domingo, 30 de setembro de 2018

DEBATE: EMPODERAMENTO DE MULHERES NAS EMPRESAS.

UNFPA participa de debate em SP sobre empoderamento de mulheres nas empresas


Evento em São Paulo discutiu a importância do envolvimento das empresas na pauta da saúde sexual e reprodutiva das mulheres para o desenvolvimento do país. O encontro teve a participação de representantes do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
Jaime Nadal, representante do UNFPA Brasil; Marina Ferro, gerente-executiva de práticas empresarias e políticas públicas do Instituto Ethos; Janete Vaz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sabin; e Henriëtte Bersee, cônsul-geral dos Países Baixos em São Paulo. Foto: UNFPA Brasil/Paola Bello
Jaime Nadal, representante do UNFPA Brasil; Marina Ferro, gerente-executiva de práticas empresarias e políticas públicas do Instituto Ethos; Janete Vaz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sabin; e Henriëtte Bersee, cônsul-geral dos Países Baixos em São Paulo. Foto: UNFPA Brasil/Paola Bello
De que forma a decisão das mulheres sobre ter ou não filhos deve ser vista pelas empresas? Como oferecer condições para que mulheres possam desenvolver suas carreiras profissionais em um ambiente igualitário, mesmo quando decidem formar família e ter filhos?
Qual a importância do envolvimento das empresas na pauta da saúde sexual e reprodutiva para o desenvolvimento do país, independentemente do setor em que atuam? Esses foram alguns dos questionamentos que guiaram debate realizado na terça-feira (25), em São Paulo, durante a Conferência Ethos.
O painel “Alinhando esforços do setor privado na defesa dos direitos da mulher: estratégias inovadoras para fortalecer a agenda de saúde e de direitos sexuais e reprodutivos no Brasil” foi formado por Marina Ferro, gerente-executiva de práticas empresarias e políticas públicas do Instituto Ethos; Jaime Nadal, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil; Henriëtte Bersee, cônsul-geral dos Países Baixos em São Paulo; e Janete Vaz, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sabin. Todas as organizações fazem parte, ao lado de outras, da Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil.
Durante o debate, foram apresentados dados sobre saúde da mulher, compartilhadas experiências de integração e promoção do desenvolvimento profissional das mulheres, além de iniciativas inter-setoriais e internacionais pela promoção dos direitos sexuais e reprodutivos.
Uma das experiências é a iniciativa global “She Decides”, liderada pelos Países Baixos para apoiar organizações e iniciativas pelo empoderamento de meninas e mulheres sobre seus direitos reprodutivos e sexuais. A iniciativa serviu como inspiração para a organização da Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil.
“Gravidez indesejada, morte materna e transmissão do HIV são problemas que preocupam em todo o mundo. Nosso trabalho com parceiros busca melhorar ações de saúde sexual e reprodutiva com objetivos em quatro áreas: educação sexual e serviços para jovens, acesso a contraceptivos e a medicamentos, cuidados da saúde sexual e reprodutiva no sistema público de saúde, e mais respeito aos grupos mais vulneráveis e discriminados”, disse a cônsul-geral, Henriëtte Bersee.
A partir da experiência global do She Decides, o UNFPA Brasil se inspirou para impulsionar a aliança e mobilizar não apenas o setor privado, mas também organizações filantrópicas e representações da sociedade civil, para falar sobre direitos sexuais e reprodutivos no país.
Assim, foi lançada em abril a Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil e a campanha Ela Decide Seu Presente e Seu Futuro, que busca levar informações de qualidade sobre saúde sexual e vida reprodutiva a meninas e mulheres.
“Trabalhar com o setor privado e engajar diferentes setores da sociedade está previsto no Objetivo 17 de Desenvolvimento Sustentável. Por isso, o UNFPA trabalha com governos, com a sociedade civil e agora, com o apoio da Holanda, com o setor privado, para mobilizar sobre os direitos sexuais e reprodutivos”, destaca o representante do UNFPA, Jaime Nadal.
“Atrás de toda criança feliz e de uma mãe feliz existe um projeto de vida com realizações. A felicidade e o bem-estar estão também na possibilidade de conciliar a vida pessoal e as cargas familiares com a vida profissional”, destacou.
“O futuro de uma mãe não pode ser adiado”, completou a presidente Grupo Sabin, Janete Vaz. No grupo, que hoje conta com 255 unidades em todo o Brasil, dos 4,6 mil colaboradores, 77% são mulheres, e a maioria está em cargos de liderança.
“É importante que haja o equilíbrio saudável no relacionamento com colaboradores. Uma mulher empoderada pode ter o desejo de constituir família, ter filhos e também desenvolver a carreira. E as empresas têm que entender isso. E saber que não se compra confiança e reputação”, completou.
Existem no Brasil hoje mais de 55 milhões de mulheres em idade reprodutiva, mas grande parte não tem acesso a informações de qualidade, a serviços de saúde sexual e reprodutiva e a métodos contraceptivos modernos que lhes permitam planejar a vida reprodutiva.
Segundo a gerente-executiva do Instituto Ethos, é preciso também considerar nesse universo as diferenças de acesso oferecidas a diferentes grupos populacionais.
“Falar de saúde sexual e reprodutiva é um tema tão importante quanto urgente. E precisamos ter o recorte para saber com que mulher falamos, porque sabemos como isso afeta de forma diferente a vida das mulheres negras e periféricas”, destacou.
“Precisamos nos envolver e pensar em políticas públicas para mulheres que estão em grupos em situação de vulnerabilidade. E o setor privado precisa ter iniciativas com perspectivas de empoderamento. É preciso levar a discussão para dentro das empresas. Precisamos transformar valores em práticas.”
Fonte : OnuBrasil

