quinta-feira, 29 de setembro de 2016

PLANETA TERRA COM 10 BILHÕES DE HABITANTES EM 2053.

O Mundo Com 10 Bilhões De Habitantes Em 2053


“Se a economia crescente do descarte e do desperdício imediato dos bens continuar,
iremos entregar a Terra ainda banhada em sol apenas à vida bacteriana”
Nicholas Georgescu-Roegen (1969)

os sete países mais populosos - 2016 e 2050

[EcoDebate] O mundo alcançou 1 bilhão de habitantes, aproximadamente, no ano de 1800. Duplicou para 2 bilhões em 1927. Na virada do milênio, no ano 2000, atingiu a cifra de 6 bilhões de pessoas e chegou a 7 bilhões em 2011. Relatório da Population Reference Bureau (PRB), divulgado em agosto de 2016, estima que a população mundial atingirá 10 bilhões de habitantes em 2053.
Em termos regionais, haverá um fosso demográfico e ritmos bem diferentes de mudança, com a população da África Subsaariana mais do que dobrando de tamanho, dos atuais 1,2 bilhão para os 2,5 bilhões em meados dos anos 2050, enquanto a Europa – mesmo com as imigrações – deve diminuir de tamanho e a América Latina deve alcançar o pico populacional e a estabilidade do crescimento em meados do atual século.
Não haverá mudança dos nomes dos 7 países mais populosos, mas haverá uma alteração na ordem de localização do ranking. A China deve perder cerca de 34 milhões de habitantes, passando de 1,378 bilhão em 2016 para 1,344 bilhão em 2050. A Índia vai passar de 1,3 bilhão para 1,7 bilhão no mesmo período (vai crescer cerca de dois Brasis). Portanto, a Índia vai ultrapassar a China e se tornará o país mais populoso do mundo.
Os Estados Unidos devem se manter no terceiro lugar. Mas a Indonésia que ocupa o quarto lugar atualmente deve cair para a quinta posição em 2050 e o Brasil deve perder o quinto lugar e cair para o sétimo posto no ranking dos países com maior volume de população. O Paquistão vai permanecer no sexto lugar, mas passando de uma população de 203 milhões de habitantes, em 2016, para 344 milhões em 2050. O maior salto será da Nigéria – que vai ganhar 3 posições – passando do 7º lugar para o 4º lugar, em empate com os Estados Unidos. A população da Nigéria que está atualmente em torno de 187 milhões deve pular para 398 milhões de habitantes em 2050.
Os Estados Unidos serão o único país desenvolvido a apresentar um crescimento demográfico significativo na primeira metade do século XXI, com um acrescimento de 74 milhões de pessoas entre 2016 e 2050 (a maior parte deste crescimento em função da imigração). Evidentemente, este processo vai agravar o impacto sobre a degradação ambiental dos EUA e pressionar ainda mais o déficit ecológico global.
Os EUA possuem atualmente uma Pegada Ecológica per capita de 8,2 hectares globais (gha) e biocapacidade per capita de 3,8 gha. A Pegada total está em torno de 2.610 bilhões de gha para uma biocapacidade total de 1.193,8 gha. Assim, a Pegada americana é 2,2 vezes maior que a biocapacidade, representando um déficit de 220%. Evidentemente, o modelo americano é insustentável e só sobrecarrega o resto do mundo.
Mas os países pobres e populosos também possuem alto déficit ecológico. A Pegada Ecológica total da Índia está em torno de 1,435 bilhão de gha, para uma biocapacidade de 560 milhões de gha, então a Índia apresentou grande déficit ambiental. A Pegada Ecológica total da índia era mais do dobro da biocapacidade total e o déficit ambiental está crescendo e tende a aumentar com o crescimento demoeconômico do país. A Índia já é o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) do mundo e tem resistido muito em colocar em prática as metas de descarbonização do Acordo de Paris da COP-21, embora tenha prometido ratificar o Acordo de Paris no dia 02 de outubro, aniversário de nascimento de Mahatma Gandhi.
Dos 7 países em questão, apenas o Brasil possui atualmente superávit ambiental, com pegada per capita de 3,1 gha e biocapacidade per capita de 9,1 gha. A Indonésia tem pegada de 1,6 gha e biocapacidade de 1,3 gha. O Paquistão tem pegada de 0,8 gha e biocapacidade de 0,4 gha e a Nigéria tem pegada ecológica per capita de 1,2 gha e biocapacidade per capita de 0,7 gha. Portanto, só o Brasil está no verde e os demais países estão no vermelho do déficit ecológico. E o quadro vai ficar muito pior em 2050 quando o tamanho da população e da economia forem muito maiores.
De fato, o mundo está em uma encruzilhada, pois existem muitos países ricos que continuam consumindo além da conta e muitos países pobres, com populações crescentes, que precisariam de mais recursos para reduzir a pobreza e melhorar o padrão de consumo. Evidentemente, a redução das desigualdades de renda e riqueza (patrimônio) poderia aliviar as condições de subnutrição e subconsumo. Porém, mesmo numa situação hipotética de perfeita distribuição de renda a pegada ecológica média do mundo já é maior do que a biocapacidade média. O mundo tinha, em 2012, uma biocapacidade total de 12,2 bilhões de hectares globais, mas tinha uma pegada ecológica de 20,1 bilhões de hectares globais. Portanto, a pegada ecológica ultrapassava a biocapacidade em 64%. A humanidade já consome 1,64 Planeta e já se encontra no “cheque especial”, dilapidando a herança deixada pela Mãe Natureza.
