinâmica da camada de gelo da Antártica. ”
*A CIRES é uma parceria da NOAA e da UC Boulder .
Referência:
Antarctic surface hydrology and impacts on ice-sheet mass balance
Robin E. Bell, Alison F. Banwell, Luke D. Trusel & Jonathan Kingslake
Nature Climate Change (2018)
https://doi.org/10.1038/s41558-018-0326-3
** Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/11/2018

MUDANÇA CLIMÁTICA PODE PREJUDICAR A FERTILIDADE MASCULINA.

Mudança climática pode prejudicar a fertilidade masculina


A mudança climática pode representar uma ameaça à fertilidade masculina, de acordo com uma nova pesquisa da Universidade de East Anglia.

UNIVERSIDADE DE EAST ANGLIA*
aquecimento global
Aquecimento Global. Imagem: NOAA
Novas descobertas, publicadas na revista Nature Communications, revelam que ondas de calor prejudicam o esperma de insetos – com impactos negativos para a fertilidade ao longo das gerações.
A equipe de pesquisadores diz que a infertilidade masculina durante as ondas de calor pode ajudar a explicar a razão de a mudança climática ter impactado tanto na população das espécies, incluindo extinções relacionadas ao clima em anos recentes.
O Professor Matt Gage, líder do grupo de pesquisa, disse: “Nós sabemos que a biodiversidade está sofrendo com a mudança climática, mas é difícil definir as causas e vulnerabilidades específicas.
Demonstramos neste estudo que a atuação do esperma é especialmente sensível quando o ambiente se aquece, e em um sistema modelo representando uma enorme parte da biodiversidade global.
Como a função do esperma é essencial para a reprodução e viabilidade da população, essas descobertas podem explicar o motivo de a biodiversidade sofrer sob a mudança climática.
Uma atmosfera mais quente será mais volátil e nociva, com eventos extremos tais como as ondas de calor se tornando cada vez mais frequentes, intensas e abrangentes.
As ondas de calor são eventos climáticos extremos especialmente danosos. Extinções locais são conhecidas por ocorrer quando a mudança de temperatura se torna intensa demais. Nós queríamos entender por que isso acontece. E uma resposta pode estar relacionada ao esperma.”
A equipe de pesquisa investigou o besouro castanho (Tribolium castaneum) para examinar os efeitos das ondas de calor simuladas na reprodução masculina.
Os besouros foram expostos a condições de controle padrão ou a temperaturas elevadas por 5 dias, de 5°C a 7°C acima do ideal térmico deles.
Depois, vários experimentos avaliaram os danos potenciais ao sucesso reprodutivo, à atuação do esperma e à qualidade da descendência.
Ondas de calor mataram esperma
A equipe descobriu que a onda de calor reduziu pela metade a quantidade de filhotes que os machos podiam produzir, e uma segunda onda de calor quase tornou os machos estéreis.
As fêmeas, pelo contrário, não foram afetadas pelas condições de temperatura elevada. Entretanto, a reprodução feminina foi afetada indiretamente porque os experimentos mostraram que as ondas de calor prejudicaram o esperma inseminado dentro do aparelho reprodutivo feminino.
Após ondas de calor experimentais, os machos reduziram a produção de esperma em três quartos, e todo esperma produzido teve dificuldade em migrar para o aparelho feminino, com maior probabilidade de morrer antes da fertilização.
Kirs Sales, pesquisador pós-graduado que liderou a pesquisa, disse: “Nossa pesquisa mostra que as ondas de calor reduzem pela metade a aptidão da reprodução masculina, e foi surpreendente a constância do efeito.”
O grupo também examinou as causas subjacentes da vulnerabilidade masculina. As ondas de calor causaram algum impacto no comportamento sexual dos machos – com eles acasalando metade das vezes que o grupo de controle.
Ondas de calor causaram danos ao longo das gerações
Dois resultados preocupantes foram o impacto de ondas de calor sucessivas nos machos e os impactos das ondas de calor nas futuras gerações,” disse Kirs.
Quando os machos foram expostos a dois eventos de ondas de calor em um espaço de 10 dias, sua produção de filhotes foi menos de 1% do grupo de controle. É provável que os insetos na natureza enfrentem múltiplos eventos de ondas de calor, o que pode tornar-se um problema para a fertilidade da população se a reprodução masculina não conseguir se adaptar ou se recuperar.”
A pesquisa também mostra que os filhotes dos pais afetados pelas ondas de calor, ou de seu esperma, vivem vidas alguns meses mais curtas.
E a performance reprodutiva dos filhos produzidos por pais, ou esperma, expostos a condições de ondas de calor também foi impactada. Os filhos foram menos eficazes em fertilizar uma série de potenciais parceiras e produziram menos filhotes.
Os pesquisadores alertam que isso pode acrescentar uma pressão a mais nas populações que já sofrem com a mudança climática no decorrer do tempo.
Crê-se que os besouros constituem um quarto da biodiversidade, então estes resultados são muito importantes para compreender como as espécies reagem à mudança climática. A pesquisa também mostrou que o choque térmico pode danificar a reprodução masculina em animais de sangue quente também, e pesquisas anteriores já haviam demonstrado que isso leva à infertilidade nos mamíferos,” acrescentou Kirs.
Os pesquisadores esperam que os efeitos possam ser incorporados em modelos que prevejam a vulnerabilidade das espécies e que, por fim, contribuam à compreensão social e à ações de preservação.
Referência:
Experimental heatwaves compromise sperm function and cause transgenerational damage in a model insect
Kris Sales, Ramakrishnan Vasudeva, Matthew E. Dickinson, Joanne L. Godwin, Alyson J. Lumley, Lukasz Michalczyk, Laura Hebberecht, Paul Thomas, Aldina Franco & Matthew J. G. Gage
Nature Communications volume 9, Article number: 4771 (2018)
* Tradução de Ivy do Carmo, Magma Translation (magmatranslation.com)
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2018

