segunda-feira, 30 de novembro de 2015

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES REUNIÃO

























nono ano


COP21 : MARCHAS GLOBAIS PELO CLIMA

Ao redor do mundo, marchas pelo clima exigem ação de governos contra aquecimento global

Uma série de manifestações ao redor do mundo tem reunido milhares de pessoas neste fim de semana para exigir de líderes mundiais que cheguem a um acordo contra o aquecimento global na Conferência sobre as Mudanças Climáticas das Nações Unidas, que começa nesta segunda-feira (30/11) em Paris.




  notícias .uol.com.br (imagem)

A reportagem foi publicada por Opera Mundi, 29-11-2015.

Mais de duas mil Marchas Globais pelo Clima estavam programadas para este sábado (28/11) e domingo (29/11) em vários países, com o objetivo de impor pressão popular sobre governos para que evitem a catástrofe climática que se projeta para os próximos anos devido à ação humana.
“Não há planeta B”, dizia um cartaz na marcha em Sydney, na Austrália, que reuniu cerca de 45 mil pessoas. "Em dez anos, nossos filhos vão dizer: 'mãe, você sabia que isso [mudanças climáticas] estava acontecendo? O que as pessoas estavam fazendo?'", afirmou Kate Charlesworth, presente na marcha na cidade australiana, à AFP.
Em Paris, ativistas do meio ambiente saíram às ruas apesar da proibição das manifestações por questões de segurança após os ataques do dia 13 de novembro. Uma corrente humana foi formada por centenas de pessoas ao longo dos três quilômetros da marcha que estava programada anteriormente, e centenas de pares de sapatos foram colocados na Praça da República, simbolizando as pessoas que não puderam marchar neste domingo.
Cerca de 150 líderes mundiais participarão da COP21, incluindo os presidentes dos EUABarack Obama, da China,Xi Jinping, da RússiaVladimir Putin, e a presidente brasileira, Dilma Rousseff, que chegou neste sábado em Paris.
O objetivo da conferência é chegar a um acordo global sobre o clima que limite a média de aumento das temperaturas para 2º C ou menos através da diminuição das emissões de dióxido de carbono, consideradas as principais causadoras do aquecimento global, até 2020.
Cientistas alertam que, caso este objetivo não seja atingido, o mundo se tornará cada vez menos hospitaleiro para a vida humana, com extremos climáticos como secas e tempestades cada vez mais severos e com o aumento do nível dos oceanos, que poderão engolir ilhas e regiões costeiras em todo o mundo.
O presidente francês, François Hollande, anfitrião da conferência, lembrou nesta sexta-feira (27/11) que a responsabilidade sobre as mudanças climáticas é humana, e cabe à humanidade fazer algo para contê-las. “Seres humanos estão destruindo a natureza e devastando o meio ambiente. Cabe, portanto, aos seres humanos a tarefa de enfrentar sua responsabilidade para o bem das gerações futuras.”
Entre os principais obstáculos para o fechamento de um acordo significativo em Paris estão o financiamento para países mais vulneráveis às mudanças climáticas – os países mais pobres do globo – e o corte das emissões de gases causadores do efeito estufa, advindos da queima de combustíveis fósseis como petróleo e carvão – mais proeminente em países ricos. A divisão entre estas duas classes de países fez fracassar as negociações da última conferência global sobre o clima, realizada em CopenhagenDinamarca, em 2009.
“As pessoas que menos fizeram para causar o problema estão sentindo os impactos primeiro e com mais severidade, como nossas irmãs e nossos irmãos no Pacífico”, afirmou Judee Adams, ativista da Oxfam.
COP21 em Paris deve reunir cerca de 40 mil pessoas, incluindo 10 mil representantes de 195 países, entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro. Cerca de 2.800 policiais e soldados farão a segurança da conferência, além de outros 6.300 que estarão nas ruas da capital francesa durante o evento.
No Rio de Janeiro, manifestantes denunciam tragédia de Mariana
Cerca 200 pessoas participaram da marcha pelo clima no Rio de Janeiro, com concentração na praia de Ipanema. Um grupo de manifestantes se pintou de cor marrom para representar a lama do vazamento que afetou 650 quilômetros do leito do rio Doce e que chegou até o oceano Atlântico.
O vazamento, ocorrido pela ruptura de dois diques de depósitos de resíduos minerais e de água, em uma mina da empresa Samarco, foi considerado pelo governo como o mais grave desastre ambiental ocorrido no Brasil.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

domingo, 29 de novembro de 2015

FUVEST 2016 : PROVA E GABARITO DE GEOGRAFIA


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A partir das imagens a seguir, pode✄se inferir a progressão do delta do rio Huang Ho (Rio Amarelo), na costa leste da China, famoso pelo transporte de sedimentos conhecidos por loess. De 1979 a 2000, alterou-se consideravelmente a morfologia do delta, com o aparecimento de feições recentes sobrepostas a outras, que levaram milhões de anos para se formar.



Com base na comparação entre as imagens de satélite e em seus conhecimentos, assinale a afirmação correta.
a) A situação verificada deve-se aos efeitos das ondas e marés que comandam a deposição de sedimentos no delta, sem haver influência continental no processo, já que a topografia costeira permite que o oceano alcance o interior do continente.
b) A modificação na morfologia deve-se às grandes chuvas que ocorrem a montante desse delta e, por tratar-se de drenagem endorreica, o rio carrega considerável volume de sedimentos grosseiros e blocos rochosos, que, aos poucos, depositam-se ao longo da costa.
c) Além de haver nesse sistema deltaico uma característica carga detrítica fina que, praticamente, excede a capacidade do rio de transportar material erodido e carregado, a modificação verificada foi ampliada pela ocupação antrópica,influenciando o regime deposicional.
d) O delta é resultante de mudanças climáticas provocadas pela ação humana na exploração de recursos no golfo chinês, nas estações mais quentes e chuvosas, ocasionando a retração da foz e o rebaixamento dos níveis das marés, com o aparecimento dos bancos de areia sobressalentes.
e) As modificações no delta devem-se ao fato de essa região caracterizar-se como um sistema lacustre, onde há acumulação de matéria orgânica decorrente das inundações provocadas pela construção da barragem da usina hidrelétrica de Três Gargantas.