A situação atual é insustentável. Por um lado, os países ricos (com cerca de 1,2 bilhão de habitantes) consome além do necessário para uma vida descente e digna. De outro lado, muitos países pobres e em desenvolvimento consomem aquém das necessidades para obter uma vida descente e digna, mas possuem populações enormes (como Índia, Paquistão, Nigéria, etc.) e, mesmo com baixo consumo per capita, possuem alto consumo agregado e incapaz de ser atendido pela biocapacidade nacional.
Tudo isto mostra que a escala das atividades antrópicas já ultrapassou os limites fundamentais da sustentabilidade e há, por exemplo, uma crise hídrica pela frente. O mundo já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta, gerando uma sobrecarga ecológica. Já ultrapassou também as fronteiras planetárias (Alves, 06/02/2015), inclusive o aquecimento global que é uma ameaça concreta e crescente. Para evitar o colapso ambiental é preciso reduzir a pegada ecológica e para evitar as injustiças sociais é preciso reduzir os níveis de desigualdade. Porém, a solução não pode ser o crescimento econômico ilimitado com crescente extração de recursos do meio ambiente. Crescimento econômico ilimitado é impossível diante do fluxo metabólico entrópico. Ao contrário, será necessário não só o decrescimento da população mundial, mas também o decrescimento do padrão de consumo médio das pessoas, com equidade social.
A modernidade urbano-industrial cresceu ampliando a acumulação de capital e incorporando matérias-primas, energia e gente no processo produtivo. O crescimento do capital físico e da população é vital para o sistema capitalista, assim como o sangue é vital para o vampiro. O sistema de produção hegemônico produz e distribui (não de maneira justa) bens e serviços, a partir da exploração da natureza e dos trabalhadores. Em troca, o capitalismo oferece para as pessoas “pão e circo”, mas para a natureza só oferece degradação, defloramento e lixo.
O ser humano não tem uma relação simbiótica com a natureza. As abelhas, por exemplo, sugam a seiva das flores, mas não as destroem. Ao contrário, elas são polinizadoras. Quanto mais abelhas tirarem sua subsistência das flores, mais flores nascerão do processo de polinização. Mas o ser humano tem uma relação parasitária com a natureza, pois para se multiplicar causa prejuízo a outras espécies e aos ecossistemas hospedeiros. A espécie humana é do gênero ectoparasita.
Mas independentemente de qual espécie for, uma regra básica deve ser respeitada e o parasita não pode matar o hospedeiro. Com o processo de globalização, a exploração desenfreada da natureza ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. E o mais grave é que a destruição do meio ambiente continua em ritmo assustador no século XXI. Só há um Planeta vivo e ele está sendo assassinado e a caminho de se tornar estéril. O ser humano é um ectoparasita que está matando o seu próprio hospedeiro. Vive do parasitismo ecológico e está provocando um holocausto biológico. Mas deveria saber que o ecocídio é também um suicídio.
O relatório “Global Material Flows And Resource Productivity” (UNEP, julho de 2016) mostra que a extração de recursos naturais globais aumentou três vezes nos últimos 40 anos. A quantidade de matérias-primas extraídas do seio da natureza subiu de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010. O aumento do uso de materiais globais (input) acelerou rapidamente nos anos 2000. O crescimento na extração de recursos naturais passou de 7 toneladas per capita em 1970 para 10 toneladas per capita em 2010. A poluição, o lixo e os resíduos sólidos (output) aumentou na mesma proporção.
Nos últimos 20 anos, o mundo perdeu 3,3 milhões de quilômetros quadrados, ou quase 10%, das suas áreas de natureza não domesticada, isto é, regiões praticamente intocadas pela ação humana, segundo cálculo do periódico científico “Current Biology”. Trata-se de uma perda catastrófica da vida selvagem. Em artigo publicado na revista Science, o biólogo americano Samuel Wasser mostra que cerca de 50 mil elefantes africanos são caçados por criminosos a cada ano, para uma população de 500 000 indivíduos. Uma taxa de 10% ao ano pode levar rapidamente à extinção da espécie.
Artigo publicado no blog #SavetheTrees mostra que o mundo planta 5 bilhões de árvores por ano e desmata 15 bilhões de árvores. São duas árvores derrubadas para cada habitante da Terra. É um verdadeiro holocausto biológico debaixo dos nossos olhos!
O crescimento das atividades antrópicas se acelerou nas últimas décadas até o ponto de mudar a correlação de forças no Planeta, aumentando a proporção da presença humana (áreas ecúmenas) e diminuindo as áreas anecúmenas, a proporção das demais espécies e a biocapacidade. Herman Daly (2014) mostra que quando se passa do planeta antropicamente vazio para o planeta cheio as externalidades negativas tendem a superar os benefícios da produção. Ele diz: “Teremos, então, o que denomino crescimento deseconômico, produzindo ‘males’ mais rapidamente do que bens – tornando-nos mais pobres, e não mais ricos”.
