segunda-feira, 18 de outubro de 2021

PAMPA É O BIOMA BRASILEIRO QUE MAIS PERDE VEGETAÇÃO NATURAL.

 

Ambiente característico do bioma pampa
Ambiente característico do bioma pampa. Foto de Arlei Antunes, in Wikipédia

Pampa é o bioma brasileiro que mais perde vegetação natural

O Pampa foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa nos últimos 36 anos proporcionalmente em relação ao total de sua área, segundo os mais recentes dados do MapBiomas obtidos a partir da análise de imagens de satélite entre 1985 e 2020.

O decréscimo de 21,4% registrado entre 1985 e 2020 coloca o segundo menor bioma brasileiro à frente do Cerrado (-19,8%), Pantanal (-12,3%) e Amazônia (-11,6%). Como o Pampa funciona como um “hub”, para o qual convergem várias rotas de migração nacionaise internacionais, com destinos que incluem a América do Norte, o sul da América do Sul e as regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil e o norte da Argentina, a conservação das paisagens naturais do Pampa é crucial para múltiplas espécies migratórias.

O bioma Pampa, especialmente na sua porção leste, é considerado uma região de relevância internacional para diversas espécies de aves migratórias. A existência de um mosaico de ecossistemas naturais incluindo lagoas costeiras, praias, dunas, campos, matas de restinga e áreas pantanosas atrai uma notável concentração de aves em diferentes estações do ano, em busca de alimento ou de sítios de reprodução.

Os migrantes neárticos, espécies que se reproduzem no hemisfério norte (Canadá e Estados Unidos), voam para o Pampa no verão em busca de alimento. Mais de uma dezena de espécies são visitantes de verão, incluindo as batuíras e os maçaricos, também denominadas de aves de praia, o batuiruçu (Pluvialis dominica), o maçarico-de-perna-amarela (Tringa flavipes), o maçarico-grande-de-perna-amarela (Tringa melanoleuca) e o maçarico-acanelado (Tryngites subruficollis).

Já as espécies migrantes austrais voam até o Pampa, onde permanecem somente no outono e no inverno. Elas partem desde a Patagônia, sul do Chile, Terra do Fogo e Ilhas Malvinas em direção ao Pampa no inverno, fugindo assim dos rigores do inverno austral. Dentre estas espécies estão a batuíra-de-peito-avermelhado (Charadrius modestus), o pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus), o colegial (Lessonia rufa) e a andorinha-chilena (Tachycineta meyeni).

Outras espécies são residentes de verão e abandonam temporariamente o Pampa com a chegada dos meses frios para diversos destinos. Muitas partem para o norte da América do Sul e América Central como as andorinhas (Progne tapera e P. chalybea), a tesourinha (Tyrannus savana) e o suiriri (T. melancholicus). Outras migram no sentido leste-oeste com destino às províncias argentinas de Santa Fé, Entre Ríos e Corrientes. Algumas aves aquáticas transitam do Pampa para o Pantanal, incluindo o cabeça-seca (Mycteria americana), o colhereiro (Platalea ajaja), o gavião-caramujeiro (Rostrhamus sociabilis) e o pato-de-crista (Sarkidiornis melanotos).

O avanço do uso antrópico sobre a vegetação natural do Pampa acentuou-se na última década, quando também foi possível notar o começo da mudança do perfil econômico do uso do solo. “A substituição da formação campestre pela agricultura favorece a perda de biodiversidade e liberação de carbono na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa. Mas é também um desvio de uma vocação econômica natural do Pampa”, alerta Heinrich Hasenack, coordenador do mapeamento do Pampa. “Ao contrário da Amazônia ou do Cerrado, onde é preciso desmatar para criar gado, no Pampa a vegetação nativa é um pasto natural, o que permite que a pecuária se desenvolva preservando a paisagem”, explica. Resultados de pesquisas mostram que práticas de manejo adequadas permitem retorno econômico similar ao do cultivo de grãos, com a vantagem de preservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.

Nos últimos 36 anos, o Pampa perdeu 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa, que responde por menos da metade (46,1%) do território. Formações campestres ocupavam 46,2% do território em 1985. Em 2020, eram apenas 32,6%. Nesse período, a agricultura ganhou mais de 1,9 milhão de hectares de área do Pampa. A atividade, que ocupava 29,8% do bioma em 1985, passou a usar 39,9% do território em 2020. No ano passado, era o principal uso dos 44,1% antropizados do Pampa e segue uma tendência de crescimento alto a cada ano.