" CASINHA SABORES "

UNICEF e Amil criam ‘Casinha Sabores’ para ensinar crianças a comer bem

Em um mundo repleto de doces, refrigerantes e alimentos ultra-processados, é essencial ensinar as crianças a comer bem. É esse o objetivo da “Casinha Sabores”, exposição criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com a empresa de assistência médica Amil para mostrar a crianças e famílias, de maneira divertida e interativa, os riscos da má nutrição e a importância de se alimentar corretamente e cuidar da saúde.
A exposição vai até 17 de outubro e ocorre no Shopping Eldorado, zona oeste da capital paulista.
Em um mundo repleto de doces, refrigerantes e alimentos ultra-processados, é essencial ensinar as crianças a comer bem. É esse o objetivo da “Casinha Sabores”, exposição criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com a empresa de assistência médica Amil para mostrar a crianças e famílias, de maneira divertida e interativa, os riscos da má nutrição e a importância de se alimentar corretamente e cuidar da saúde.
A exposição vai até 17 de outubro e ocorre no Shopping Eldorado, zona oeste da capital paulista.
O evento é gratuito e está sendo organizado em três etapas. O passeio começa pela cozinha da casa, um ambiente colorido, repleto de doces, guloseimas e alimentos industrializados consumidos por crianças. O segundo cômodo é o quarto, em que são apresentadas as consequências de uma alimentação desregrada e com excesso de calorias na vida das crianças.
A última parte da visita é a sala. Nela, o público conhece dez passos para uma alimentação saudável e outras dicas para deixar o cardápio mais gostoso e nutritivo. No final da exposição, será possível testar na prática os conhecimentos adquiridos, por meio de um jogo virtual em que as crianças deverão montar seu próprio prato e saberão se fizeram escolhas saudáveis ou não.
A proposta da casinha é tratar, de forma lúdica, um tema que preocupa o país: a obesidade infantil. O Brasil enfrenta uma grande mudança de padrão de consumo de alimentos, comprometendo a situação nutricional da infância e adolescência e promovendo na vida adulta o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes.
Segundo dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, do Ministério da Saúde, 10% das crianças brasileiras de 5 a 9 anos já estão acima do peso recomendado para a idade.
“Estamos diante de um quadro preocupante de mudança do perfil nutricional no Brasil. Com essa exposição, queremos chamar a atenção de famílias e crianças para os riscos do consumo de alimentos ultra-processados — ricos em açúcar, sódio, gordura e pobres em nutrientes — e conscientizá-las sobre a importância de consumir alimentos saudáveis. Dessa forma, contribuímos para efetivar o direito de cada criança a crescer com saúde”, explica Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.
“Ações como esta são muito importantes para engajar a família na busca pela vida saudável. A obesidade infantil é uma realidade no nosso país, muitas vezes influenciada pelo próprio padrão alimentar dos responsáveis pelas crianças. E estimular o conhecimento da importância da alimentação equilibrada ainda na infância é uma forma de incentivar a construção de gerações mais saudáveis”, diz Odete Freitas, pediatra e diretora de sustentabilidade da Amil.
Como forma de contribuir com informação qualificada sobre a alimentação saudável na primeira infância, o UNICEF e a Amil lançaram, neste mês, a publicação “Os 10 passos para alimentação e hábitos saudáveis”. Voltada a famílias e profissionais de saúde, assistência social e educação, a publicação é focada nos dois primeiros anos de vida da criança e pode ser acessada na biblioteca virtual do UNICEF.

Serviço

O quê: Exposição Casinha Sabores:
Quando: de 27/9 a 17/10, de segunda a sábado, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 14h às 20h
Onde: Shopping Eldorado – Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, São Paulo, SP
Mais informações: www.casinhasabores.com.br
Fonte : OnuBrasil

sábado, 29 de setembro de 2018

MANGUEZAIS DA AMAZÔNIA ARMAZENAM DUAS VEZES MAIS CARBONO POR HECTARE QUE A FLORESTA TROPICAL DA REGIÃO.

Manguezais da Amazônia armazenam duas vezes mais carbono por hectare que a floresta tropical da região


Os cientistas determinaram, pela primeira vez que, os mangues costeiros da Amazônia, crescentemente desmatados para pastos de gado e produção de de camarões, armazenam significativamente mais carbono por hectare do que a famosa floresta tropical da região.