Na mesma linha de pensamento, o sociólogo alemão Ulrich Beck, no livro “Sociedade de Risco”, considera que na modernidade desenvolvida (ou modernidade tardia) prevalece a lógica do perigo: “Não é a falha que produz a catástrofe, mas os sistemas que transformam a humanidade do erro em inconcebíveis forças destrutivas” (Beck, 2010, p. 8). Para Beck, a natureza não pode mais ser concebida sem a sociedade e a sociedade (e a população) não mais sem a natureza. A destruição da natureza passa “a ser elemento constitutivo da dinâmica social, econômica e política. O imprevisto efeito colateral da socialização da natureza é a socialização das destruições e ameaças incidentes sobre a natureza” (p. 98). Da mesma forma que Herman Daly distingue mundo cheio e vazio, Beck distingue dois momentos da modernidade: “O que estava em jogo no velho conflito industrial do trabalho contra o capital eram positividades: lucros, prosperidade, bens de consumo. No novo conflito ecológico, por outro lado, o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças”. (p.3).
Ou seja, tanto na perspectiva de Daly (2014) quanto de Beck (2010), a humanidade já ultrapassou a capacidade de carga e está explorando o meio ambiente a uma taxa mais alta do que a capacidade de regeneração natural dos ecossistemas. Neste cenário que necessita ser redirecionado, não custa lembrar as ideias do livro “O Declínio Próspero” de Howard e Elisabeth Odum (2013), que defendem o declínio das atividades antrópicas com prosperidade humana e ambiental. Não faz sentido aumentar o estoque de pessoas no mundo para correr riscos e agravar a crise ambiental. Neste quadro, seria irresponsabilidade as políticas públicas continuarem apoiando o crescimento demoeconômico e a ideologia antropocêntrica em detrimento da perspectiva ecocêntrica e da sobrevivência da comunidade biótica.
Por isto, o livro Enough is Enough (2010) mostra que uma economia em constante crescimento está destinada ao fracasso. Os autores consideram que a economia é um subsistema da ecologia e o transumo (throughput) funciona a partir da extração de matérias e energias da natureza e o descarte de lixo, poluição e resíduos sólidos no meio ambiente. Uma vez que vivemos num planeta finito, com espaço e recursos limitados, não é possível que a economia e a população cresçam para sempre. O livro defende uma economia de Estado Estacionário.
Mas se a economia e a população já ultrapassaram a capacidade de carga do Planeta, então deve haver decrescimento até o ponto que o Estado Estacionário mantenha um equilíbrio sustentável. Como escrevi em um outro artigo (Alves, 20/07/2016): “A natureza não depende da sociedade, a sociedade depende da natureza. O lema do debate sobre população e desenvolvimento no século XXI deveria ser: menos gente, menos consumo, menor desigualdade social e maior qualidade de vida humana e ambiental”.
Os direitos humanos devem estar em sintonia dialética com os direitos ambientais e o bem-estar das espécies não humanas. Friedrich Engels dizia que a dialética significa mudança e contradição. Ele falava também da transformação da quantidade em qualidade. Por exemplo, a água ao esquentar muda de estado do gelo para o líquido e do líquido para o gasoso. Fazendo um paralelo, a humanidade aumentou tanto a quantidade de intervenções antrópicas no Planeta que houve uma mudança qualitativa do superávit para o déficit ambiental. A partir de um certo grau de desenvolvimento econômico houve um ponto de mutação (state shift) e os danos ficaram maiores do que os ganhos. O abuso suplantou o uso no modelo de crescimento ilimitado e de progresso unidimensional.
Desta forma, é preciso um novo ponto de mutação em sentido reverso. Do crescimento demoeconômico para o decrescimento demoeconômico. A humanidade precisa sair do déficit ecológico e voltar ao superávit ambiental, resgatando as reservas naturais, para o bem de todos os seres vivos da Terra, pois o ecocídio significará também um suicídio para a humanidade. A atual escala da presença humana na Terra é insustentável. Aumentar ainda mais esta escala é irracional e arriscado. Assim, o raciocínio auto-evidente indica que é inviável manter o crescimento da população humana com base na redução populacional das demais espécies e no definhamento dos ecossistemas e da biodiversidade. É impossível uma espécie ser feliz sozinha!
Referências:
ALVES, JED. Os riscos ambientais e a queda da natalidade, Ecodebate, RJ, 20/07/2016
ALVES, JED. Fronteiras Planetárias 2.0, Ecodebate, RJ, 06/02/2015
Herman Daly, Economics for a full world, 2014
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. Rumo a uma Outra Modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.
ODUM, Howard T; ODUM, Elisabeth C. O Declínio Próspero. Vozes, 2013
O’Neill, D.W., Dietz, R., Jones, N. (Editors), Enough is Enough: Ideas for a sustainable economy in a world of finite resources. The report of the Steady State Economy Conference. Center for the Advancement of the Steady State Economy and Economic Justice for All, UK, 2010.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 28/09/2016