O Pampa possui muitas espécies campestres por metro quadrado, mesmo quando ocupado por gado, favorecendo a conservação da biodiversidade e do carbono estocado. Embora a agricultura, de um modo geral, tenha ótima produtividade, em algumas circunstâncias acaba sendo introduzida em locais com menor aptidão do que a pecuária. Outro fato preocupante é que o Pampa tem a menor proporção de unidades de conservação dentre todos os biomas brasileiros, com apenas 3% do território protegido. Dos quais, se descontarmos as Áreas de Proteção Ambiental, uma categoria com menor grau de proteção, esse percentual cai para 0,6%. Existem regiões do Pampa que já estão excessivamente descaracterizadas, a ponto de colocar em risco a própria capacidade de restauração ecológica com as variantes genéticas típicas dessas regiões.

“Apesar de estar na tradição gaúcha, na história da ocupação do bioma e de ser uma atividade que, no Pampa, é mais alinhada aos desafios do Século 21 de preservação da biodiversidade e redução das emissões de carbono, a pecuária sobre campo nativo está perdendo espaço para a agricultura, notadamente a soja”, detalha Hasenack.

O avanço da agricultura sobre a vegetação nativa pode ser notado em todo o bioma, mas foi mais acentuado nas regiões da Fronteira Oeste, o Planalto Médio/Missões, Zona Costeira e leste da Campanha. Os cinco municípios que mais perderam vegetação natural nos últimos 36 anos foram São Gabriel, Alegrete, Tupanciretã, Dom Pedrito e Bagé.

Os resultados do mapeamento do bioma também trazem resultados inéditos sobre as queimadas e a superfície de água. No Pampa, ao contrário dos demais biomas, as queimadas têm pouca expressão com uma média anual de 92,5 km2. Vários fatores concorrem para explicar a baixa quantidade de queimadas no Pampa como a ausência de uma estação seca, o baixo acúmulo de biomassa na vegetação campestre por conta da atividade pastoril e o fato do fogo não ser utilizado culturalmente como uma prática de manejo nas áreas rurais.

A dinâmica da superfície da água entre 1985 e 2020 mostra uma tendência de estabilidade ao longo dos 36 anos mapeados. Quase 10% do Pampa é ocupado por água: com 1,8 milhões de hectares em 2020. A maior parte se concentra na zona costeira, caracterizada pela presença de inúmeras lagoas, sendo que a laguna dos Patos, a lagoa Mirim e a lagoa Mangueira, armazenam 81% do total de superfície de água do bioma no Pampa Apesar da estabilidade na superfície de água, o mapeamento revela que na região da Fronteira Oeste e da Campanha houve um incremento de água com a implantação de açudes para irrigação, principalmente do arroz. Enquanto que nas porções centrais e a leste do bioma foram detectadas várias localidades com redução da superfície de água disponível.

Sobre o MapBiomas

Iniciativa multi-institucional que processa imagens de satélites com inteligência artificial e tecnologia de alta resolução em uma rede colaborativa de especialistas, universidades, ONGs, instituições e empresas de tecnologia para a criação de séries históricas e mapeamento de uso e cobertura da terra no Brasil. A UFRGS, com a colaboração da GeoKarten, são as instituições responsáveis pelo mapeamento da vegetação nativa no bioma Pampa dentro da rede MapBiomas.

 

Por Karol Domingues , in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/09/2021

ECOSSISTEMAS TERRESTRES DEPENDEM DE TRÊS FATORES PRINCIPAIS.

Ecossistemas terrestres dependem de três fatores principais

O estudo ajuda a avaliar melhor a capacidade dos ecossistemas globais de se adaptarem às mudanças climáticas e ambientais

German Centre for Integrative Biodiversity Research (iDiv) * **
Halle-Jena-Leipzig

Os ecossistemas fornecem vários serviços para os humanos. No entanto, esses serviços dependem de funções básicas do ecossistema, que são moldadas por condições naturais, como clima e composição de espécies, e intervenções humanas.

Uma grande equipe de pesquisa internacional, liderada pelo Instituto Max Planck de Biogeoquímica (MPI BGC) e pelo Centro Alemão de Pesquisa Integrativa da Biodiversidade (iDiv), identificou três indicadores-chave que juntos resumem a função integrativa dos ecossistemas terrestres: o primeiro é a capacidade para maximizar a produtividade primária, o segundo é a eficiência do uso da água e o terceiro é a eficiência do uso do carbono.

O monitoramento desses indicadores-chave permitirá uma descrição da função do ecossistema que molda a capacidade de se adaptar, sobreviver e prosperar em resposta às mudanças climáticas e ambientais. O estudo foi publicado recentemente na revista Nature .

Os ecossistemas na superfície terrestre suportam várias funções e serviços essenciais para a sociedade, como a produção de biomassa, a eficiência da vegetação no uso da luz solar e da água, retenção de água e regulação do clima e, em última instância, segurança alimentar. Mudanças climáticas e ambientais, bem como impactos antrópicos, estão continuamente ameaçando a provisão dessas funções. Para entender como os ecossistemas terrestres responderão a essa ameaça, é crucial saber quais funções são essenciais para obter uma boa representação do bem-estar e funcionamento geral dos ecossistemas. Isso é particularmente difícil, uma vez que os ecossistemas são bastante complexos em termos de sua estrutura e suas respostas às mudanças ambientais.