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Tendo em vista o que a charge pretende expressar e a data de sua publicação, dentre as legendas propostas abaixo, a mais adequada para essa charge é:

www.jagostinho.com.br
a) Suspensão do embargo econômico a Cuba por parte dos EUA.
b) Devolução aos cubanos da área ocupada pelos EUA em Guantánamo.
c) Fim do embargo das exportações petrolíferas cubanas.
d) Retomada das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba.
e) Transferência de todos os presos políticos de Guantánamo, para prisões norte-americanas.

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Há dois lados na divisão internacional do trabalho [DIT]: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo- os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os.
Eduardo Galeano. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Adaptado.
Sobre a atual Divisão Internacional do Trabalho (DIT), no que diz respeito à mineração na América Latina, é correto afirmar:
a) O México é o país com maior produção de carvão, cuja exportação é controlada por capital canadense. Para tal situação, o padrão de dominação Norte/Sul na DIT, mencionado pelo autor, é praticado no mesmo continente.
b) A Colômbia ocupa o primeiro lugar na produção mundial de manganês, por meio de empresas privatizadas nos dois últimos governos bolivarianos, o que realça sua posição no cenário econômico internacional, rompendo a dominação Norte/Sul.
c) O Chile destaca-se pela extração de cobre, principalmente na sua porção centro-norte,
que é, em parte, explorado por empresas transnacionais, o que reitera o padrão da DIT mencionado pelo autor.
d) A Bolívia destaca-se como um dos maiores produtores de ferro da América Latina, e, recentemente, o controle de sua produção passou a ser feito por Conselhos Indígenas. Essa autonomia do País permitiu o rompimento da dominação estadunidense.
e) O Uruguai é o principal produtor mundial de prata, e o controle de sua extração é feito por empresas transnacionais. Nesse caso, mantém-se o padrão da inserção do país na DIT mencionada pelo autor.

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O vento é o movimento do ar em relação à superfície terrestre. Ele se deve à existência de gradientes de pressão atmosférica, e sua distribuição é representada pelas
isóbaras (linhas com o mesmo valor de pressão atmosférica). O vento também sofre influências do movimento de rotação da Terra, podendo-se destacar, entre outras, a força de desvio conhecida por efeito Coriolis.
Esse efeito atua sobre os ventos deslocando sua trajetória ao longo das isóbaras, conforme os hemisférios do planeta.
A. Tubelis & F. J. L. Nascimento, Meteorologia Descritiva: Fundamentos e Aplicações Brasileiras. Paulo: Nobel, 1983. Adaptado.
Com base no texto e em seus conhecimentos, em relação aos centros de alta pressão (A), pode-se representar
corretamente a circulação dos ventos nos Hemisférios Sul (HS) e Norte (HN), conforme o esquema indicado em:


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Sobre as 20 aglomerações urbanas mais populosas do mundo, conforme gráfico ao lado, é correto afirmar:  Em milhões de habitantes

a) A maioria delas se encontra na Ásia, e, dentre estas, predominam as localizadas em países com economias desenvolvidas ou em desenvolvimento.
b) Mais de 50% delas encontram-se em países desenvolvidos, com alto PIB e alta distribuição de renda.
c) 50% delas estão localizadas na América Latina, em países subdesenvolvidos e pouco industrializados.
d) 25% delas estão em países da Europa Oriental, em que há boa distribuição de renda e serviços públicos essenciais gratuitos.
e) O segundo maior número dessas aglomerações encontra-se em países da África, as quais se caracterizam por baixo IDH.

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Observe o mapa abaixo e leia o texto a seguir


O terremoto ocorrido em abril de 2015, no Nepal, matou por volta de 9.000 pessoas e expôs um governo sem recursos para lidar com eventos geológicos catastróficos de tal magnitude (7,8 na Escala Richter). Índia e China dispuseram-se a ajudar de
diferentes maneiras, fornecendo desde militares e médicos até equipes de engenharia, e também por meio de aportes financeiros.
Considere os seguintes motivos, além daqueles de razão humanitária, para esse apoio ao Nepal:
I. interesse no grande potencial hidrológico para a geração de energia, pois a Cadeia do Himalaia, no Nepal, representa
divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios Ganges e Brahmaputra, caracterizando densa rede de drenagem;
II. interesse desses países em controlar o fluxo de mercadorias agrícolas produzidas no Nepal, através do sistema hidroviário Ganges-Brahmaputra, já que esse país limita-se, ao sul, com a Índia e, ao norte, com a China;
III. necessidades da Índia e, principalmente, da China, as quais, com o aumento da população e da urbanização, demandam suprimento de água para abastecimento público, tendo em vista que o Nepal possui inúmeros mananciais.
Está correto o que se indica em
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

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Observe o mapa

Identifique a alternativa que completa corretamente a legenda do mapa.


1                                                 2                                        3
a) Histórico-cultural          Ecoturismo                           Hidromineral
b) Ecoturismo                   Histórico-cultural                  Hidromineral
c) Hidromineral                Ecoturismo                            Histórico-cultural
d) Ecoturismo                  Hidromineral                          Histórico-cultural
e) Hidromineral               Histórico-cultural                   Ecoturismo

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É preocupante a detecção de resíduos de agrotóxicos no planalto mato-grossense [Planaltos e Chapada dos Parecis], onde nascem o rio Paraguai e parte de seus afluentes, cujos
cursos dirigem-se para a Planície do Pantanal. Em termos ecológicos, o efeito crônico da contaminação, mesmo sob baixas concentrações, implica efeitos na saúde e no ambiente a médio e longo prazos, como a diminuição do potencial biológico de espécies animais e vegetais.
Dossiê Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro/São Paulo: EPSJV/Expressão Popular, 2012. Adaptado.
Com base no texto e em seus conhecimentos, é correto afirmar:
a) No Mato Grosso do Sul, prevalece a criação de caprinos nas chapadas, ocasionando a contaminação dos lençóis freáticos por resíduos de agrotóxicos.
b) No Mato Grosso, ocorre grande utilização de agrotóxicos, em virtude, principalmente, da quantidade de soja, milho e algodão nele cultivada.
c) Em Goiás, com o avanço do cultivo da laranja transgênica voltada para exportação, aumentou a contaminação a montante do rio Cuiabá.
d) No Mato Grosso, estado em que há a maior área de silvicultura do país, há predominância da pulverização aérea de agrotóxicos sobre as florestas cultivadas.
e) No Mato Grosso do Sul, um dos maiores produtores de feijão, trigo e maçã do país, verifica-se significativa contaminação do solo por resíduos de agrotóxicos.