OPEP : ACORDO PARA REDUZIR A PRODUÇÃO DE PETRÓLEO.



Membros da Opep chegam a acordo surpreendente para corte da produção


Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) chegaram a um acordo, nesta quarta-feira (28), para reduzir a produção de petróleo a um patamar entre 32,5 e 33 milhões de barris por dia - anunciaram os ministros de Energia do Catar e da Nigéria.
"Temos um acordo para (cortar a produção), a 32,5-33 milhões de barris por dia", declarou o secretário de Estado do Petróleo da Nigéria, Emmanuel Ibe Kachikwu, após uma reunião informal dos membros do cartel em Argel.
O ministro de Energia do Catar, Mohamed Saleh Al-Sada, confirmou a informação.

"A reunião de Argel foi muito longa, mas histórica", declarou, afirmando que o nível de redução por país será definido antes da próxima reunião do cartel, prevista para 30 de novembro.
O representante do Catar disse que a reunião se desenvolveu "em uma atmosfera muito positiva que reflete a forte coerência na Opep", a fim de impulsionar os preços, que caíram mais de 50% desde meados de 2014.
Os preços do petróleo despencaram devido a uma oferta muito elevada, resultante do "boom" de hidrocarbonetos de xisto americanos e da estratégia da Opep de manter sua produção para não perder fatias de mercado.
O ministro argelino da Energia, Noureddine Boutarfaa, destacou que essa decisão inesperada de cortar a produção foi "unânime e sem reservas".
A possibilidade de um acordo entre os membros do cartel, que produz 40% do petróleo mundial, fez os preços subirem.
O barril de WTI para entrega em novembro subiu US$ 2,38, a US$ 47,05 no mercado de Nova York. Em Londres, o barril de Brent para novembro subiu US$ 2,72, a US$ 48,69.
Um acordo difícil
Durante o dia, a expectativa de um acordo era baixa. As divergências, em particular entre a Arábia Saudita - líder do cartel - e o Irã, as duas grandes potências rivais do Oriente Médio, faziam crer que as chances de se chegar a um acordo seriam poucas. Uma reunião parecida em Doha abriu um precedente pouco animador.
O ministro saudita da Energia, Khaled al-Faleh, havia advertido durante o dia que não se devia esperar um acordo nessa reunião.
Khaled al-Faleh havia insinuado que não descartava um possível acordo na próxima cúpula da Opep em Viena, em 30 de novembro.
Vários países produtores, muito dependentes das receitas petrolíferas - entre eles, a Venezuela -, pediram esse congelamento da produção, a fim de estimular o nível das cotações.
No outro extremo, contudo, está o Irã. De volta aos mercados graças à suspensão de sanções internacionais, resultante do histórico acordo de julho de 2015 com as grandes potências, Teerã pressionava para aproveitar seu retorno à praça.
O quebra-cabeças se complicou pelo fato de a Arábia Saudita, como principal produtora mundial, não parecer disposta a ceder e muito menos dar espaço a seu grande rival xiita.
Fonte : Diário Catarinense

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

COLÔMBIA : GOVERNO E FARC PÕEM FIM A 52 ANOS DE GUERRA.

Governo e FARC põem fim a 52 anos de guerra ante respaldo unânime da comunidade internacional.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, aperta a mão de Rodrigo Londoño, o Timochenko, líder das FARC, depois da assinatura do acordo final. Foto: Presidência da Colômbia. Fonte: El País.
A reportagem é de Javier Lafuente e publicada por El País, 26-09-2016.
A partir de agora, os amantes das efemérides que rastrearem em hemerotecas, bibliotecas ou buscadores da Internet o que aconteceu em 26 de setembro de 2016 toparão com um desses fatos icônicos que deveriam marcar o antes e o depois na história de um país, e até de um continente. O Governo da Colômbia e a guerrilha das FARC firmaram a paz depois de 52 anos de guerra, cerca de oito milhões de vítimas, mais de 260.000 mortos, dezenas de milhares de deslocados. “Em nome das FARC-EP peço perdão a todas as vítimas do conflito”, foram as palavras finais do discurso do líder da guerrilha, conhecido como Timochenko, que se apresentou na cerimônia como Rodrigo Londoño, seu nome civil. “Essa é a libertação que dá o perdão. O perdão que liberta não só o perdoado, como também — e sobretudo — o que perdoa”, disse pouco depois Juan Manuel Santos, o mandatário colombiano.
O acordo, fruto de quatro anos de intensas negociações em Havana, materializou-se na noite da segunda-feira em uma solenidade em Cartagena das Indias. Tem o apoio unânime da comunidade internacional, mas ainda deve ser votado pelos colombianos. O plebiscito de 2 de outubro foi mencionado várias vezes no discurso do presidente colombiano: “Com seu voto, cada colombiano terá um poder imenso: o poder de salvar vidas”.
Estavam presentes mais de uma dezena de chefes de Estado da América Latina e personalidades como o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, o rei emérito da Espanha, o secretário de estado dos Estados Unidos John Kerry… Além de mais de 2.500 convidados reunidos na esplanada do centro de convenções, de onde se vê a bela cidade murada do Caribe colombiano. “Todo pacto de paz é imperfeito — porque se trata precisamente de um pacto, em que as partes precisam fazer concessões —, mas sabemos que o que conseguimos é o melhor possível”, afirmou Santos. “Eu prefiro um acordo imperfeito que salve vidas a uma guerra perfeita que continue semeando morte e dor em nosso país”.
Em meio à elite nacional e internacional também há um espaço, pequeno em vista do que sofreram, para os protagonistas da história que o país viveu por mais de 5 décadas: as vítimas. Mais de 200 chegaram de avião vindas de Calí, Medellín e Bogotá, muitas outras vinham de Caquetá, Putumayo, Huila, Antioquia, Nariño, lugares que o conflito armado sacudiu sem trégua. “Que bom poder dizer que este é um acordo que honra as milhões de vítimas do conflito, protegendo seus direitos à verdade, à justiça, à compensação e à não repetição”, disse Santos. A essas pessoas pertence a paz selada por Santos e Timochenko. Nenhum dos presentes tinha metade da importância de Karen, Alberto, Luz Eneida, Esaud… representantes de uma dor que começa a chegar a seu fim.
O líder das FARC, em um longo discurso, referiu-se ao mandatário como “um interlocutor corajoso”, não sem deixar de mencionar os duros momentos por que passou o processo de paz, como a morte de um dos principais comandantes da guerrilha, Alfonso Cano. “Nossa única arma será a palavra”, declarou Timochenko, “que ninguém duvide que faremos política sem armas”. As FARC vêm, há algum tempo, reafirmando seu compromisso com o acordado em Havana: “Nós vamos cumprir, esperamos que o Governo cumpra”
O apoio da comunidade internacional tem um componente importante em relação ao plebiscito de domingo. A ONU, por unanimidade do Conselho de Segurança, comprometeu-se a verificar o cessar-fogo bilateral e definitivo e o desarmamento das FARC, que deve respeitar um prazo máximo de seis meses. Ou seja, no primeiro trimestre de 2017 as FARC deverão ter entregado todo seu arsenal para poder iniciar seu caminho à política de forma legal. O compromisso dos países da América Latina, da União Europeia e dos Estados Unidos é total. Desde a semana passada na Assembleia Geral da ONU até este fim de semana, as declarações de apoio foram contínuas. Por isso a vitória do ‘não’ no plebiscito poderia significar uma derrota não só no país, como também no exterior. A Colômbia conseguiria recuperar a confiança que tem agora? O que aconteceria com a missão da ONU que já está em campo há semanas?
O apoio incondicional no exterior contrasta com a oposição ferrenha aos acordos que existem em boa parte do país. Nesta segunda-feira, o ex-presidente Álvaro Uribe, o maior expoente do ‘não’ no plebiscito, participou de um protesto com 2.000 pessoas em Cartagena contra o ato que seria celebrado horas mais tarde na cidade caribenha. Tanto ele como o outro ex-mandatário a favor de rejeitar o acordo, Andrés Pastrana, pediram recentemente, por meio de uma carta, que os líderes mundiais não comparecessem a Cartagena nem participassem de atos em favor da paz. A missiva foi completamente ignorada. O low profile da delegação da Espanha — com o rei emérito e o ministro das Relações Exteriores — foi o único contratempo com que não contava a diplomacia colombiana, que esperava a participação do rei Felipe.
Em Cartagena, a Heroica, o Governo e as FARC porão fim a cinco décadas de horror. Os países que durante anos olharam a Colômbia com displicência e a cobriram de estigmas, saúdam hoje o esforço das partes. Agora, caberá aos colombianos decidir se preferem olhar para um futuro sem chumbo ou instalar-se eternamente no passado.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos

VOTO : FERRAMENTA DE MUDANÇAS

Voto: Ferramenta De Mudanças


urna eletrônica
Foto: EBC

[EcoDebate] As eleições municipais se aproximam, momento crucial para a mudança na política nacional. Os próximos dias serão importantes para pensar, refletir e analisar as implicações do gesto, aparentemente simples de votar, mas que influenciará a vida de toda uma população nos próximos anos.
Em especial, estas eleições ocorrerão em momento em que o país está passando por uma crise política que expôs muitas condutas reprováveis praticadas por nossos representantes. Este quadro provoca uma certa passividade nas pessoas e transfere a indignação para um desprezo pela escolha de novos representantes, o que resulta em desinteresse pelos sucessivos pleitos eleitorais que se sucedem a cada dois anos.
A crise política afeta todas as esferas públicas – municipal, estadual e federal – e se caracteriza pela disseminação da corrupção, de personalismos exacerbados, difusão diária na mídia de informações políticas que mudam a todo momento e pela judicialização da política em todos os níveis. Tendo esse cenário como pano de fundo é que serão realizadas as eleições municipais.
As eleições deste ano têm que ser úteis e resultar em algo importante. Serão renovadas as prefeituras e as câmaras municipais. Muito poderá ser feito e o Brasil não pode se dar ao luxo de permitir que seja somente mais uma eleição e outra oportunidade perdida.
A crise ameaça provocar uma desconexão da representação política com a sociedade, que pode levar o eleitor a cumprir o dever de votar como obrigação, não como direito, escolhendo aqueles menos aptos ao exercício da política e provocando um novo ciclo de renovação perversa, onde os maus são substituídos pelos piores e assim sucessivamente.
Seria a expressão da desilusão, não somente em relação aos principais partidos nacionais, em sua incapacidade de fazer política de alto nível, voltada para os interesses da população, mas também ao desencanto proporcionado pelos muitos novos partidos e candidatos que se apresentam com propostas fragmentadas e que não sensibilizam grandes grupos de eleitores.
Atualmente, mesmo aqueles que ambicionam representar a indignação não se mostram capazes de fazer política se isolando em nichos minúsculos, pouco representativos e que contribuem decisivamente para a manutenção do status quo.
A passividade dos cidadãos provém da desilusão. A cada nova eleição se renovam as expectativas, mas os novos eleitos em geral, com honrosas exceções, acabam se rendendo às velhas práticas políticas.
Ao longo dos anos o eleitor tem demonstrado uma irritação contida que aparenta passividade, mas que revela na verdade um descrédito generalizado da representação política. A indignação se dispersa nas redes sociais, ao invés de ser canalizada em manifestações mais concretas.
A impressão que passa é que a política e a sociedade formam dois mundos distintos e não relacionados entre si, e cada vez mais distantes um do outro. É preciso evitar que isso aconteça, pois caso contrário nossa vida cotidiana será prejudicada. E pior ainda, o ceticismo e a desconfiança disseminados podem servir de caldo de cultura para o surgimento de fenômenos contrários ao sistema democrático.
Enquanto não ocorre uma reforma eleitoral de fato, com ampla discussão e participação da sociedade, a única saída é o aumento do controle social com ampliação da fiscalização e exercendo o ato cívico de denunciar qualquer situação de anormalidade. Maior controle social e participação da cidadania na hora de exercer o direito (e o dever) de votar é um compromisso que todos têm com seus municípios.
Essa é a importância de votar, sem deixar de refletir muito bem sobre todos os candidatos. O exercício do direito de voto implica uma decisão racional e individual, que deve levar em conta os interesses coletivos da população. A eleição municipal, deste ano, coloca em jogo o futuro do país.
É nas eleições municipais que se formam lideranças, que num futuro próximo ascenderão a postos mais altos dos poderes legislativos e executivos. Logo, ao exercer seu direito de voto o cidadão deve observar com cuidado a biografia do candidato e também daqueles que o acompanham – assessores, técnicos, colaboradores – antes de se decidir pela proposta de programa mais adequada para o seu município, seu bairro ou região.
Nos próximos dias cada eleitor deve elaborar sua agenda política, que inclui uma ampla discussão sobre o projeto político de cada candidato de sua região, pois a construção de uma sociedade e de práticas políticas mais honestas e voltadas para defender, de fato, os interesses da população, começa agora.
Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.