Uma grande rede internacional de pesquisadores, liderada pelo Dr. Mirco Migliavacca no MPI BGC e iDiv na Alemanha, abordou essa questão combinando vários fluxos de dados e métodos. Os cientistas usaram dados ambientais de redes globais de estações de ecossistemas, combinados com observações de satélite, modelos matemáticos e métodos estatísticos e de descoberta causal.

O resultado é surpreendentemente simples: “Fomos capazes de identificar três indicadores-chave que nos permitem resumir como os ecossistemas funcionam: a produtividade máxima realizada, a eficiência do uso da água e a eficiência do uso do carbono”, diz o primeiro autor do estudo, Dr. Migliavacca. O indicador de produtividade máxima reflete a capacidade de determinado ecossistema de absorver CO 2. O indicador de uso de água é uma combinação de métricas que representam a eficiência do uso de água do ecossistema, que é o carbono absorvido por quantidade de água transpirada pelas plantas. O indicador de eficiência de uso de carbono reflete o uso de carbono por um ecossistema, que representa o carbono respirado versus o carbono absorvido. As descobertas surpreendentes fizeram a equipe refletir sobre como ecossistemas complexos são, em última análise, impulsionados por um pequeno conjunto de fatores principais, assim como foi encontrado, por exemplo, para a fotossíntese foliar com base em um punhado de características foliares.

“Usando apenas esses três fatores principais, podemos explicar quase 72 por cento da variabilidade nas funções do ecossistema”, acrescenta Migliavacca. “Com a eficiência do uso da água sendo o segundo fator principal, nossos resultados enfatizam a importância da disponibilidade de água para o desempenho dos ecossistemas. Isso será crucial para as considerações de impacto da mudança climática ”, disse o último autor, Prof Dr. Markus Reichstein, diretor do departamento de Integração Biogeoquímica da MPI BGC e iDiv.

Os pesquisadores inspecionaram as taxas de câmbio de dióxido de carbono, vapor d’água e energia em 203 estações de monitoramento em todo o mundo que pertencem à rede FLUXNET, uma rede colaborativa de várias equipes de pesquisa e locais de campo que coletam e compartilham seus dados. Os locais selecionados cobrem uma grande variedade de zonas climáticas e tipos de vegetação. Para cada local, eles calcularam um conjunto de propriedades funcionais dos ecossistemas e incluíram cálculos sobre as variáveis médias de clima e disponibilidade de água no solo, bem como características da vegetação e dados de satélite sobre a biomassa da vegetação.

Os três indicadores funcionais identificados dependem criticamente da estrutura da vegetação, ou seja, verdura da vegetação, conteúdo de nitrogênio das folhas, altura da vegetação e biomassa. Este resultado reforça a importância da estrutura do ecossistema, que pode ser moldada por distúrbios e manejo florestal no controle das funções do ecossistema. Ao mesmo tempo, a eficiência do uso da água e do carbono também depende criticamente do clima e em parte da aridez, o que aponta para o papel crítico das mudanças climáticas para o funcionamento futuro do ecossistema. “Nossa análise exploratória serve como um passo crucial para o desenvolvimento de indicadores para o funcionamento e saúde do ecossistema”, resume Reichstein, “acrescentando uma avaliação abrangente da resposta dos ecossistemas mundiais às mudanças climáticas e ambientais”.

Referência:

Migliavacca, M., Musavi, T., Mahecha, M.D. et al. The three major axes of terrestrial ecosystem function. Nature (2021). https://doi.org/10.1038/s41586-021-03939-9

Article has an altmetric score of 220

 

* Com base em um comunicado à mídia do Instituto Max Planck de Biogeoquímica (MPI BGC)

 

Henrique Cortez **, tradução e edição.

O SER HUMANO REDUZIDO À MÁQUINA E À MERCADORIA ?

artigo de opinião

O Ser Humano reduzido à máquina e à mercadoria? artigo de Gilvander Moreira

Temos que perguntar: em uma sociedade capitalista, o ser humano é reduzido à máquina e à mercadoria e as mercadorias são fetichizadas e reificadas?

Ser humano reduzido à máquina e à mercadoria?

Por Gilvander Moreira1

A Constituição Federal de 1988 tem como um dos seus princípios basilares o respeito à dignidade humana. Segundo a mística e espiritualidade bíblica, o ser humano é “imagem e semelhança de Deus” (Gênesis 1,26) e nosso corpo é “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6,19), segundo o apóstolo Paulo. Ou seja, toda pessoa é sagrada, portadora de uma dignidade infinita que precisa ser respeitada e valorizada. No entanto, temos que perguntar: em uma sociedade capitalista, o ser humano é reduzido à máquina e à mercadoria e as mercadorias são fetichizadas e reificadas? Para respondermos a estas perguntas precisamos analisar o mais profundo das relações sociais e não acreditar em ideologia dominante, que sempre cumpre o papel de oprimir e explorar.