Por Chris Branam*

manguezal
Manguezal. Foto: Oregon State University

O estudo de longo prazo, publicado recentemente na revista Biology Letters, fornece uma melhor compreensão de como o desmatamento de manguezais contribui para o efeito estufa, uma das principais causas do aquecimento global, diz J. Boone Kauffman, ecologista da Oregon State University. quem liderou a pesquisa.
O manguezal brasileiro permeia toda a costa do Atlântico na foz do Amazonas, o maior rio do mundo com a maior floresta de mangue. Embora a preservação da floresta amazônica tenha sido objeto de intensos esforços de conscientização nas últimas décadas, menos atenção tem sido dada aos manguezais da Amazônia.
Os manguezais representam 0,6% de todas as florestas tropicais do mundo, mas seu desmatamento é responsável por até 12% das emissões de gases de efeito estufa provenientes de todo o desmatamento tropical.
Os manguezais são um grupo de árvores e arbustos que vivem em zonas costeiras intertidais tropicais. Existem cerca de 80 espécies diferentes de árvores de mangue. Todas essas árvores crescem em áreas de solos encharcados, onde águas lentas permitem que sedimentos finos se acumulem. Nesses ambientes, os manguezais sequestram quantidades significativas de carbono, armazenadas por séculos.
Para o estudo, os pesquisadores visitaram nove mangues e três restingas dentro da Amazônia brasileira. A costa do Oregon, como grande parte dos Estados Unidos, possui salinas ao longo de sua costa e estuários. Os pântanos salgados, os mangues e as comunidades de ervas marinhas são coletivamente referidos como “carbono azul” porque possuem vastos reservatórios de carbono e sua conservação é valiosa no que diz respeito à mitigação das mudanças climáticas.
As florestas de mangue também são importantes para a biodiversidade. Eles são conhecidos como “jardim de infância dos mares”. É aqui que os peixes jovens desovam, se reproduzem e passam as primeiras partes de suas vidas.
Manguezais de corte raso apresentam outra ameaça: as pessoas que vivem ao longo da costa se tornam mais vulneráveis a tempestades quando são derrubadas, disse Kauffman.
“Os mangues são importantes para proteção contra impactos de tempestades”, disse ele. “Quando destruímos os mangues, tornamos as populações muito mais vulneráveis a danos e mortes durante tempestades. Mais frequentemente, estas são algumas das pessoas mais pobres do planeta. ”
Os coautores de Kauffman foram Leila Giovannoni, aluna do Departamento de Pesca e Vida Selvagem da OSU na Faculdade de Ciências Agrícolas; Angelo Bernardino e Luiz Eduardo de O. Gomes da Universidade Federal do Espírito Santo em Vitória, Brasil; e Tiago Ferreira, Danilo Jefferson Romero, La Coutinho Zayas Jimenez e Francisco Ruiz da Universidade de São Paulo em Piracicaba, Brasil.
Financiamento parcial para o estudo foi fornecido pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, Programa Sustentável de Mitigação e Adaptação de Zonas Úmidas.
Referência:
Carbon stocks of mangroves and salt marshes of the Amazon region, Brazil
J. Boone Kauffman, Angelo F. Bernardino, Tiago O. Ferreira, Leila R. Giovannoni, Luiz Eduardo de O. Gomes, Danilo Jefferson Romero, Laís Coutinho Zayas Jimenez, Francisco Ruiz
Published 5 September 2018. DOI: 10.1098/rsbl.2018.0208

*Por Chris Branam, com tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/09/2018

"ISSO A GLOBO NÃO MOSTRA! "

‘Isso a Globo não mostra!’, artigo de Montserrat Martins


artigo de opinião
[EcoDebate] Recebo vídeos diariamente – e imagino que você também – pelo msn do face ou pelo whats, que começam com “Isso a Globo não mostra!”. Os conteúdos podem ser qualquer coisa, assuntos já batidos, a frase inicial é apelativa, só para chamar a atenção. Deve dar resultado, porque já virou “meme”, que não tem relação com qualquer conteúdo específico, serve para tudo.
Já tive minha fase de contestação, de teorias conspiratórias, de críticas contundentes à mídia, de desconfiança sobre seus interesses. Com o tempo, mesmo sem perder o senso crítico, comecei a pensar no outro lado da moeda, ou seja, nos interesses das pessoas e dos grupos mais críticos à imprensa. Quais são os interesses, de quem contesta a “versão oficial” dos telejornais ou da imprensa escrita?
Anos atrás, os contestadores da mídia eram de esquerda, mas hoje a situação está mudando tanto que os mais ferozes detratores da imprensa estão à direita, no Brasil e no mundo. A imprensa que era acusada de “burguesa” agora vem sendo tachada de “comunista”. Não que os detratores à esquerda tenham mudado de opinião, pois suas propostas incluem um “controle social”, leia-se político, das mídias. Mas agora, além destes, e com mais virulência ainda, os ataques feitos em nome da direita visam desacreditar ao jornalismo profissional.
Ao contrário dos textos jornalísticos que seguem critérios como ouvir todos os lados, a busca da imparcialidade, a guerra política nas redes sociais não tem qualquer pudor – qualquer que seja a ideologia dos contendores – em deturpar grosseiramente os fatos, mentir despudoradamente, falsear informações, produzir ‘fakes’ massivamente para influenciar as pessoas, para manipular suas emoções do modo mais rasteiro, induzindo ao medo e ao ódio.
Quando uma informação jornalística não é isenta, costuma provocar reações da sociedade, principalmente dos envolvidos. Muitas vezes os professores e outras categorias profissionais já se sentiram assim, em seus movimentos, muitas vezes com razão. Mas agora estamos diante de outros fenômenos, de induções ao conflito ideológico sem nenhum pudor, onde prevalecer a própria opinião é mais importante que tudo.
Se a mídia é imperfeita, as “alternativas” que a atacam parecem ser piores, pois não tem qualquer sutileza ou preocupação com a verdade, nem compromissos com a democracia. A liberdade de imprensa, afinal, deveria ser interesse de todos.
Não é só no Brasil, mas aqui temos o ambiente perfeito para prosperar a crítica como um modismo, é uma tendência cultural entre nós.
Lancei um livro sobre o Brasil e para ironizar fiz uma foto com “Isso a Globo não mostra!” e a capa do meu livro. Muitos aderiram à brincadeira, mas outros perguntaram se era uma denúncia.
Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/09/2018