OS PAÍSES MAIS RELIGIOSOS SÃO OS MAIS DESIGUAIS SOCIALMENTE.

Os países mais religiosos são os mais desiguais socialmente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves



Os países mais religiosos são os mais desiguais socialmente
[EcoDebateDesigualdade social e religiosidade são fenômenos que andam juntos e de mãos dadas. Em geral, quanto mais desigual um país, maior importância a população tende a dar à religião.
Essa é uma conclusão que se pode tirar do gráfico acima, apresentado pela pesquisa “Americans are far more religious than adults in other wealthy nations”, do Instituto PEW (31/07/2018).
A linha inclinada do gráfico mostra que os países que mais valorizam a religião são aqueles que possuem maior Índice de Gini, tendo maior concentração de renda. Ao contrário, a religião é menos relevante nos países com reduzidas desigualdades sociais.
Uma das explicações para esta situação é que, nos países mais desiguais, a falta de instituições públicas atuantes para corrigir as “falhas do mercado” contribui para a manutenção da concentração de renda e uma alta percentagem de pessoas abaixo da linha da pobreza.
Já nos países com o Estado Laico desenvolvido, o secularismo é essencial para fortalecer a luta contra as injustiças sociais. O secularismo representa o exercício da função pública sem vínculo com o posicionamento religioso e com uma comunidade neutra em relação às crenças religiosas.
Neste sentido, o desenvolvimento com justiça social caminha concomitantemente ao avanço da sociedade secular, que respeitando a liberdade religiosa e a realização de cultos, coloca o bem comum acima dos dogmas, das disputas entre as religiões, levando em consideração as boas práticas de governança e os consensos surgidos no meio científico e tecnológico.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Referência:
DALIA FAHMY. Americans are far more religious than adults in other wealthy nations, PEW, JULY 31, 2018 http://www.pewresearch.org/fact-tank/2018/07/31/americans-are-far-more-religious-than-adults-in-other-wealthy-nations/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2018

DISLEXIA : POR QUE ACONTECEU COM MEU FILHO ?