Ajuda a compreender os processos de fetichização e de reificação a análise que Karl Marx tece sobre a relação íntima existente entre produção e consumo, que afirma: produção é consumo também. “A produção é também imediatamente consumo. Consumo duplo, subjetivo e objetivo. [Primeiro]: o indivíduo, que ao produzir desenvolve suas faculdades, também as gasta, as consome, no ato da produção, exatamente como a reprodução natural é um consumo de forças vitais. Segundo: produzir é consumir os meios de produção utilizados, e gastos, parte dos quais (como na combustão, por exemplo) dissolve-se de novo nos elementos universais. Também se consome a matéria-prima, a qual não conserva sua figura e constituição naturais, esta ao contrário é consumida. O próprio ato de produção é, pois, em todos os seus momentos, também ato de consumo” (MARX, 2005, p. 31).

O consumo é também imediatamente produção. Ao consumir o alimento, a pessoa humana se produz. A produção é imediatamente o seu contrário: o consumo, e vice-versa. A produção é também mediadora para o consumo e vice-versa. “Sem a necessidade não há produção. Mas o consumo reproduz a necessidade” (MARX, 2005, p. 32). “A fome é fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozida, que se come com faca ou garfo, é uma fome muito distinta da que devora carne crua, com unhas e dentes. A produção não produz, pois, unicamente o objeto do consumo, mas também o modo de consumo, ou seja, não só objetiva, como subjetivamente. Logo, a produção cria o consumidor. […] A produção não cria somente um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto” (MARX, 2005, p. 32).

Theodor Adorno critica o abandono da dialética pela esquerda que, na prática, muitas vezes vê somente o negativo. Vê apenas o que lhe interessa e, vítima do racionalismo e do pragmatismo, acaba com o movimento dialético e engessa a história. Para Adorno, acima de tudo, “dialética significa intransigência contra toda e qualquer reificação” (ADORNO, 1986, p. 88). Uma mercadoria pode ser algo material ou imaterial, que satisfaz necessidades humanas e que é veículo de valor. Por exemplo, vários serviços que, ao serem vendidos como mercadorias, revelam valor. “O ser humano não é em si uma mercadoria: torna-se uma mercadoria quando da sua inserção nas relações capitalistas de produção” (IASI, 2011, p. 133). Assim, em última instância, no capitalismo, a mercadoria produz quem a produz: um ser ‘humano’ domesticado reduzido a mera peça da engrenagem do sistema do capital e consumidor contumaz, quando pode. “Como proletário assalariado, os seres humanos estão produzindo mais que alimento, utensílios, roupas ou sapatos; estão produzindo história, estão produzindo os diferentes seres particulares que compõem o gênero humano” (IASI, 2006, p. 78). Importante observar o que diz a esse respeito Ruy Fausto: “A noção de encantamento como de desencantamento tem na realidade um duplo sentido, que Weber não parece ter bem destrinchado. Por um lado, “desencantamento” remete a um mundo a-qualitativo, no qual desaparecem as diferenças de qualidade. Por outro, ele remete a um mundo de inércia, no qual os objetos inertes predominam, em detrimento dos objetos “vivos”. Ora, o que caracteriza o capitalismo é o fato de que nele se tem um desencantamento no primeiro sentido, mas não no segundo” (FAUSTO, 1997, p. 167).

Nas relações de produção e de comercialização, a função universal de equivalente se fixa em uma mercadoria na forma de dinheiro. Não se considera mais o valor de uso de uma mercadoria, mas o dinheiro, na sociedade capitalista, adquire a função universal de equivalente. A forma dinheiro é o ponto de chegada do processo de aparição das mercadorias, mas esse movimento de aparição é também um movimento de ocultação. A essência das mercadorias é ocultada, porque aparece através do dinheiro. Assim, o dinheiro tem um caráter ofuscante também, porque introduz a ilusão e o fetichismo. É o que explica Ruy Fausto: “Na medida em que na forma dinheiro se fixa numa mercadoria adequada a função universal de equivalente, nela se reúnem de um modo não só objetivado, mas estável as duas funções do equivalente: a de ser não-valor-de-uso e a de ser espelho de valor. O valor de uso material da mercadoria é ‘suprimido’ em benefício de um valor de uso formal: a mercadoria dinheiro é ‘não’ valor de uso (portanto imediatamente trocável), e ao mesmo tempo ou por isso mesmo ela é espelho de valor” (FAUSTO, 1997, p. 72).