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

MOBILIDADE URBANA : PAULISTANOS GASTAM QUASE 3 HORAS DIARIAMENTE PARA SE DESLOCAR.

Mobilidade Urbana: Paulistanos gastam quase 3 horas diariamente para se deslocar

Pesquisa aponta que ônibus ainda é o principal meio de transporte

ABr
Os moradores da cidade de São Paulo gastam 2h43 por dia para se deslocar para todas as suas atividades, de acordo com a Pesquisa de Mobilidade Urbana na Cidade, feita pelo Ibope Inteligência a pedido da Rede Nossa São Paulo (integrada por mais de 700 organizações da sociedade civil), e divulgada hoje (18). Na pesquisa anterior, de 2017, esse tempo era de 2h53. Os moradores das regiões norte e sul são os que gastam mais tempo, 2h49min e 2h56min, respectivamente. Já aqueles que vivem nas regiões centro e oeste gastam 1h58min e 2h13min, respectivamente. Para a atividade principal, o tempo de deslocamento é de 1h57.
“As pessoas gastam muito tempo no transporte diariamente, o que denota um desperdício de tempo muito grande para que as pessoas possam ter acesso ao que for, seja educação, saúde, trabalho, se encontrar com as pessoas, e isso não é saudável para uma cidade. Temos que reduzir esse tempo”, disse o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão.
Trânsito em São Paulo
Trânsito em São Paulo – arquivo/Agência Brasil
O ônibus continua sendo o principal meio de transporte dos paulistanos, com 43% das menções, seguido pelo carro (24%), metrô (12%) e a pé (7%). Aqueles que afirmaram ter como principal meio de transporte o transporte particular por meio de aplicativos somaram 3%; por trem foram, 2%, e bicicleta, 1%. Ao todo, a porcentagem de paulistanos que usam transporte coletivo é de 59% e os que usam transporte privado é de 30%. Em 2017 eram 25%.
Quando avaliada a frequência com que os paulistanos utilizavam o transporte público, em 2017 eram 84%, passando para 80% em 2018. Já para a utilização do carro, os dados ficaram em 72% para os dois períodos. A pesquisa mostra que entre aqueles que usam o carro todos os dias ou quase todos os dias, 41% diziam que, com certeza, deixariam de utilizar o veículo se as alternativas de transporte público fossem melhores. Em 2017, esse percentual era de 51%.
“Essa questão vai contra todo o movimento que outras cidades do mundo, do mesmo porte de São Paulo, estão fazendo. Essas outras cidades grandes estimulam e avançam no transporte coletivo, aumentam essa proporção, reduzem e desestimulam a utilização do automóvel. Isso é um sinal de alerta importante para verificarmos o que devemos fazer para que retome uma ideia de reduzir o carro e use o coletivo”, disse Abrahão.
Para o grupo de paulistanos que não utilizam o transporte público, os principais motivos são a lotação (37%), a preferência por utilizar o carro (32%) e a demora do trajeto (31%). Em 2017, 31% dos paulistanos diziam que a lotação os fazia não utilizar os ônibus na capital e 24% alegava a demora no trajeto.
Entre os paulistanos que utilizam os ônibus como meio de transporte principal, os principais problemas apontados são também a lotação (25%) e o preço da tarifa (20%). A pesquisa destaca ainda que para 54% dos entrevistados a lotação dos ônibus em São Paulo aumentou em relação aos últimos 12 meses; para 42% aumentou também o tempo de espera pelos ônibus nos pontos ou terminais em São Paulo; e para 39% aumentou tempo de duração da viagem em São Paulo.
“Essas causas podem explicar o desestímulo que está havendo em relação ao transporte coletivo. Tudo isso são importantes ferramentas para que o poder público possa atuar e encaminhar soluções para cada um desses itens, para que possamos melhorar essa qualidade. As pessoas estão demonstrando claramente que houve um retrocesso na qualidade e cada uma está tentando se virar individualmente”, disse o coordenador da Rede Nossa São Paulo.
Ciclovia da Avenida Paulista facilita a mobilidade urbana na cidade de São Paulo.
Segurança afasta o paulistano do uso de bicicleta no dia a dia – Arquivo/Agência Brasil
No caso das bicicletas, a pesquisa mostrou que a segurança é o ponto principal para os que nunca utilizaram esse meio de transporte. Entre aqueles que não utilizam, 30% disseram que a melhoria na segurança poderia mudar isso. Outros 18% disseram que a cidade deveria ter mais ciclovias para que aderissem à bicicleta e 17% disseram que teriam que fazer percursos com distâncias menores para passarem a utilizar a bicicleta na cidade. Também foram destacados os roubos e furtos (37%) e o desrespeito aos ciclistas (29%) como um obstáculo para o uso da bicicleta.
Segundo os dados, 23% dos entrevistados sempre se informam sobre a qualidade do ar e 39% com alguma frequência; 13% se informam sobre a qualidade do ar raramente e 24% nunca se informam sobre a qualidade do ar.
A pesquisa foi realizada entre os dias 15 de agosto e 3 de setembro, com 800 moradores da cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais.
Por Por Flávia Albuquerque, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/09/2018