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Observe os mapas

Dentre as seguintes alternativas, a única que apresenta a principal causa para o correspondente fluxo migratório é:
a) I: procura por postos de trabalho formais no setor primário.
b) II: necessidade de mão de obra rural, devido ao avanço do cultivo do arroz.
c) III: necessidade de mão de obra no cultivo da soja no Ceará e em Pernambuco.
d) IV: procura por postos de trabalho no setor aeroespacial.
e) V: migração de retorno.

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O mapa representa um dos possíveis trajetos da chamada Ferrovia Transoceânica, planejada para atender, entre outros interesses, ao transporte de produtos agrícolas e de minérios, tornando as exportações possíveis tanto pelo Oceano Atlântico quanto pelo Oceano Pacífico.


Considerando-se o trajeto indicado no mapa e levando em conta uma sobreposição aos principais Domínios
Morfoclimáticos da América do Sul e as faixas de transição entre eles, definidos pelo geógrafo Aziz Ab’Sáber, pode-se identificar a seguinte sequência de Domínios, do Brasil ao Peru:
a) Chapadões Florestados, Cerrados, Caatingas, Pantanal, Andes Equatoriais.
b) Mares de Morros, Pantanal, Chaco Central, Andes Equatoriais.
c) Chapadões Florestados, Chaco Central, Cerrados, Punas.
d) Mares de Morros, Cerrados, Amazônico, Andes Equatoriais.
e) Mares de Morros, Cerrados, Caatingas, Amazônico, Punas.

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O processo de industrialização que se efetivou em São Paulo a partir do início do século XX foi o indutor do processo de metropolização. A partir do final dos anos 1950, a
concentração da estrutura produtiva e a centralização do capital em São Paulo foram acompanhadas de uma urbanização contraditória que, ao mesmo tempo, absorvia as modernidades possíveis e expulsava para as periferias imensa quantidade de pessoas que, na impossibilidade de viver o urbano, contraditoriamente, potencializavam a sua
expansão. Assim, de 1960 a 1980, a expansão da metrópole caracterizou-se também pela intensa expansão de sua área construída, marcadamente fragmentada e hierarquizada.
Esse processo se constituiu em um ciclo da expansão capitalista em São Paulo marcada por sua periferização.
Isabel Alvarez. Projetos Urbanos: alianças e conflitos na reprodução da metrópole. Disponível em: http://gesp.fflch.usp.br/sites/gesp.fflch.usp.br/files/02611.pdf.
Acessado em 10/08/2015. Adaptado.
Com base no texto e em seus conhecimentos, é correto afirmar:
a) O processo que levou à formação da metrópole paulistana foi dual, pois, ao trazer modernidade, trouxe também segregação social.
b) A cidade de São Paulo, no período entre o final da Segunda Guerra Mundial e os anos de 1980, conheceu um processo intenso de desconcentração industrial.
c) A periferia de São Paulo continua tendo, nos dias de hoje, um papel fundamental de eliminar a fragmentação e a hierarquização espacial.
d) A periferização, em São Paulo, cresceu com ritmo acelerado até os anos de 1980, e, a partir daí, estagnou, devido à retração de investimentos na metrópole.
e) A expansão da área construída da metrópole, na década de 1960, permitiu, ao mesmo tempo, ampliar a mancha urbana e eliminar a fragmentação espacial.

GABARITO:
64- C
65- D
66- C
67- B
68- A
69- C
70- E
71- B
72- E
73- D
74- A
Fonte : FUVEST

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

BRASIL E O CÓDIGO DA MINERAÇÃO

O Código de Mineração, a tragédia da Samarco e os geólogos brasileiros, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Publicado em novembro 26, 2015  
Bombeiros procuram por vítimas em meio ao mar de lama que engoliu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) | Antônio Cruz – Agência Brasil / ISA
Bombeiros procuram por vítimas em meio ao mar de lama que engoliu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG) | Antônio Cruz – Agência Brasil / ISA

A revelação dos esquemas de corrupção na Petrobrás com participação ostensiva de funcionários de carreira, o conturbado e sinuoso desencaminhamento da discussão sobre o novo Código de Mineração, o desastroso rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, a revelação pública do estado de insolvência do DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral e outros organismos públicos de regulação e fiscalização, a multiplicação de acidentes e instalação de áreas de risco envolvendo o meio físico geológico, são alguns dos fatos que compõem um quadro crítico que está a demandar a reflexão e o posicionamento dos geólogos brasileiros.
Dentro desse quadro circunstâncias especiais, onde estão em jogo grandes interesses da nação e também grandes interesses privados, não necessariamente conflitantes, mas também não necessariamente confluentes, impõem aos geólogos extremo cuidado na formação de suas opiniões, tão ansiosamente esperadas pela sociedade brasileira.
Duas visões extremadas tem sido comumente expressas, ambas com o dom de prejudicar e viciar o bom debate que se faz necessário para o encontro de bons diagnósticos, boas projeções e boas soluções. A primeira, bastante promovida nos últimos anos, e com presença crescente e forte especialmente no poder legislativo, desenha as empresas e empresários da mineração e de grandes obras civis como “sofridos patriotas, beneméritos geradores do emprego e da riqueza nacional, mas traídos e sabotados por um poder público que lhes explora em mil impostos e taxas e os sufoca com descabidas exigências ambientais, de segurança e de proteção de grupos indígenas”. A segunda, no extremo oposto, considera as grandes obras civis, a mineração e seus empresários como “intrínsecos elementos do MAL, destruidores do meio ambiente, desrespeitadores dos direitos trabalhistas, dilapidadores do patrimônio mineral brasileiro, exterminadores de culturas, tradições e costumes das regiões em que se instalam, sonegadores contumazes”.
É preciso escapar dessa polarização extremada, que não tem admitido qualquer possibilidade de entendimento entre sociedade e empresariado na busca por soluções que atendam os interesses maiores da nação. Não é o caso de sermos ingênuos, há sim péssimos empresários, aos quais só importa a ânsia por lucros rápidos e fantásticos, seja a que custo ambiental e social for, e que os prejudicados se danem. Como também há entre os que demonizam empresas e empresários aqueles cuja verdadeira intensão é tirar proveitos políticos pessoais dessa guerra assim movida, ou até fazer o jogo de outros grupos econômicos concorrentes.
Cabe nesse momento especialmente aos geólogos brasileiros e suas entidades, estimados e admirados pela população por sua dedicação e resultados na descoberta e defesa de riquezas minerais importantíssimas e no desenvolvimento das melhores técnicas para os empreendimentos se relacionarem virtuosamente com o meio físico geológico, a iniciativa de produzir o bom debate.
Para tanto, é necessário que, depois de tanta demora e manobras, se retire a votação do novo Código de Mineração no Congresso Nacional do regime de urgência a que está submetida. Passados vários anos não se fez a discussão devida, não faz o mínimo sentido permitir agora que as formulações legais sejam produzidas sob a ótica do oportunismo e da esperteza. Não há que se esperar outro resultado dessa loucura, senão um Código sofrível e a produção de um campo minado entre vitoriosos e derrotados.
Por fim, uma sugestão ao governo, chame as entidades representativas dos geólogos brasileiros, a FEBRAGEO – Federação Brasileira de Geólogos, a SBG – Sociedade Brasileira de Geologia, a ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, ouça o que elas tem a dizer, organize com elas uma proveitosa discussão que reúna todas as partes envolvidas, e com calma e sob a égide do interesse nacional maior cheguem a um denominador o mais comum quanto possível. Vai valer a pena.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”.
Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia
Articulista e Colaborador do Portal EcoDebate
Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado em Viomundo, 23/11/2015.
in EcoDebate, 26/11/2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