O fetichismo é a naturalização do objeto, a negação de que sua gênese está em última instância (isto é como pressuposição) na prática dos agentes” (FAUSTO, 1997, p. 78). Para expressar o valor de uma mercadoria, o dinheiro deve ser ao mesmo tempo valor e mercadoria, embora mercadoria negada em dinheiro. O papel-moeda é a encarnação de uma função do dinheiro e tem valor porque circula. Para se demonstrar a coisificação e a alienação – estranhamento – do trabalhador no processo de produção capitalista, Marx diz que “Potter, porta-voz dos fabricantes, distingue duas espécies de máquinas, ambas pertencentes ao capitalista; uma jamais deixa a fábrica, outra passa as noites e os domingos nos casebres da vizinhança. A primeira é morta, a segunda é viva” (MARX, 1982, p. 145). Uma diferença entre a/o trabalhador/a reduzida/o a máquina e a máquina produzida pelo trabalhador é que a máquina se desgasta e exige melhoramento constante, enquanto o/a trabalhador/a, pelo exercício do trabalho, se aprimora e acontece uma acumulação de aprimoramento de habilidades nas gerações sucessivas.

Enfim, pela análise feita, concluímos que, em uma sociedade capitalista, que é máquina de moer vidas, o ser humano é reduzido à máquina e à mercadoria e as mercadorias são fetichizadas e reificadas. Assim, o que precisa ser enfrentado e superado no Brasil é o capitalismo que, por meio da mercantilização da vida, pelo agronegócio, pela privatização das empresas, da terra e das águas – bens comuns -, com um Estado subserviente aos interesses do grande capital, segue com ideologia dominante que insufla cotidianamente o individualismo, o egocentrismo, a concorrência e a competição, como se fossem valores, mas são na prática vírus que solapam a convivência social e vão triturando e moendo a dignidade da pessoa humana.

21/09/2021

Referências

ADORNO, Theodor Wiesengrund. Crítica cultural e sociedade. In: COHN, G. Theodor W. AdornoSão Paulo: Ática, 1986.

FAUSTO, Ruy. Dialética marxista, dialética hegeliana: a produção capitalista como circulação simples. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: Brasiliense, 1997.

IASI, Mauro Luis. Ensaios sobre consciência e emancipação. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

_____. As metamorfoses da consciência de classe: o PT entre a negação e o consentimentoSão Paulo: Expressão Popular, 2006.

MARX, Karl. Karl Marx: para a crítica da Economia Política, Do Capital, O Rendimento e suas fontes. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 2005.

______. O Capital. Edição resumida. 7ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.

Obs.: Os vídeos nos links, abaixo, ilustram o assunto tratado acima.

1 – Vale S/A fará muralha em Itabira, tira direito de ir e vir e esgoto fedorento para o povo. Vídeo 13

https://www.youtube.com/watch?v=Ht4QqQo8MiM

2 – Socorro! Cadê COPASA, CEMIG, Kalil e Zema nas Ocupações da Izidora? Sr. Antônio com câncer -19/9/21

https://www.youtube.com/watch?v=hzFvViNlzKM

3 – Mov. Populares e Pastorais Sociais: “Fora, Bolsonaro! Basta de violência da Vale!’ 07/9/21-Vídeo 12

https://www.youtube.com/watch?v=NNPxv2IiPuw

4 – Barragem de Pontal, da Vale S/A, espada na cabeça de 1000 famílias em Itabira, MG, 7/9/21 – Vídeo 11

https://www.youtube.com/watch?v=6C92TlgNQ0c

5 – “Itabira, quadro na parede!” “Vale submete povo a esgoto fedorento”, Pe. Chiquinho, 7/9/21-Vídeo 10

https://www.youtube.com/watch?v=VUH97Qub5uo

1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com  – www.gilvander.org.br  – www.freigilvander.blogspot.com.br       –       www.twitter.com/gilvanderluis         – Facebook: Gilvander Moreira III

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/09/2021

SUSTENTABILIDADE DE MARKETING NA TOYOTA.

artigo

Sustentabilidade de Marketing na Toyota, artigo de José Austerliano Rodrigues

A sustentabilidade de marketing é fundamentada em princípios de marketing para transformações, soluções de consumo e comunicações com diversos stakeholders (partes interessadas).

Como reconhecida líder na indústria automotiva, o status da Toyota Motor Corporation pode ser visto não apenas em termos de produção e receita unitária, mas também visto como uma organização que abraçou a sustentabilidade (ROUAULT, 2020).

A Toyota Motor Corporation é uma fabricante de automóveis com sede em Aichi, Japão. A Toyota é conhecida por seus produtos automotivos inovadores. No entanto, a empresa não é percebida como operando em um setor altamente sustentável, pois a maioria de seus produtos tem se apoiado em fontes de energia escassas, que também poluem nosso meio ambiente e, assim, levam ao aquecimento global. No entanto, a Toyota teve sucesso em sua transição ao reconhecer o sucesso em longo prazo da indústria e sua linha de produtos dependia desta transformação crítica do mercado (BELZ; PEATTIE, 2012). Ao investir fundos significativos na mudança do núcleo da indústria automotiva, literalmente o motor que impulsiona este setor, a empresa não só apresentou inovações híbridas que satisfizeram a crescente demanda por formas alternativas de mobilidade, mas desafiaram e forçaram seus concorrentes a seguir em frente (ROUAULT, 2020).