CLIMA EXTREMO SE TORNARÁ MAIS COMUM.

Padrões climáticos mais persistentes nos EUA estão ligados ao aquecimento do Ártico; Clima extremo se tornará mais comum


Condições meteorológicas persistentes, incluindo períodos secos e úmidos, geralmente aumentaram nos Estados Unidos, talvez devido ao rápido aquecimento do Ártico, de acordo com um estudo conduzido pela Rutgers.

Por Todd B. Bates, Rutgers University–New Brunswick*
Condições climáticas persistentes podem levar a extremos climáticos como secas, ondas de calor, frio prolongado e tempestades que podem custar milhões de dólares em danos e perturbar sociedades e ecossistemas, diz o estudo.

Temperaturas da superfície terrestre de 26 de dezembro de 2017 a 2 de janeiro de 2018, em comparação com a média de 2001 a 2010 para o mesmo período de oito dias
Temperaturas da superfície terrestre de 26 de dezembro de 2017 a 2 de janeiro de 2018, em comparação com a média de 2001 a 2010 para o mesmo período de oito dias. O persistente clima quente do oeste e do frio leste, tão prevalente no inverno passado, causou uma seca no oeste que levou a incêndios de verão, um período de frio prolongado em boa parte do leste e ao longo da costa leste. Imagem: Observatório da terra da NASA

Cientistas da Rutgers University – New Brunswick e da Universidade de Wisconsin-Madison examinaram dados diários de precipitação em 17 estações nos EUA, juntamente com grandes padrões de circulação de nível superior no leste do Oceano Pacífico e na América do Norte.
No geral, períodos secos e úmidos com duração de quatro ou mais dias ocorreram com mais frequência nas últimas décadas, de acordo com o estudo publicado on-line na revista Geophysical Research Letter . A freqüência de padrões de circulação persistentes em larga escala na América do Norte também aumentou quando o Ártico estava anormalmente quente.
Nas últimas décadas, o Ártico está aquecendo pelo menos duas vezes mais rápido que a temperatura média global, observa o estudo. A persistência de padrões quentes do Ártico também aumentou, sugerindo que as condições climáticas de longa duração ocorrerão com mais frequência à medida que o aquecimento do Ártico continua, disse Jennifer Francis , professora de pesquisa do Departamento de Ciências Marinhas e Costeiras da Rutgers .
“Embora não possamos afirmar com certeza que o aquecimento do Ártico é a causa, descobrimos que os padrões em grande escala com o aquecimento do Ártico estão se tornando mais freqüentes e a frequência das condições climáticas de longa duração aumenta mais para esses padrões”, disse Francis . na Escola de Ciências Ambientais e Biológicas .
Os resultados sugerem que, à medida que o Ártico continua a aquecer e derreter, é provável que eventos de longa duração continuem ocorrendo com mais frequência, o que significa que os padrões climáticos – ondas de calor, secas, períodos de frio e tempestades – provavelmente se tornarão mais persistentes. disse.
“Quando essas condições duram muito tempo, elas podem se tornar eventos extremos, como vimos com frequência nos últimos anos”, disse ela. “Saber quais tipos de eventos ocorrerão com mais frequência em quais regiões e sob quais condições de fundo – como certos padrões de temperatura oceânica – ajudarão os tomadores de decisão a planejar o futuro em termos de melhorias de infraestrutura, práticas agrícolas, preparo para emergências e retirada controlada. áreas perigosas. ”
Pesquisas futuras expandirão a análise para outras regiões do Hemisfério Norte, desenvolverão novas métricas para encontrar conexões causais e analisarão projeções para avaliar os riscos futuros de eventos climáticos extremos ligados a padrões persistentes, disse ela.
Os co-autores do estudo incluem Natasa Skific, pesquisador associado do Departamento de Ciências Marinhas e Costeiras da Rutgers, e Stephen J. Vavrus da Universidade de Wisconsin-Madison.
Referência:
Francis, J. A., Skific, N., & Vavrus, S. J. (2018). North American weather regimes are becoming more persistent: Is Arctic amplification a factor?. Geophysical Research Letters, 45. https://doi.org/10.1029/2018GL080252

* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/09/2018

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

DISPONÍVEL PARA DOWNLOAD, COLETÂNEA REÚNE TODA LEGISLAÇÃO SOBRE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO PAÍS.