DEMOGRAFIA NO BRASIL.

A demografia não é culpada pela atual crise brasileira, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em novembro 25, 2015 
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
(Carlos Drummond de Andrade, 1902-1987)

151125

[EcoDebate] A demografia não é culpada pela atual crise brasileira. Ao contrário, o Brasil vive o seu melhor decênio (2015-2024) demográfico da história… passada, presente e futura. Nunca nos 515 anos, desde a chegada do Cabral, a razão de dependência (RD) foi tão baixa. Porém, este período de bonança não vai durar para sempre. Após 2025 a RD subirá novamente, segundo as projeções do IBGE. Assim, a RD está no fundo do vale, pois os níveis eram mais elevados no passado e serão mais elevados no futuro.
A queda da razão de dependência ocorre devido à transição demográfica, que só acontece uma vez na história de cada país. Consequentemente, a baixa relação entre pessoas em idade de trabalhar e pessoas em “idade dependente” também só acontece uma vez na história, criando uma janela de oportunidade singular. Portanto, o bônus demográfico ocorre em função da mudança da estrutura etária da população. É um fenômeno único que acontece em função da passagem de uma estrutura etária jovem para uma estrutura etária envelhecida. Da mesma forma como uma pessoa passa somente uma vez de criança, para adolescente, para adulto e para idoso, a mudança da estrutura etária só acontece uma vez na história de cada país.
Ou seja, o Brasil está passando pelo melhor momento do seu bônus demográfico. O período exato depende da forma como se mede a razão de dependência (RD). Se adotarmos o período de idade produtiva como sendo de 15 a 59 anos e as idades dependentes como sendo de 0 a 14 anos e 60 anos e mais, então a RD estará em seu nível mais baixo (55,9%) entre 2015 e 2018 (lembrando que a pessoa idosa no Brasil é definida a partir dos 60 anos, conforme o Estatuto do Idoso). Se adotarmos a definição de população em idade ativa como sendo de 15 a 64 anos, então a RD estará em seu nível mais baixo (43,4%) entre os anos de 2021 e 2024.
Assim, o nível mais baixo da razão de dependência (RD) varia em função da definição de qual é a população em idade ativa e a população dependente. Mas qualquer que seja o critério adotado, a RD vai começar a subir inevitavelmente. Subirá ou em 2019 ou em 2025. Portanto, não dá para culpar o envelhecimento populacional pela crise econômica de 2015. Pode ser que o envelhecimento seja uma carga pesada no futuro (vai depender de como os idosos serão tratados e de como eles irão agir e reagir), mas por enquanto o Brasil ainda tem uma razão de dependência baixa e muito favorável.
Os noticiários mostram que o Brasil está no meio da maior crise econômica da sua história. Os institutos de pesquisa e os organismos internacionais (Cepal, FMI, OCDE, etc.) confirmam o péssimo desempenho do país. Mas isto nada tem a ver com a demografia e sim com os erros da política econômica, com o populismo social e cambial e com as condições políticas do presidencialismo de coalizão.
Os governos Lula e Dilma adotaram uma estratégia de crescimento baseado no aumento do consumo, sem se preocupar com o aumento da produtividade e pouco fazendo para aumentar as taxas agregadas de poupança e investimento. Para piorar a situação, estabeleceram uma taxa de câmbio sobrevalorizado enquanto os ciclo do boom das commodities permitiu. Até o ano de 2011 as exportações estavam crescendo e a competitividade do comércio internacional não preocupava tanto os gestores. O mercado de trabalho também estava avançando e aumentando as taxas de ocupação até 2012 (segundo a PME do IBGE). Os diferenciais de juros internos (spread) garantiam a entrada de capitais forâneos. O gasto público crescia muito, mas as receitas não estavam fazendo feio. A ampliação dos gastos sociais evitava uma rebelião entre a população mais pobre.
Todavia, este quadro relativamente tranquilo se transfigurou para uma situação crítica a partir de 2013. As manifestações de junho daquele ano já apontavam, consciente ou inconscientemente, para o descontentamento popular com o quadro macroeconômico do país. As taxas de atividade no mercado de trabalho começaram a declinar, embora o desemprego aberto não estivesse subindo. As contas públicas mostraram sinais de rápida deterioração. Os déficits em transações correntes subiram de forma alarmante. Para sustentar suas reservas cambiais, o governo passou a gastar fortunas com os swaps do Banco Central. A inflação escapou do centro da meta. O governo passou a gastar outros bilhões com as desonerações fiscais via BNDES (a chamada “Bolsa empresário”). O Eldorado do pré-sal virou “ouro de tolo”: primeiro quebrou o megalômico empresário Eike Batista, depois quebrou a Petrobras (a empresa mais endividada do mundo), vindo em seguida o desmonte de toda a cadeia produtiva e dependente dos combustíveis fósseis. O setor energético como um todo foi desorganizado e a manipulação das tarifas contribuiu para a inflação de 2015. Para piorar a conjuntura econômica, a operação Lava-Jato mostrou que o Brasil viveu nos últimos anos o maior escândalo de corrupção do mundo. Houve rebaixamento geral das expectativas de empresários, trabalhadores, investidores e do povo em geral.
Embora toda esta realidade tenha sido ocultada e fantasiada nas eleições do ano passado, a verdade crua e nua se impôs em 2015, com a deterioração completa das condições econômicas: aumento das dívidas interna e externa, aumento da inflação, diminuição do emprego, crescimento do desemprego, redução da renda das famílias, quebradeira generalizada, etc. O governo que prometia o paraíso passou a propor um duro ajuste fiscal. No começo de 2015 o ministro Joaquim Levy propunha um superávit primário de 1,2% do PIB, mas as estimativas de novembro são de um rombo no orçamento de mais de 1% do PIB, quando se incorpora as pedaladas fiscais de 2014. A crise política está inviabilizando soluções concretas. Ou seja, a situação está ruim, nada foi feito para remediar e vai piorar em 2016.