Dislexia: por que aconteceu com meu filho? artigo de Genoveva Ribas Claro


Dislexia – Mais do que procurar “culpados”, família e escola devem se unir para ajudar a criança a superar o distúrbio e nunca esquecer de que a limitação pode ser passageira

crianças estudando

[EcoDebate] Nós, seres humanos, somos excessivamente sociais. Temos a possibilidade de nos comunicarmos por meio da linguagem. E a comunicação é uma atividade social, rica e complexa, que envolve competências linguísticas, cognitivas e pragmáticas. Existem no cérebro áreas destinadas para atender essa demanda social e cultural. Hoje, por meio da neurociência, é possível compreender o processamento e a armazenagem da linguagem no cérebro de forma mais clara.
Assim, descobriu-se que o processo de linguagem não é linear; pode ocorrer uma alteração adquirida da linguagem, de causa neurológica, caracterizada pelo comprometimento linguístico da produção e compreensão de material verbal, da leitura e da escrita. Estudos mais recentes revelam que as lesões subcorticais podem originar alterações de linguagem, denominadas afasias subcorticais, ou atípicas.
As dificuldades relacionadas na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas estão relacionadas às disfunções no sistema nervoso central. Mas é importante que fique claro que muitas crianças que são diagnosticadas com dificuldades de aprendizagem apresentam inteligência normal, e não demonstram desfavorecimento físico, emocional ou social.
No caso da dislexia, ocorre uma falha no processamento da habilidade da leitura e da escrita, um atraso no desenvolvimento ou a diminuição em traduzir sons em símbolos gráficos e compreender qualquer material escrito. Etimologicamente, dislexia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “lexia” (leitura), sendo um distúrbio de origem neurobiológica, que dificulta o reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.
O diagnóstico da dislexia deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar, com profissionais da área da Neurologia, Psicologia, Fonoaudiologia, Psicopedagogia, Oftalmologia, entre outros. Normalmente os sintomas aparecem já no processo de alfabetização.
O professor e a família devem em primeiro lugar compreender que essas crianças não são incapazes: elas compreendem as tarefas. Mas é necessário dividir as tarefas por passos, encorajando-as a cada sucesso obtido.
Devido ao problema de memória de curto prazo que acomete essas crianças, é necessário repetir várias vezes os mesmos exercícios e praticar mais a leitura e escrita. Por isso, deve-se entender que o processo para aquisição da escrita e leitura é mais lento. Dê-lhe mais tempo para se organizar, evite correções sistemáticas de todos os erros de escrita, faça avaliações orais e pontuações positivas para melhorar a autoestima delas.
Vale ressaltar que a família é uma peça fundamental no desenvolvimento da aprendizagem das crianças com dislexia. É necessário que os pais se conscientizem do distúrbio e as ajudem a superar as dificuldades. Com um trabalho associado a um tratamento interdisciplinar, a escola, a família e a criança com a dislexia têm todas as condições necessárias para um desenvolvimento adequado de sua aprendizagem.
É importante compreender que, quais sejam as limitações no processo da leitura e escrita do indivíduo com dislexia, a criança possui todas as condições necessárias para o aprendizado, desde que acompanhada por profissionais habilitados e professores que possibilitem uma intervenção adequada.
Genoveva Ribas Claro é coordenadora do curso de Psicopedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2018

NÍVEIS DE GASES DO EFEITO ESTUFA NA ATMOSFERA ATINGEM NOVO RECORDE.

Níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingem novo recorde


Níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingiram mais um novo recorde, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Não há sinais de reversão nesta tendência, que está levando a mudanças climáticas de longo prazo, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos e condições climáticas mais extremas.
Níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingem novo recorde
Boletim da WMO sobre Gases de Efeito Estufa mostrou que as concentrações globais médias de dióxido de carbono (CO 2 ) atingiram 405,5 partes por milhão (ppm) em 2017, acima dos 403,3 ppm em 2016 e 400,1 ppm em 2015. Concentrações de metano e óxido nitroso também aumentaram, enquanto houve um ressurgimento de um potente gás de efeito estufa e uma substância destruidora de ozônio chamada CFC-11, que é regulamentada por um acordo internacional para proteger a camada de ozônio.
Desde 1990, houve um aumento de 41% no forçamento total de radiação – o efeito de aquecimento no clima – por gases de efeito estufa de longa duração. O CO 2 é responsável por cerca de 82% do aumento do forçamento radiativo na última década, de acordo com dados da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA, citado no Boletim da OMM.
“A ciência é clara. Sem cortes rápidos no CO 2 e outros gases do efeito estufa, as mudanças climáticas terão impactos cada vez mais destrutivos e irreversíveis sobre a vida na Terra. A janela de oportunidade para a ação está quase fechada ”, disse o Secretário Geral da OMM, Petteri Taalas.
“A última vez que a Terra experimentou uma concentração comparável de CO 2 foi de 3 a 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura estava entre 2 e 3 ° C mais quente e o nível do mar era de 10 a 20 metros mais alto do que agora”, disse Taalas.
O Boletim de Gases de Efeito Estufa da WMO informa sobre as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa. As emissões representam o que entra na atmosfera. As concentrações representam o que resta na atmosfera após o complexo sistema de interações entre a atmosfera, a biosfera, a litosfera, a criosfera e os oceanos. Cerca de um quarto do total de emissões é absorvido pelos oceanos e outro quarto pela biosfera.
Um Relatório de Lacunas de Emissões da UN Environment (UNEP), a ser divulgado em 27 de novembro, rastreia os compromissos de políticas assumidos pelos países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Os relatórios da OMM e do PNUMA são apresentados em cima das evidências científicas fornecidas pelo Relatório Especial sobre Aquecimento Global do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 1.5 ° C. Dito isto, as emissões líquidas de CO 2 devem chegar a zero (a quantidade de CO 2 que entra na atmosfera deve ser igual à quantidade removida por sumidouros, naturais e tecnológicos) por volta de 2050 para manter os aumentos de temperatura abaixo de 1,5 ° C. Mostrou como manter a temperatura abaixo de 2 ° C reduziria os riscos para o bem-estar humano, os ecossistemas e o desenvolvimento sustentável.
“O CO 2 permanece na atmosfera por centenas de anos e nos oceanos por mais tempo. Atualmente, não há varinha mágica para remover todo o excesso de CO 2 da atmosfera ”, disse a vice-secretária-geral da OMM, Elena Manaenkova.
“Cada fração de um grau de aquecimento global é importante, assim como toda parte por milhão de gases de efeito estufa”, disse ela.
Juntos, os relatórios fornecem uma base científica para a tomada de decisões nas negociações sobre mudanças climáticas da ONU, que serão realizadas de 2 a 14 de dezembro em Katowice, na Polônia. O objetivo principal da reunião é adotar as diretrizes de implementação do Acordo de Mudança Climática de Paris, que visa manter o aumento da temperatura média global o mais próximo possível de 1,5 ° C.
“O novo Relatório Especial sobre Aquecimento Global do IPCC, de 1,5 ° C, mostra que reduções rápidas e profundas das emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa serão necessárias em todos os setores da sociedade e da economia. O Boletim de Gases de Efeito Estufa da OMM, mostrando uma tendência crescente contínua nas concentrações de gases do efeito estufa, destaca quão urgentes são essas reduções de emissões ”, disse o Presidente do IPCC, Hoesung Lee.
Níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingem novo recorde
Fonte: World Meteorological Organization (WMO)
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2018

ONU: 40% DOS CONFLITOS ARMADOS ESTÃO RELACIONADOS À EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS.