Disponível para download, coletânea reúne toda a legislação sobre águas subterrâneas no país


Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil foi organizada por professora da FCA em parceria com geólogo
JORNAL DA UNICAMP
TEXTO MARCOS DE OLIVEIRA | AGÊNCIA FAPESP
FOTOS MIGUEL BOYAYAN | PESQUISA FAPESP
EDIÇÃO DE IMAGEM LUIS PAULO SILVA
Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil
Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil está disponível para download gratuito. São cinco volumes que tratam das leis estaduais regulatórias do uso e dos cuidados necessários para gestão das águas subterrâneas com o objetivo de evitar a contaminação desses mananciais.
As águas subterrâneas ou águas invisíveis são reservas estocadas pela natureza a muitos metros ou até quilômetros abaixo da superfície. São volumes imensos de água, importantes para o abastecimento das cidades e da agricultura, principalmente no futuro, em momentos de escassez desse recurso. Das águas do mundo, apenas 2,7% são doces e desse percentual, 22,4% estão no subsolo.
Mesmo protegidos, esses mananciais sofrem os impactos do que se faz na superfície. As águas poluídas e contaminadas que permeiam o solo podem alcançar os aquíferos e comprometer essas reservas. “A chave para proteção das águas subterrâneas é a correta gestão do uso e ordenação do solo a partir de um olhar para seu potencial hidrogeológico”, disse Luciana Cordeiro de Souza Fernandes, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp).
Ela organizou a coletânea em parceria com o geólogo Everton de Oliveira, professor colaborador de pós-graduação do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro (SP), e sócio da empresa Hidroplan-Hidrogeologia e Planejamento Ambiental, em Cotia (SP). Oliveira é também diretor do Instituto Água Sustentável, organização não governamental que editou a obra digital e a disponibilizou na internet.
“Essa coletânea que abrange a legislação de todos os estados brasileiros é destinada principalmente aos gestores públicos e órgãos ambientais para direcionar as ações de planejamento de uso do solo com o objetivo de proteger as águas subterrâneas”, disse Fernandes à Agência FAPESP.
A motivação para fazer a coletânea veio da própria Constituição Federal de 1988, que trata de regras gerais sobre águas e delegou aos estados a função de legislar sobre águas subterrâneas.
“Mas até agora apenas o Distrito Federal e 11 estados [São Paulo – que foi pioneiro em 1988, tendo sua lei como referência para os demais estados –, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Maranhão e Pará] promulgaram legislação sobre o assunto. Os demais ainda não elaboraram leis específicas, mas apenas decretos, portarias ou mesmo leis voltadas para as águas superficiais que incluem as subterrâneas”, disse.
O manancial do subsolo mais famoso e importante é o Aquífero Guarani, que abrange oito estados brasileiros, além de áreas na Argentina, Paraguai e Uruguai. Ele é alvo de preocupações de cientistas e ambientalistas em relação a sua contaminação.
“Mas devemos chamar a atenção também para o Aquífero Alter do Chão, sob o solo dos estados do Amazonas, Amapá e Pará. Ele é considerado atualmente o maior aquífero do planeta em volume de água, mas ainda é pouco conhecido da ciência e carente de proteção legal”, disse Fernandes.
A coletânea da Legislação das Águas Subterrâneas é resultado também da colaboração de um projeto de Auxílio Pesquisa – Regular que Fernandes coordenou de 2013 a 2016. “Percebi que precisava compartilhar esse conhecimento que comecei a levantar no projeto”, disse.
Agora, na segunda fase de sua pesquisa, ela está levantando os municípios que têm leis específicas sobre águas subterrâneas. “Por enquanto, são apenas: Araraquara, em São Paulo, Santa Rosa, no Paraná, e Caxias do Sul e Santa Maria, no Rio Grande do Sul”, disse.
Fernandes também é autora do livro Águas Subterrâneas e a Legislação Brasileira, pela Editora Juruá, que trata do zoneamento especial ambiental (ZEA) do Aquífero Guarani, além de uma coleção de livros infantis de educação ambiental sobre o tema água, com destaque para Clara e as águas invisíveis, com apoio da empresa Jundsondas.
A Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil pode ser baixada em: http://download.aguasustentavel.org.br/coletanea.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/09/2018

DIABETES : VOCÊ CONHECE BEM ESSA DOENÇA ?

Diabetes: você conhece bem essa doença?


Pesquisa realizada pelo Datafolha mostra que o brasileiro sabe muito pouco sobre o diabetes

Por Luana Moreira
diabetes
No mundo, 422 milhões de adultos têm diabetes, que é responsável por 1,6 milhão de mortes a cada ano -Arquivo/Agência Brasil