in EcoDebate, 27/09/2016

domingo, 25 de setembro de 2016

SÍRIA : ONU CONDENA ATAQUE EM ALEPO.

ONU condena ataque a comboio humanitário e armazém em Alepo, na Síria


Atentado resultou na morte de 20 civis e um funcionário da Cruz Vermelha, além da destruição da carga de ajuda humanitária contendo medicamentos e comida. “Os autores deste ato devem saber que um dia serão responsabilizados por violações de leis internacionais humanitárias e de direitos humanos”, disse o chefe humanitário da ONU.
Destruição na cidade de Aleppo, Síria. Foto: UNESCO.
Destruição na cidade de Alepo, Síria. Foto: UNESCO.
Autoridades das Nações Unidas condenaram o ataque desta segunda-feira (19) contra um comboio de ajuda humanitária da ONU e da Federação Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (FICV) e contra um armazém da FICV e uma clínica de saúde em Urum al-Kubra, noroeste de Alepo, na Síria.
O ataque resultou na morte de 20 civis e um funcionário da FICV, além da destruição da carga de ajuda humanitária contendo medicamentos e comida.
Os ataques aconteceram após relatos de que o exército sírio anunciou o fim do cessar-fogo. O acordo começou no dia 12 de setembro, buscando reduzir a violência por sete dias consecutivos e a garantia de acesso à ajuda humanitária.
“Notificações sobre o comboio – que ajudaria aproximadamente 78 mil pessoas – foram enviadas a todos os envolvidos no conflito, e o comboio estava claramente marcado como humanitário. Não há explicações ou desculpas, nenhum motivo ou razão para entrar em guerra com os corajosos e altruístas trabalhadores humanitários tentando auxiliar pessoas que precisam desesperadamente de ajuda”, disse o chefe humanitário da ONU, Stephen O’Brien, em declaração enviada na segunda.

Caso este cruel bombardeio tenha sido um ataque deliberado à ajuda humanitária, será considerado um crime de guerra, disse o chefe humanitário da ONU

O’Brien, que ocupa o cargo de subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, condenou enfaticamente os ataques e afirmou estar “indignado e horrorizado com as notícias”. Ele enfatizou que leis internacionais humanitárias e de direitos humanos estabelecem responsabilidades básicas para as partes em confronto para garantir a proteção necessária a todas as organizações humanitárias, incluindo funcionários, instalações e outros recursos de ajuda humanitária.
“Caso este cruel bombardeio tenha sido um ataque deliberado à ajuda humanitária, será considerado um crime de guerra”, afirmou, exigindo uma investigação imediata, imparcial e independente do caso.
“Os autores deste ato devem saber que um dia serão responsabilizados por violações de leis internacionais humanitárias e de direitos humanos”, complementou.
O’Brien observou que apesar das perigosas e difíceis condições de operação, organizações de ajuda humanitária continuam empenhadas em seu trabalho de ajuda aos necessitados.
Ele reiterou o pedido pelo acesso incondicional, livre, rápido e contínuo às milhões de pessoas necessitadas, principalmente àquelas em locais de difícil acesso e sitiados na Síria. “Este horror precisa acabar agora, mais do que nunca”, ressaltou.

ONU suspende comboios humanitários

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, falou sobre o assunto durante a abertura do debate anual da Assembleia Geral das Nações Unidas, ressaltando que a crise na Síria está “resultando em inúmeras mortes e gerando ampla instabilidade”.
“Bem quando achamos que não poderia ficar pior, a situação fica ainda mais perversa. O cruel, brutal e aparentemente deliberado ataque ao comboio da ONU e do Crescente Vermelho é o mais recente exemplo”, afirmou o chefe da ONU.