A Toyota Motor Corporation, como a maioria dos fabricantes de automóveis, não achou fácil ficar verde, pois estas empresas têm muito a considerar em relação aos diversos elementos de sustentabilidade e na criação de uma estratégia de sustentabilidade de marketing. No entanto, se uma empresa quer ter sucesso na transformação corporativa, ela precisa assumir um compromisso com a sustentabilidade e torná-la parte integrante dos valores e visão da empresa (ROUAULT, 2020).

Muitos fabricantes de automóveis, além da Toyota, assumiram a sustentabilidade por várias razões, incluindo fazer a diferença, pressão pública, vantagem competitiva, redução de custos ou apenas querer fazer algo bom. Dentro do marketing industrial estas são vantagens, mas o ponto de diferença só é benéfico, desde que você se destaque do resto. Esta diferenciação não durará muito tempo e só será valiosa enquanto o consumidor o valoriza. Como tal, a sustentabilidade não é o único driver (fator) quando um consumidor avalia a potencial compra de um grande bem durável, como um carro. Outros elementos podem incluir custo de compra, velocidade, valor de revenda, estética do veículo, instrumentação, cor, confiabilidade, economia de combustível e disponibilidade local de manutenção (ROUAULT, 2020).

Uma das histórias de sucesso de todos os tempos para a Toyota foi o lançamento em 1997 do Prius, um veículo híbrido, que tinha vários elementos procurados, incluindo durabilidade e confiabilidade, bem como eco-simpatia e grande inovação (KAPLAN, 2011).

A visão futura da Toyota é olhar para o equilíbrio entre a natureza e a indústria e seus ciclos associados. Como tal, eles têm uma nova frase de efeito “Sociedade em Harmonia com a Natureza”, com a meta de CO2 = 0 (TOYOTA, 2020). Este slogan diz respeito à visão da gestão e dos colaboradores que colaboram para a construção de um mundo melhor ao longo dos princípios da sustentabilidade. Eles acreditam que isto pode ser alcançado através de novas tecnologias, colaboração, cooperação com a sociedade, transparência e o compromisso tanto da gestão quanto dos funcionários (política de sustentabilidade).

O crescimento populacional, a expansão econômica em nações emergentes e melhoria dos padrões de vida têm impulsionado o aumento do consumo contra os recursos limitados da Terra. Estas realidades têm exigido atenção e respostas dos fabricantes industriais globais em termos de recursos e desperdícios. A Toyota reconhece que a oferta de recursos minerais para a produção de bens industriais, como carros e peças, é um problema em termos de esgotamento, distribuição desigual e oscilações voláteis em moedas e no preço dos insumos. Além disso, a produção agrícola em resposta ao crescimento populacional está afetando o uso da água. O enfrentamento dos resíduos também é uma preocupação legítima para os produtores em termos de redução na fonte, reutilização ou reciclagem, recuperação no fim da vida útil e, inevitavelmente, alguma eliminação (ROUAULT, 2020).

A Toyota também está ciente da necessidade de conservação da natureza e de sua biodiversidade e a empresa busca integrar seus negócios automotivos e contribuições sociais como parte de manter a sociedade em harmonia com a natureza.

Para Belz e Peattie (2012), as transformações corporativas podem ser recebidas com várias barreiras ou resistência à mudança. Os autores, classificam em três categorias: (1) barreiras individuais, (2) barreiras internas organizacionais e (3) barreiras externas organizacionais. A superação destas barreiras para implementar mudanças na gestão da sustentabilidade de marketing é necessária de seis componentes essenciais:

  • CEO comprometido;
  • Funcionários capacitados;
  • Uma clara missão de sustentabilidade corporativa;
  • Mudança de sustentabilidade;
  • Sistemas de Informação de Sustentabilidade de Marketing;
  • Estruturas de incentivo à sustentabilidade.

A Toyota reconhece que a sustentabilidade de marketing é sobre entender seus consumidores e entregar a eles maior valor, garantindo que a marca e a organização permaneçam viáveis ao longo do tempo. Os profissionais de marketing da Toyota após um mandato de gestão ambiental tiveram o poder de promover uma transformação interna para abordar uma existência mais sustentável.

Esta influência no desenvolvimento de produtos ao mesmo tempo em que atende ao lado humano apoia as decisões dos consumidores e atende às necessidades em evolução da sociedade para veículos ecológicos (ROUAULT, 2020).