O Estado aumentou suas intervenções na economia, mas não melhorou a eficiência econômica e nem avançou consideravelmente com a infraestrutura, por exemplo, em estradas e portos. Foi proposto um programa de desburocratização, mas o Brasil continua um dos países mais complicados para a abertura de uma empresa (é mais fácil abrir uma igreja) e o sistema de impostos e taxas é complicado e caro. A carga tributária é uma das mais elevadas do mundo. A Copa do Mundo de 2014 serviu para construir “elefantes brancos” (como a arena Manaus) que tem pouca utilidade e geram custos elevados para manutenção. A transposição do rio São Francisco extrapolou todos os orçamentos e previsões, não foi concluída e o rio da “integração nacional” está secando por falta de políticas que cuidem de suas nascentes. Os rios da cidade do Rio de Janeiro e a Baia da Guanabara não foram despoluídos para as Olimpíadas de 2016. O rio Doce que já vinha sofrendo com décadas e séculos de degradação, desmatamento, poluição e esgoto, agora teve a sua sentença de morte declarada com o rompimento das barragens de rejeito da mineração da Samarco (subsidiária da VALE/BHP), no município de Mariana (MG). Toda a biodiversidade foi comprometida com a morte de milhões de peixes e outras espécies que não resistiram ao mar de lama.
O Brasil promoveu uma política keynesiana rastaquera e agora vive uma situação de déficit fiscal crônico. Setores do governo e do PT não conseguem fazer uma autocrítica e querem repetir os erros da “nova matriz macroeconômica”. As despesas públicas, inclusive com as altas taxas de juros, crescem muito mais rápido do que as receitas. O Brasil passou a fazer superávits crescentes na balança comercial, mas em função da grande queda das importações, devido à desvalorização do Real (que deixa toda a população mais pobre). É claro que a desaceleração da economia internacional e da China contribui para o péssimo desempenho das exportações brasileiras Investiu mais na indústria automobilística e no sonho do carro próprio do que no transporte coletivo. Mas a queda do desempenho brasileiro é maior do que a queda da maioria dos países e o Brasil perde participação relativa no comércio internacional. O Brasil privilegiou a construção de shoppings em vez de fábricas competitivas. O Brasil vem se desindustrializando rapidamente, com a reprimarização da economia. Houve endividamento das empresas nacionais em dólar e agora o Brasil está fragilizado diante de um possível aumento das taxas de juros americanas. O crescimento econômico foi endeusado como a grande solução para o país, mas tivemos “pibinhos” sucessivos e agora uma grande recessão. Melhor que tivesse tido um decrescimento próspero planejado (“Su recesión no es nuestro decrecimiento”).
A crise da previdência é real e o Brasil já gasta muito com o sistema de seguridade social. Mas isto não se deve ao aumento da razão de dependência demográfica. O problema deriva de um sistema muito generoso, sem o devido equilíbrio atuarial. A idade média de aposentadoria no Brasil é muito baixa e não existe uma idade mínima para evitar abusos. Além disto existem benefícios tais como aposentadorias vitalícias para determinados segmentos populacionais que não se justificam em um país com tantas desigualdades e exclusão social. Por exemplo, a União gastará R$ 3,8 bi com pagamento de pensões vitalícias a filhas de militares este ano. Governo e oposição evitam tratar do tema de uma reforma previdenciária séria e que mire o equilíbrio sustentável de longo prazo.
Houve ganhos recentes na redução da pobreza e na redução da desigualdade pessoal da renda. Mas não houve redução da desigualdade funcional da riqueza e a crise econômica está provocando uma mobilidade social descendente. O Brasil tem mais de 150 mil mortes por causas externas que poderiam ser evitadas, mas que provoca grandes transtornos para as famílias e a sociedade. Mas o Congresso Nacional busca flexibilizar o Estatuto do Desarmamento. O agronegócio avança com os bois sobre as florestas e os ecossistemas. A PEC 215 pretende transferir do Executivo para o Congresso o poder de demarcar terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação. Os parlamentares não querem aprimorar a Constituição, mas dar um golpe nela. Parlamentares tradicionalistas aprovaram em comissão especial da Câmara, o texto que define como família apenas o núcleo formado a partir da união entre um homem e uma mulher. A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5.069/13, do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que modifica a Lei de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Lei 12.845/13), introduzindo a obrigatoriedade de registro de ocorrência e exame de corpo de delito para as vítimas de estupro. Assim a bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia) quer fazer uma revolução regressiva e conservadora, além de serem contra os direitos sexuais e reprodutivos e a autonomia feminina. Em nome de combater o neomalthusianismo, a bancada BBB defende uma política pró-natalista antropocêntrica, conservadora e ecocida, que vai na contramão da história.
Neste triste quadro econômico e político, parece até piada quando alguém culpa a demografia, a queda da fecundidade e o envelhecimento populacional pela estagflação nacional atual. Na verdade os erros do gerenciamento da política macroeconômica dos últimos governos brasileiros estão provocando o fim precoce do bônus demográfico, com grande desperdício de pessoas não ocupadas e pessoas que estudaram mas não encontram uma colocação no mercado de trabalho. Há milhões de jovens que nem estudam e nem trabalham. O Brasil adotou uma “especialização regressiva” e fica cada vez mais dependente da exportação de recursos naturais (petróleo, minério, nióbio, etc, além de commodities do agronegócio). Nesta opção, os ecossistemas estão sendo destruídos, assim como os rios urbanos, o rio São Francisco, o rio Paraiba do Sul e nem se fala do rio Doce. Tudo isto está colocando em xeque as possibilidades de continuidade do desenvolvimento brasileiro.
Referências:
ALVES, JED. O fim do bônus demográfico e o processo de envelhecimento no Brasil. São Paulo, Revista Portal de Divulgação, n. 45, Ano V. Jun/jul/ago 2015, pp: 6-17, (ISSN 2178-3454)
ALVES, JED. O desperdício do bônus demográfico e o fim do desenvolvimento do Brasil, apresentação realizada no NEPO/UNICAMP em 19 de outubro, SCRIBD, 05/11/2015