“Ataque cruel, brutal e aparentemente deliberado”, afirma chefe da ONU

“As Nações Unidas foram forçadas a suspender comboios humanitários como resultado deste atentado. Os trabalhadores humanitários foram heróis. Aqueles que os mataram foram covardes. A responsabilização por crimes como esse é essencial”, disse o secretário-geral.
O presidente da Assembleia Geral, Peter Thomson, lembrou que a crise na Síria continua trazendo um imenso sofrimento humano, tanto para as pessoas que permanecem em condições subumanas no país quanto para as que fugiram buscando refúgio. “O ataque deliberado à equipe humanitária é uma violação flagrante do direito internacional e é moralmente inaceitável”, afirmou.
A diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA), Ertharin Cousin, disse estar “horrorizada” com o ataque. “Este atentado aos esforços humanitários na Síria não irá, no entanto, dissuadir o PMA de continuar agindo de forma a salvar vidas por todo o país”, disse Cousin.

Comissão independente da ONU pede responsabilização

Em um outro comunicado de imprensa, a Comissão Internacional Independente de Inquérito para a Síria também condenou fortemente os ataques.
“Este atentado vem em um momento crítico, em que a livre e rápida entrega de ajuda às áreas sitiadas foi acordada como uma parte essencial do cessar-fogo mediado entre os Estados Unidos e a Rússia. Em um momento em que as partes em guerra deveriam apoiar a entrega de apoio humanitário, o fornecimento foi deliberadamente impedido ou atacado”, afirmou a Comissão.
O presidente da Comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, classificou o incidente como “particularmente cruel para as pessoas na Síria, quando a prioridade deveria ser na melhoria da situação humanitária dos civis em áreas sitiadas”.
Fonte : ONUBRASIL

OS CINCO MELHORES TRANSPORTES PÚBLICOS DO MUNDO.

Os 5 melhores transportes públicos do mundo

Confira as cidades em que a qualidade da mobilidade urbana é priorizada.
22 de setembro de 2016 • Atualizado às 10 : 50
Os 5 melhores transportes públicos do mundo
Tóquio tem o sistema de transporte mais complexo e completo. | Foto: iStock by GettyImages
A qualidade do transporte público é um problema em vários países e não é novidade que na lista está incluído o Brasil. Mas, hoje vamos falar dos lugares que podem servir de inspiração. Listado pelo site Inhabitat, clique nas imagens para conferir cada uma das cidades onde estão os melhores sistemas de transporte público:
5º lugar: Moscou (Rússia)
| Foto: iStock by GettyImages
| Foto: iStock by GettyImages
Apesar de inaugurado há quase oitenta anos, em 1935, o sistema da capital russa é um dos mais pontuais do mundo. Mais de 8 milhões de passageiros utilizam diariamente o sistema ferroviário de Moscou, que tem 305 km de extensão.
4º lugar: Paris (França)
| Foto: iStock by GettyImages
| Foto: iStock by GettyImages
Independentemente de em que lugar de Paris você esteja, é possível encontrar uma estação de metro a cada 500 metros: são pelo menos 300 espalhadas pela cidade, interligando todas as áreas. E, para que as pessoas possam completar seus trajetos da melhor forma possível, a capital francesa ainda tem um sistema de aluguel de bicicletas com 1.400 estações.
3º lugar: Londres (Inglaterra)
| Foto: iStock by GettyImages
| Foto: iStock by GettyImages
A cidade do Big Ben tem o maior e mais antigo metrô do mundo. O Metropolitano de Londres, ou London Underground, que começou a operar 1863, ainda hoje é um dos mais eficientes, com 268 estações e cerca de 400 km de extensão. Além disso, a capital inglesa conta com uma vasta rede de ônibus, trens na superfície e bondes suburbanos que garantem a mobilidade diária da população londrina.
2º lugar: Nova York (Estados Unidos)
| Foto: iStock by GettyImages
| Foto: iStock by GettyImages
Na maior cidade dos EUA, as possibilidades de locomoção são muitas: ônibus, trem, metrô, bicicletas, balsas e até faixas exclusivas para pedestres fazem da cidade um dos melhores lugares do mundo para se deslocar utilizando o transporte público. Todos os sistemas funcionam 24 horas por dia, de forma a atender toda a demanda da cidade.
E o primeiríssimo lugar vai para:
1º lugar: Tóquio (Japão)
Tóquio tem o sistema de transporte mais complexo e completo. | Foto: iStock by GettyImages
| Foto: iStock by GettyImages
A capital japonesa é uma das maiores cidades do mundo e tem o sistema de transporte mais complexo – e completo – do mundo: ônibus, metrô, balsas, VLTs, BRTs, diversas formas de locomoção somam cerca de 10,5 bilhões de viagens por ano. Com uma rede tão extensa, o sistema de transporte público é a espinha dorsal da cidade e a primeira opção da população para se deslocar.
Redação CicloVivo

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A GEOPOLÍTICA TAMBÉM PASSA POR ASSIS.





    Chefes e representantes das comunidades religiosas se reúnem novamente em Assis para pedir na oração o dom da paz. E também desta vez há alguns que procuram voltar a esgrimir as desgastadas acusações sobre o perigo de “sincretismo”, durante o evento inter-religioso que está sendo realizado na cidade de São Francisco. A mesma polêmica surgiu há trinta anos com a primeira jornada de oração pela paz convocada em Assis por São João Paulo II. Desde então, pretendia desviar a atenção coletiva e obscurecer a razão principal pela qual o Papa polonês convocou a cúpula inédita entre líderes religiosos: seu valor geopolítico.
    A reportagem é de Gianni Valente, publicada por Vatican Insider, 20-09-2016. A tradução é do Cepat.