José Austerliano Rodrigues. Especialista Analista Sênior e Doutor em Sustentabilidade de Marketing pela UFRJ, com ênfase em Marketing e Sustentabilidade, com interesse em pesquisa em Sustentabilidade de Marketing e Comportamento do Consumidor Sustentável. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/09/2021 

SUL DO AMAZONAS É A NOVA FRONTEIRA DO DESMATAMENTO.

Sul do Amazonas é a nova fronteira do desmatamento

Sul do Amazonas – Imagens captadas na semana passada entre Porto Velho (RO) e Lábrea (AM) mostram uma das regiões mais conservadas da floresta amazônica em franca devastação.

Por cinco dias, entre 13 a 17 de setembro, a Aliança Amazônia em Chamas comprovou o alerta e o temor de muitos pesquisadores: o sul do Amazonas, o maior e mais conservado estado em meio à floresta, é a nova fronteira do desmatamento. “Essa região tem se destacado pelo avanço veloz do desmatamento, que adentra cada vez mais em territórios bem conservados e vitais para mitigar a crise climática e evitar o colapso da biodiversidade no planeta”, explica Cristiane Mazzetti, do Greenpeace, organização que compõe a aliança ao lado de Amazon Watch e Observatório do Clima.

Participaram da expedição pesquisadores, jornalistas e três artistas brasileiros — Rafael Cardoso (ator), Giovanna Lancellotti (atriz) e Vitão (cantor e compositor). A rota partia de Porto Velho, segundo município em quantidade de queimadas — com 2.700 focos, de 1º de janeiro a 18 de setembro, de acordo com dados do Inpe — e seguia até Lábrea, recordista em queimadas no país, com 2.946 focos no mesmo período. Depois de passar pela Terra Indígena Jacareúba (AM) e pelo Parque Nacional Mapinguari (AM e RO), foi possível observar extensas áreas desmatadas, de 1.550 a 2.450 hectares, equivalentes a 2.012 e 3.181 campos de futebol respectivamente, e que estão entre os cinco maiores desmatamentos do Amazonas.

Sob o governo Bolsonaro, o Amazonas superou Rondônia como o terceiro estado com o maior desmatamento, segundo o sistema Prodes, do Inpe. “Presenciamos a destruição da floresta em larga escala, incluindo grandes polígonos de desmatamentos, focos ativos de calor e pistas de pouso clandestinas. Em Porto Velho, avistamos grandes áreas para o cultivo de grãos, atividade que está se consolidando cada vez mais no norte de Rondônia e adentrou recentemente o sul do Amazonas, com plantio de soja em Humaitá”, conta Mazzetti, que acompanhou as atividades.

Na parte terrestre, a expedição passou por Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, entre agosto de 2020 e julho de 2021, ficando atrás apenas de Porto Velho. Lá, o grupo encontrou serrarias e muitos caminhões carregados de toras de árvores gigantes, além de gado pastando junto a áreas recém queimadas. “Vimos lado a lado todas as etapas do processo de desmatamento: a extração da madeira mais valiosa, o desmatamento e posterior queima da vegetação que fica secando ao sol para o plantio de pasto e o gado ocupando áreas que até pouco tempo eram cobertas pela floresta. É uma incongruência derrubar e queimar a floresta com o maior biodiversidade do mundo, para dar lugar a duas espécies: o gado e a grama”, diz Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Nessa região, ficam duas Unidades de Conservação (UCs), a Flona Jacundá e a Estação Ecológica de Samuel, que já apresentam registros de invasão. Para os especialistas, a aprovação pelo governador Marcos Rocha do projeto de lei que reduziu em 80% os limites da reserva extrativista (Resex) Jaci-Paraná para beneficiar invasores, pode ter impulsionado as invasões às UCs. A Resex foi a Unidade de Conservação que mais queimou em Rondônia neste ano e cuja situação deve se agravar ainda mais nos próximos meses.

Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), integrava o grupo e se surpreendeu com a ocupação indiscriminada de terras públicas. “Desmatar grandes áreas requer muito investimento em maquinário e logística, o que mostra que os invasores estão indo com tudo para cima das terras públicas e ocupando de forma indiscriminada e altamente capitalizada”, afirma. Segundo a pesquisadora, uma das maiores conhecedoras da dinâmica do fogo em florestas do país, outro ponto de destaque é que algumas áreas desmatadas nos anos anteriores estão abandonadas, sem nenhuma atividade agropecuária implementada. “Ou seja, estão usando o desmatamento para especular com terra pública”.

Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, também acompanhou a expedição e destacou o impacto da perda da floresta. “Enquanto as demais nações se desenvolvem com menos carbono, o Brasil corre na contramão, apostando em desmatamento, que é sua principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo acontecem na ilegalidade, não geram desenvolvimento para a região nem distribuem riqueza para os povos da floresta. Estamos literalmente queimando o futuro a troco de nada.”

Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas
Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Setembro de 2021
Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. A Amazônia segue encoberta pela fumaça e marcada pela devastação criminosa e sem controle. Foi o que comprovaram sobrevoos realizados pela Aliança Amazônia em Chamas, formada pelas organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima. A expedição ocorreu entre os dias 13 e 17 de setembro, nos municípios de Porto Velho, Rondônia, e Lábrea, sul do Amazonas. Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Sobre a Aliança Amazônia em Chamas: parceria entre as organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima para promover sobrevoos de monitoramento e divulgação de informações relativas a áreas de floresta desmatadas e/ou ameaçadas pelo desmatamento, fogo e garimpo.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2021

AUMENTO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA MELHORA O FUNCIONAMENTO DO ECOSSISTEMA.

Aumento da diversidade biológica melhora o funcionamento do ecossistema

Um ambiente heterogêneo promove ainda mais esse efeito positivo da biodiversidade nos ecossistemas. À medida que cada vez mais a área de terra global está sujeita a uso intensivo, tornando-se assim mais homogênea, esse impacto positivo da biodiversidade pode ser enfraquecido.

Os pesquisadores de Senckenberg e da Universidade de Würzburg relatam atualmente em “Nature Ecology & Evolution”.

No estudo em grande escala realizado no Monte Kilimanjaro, os pesquisadores conseguiram demonstrar que a riqueza de espécies, em particular, melhora o desempenho dos ecossistemas, enquanto a rotação de espécies ao longo do gradiente de elevação desempenha um papel menor.

University of Würzburg*

Ecossistema com vegetação de montanha no Monte Kilimanjaro. (Imagem: Andreas Hemp)
Ecossistema com vegetação de montanha no Monte Kilimanjaro. (Imagem: Andreas Hemp)

Micro-organismos, plantas e animais realizam grandes feitos todos os dias. Por exemplo, ao decompor o material, produzir biomassa vegetal ou polinizar flores, eles mantêm a natureza ‘ativa e funcionando’, garantindo assim o sustento dos humanos. Numerosos estudos têm mostrado que uma alta biodiversidade pode ter um impacto positivo sobre estes, bem como sobre outras funções do ecossistema.

“Mas há outro fator importante em jogo. Se as condições ambientais de um ecossistema são heterogêneas, por exemplo, em termos de propriedades do solo e clima, isso poderia dar um impulso adicional ao efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema ”, diz Dr. Jörg Albrecht da Senckenberg Biodiversity and Climate Research Center.

Dados de 13 ecossistemas naturais e artificiais

Em parceria com outros pesquisadores, Albrecht examinou se o grau de heterogeneidade ambiental influencia o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema. Para este fim, os pesquisadores analisaram dados de 13 ecossistemas naturais e artificiais na montanha mais alta da África, o Monte Kilimanjaro. É um dos primeiros estudos a investigar tal questão em ecossistemas reais ao longo de um gradiente de elevação de mais de 3.500 metros.

“Os dados mostram que o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema é cerca de 20 por cento maior em um ambiente heterogêneo”, explica Albrecht, e ele continua, “Isso significa que, se a tendência global de intensificação do uso da terra continuar, o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema pode ser diminuída. ”

A riqueza de espécies desempenha um papel importante nas funções do ecossistema

Além disso, os pesquisadores examinaram qual aspecto da biodiversidade é mais benéfico para o fornecimento das funções do ecossistema: Mudanças na riqueza de espécies ou rotação de espécies, ou seja, mudanças na composição de espécies ao longo do gradiente de elevação. Tornou-se aparente que a riqueza de espécies desempenha um papel maior nas funções do ecossistema do que a rotação de espécies.

“Sinceramente, isso foi uma surpresa para nós, já que, em tese, o oposto havia sido assumido. Além disso, as comunidades de espécies na savana ao pé da montanha são completamente diferentes daquelas nas florestas nubladas ou no cume alpino. Assim, a rotatividade das espécies é muito alta. Em contraste, a riqueza de espécies, ou seja, o número de espécies que co-ocorrem em um ecossistema, muda em menor grau, mas é muito mais importante para o funcionamento do ecossistema ”, disse o Dr. Marcell Peters da Universidade de Würzburg.

Os pesquisadores consideram os resultados como evidências de que os esforços regionais de conservação devem se concentrar na preservação da riqueza de espécies. “Nossos resultados confirmam que a biodiversidade não é importante apenas em pequena escala, como foi demonstrado em experimentos, mas que esses efeitos se tornam ainda mais fortes em paisagens reais de grande escala. Pudemos assim mostrar que proteger a biodiversidade não é um luxo, mas essencial para a manutenção de ecossistemas funcionais ”, conclui Peters.

Referência:

Albrecht, J. et al (2021): Species richness is more important for ecosystem functioning than species turnover along an elevational gradient. Nature Ecology & Evolution, doi: https://doi.org/10.1038/s41559-021-01550-9

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Henrique Cortez *, tradução e edição.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/09/2021