Em dez anos – entre 2006 e 2016 – o número de brasileiros com diabetes aumentou 61,8%. O que significa que a doença passou a atingir 8,9% das pessoas, segundo os dados da pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas do Ministério da Saúde. Genética, envelhecimento, má alimentação, sedentarismo, hipertensão e sobrepeso são alguns dos fatores de risco responsáveis pelo diabetes.
Apesar de ser uma doença que acomete muitas pessoas, uma pesquisa divulgada recentemente pelo Datafolha mostra que o brasileiro sabe muito pouco sobre o diabetes. Isso porque os resultados mostram que as complicações foram os itens mais citados, seguidos de tratamento e alimentação.
O diabetes é uma doença crônica, na qual o organismo não produz a insulina ou, quando produz, ela é incapaz de exercer adequadamente suas funções. Segundo o médico nutrólogo, Lucas Penchel, o diabetes tipo 1 é quando o pâncreas perde a capacidade de produzir a insulina, já o tipo 2, ao contrário do primeiro tipo, produz a insulina, mas o corpo pode criar uma resistência a ela. “O diabetes é um problema de saúde sério, que pode levar à morte. Se fossem adotadas medidas para prevenção, com certeza o número apontado na pesquisa feita pelo Datafolha seria menor”, sugere Lucas. Para ele, o que a pesquisa mostra é alarmante, sendo que as causas deveriam ser mais esclarecidas e do conhecimento de todos.
Apesar de ser originado devido à herança genética ou deficiência do organismo, o diabetes tipo 1 tem tratamento e pode ser controlado. Lucas explica que, como essas pessoas não são capazes de produzir a própria insulina de forma adequada, o tratamento deve se tornar rotina da vida delas. “A alimentação deve ser isenta de açúcar e com controle de carboidratos; a atividade física deve ser realizada pelo menos 3 vezes na semana; e, em boa parte dos casos, a aplicação diária de insulina deve ser realizada. Todos os âmbitos devem ser trabalhados para alcançar o controle da doença”, conta.
Já o diabetes tipo 2, a frequência é maior entre adultos e idosos, apesar de atingir crianças e jovens também. Esse tipo pode ser, na maioria dos casos, controlado sem a aplicação de insulina, somente com alimentação e atividade física. “É necessário traçar uma dieta sem açúcar e com baixo teor de carboidratos e a adoção de exercícios físicos moderados. Essa atividade deverá ser observada por um educador físico para que não ocorra hipoglicemia, que é quando os níveis de glicose no sangue estão baixos. Esse problema pode levar à perda momentânea da consciência”, alerta Lucas.
Deixar de comer açúcar não é a única maneira de prevenir o diabetes tipo 2. Penchel alerta para a importância da mudança de hábitos e dos cuidados com a saúde no geral. “Engana-se quem pensa que se cortar os doces da dieta estará imune ao diabetes. Controlar o peso e a pressão arterial, deixar de ser sedentário e mudar a alimentação são pilares para uma boa prevenção à doença”, aponta.
Colaboração de Luana Moreira, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/09/2018

SETEMBRO AMARELO : VAMOS FALAR SOBRE SUICÍDIO NAS UNIVERSIDADE ( E NA VIDA)...

Setembro Amarelo: Vamos falar sobre suicídio nas universidades (e na vida)… artigo de Ileno Izídio da Costa


[UNB]

Vamos falar sobre suicídio nas universidades (e na vida), sem mistificações ou manipulações, mas com cuidado e delicadeza?