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 25/11/2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

ATAQUES EM PARIS.

MARIANA : A CIDADE DESTRUÍDA PELA MINERAÇÃO

GÁS DE XISTO E OS RISCOS PARA O MEIO AMBIENTE.

Audiência pública debate que o fracking, usado na exploração de gás de xisto, oferece sérios riscos

Publicado em novembro 23, 2015  
Após dois dias de intensos debates sobre os impactos e riscos que o fraturamento hidráulico, o fracking, tecnologia altamente poluente e perigosa usada para exploração de gás de xisto, deputados estaduais, prefeitos, vereadores, técnicos, entidades do setor produtivo, acadêmicos, ambientalistas e representantes da sociedade civil foram unânimes: Os princípios da precaução e prevenção devem prevalecer no caso do fracking, pois esta atividade oferece severos riscos ambientais, econômicos e sociais.
Captura de Tela 2015-11-18 às 16.42.08Os representantes da 350.org Brasil, Fundação Cooperlivre Arayara e COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil que participaram do Seminário “Fracking – Exploração de Gás de Xisto / Consequências sociais, ambientais e econômicas para o Aquífero Guarani”, promovido pela Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), avaliam que a discussão avançou, uma vez que todos os participantes reconhecem os riscos severos e irreversíveis da tecnologia do fracking, podendo causar a contaminação dos aquíferos Guarani e Serra Geral, trazer prejuízos para a economia ao afetar a agricultura e pecuária. Por essas e outras razões, reivindicamos que o Legislativo paranaense proíba a exploração gás não convencional no estado.
Segundo o coordenador da COESUS, Eng. Dr. Juliano Bueno de Araujo, “com fracking, a forma de vida como conhecemos deixará de existir. Teremos a contaminação da água, do solo e do ar por produtos químicos, tóxicos, cancerígenos e radioativos, que provocam câncer e doenças neurológicas nas pessoas e eliminam toda a biodiversidade”.
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Juliano enfatizou que a sociedade paranaenses não quer e que o Paraná não precisa de fracking para a geração de energia.  “Vamos continuar nossa campanha para proteger as nossas reservas de água, alertar as pessoas dos riscos e impedir que esta tecnologia minerária suja e perversa aconteça em nosso país”.
Combustíveis fósseis devem ficar no solo
Além de representantes da sociedade civil, Ministério Público e entidades contra o fraturamento hidráulico, participaram representantes da Universidade Federal do Paraná, Federação da Agricultura do Paraná, Copel, Instituto de Águas, Ocepar, entre outros segmentos. Em todas as apresentações, os impactos foram considerados impedimento para a permissão desta tecnologia.
Durante o seminário, a diretora da 350.org Brasil, Nicole Figueiredo de Oliveira, argumentou que já tivemos dois anos para ler os inúmeros estudos científicos sobre impactos e contaminação, nos informarmos das experiências vizinhas e levantar elementos suficientes para tomar uma decisão. Agora chegou a hora de seguirmos o exemplo de outros países, e banir o fracking no Paraná.
Nicole foi taxativa: “Acabamos de voltar da Argentina, onde vimos a indústria do fracking contaminando a água, acelerando a degradação das cidades, prejudicando a agricultura, expulsando as pessoas das suas terras e as fazendo adoecer. Não queremos isso no Paraná, no Brasil e em lugar nenhum do mundo. Nossa luta é para que os combustíveis fósseis fiquem no solo e os governos invistam em energias renováveis para diminuir as emissões e evitar as mudanças climáticas”.
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Para o presidente da Associação Brasileira das Pequenas Centrais Hidrelétricas (Abrapchs), Ivo Pugnaloni, “por seus impactos, é inacreditável que isto (fracking) esteja acontecendo no primeiro mundo. E aqui no Brasil, ainda mais por ser ilegal, já que a ANP não tem atribuição legal”.
Já o Procurador de Justiça do Ministério Público do Paraná, Dr. Saint Clair Honorato Santos, foi categórico ao afirmar que o MP-PR é contra o fracking e que ele continuará a lutar, pelos meios legais, contra essa tecnologia.
O governo brasileiro leiloou em 2013 blocos para exploração de gás de xisto em Toledo, 1º PIB agropecuário do Estado, com grande performance na produção de suínos, aves e de grãos. Outras 122 cidades poderão ser atingidas na região Sudoeste onde estão os aquíferos Guarani e Serra Geral, principais reservas naturais que abastecem mais de 4 milhões de paranaenses. As operações de fracking ainda não acontecem no estado por força de uma liminar que suspendeu os efeitos do leilão.
Participaram ainda os deputados Schiavinato (PP) e Fernando Scanavaca (PDT), que junto com a 350.org Brasil e COESUS, estiveram em missão oficial no começo do mês na Argentina visitando as províncias de Neuquén e Rio Negro fortemente impactadas pela indústria do fracking.
O vereador de Toledo, Tita Furlan (PV), que também integrou a comitiva, esteve no seminário em Curitiba. “Voltei da Argentina com a minha convicção renovada de que não podemos permitir  que o fracking aconteça em nosso Estado, colocando em risco tudo o que conquistamos. Na minha cidade, não vai ter fracking”, garantiu.
Nenhuma das cidades foi consultada