40% dos conflitos armados estão relacionados à exploração de recursos naturais, revelam estudos da ONU


Estudos da ONU indicam que mais de 40% dos conflitos armados internos nos últimos 60 anos foram vinculados a recursos naturais, e essa tendência continuará em meio aos crescentes impactos da mudança climática.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse ao Conselho de Segurança que “a exploração dos recursos naturais, ou a competição por eles, pode levar a conflitos violentos”, acrescentando que “prevenir, gerir e resolver tais conflitos é um dos grandes e crescentes desafios do nosso tempo”.
ONU Brasil
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse ao Conselho de Segurança que “a exploração dos recursos naturais, ou a competição por eles, pode levar a conflitos violentos”, acrescentando que “prevenir, gerir e resolver tais conflitos é um dos grandes e crescentes desafios do nosso tempo”.
Estudos da ONU indicam que mais de 40% dos conflitos armados internos nos últimos 60 anos foram vinculados a recursos naturais, e essa tendência continuará em meio aos crescentes impactos da mudança climática.
Nas últimas décadas na África, disse Guterres, 75% das guerras civis foram “parcialmente financiadas pelas receitas dos recursos naturais”.
A ONU marcou neste mês (6) o Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente na Guerra e no Conflito Armado. Já a reunião no Conselho de Segurança sobre o tema aconteceu em outubro.
Segundo Guterres, “a extração ilegal de minerais, madeira, carvão e vida selvagem alimentou a violência em várias regiões” – inclusive na República Democrática do Congo e na República Centro-Africana, dois dos principais países atingidos pelo problema.
O chefe da ONU enfatizou que “é preciso fazer mais para regulamentar a origem, venda e comércio de minerais por meio de acordos cooperativos envolvendo a sociedade civil, governos e organizações regionais e internacionais”.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/11/2018

A MÃE DO REI...

A mãe do Rei, artigo de Montserrat Martins


artigo de opinião
[EcoDebate] Uma lição que não esqueço eu aprendi na casa de primos, no interior, onde eu estava passando o Natal. Num certo momento achei uma brincadeira de mau gosto (zombando das crenças dos outros) e disse isso para o marido da prima, que me respondeu assim: “Eu sou uma pessoa simples e as minhas brincadeiras são simples”.
Quem era eu para julgar as brincadeiras dos outros? Mas é isso que fazemos todos os dias, a todo momento, nos “patrulhamos” avaliando como “ofensivas” as mais simples bobagens que as pessoas falam com a intenção de se divertir, de “desestressar”.
Brincadeiras podem ser muito agressivas, como o “bullying”, capaz de afetar pessoas mais vulneráveis. O humor pode ser irreverente, preconceituoso, fantasioso, pode ser de muitos tipos e também expressa valores. Por isso se diz que as pessoas “dizem a verdade brincando”. Pessoas que riem das mesmas coisas tem uma sensação de “cumplicidade” que as une. “O chiste é o padre disfarçado que une os casais”, disse Jean Paul, um autor citado por Freud, que foi complementado por T.Vischer: “De preferência, ele une os casais cuja relação os parentes desaprovam”.
Freud distinguiu o chiste inocente do tendencioso, que possui uma tendência ou objetivo específico. Um exemplo é a piada do Rei que andava pelas ruas do seu domínio quando encontrou um aldeão muito parecido com ele. O Rei, impressionado com a semelhança, pergunta a este: “a sua mãe já esteve na Corte?”. Ao que o aldeão respondeu: “não senhor, mas meu pai sim”.
A mais elegante forma de humor é o filosófico (definição do psicólogo Abraham Maslow), que não ofenderia as pessoas, como também a auto-ironia, que expressa capacidade de autocrítica, mas isso é bem mais raro. No típico senso de humor brasileiro, gozar das fraquezas dos outros é que é engraçado.
É ironizando e sendo ironizados, com “memes e contra-memes” nas redes sociais e brincadeiras na vida pessoal, que vamos ter de aprender a conviver com as diferenças.
Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/11/2018