    Nas análises compartilhadas pelos historiadores, João Paulo II, durante seus primeiros anos de Pontificado, com gestos concretos e solidariedade, contribuiu para abrir as primeiras frestas no muro comunista e para colocar em marcha o processo que, dez anos depois, levaria ao colapso de todo o sistema. Na época da “Reagan revolution”, a relação entre a Casa Branca e a Santa Sé era descrita pelos meios de comunicação como “Santa aliança” contra o “Império do mal”. E, nesse contexto, o próprio encontro inter-religioso de oração pela paz, convocado em Assis no dia 27 de outubro de 1986, representa também uma operação geopolítica de alto nível. O objetivo, não proclamado, era o de arrebatar do mundo comunista o léxico pacifista monopolizado durante décadas pela propaganda soviética, reivindicando para a “internacional das religiões” o compromisso pela paz. 

    “Não rezamos em vão em Assis”, disse João Paulo II, após 1989, referindo-se aos eventos daquele ano nos quais, segundo sua opinião, “Deus vicit”, venceu Deus. Palavras que aparecem citadas na biografia de Wojtyla escrita pelo historiador Andrea Riccardi, fundador da Comunità di Sant’Egidio, que teria se encarregado de manter vivo em seus encontros inter-religiosos anuais o “espírito de Assis”. Segundo Riccardi, o evento “de Assis, em 1986, revela o primado moral assumido pelo Pontificado romano com Wojtyla”. Com aquele gesto, João Paulo II reivindicava “o caráter religioso do compromisso pela paz”, porque acreditava na eficácia da oração e no “vínculo intrínseco que une uma autêntica atitude religiosa e o grande bem da paz”.

    As intenções geopolíticas do encontro inter-religioso de Assis também foram confirmadas pelo cardeal Stanislaw Dziwisz, que foi secretário pessoal do Papa polonês, em uma entrevista ao jornal italiano La Stampa, de 4 de setembro de 2006: “Havia muita ideologia no pacifismo tal e como cresceu nos países do leste”, disse nessa ocasião o cardeal polonês, e acrescentou que justamente a primeira jornada de oração de Assis “retirou a ideologia da paz e colocou a paz no centro das prioridades do mundo”.

    Durante as décadas seguintes, a simpatia com os sujeitos religiosos e as comunidades de fé (redescoberta pela Igreja católica sem cair em sincretismos e, pelo menos em parte, alimentada pelo discernimento que surgiu com o último Concílio) declinou de diferentes maneiras, nas circunstâncias e nas mudanças dos cenários globais. Na Conferência da ONU sobre a população e o desenvolvimento (de setembro de 1994), no Cairo, e na sobre a mulher, em Pequim (setembro de 1995), a Santa Sé formou uma frente comum com muitos países islâmicos a respeito de questões de bioética e moral, e entrou em colisão com a linha de Clinton. Frente à Guerra do Golfo de George Bush pai (1990-1991) e as novas intervenções estadunidenses no Oriente Médio, desencadeadas após os atentados de 11 de setembro de 2001, a Igreja católica conduzida por João Paulo II e depois por Bento XVI se distanciou das pressões dos círculos do Ocidente que queriam envolvê-la em uma chave anti-islâmica. 

    Trinta anos após Assis 1986, o Encontro Inter-religioso de Assis 2016 tem como motor a preocupação compartilhada por um mundo que vive convulsões de guerra e obscuras enfermidades, onde há décadas não existem conflitos ou atos de terror (de Sarajevo a Bagdá, passando pela Nigéria, Filipinas, Afeganistão e Indonésia) que não abeberam nos sectarismos étnicos e religiosos. Os líderes religiosos de hoje já não devem enfrentar em comum o comunismo ateu ou o secularismo relativista. Tampouco se trata de reivindicar uma presumida e desmentida “pureza” da esfera da religião frente às misérias da política e dos interesses econômicos ou de poder mundanos. 

    A frente da “guerra em pedaços”, citada constantemente pelo Papa Francisco, não contrapõe as diferentes religiões. A linha da frente passa transversalmente por todas as sociedades e comunidades de fé. Em cada família religiosa distingue entre o povo dos crentes que confiam o desejo de paz a Deus e as tropas seletas dos “facilitadores do Apocalipse”. Demonstra que a guerra é entre o mundo e os que querem “acelerar” o fim do mundo, sem descuidar dos lucros que aumentam com o tráfico de armas. 

    O Papa Francisco repete que uma via de escape para sair da espiral do auto aniquilamento promovida pelas agências do terror só pode ser buscada junto e não “contra” os demais. E também segue contra a corrente em relação às estratégias que pretendem intimidar, humilhar e isolar indiscriminadamente a multidão orante do islã. O “Papa Francisco”, conforme disse em Assis, domingo passado, Mohammed Sammak, conselheiro político do Grão-Mufti do Líbano, “se propôs como líder espiritual para toda a humanidade, quando disse que não há nenhuma religião criminosa, mas há criminosos em todas as religiões”.
    Fonte : Instituto Humanitas Unisinos