O prefeito de Mato Rico, Marcel Mendes (PP), cidade que terá 100% do seu território impactado caso o fracking aconteça no Paraná, disse que foi pego de surpresa com a decisão da Agência Nacional de Petróleo e Gás natural (ANP) em leiloar o subsolo do município.
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O prefeito contou que há 12 anos, a Petrobras fez testes exploratórios na área rural de Mato Rico, utilizando dinamite para verificar potencialidades do solo para a produção de gás. Muitas nascentes e minas no entorno das explosões simplesmente secaram, trazendo problemas no abastecimento de água e grande prejuízo para centenas de propriedades rurais. “Se só estas explosões na superfície já provocaram esse impacto, imagina o que não pode acontecer com fracking. Estamos preocupados”, disse Marcel, que estava acompanhado da prefeita de Roncador, Marilia Bento Gonçalves (PDT), cidade também a ser impactada.
O vereador de Umuarama, Diemerson Castilho (PT), está iniciando a discussão na cidade, uma das 122 a serem impactadas. “Estamos buscando informações sobre o fracking, mobilizando a Câmara Municipal e as entidades para promovermos uma grande discussão, pois em nenhum momento fomos informados de que isso poderia acontecer em nosso município”, ressaltou.
Diemerson estava acompanhado do colega de Câmara, vereador Hemerson Yokota (PR).
O seminário, que também serviu como audiência pública, foi proposto pelos deputados Rasca Rodrigues (PV), autor do projeto que propõe proibição para o fracking, Maria Vitória (PP) e Pedro Lupion (DEM). Foi a terceira reunião para debater os impactos do fracking na Alep, desde que o governo brasileiro realizou em 2013 a 12ª Rodada de leilões para licitar blocos para a exploração de gás de xisto no Paraná e em mais 14 estados brasileiros.
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Autor do projeto que propõe a proibição da exploração de gás não convencional no Paraná, o deputado Rasca Rodrigues retornou da missão na Argentina com a convicção de que ‘esta tecnologia não é adequada ao Paraná por provocar a contaminação da água e consequentes danos ambientais numa região de grande produção agrícola”.
Também estiveram no plenarinho da Alep a deputada Cristina Silvestri (PPS), os deputados Márcio Pacheco (PPL) e Chico Brasileiro (PSD), que se manifestaram contrários ao fracking. Inclusive, Márcio Pacheco, quando era vereador em Cascavel, foi autor da primeira lei municipal do Paraná que proibiu operações de fracking no município, assim como Toledo, Santa Bárbara do Oeste, Foz do Iguaçu, entre outras.

Fotos: 350.org Brasil/COESU
Informe da campanha Não Fracking Brasil, in EcoDebate, 23/11/2015

DESAPARECIMENTO DAS ABELHAS E OS PESTICIDAS.

Fabricantes de pesticidas gastam milhões para ocultar desaparecimento de abelhas

Publicado em novembro 23, 2015 
abelha morta

Dois neonicotinoides amplamente usados na fabricação de pesticidas parecem prejudicar seriamente as colônias de abelhas,  segundo um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard. Em abril de 2015, a revista Science publicou dois estudos adicionais que corroboram as descobertas de Harvard sobre neonicotinoides utilizados no tratamento de sementes para mais de 140 cultivos. Estes pesticidas sistêmicos fabricados pela BayerSyngenta e Monsanto são absorvidos pelas raízes e folhas e distribuídos através de toda a planta, incluindo seu pólen e néctar.
A reportagem é publicada por Mapocho Press, 01-11-2015. A tradução é de André Langer.
Para os polinizadores, a exposição de baixo nível pode levar a efeitos subletais, como alteração de aprendizagem, deficiência na busca de alimentos e imunosupressão; a exposição a níveis superiores pode ser letal.
Em resposta à evidência científica deste tipo, as três principais empresas produtoras de pesticidas –BayerSyngentaMonsanto – participam de campanhas massivas de relações públicas, efetuadas a um custo que ultrapassa os 100 milhões de dólares e empregando táticas similares àquelas utilizadas durante décadas pelas grandes fumageiras para negar os efeitos perniciosos na saúde pública.
Como informara Michele Simon em um estudo da Friends of the Earth (Amigos da Terra), estas táticas incluem a criação de distrações para culpar qualquer coisa, menos os inseticidas, pelos colapsos documentados nas populações de abelhas, incluindo, por exemplo, acusações contra os agricultores por suposto mau uso dos pesticidas. Estas empresas também atacam os cientistas e jornalistas para desacreditar suas conclusões.
Ao mesmo tempo, BayerSyngenta e Monsanto tentam comprar credibilidade mediante o cultivo de alianças e associações estratégicas com agricultores, apicultores e organizações agrícolas com a esperança de se representarem como “amigos das abelhas”. Assim, por exemplo, a Monsanto anunciou a formação de um Conselho Assessor da Abelha Melífera, uma aliança estratégica de executivos da Monsanto e outros. A Associação Britânica de Apicultores recebeu um importante financiamento da BayerSyngenta e outras empresas de inseticidas. Em troca, os inseticidas foram aprovados como “amistosos com as abelhas”.
Como relatou Rebeca Wilce para a PR Watch, “em vez de agir sobre um problema que ameaça a produção de alimentos em todo o mundo, as empresas de inseticidas pegaram uma página do manual de jogadas da indústria do tabaco para aumentar de maneira gradual os esforços para semear dúvidas sobre a magnitude do problema e sobre o seu próprio potencial papel na crise”. Na contramão, assinalou Wilce, a União Europeia colocou em prática uma proibição de dois anos para o uso dos três neonicotinoides mais comuns: imidacloprid, clotianidina e tiametoxam.
Escrevendo para a Wired, em junho de 2014, Brandom Keim informou sobre outro estudo da Friends of the Earth que mostra as floriculturas de grandes lojas da América do Norte, incluindo Home DepotLowe e Walmart, vendendo plantas com propaganda de ‘ostensivamente amigáveis com as abelhas’, mas que, na verdade, contêm altos níveis de neonicotinoides. O estudo descobriu que 36 de 71 (51%) amostras de plantas de jardim compradas nas principais floriculturas de 18 cidades dos Estados Unidos e Canadá continham pesticidas neonicotinoides. 40% das amostras positivas continham dois ou mais tipos de neonicotinoides. “Infelizmente”, escreveram os autores do relatório, “os jardineiros residenciais não têm ideia de que na realidade podem estar envenenando os polinizadores através de seus esforços para plantar jardins amistosos com as abelhas”.
Embora os principais meios de notícias, por exemplo, o New York Times, o Washington Post e aNational Public Radio publicaram dois anúncios de capa com marca Nature sobre os efeitos negativos dos neonicotinoides nas abelhas, mas não informaram sobre as campanhas de relações públicas da BayerSyngenta e Monsanto, que têm como objetivo minar as conclusões dos estudos científicos e desviar a culpa dos pesticidas.
Do mesmo modo, esses meios de imprensa cobriram o anúncio da Lowes de que já não venderá mais produtos que contenham neonicotinoides, mas não informaram que as plantas “amistosas com as abelhas” vendidas nas floriculturas nos Estados Unidos na realidade podem estar enganando os clientes bem intencionados e expondo os polinizadores aos neonicotinoides em seus próprios jardins familiares.
Fonte:
Michele Simon, “Follow the Honey: 7 Ways Pesticide Companies Are Spinning the Bee Crisis to Protect Profits,” Friends of the Earth, April 28, 2014, http://www.foe.org/news/blog/2014-04-follow-the-honey-7-ways-pesticide-companies-are-spinning-bee-crisis .
Rebekah Wilce, “Pesticide Firms Use Tobacco Playbook to Spin Bee Crisis,” PR Watch, Center for Media and Democracy, May 12, 2014, http://www.prwatch.org/news/2014/05/12468/pesticide-industry-uses-big-tobacco-playbook-spin-bee-crisis#sthash.gy3guWE9.dpuf.
Timothy Brown et al., “Gardeners Beware 2014: Bee-Toxic Pesticides Found in ‘Bee-Friendly’ Plants Sold at Garden Centers across the U.S. and Canada,” Friends of the Earth, June 2014,http://www.foe.org/projects/food-and-technology/beeaction.
Brandon Keim, “How Your Bee-Friendly Garden May Actually Be Killing Bees,” Wired, June 25, 2014,http://www.wired.com/2014/06/garden-center-neonicotinoids.
(EcoDebate, 23/11/2015) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

domingo, 22 de novembro de 2015

RIO DOCE : LAMA ATINGE O MAR PELA FOZ DO RIO.

Lama de minério que percorre o Rio Doce chega ao mar em Linhares

Resíduos de mineração chegaram à foz do Rio Doce, na região de Regência, por volta das 16 horas deste sábado, quando a cor da água começou a ficar mais barrenta

Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
Lama começou a chegar à foz do Rio Doce, na região de Regência, por volta das 16 horas deste sábado
Foto: Fred Loureiro/Secom-ES
A lama com rejeitos de mineração, que percorre a calha do Rio Doce, começou a chegar ao mar na tarde deste sábado (21). Segundo informações do Governo do Estado, os resíduos de minério chegaram ao balneário de Regência, em Linhares, no norte do Estado, onde fica a foz do Rio Doce, por volta das 16 horas.
A partir desse horário, a coloração da água mudou na região, ficando com um aspecto mais barrento. O último boletim divulgado pelo Sistema de Alerta de Eventos Críticos (SACE) do Serviço Geológico do Brasil, na noite de sexta-feira (20), indicava que a previsão de chegada da massa de água com maior concentração de minérios a Regência era mesmo na noite deste sábado. A lama começou a chegar a Linhares no início da tarde de sexta-feira (20).

Pela manhã, o juiz da 3ª Vara Civil de Linhares, Thiago Albani, havia determinado que a mineradora Samarco deveria realizar a abertura da foz do Rio Doce para que a lama proveniente do rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, se dissipasse no mar. A decisão contraria a determinação da Justiça Federal do Espírito Santo, que exigia da mineradora a tomada de medidas para impedir a chegada da lama ao mar.
Em uma tentativa de salvar a vegetação na foz do Rio Doce, a Samarco instalou boias de contenção às margens do rio. No entanto, especialistas afirmam que não há certeza sobre a efetividade dos equipamentos, já que tradicionalmente eles são usados na contenção de vazamentos de óleo.
A Samarco informou que está tomando as providências necessárias para minimizar os impactos causados pela chegada da lama a Regência. Segundo a mineradora, como forma preventiva, o projeto Tamar recolheu os ovos de tartarugas que estavam localizados na praia de Comboios e os levou para uma parte mais alta da costa. Além disso, há equipe monitorando o local, para coletar amostras da água antes e depois da chegada da lama. Essas amostras, segundo a empresa, estão sendo enviadas para análises diariamente. 
Ainda de acordo com a Samarco, outra ação preventiva que já vem sendo realizada é a instalação de 9 mil metros de barreiras, em sentido longitudinal, nas duas margens do rio e em algumas ilhas localizadas no estuário. O objetivo das barreiras, segundo a mineradora, é isolar a fauna e a flora que vivem nesse entorno, sem que impeça a chegada da lama ao mar. 
Lama interrompeu o abastecimento de água em municípios de Minas Gerais e Espírito Santo
Foto: Reprodução
A empresa destacou que também faz parte das ações o monitoramento aéreo da área por meio de um equipamento chamado OceanEye. Trata-se de um balão inflado com gás hélio e equipado com câmera, que contém um sensor triplo capaz de produzir imagens de alta resolução em tempo real, dia e noite, com coordenadas georreferenciadas, que geram um mapeamento preciso da região.
A Samarco informou ainda que Regência e Povoação, distritos de Linhares, não são abastecidos pela água do Rio Doce, mas ainda assim recebem, como ação preventiva, o auxílio de caminhão-pipa. A Defesa Civil recomenda, por precaução e em caráter temporário, que a população não tome banho de rio e mar nessas regiões, já que, com a chegada da lama, a cor da água fica mais escura. A Samarco garantiu que a pluma de turbidez não é tóxica.
Abastecimento
O trajeto da lama de rejeitos pelo Rio Doce interrompeu o abastecimento de água em municípios de Minas Gerais e Espírito Santo. A situação mobilizou pessoas de vários pontos do país, que arrecadaram água potável para enviar para a região. Neste domingo (22), durante o jogo entre Fluminense e Avaí, no estádio Kleber Andrade, em Cariacica, haverá mais um esforço de arrecadação.
Os torcedores que doarem dois litros de água mineral nas entradas do estádio terão direito a pagar metade do valor dos ingressos. A campanha está sendo organizada pelo Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo (FES).