Ileno Izídio da Costa¹
Em tempos de sofrimento exacerbado, o suicídio ocupa a cena do drama humano, como se moderno fosse. Mas o termo suicídio – utilizado hoje para referir as mortes voluntárias – já foi tratado sob várias perspectivas, em diversas épocas da história, como pecado, crime, mal, patologia e loucura. Hoje, o suicídio é compreendido, pelos especialistas, como um fenômeno sócio-histórico, e não apenas biológico, psicológico e/ou psiquiátrico. É um assunto de saúde pública, sendo a terceira causa de morte mais comum entre as pessoas de 15 a 44 anos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Sendo um ato intencional de um sujeito para aniquilar sua própria vida, o ato suicida abrange a ideação suicida, a tentativa de suicídio e o suicídio consumado.
Detenho-me aqui ao suicídio como uma das emergências do sofrimento psíquico atual – entendendo o psíquico não apenas como a dimensão psicológica do indivíduo, mas como Edmund Husserl o propugna: o correspondente à subjetividade humana, onde o psicológico, o corporal, o relacional, o valorativo e o espiritual são indissociáveis e se manifestam pela consciência intencional (Husserl, 2001). Entretanto, é importante mencionar que o sofrimento psíquico que pode desencadear este ato não tem, necessariamente, o mesmo significado que transtorno mental, embora a ele também possa estar associado. Conforme Berenchtein Netto (2007), “o sofrimento psíquico é algo da ordem da vivência, algo da ordem da existência, todos nós mais hora ou menos hora, em maior ou em menor intensidade, desenvolvemos sofrimentos psíquicos, o que não é exatamente a mesma coisa no que se refere aos transtornos psiquiátricos”.
Estratégias discursivas sobre o suicídio e o sofrimento psíquico que perpetram uma tentativa de normatização, regulação e disciplinarização dos sujeitos, excluem a dimensão psico-sócio-histórica desses processos e as suas singularidades, concorrendo para uma espécie de “anulação ou desqualificação de sua existência”. Berenchtein Netto ainda alerta que, a fim da defesa da não ocorrência do suicídio, o sujeito paga com a sua “não” existência, através de uma medicalização excessiva e correspondente patologização de questões sociais.
Não se trata aqui de uma oposição absoluta à utilização de medicamentos – esses, quando corretamente administrados, cumprem um papel importante em nossa sociedade. Contudo, é importante alertar que esse uso ideologizante e mistificador do medicamento apenas encobre os sintomas que se manifestam nos indivíduos, sem tocar em suas profundas raízes sociais e existenciais. A via medicamentosa incide sobre as pessoas, individualmente, desconsiderando que se trata também de um problema social.
É urgente que haja uma conscientização de que precisamos lidar também com as causas e determinantes sociais dos suicídios e não apenas silenciar os seus sintomas por meio de uma reificação de doenças e de medicalizações.
O fenômeno do suicídio é complexo, multifacetado, multifatorial e multicausal. Não existe uma única explicação e vários são os fatores associados a ele: psicológicos, sociais, ambientais, familiares, culturais, genéticos, de saúde, de sentidos sobre a vida e até mesmo espirituais.
Na sociedade pós-moderna, diante do mal-estar presente em nosso tempo, carregado de características como a incerteza frente às coisas, a falta de controle de um tempo que passa depressa demais, do consumismo, da sociedade narcisista, da necessidade de que o homem busque saída para o seu sentimento de desamparo, das “relações líquidas” e outras mais, Cassorla (2004) nos diz que o suicídio constitui-se como o máximo da manifestação autodestrutiva do sujeito, que confirma o nosso fracasso na vida pós-moderna, onde não conseguimos aceitar o nosso lugar na sociedade, desistindo literalmente de viver.
Birman (2003) acredita ser o suicídio uma saída possível para o sentimento de desamparo, considerado como o mal-estar típico da pós-modernidade. Este comportamento tem grande impacto e é, sem dúvida, uma solução definitiva para problemas temporários. O que tem se observado é que cada vez mais as pessoas têm buscado no suicídio uma alternativa para dar um fim à sua dor (Fensterseifer & Werlang, 2006).
Assim, em toda e qualquer resposta simplista sobre suicídios, há uma grande possibilidade de erro. Por outro lado, não falar sobre suicídio não diminuiu seus índices, pelo contrário, eles têm aumentado, o que nos leva a uma mudança na mentalidade de que o suicídio precisa ser ocultado. Por si sós, os dados epidemiológicos servem como alerta e fomentam programas de intervenção, porém os índices de suicídio nos convocam a prestar atenção às pessoas ao nosso redor. Junto com programas de prevenção, temos que desenvolver, em nosso meio, também programas de posvenção (termo ainda pouco conhecido no Brasil), que têm como objetivo principal cuidar do sofrimento de pessoas com ideação e tentativa de suicídio e familiares enlutados, oferecendo acolhimento, cuidado e psicoterapia. Essas pessoas necessitam de escuta, apoio, acolhimento e cuidados em longo prazo, não querem saber de números, estatísticas ou porcentagens. Precisam falar de seu sofrimento existencial.
Pessoas afetadas pelo suicídio precisam de particularização, singularidade, respeito pela sua história que tem um início e que ainda não foi finalizada, porém sem tirá-las de seus contextos e historicidade. Pessoas com ideação, tentativa de suicídio e familiares enlutados demandam atendimento de qualidade com profissionais de saúde e da área psicossocial capacitados que possam acolher o sofrimento humano, cujo objetivo principal não deve ser apenas evitar o suicídio a todo custo. A atenção voltada unicamente a impedir o suicídio, por exemplo, pode apenas restringir o sujeito, restringindo sua autonomia e liberdade.
Mas por que culpabilizar as universidades? Ou como as universidades contribuem com este sofrimento? Como espero ter demonstrado, o tema ou o fenômeno não pode – e nem deve – ser atribuído a apenas um ator ou uma causa, pois, se assim o fazemos, estamos ou mistificando ou manipulando ou, pior ainda, minimizando a complexidade do fenômeno e as dores inerentes a esta vivência genuinamente dolorosa e humana. Então, como podemos localizar apenas um culpado pela manifestação de querer deixar de existir? E por que as universidades têm sido elegidas como esses bode-expiatórios potenciais?
Infelizmente, as opções de cuidados contínuos em hospitais, Centros de Atenção Psicossocial e nas Unidades Básicas de Saúde ainda são precárias se considerarmos que o fenômeno tem dimensões e potenciais epidêmicos (podemos afirmar que o suicídio é uma “epidemia silenciosa” que, nos tempos atuais, tem deixado de ser invisível). Não esqueçamos que a responsabilidade primeira e essencial sobre os agravos de nossa saúde (a mental aqui incluída) é do Estado, conforme preceitua o art. 196 da Constituição Federal: “A saúde é um direito de todos e um dever do Estado”.
Cabe aqui destacar o Centro de Valorização da Vida (CVV) que realiza de maneira exemplar o trabalho de atendimento em crise e o acolhimento. Porém, é preciso diferenciar acolhimento em crise, realizado pelo Centro de Valorização da Vida, que é muito importante, por ser, em muitos casos, o primeiro passo para o atendimento de pessoas com ideação ou tentativa de suicídio, de um atendimento especializado como, por exemplo, o atendimento psicoterápico, medicamentoso ou psicossocial. Em muitos casos é necessário o atendimento psicossocial especializado (aqui incluindo a assistência social, a psicoterapia e a terapia medicamentosa, entre outras) para lidar com a difícil tarefa de compreender emoções intensas, a ambivalência entre o desejo de viver e morrer, ampliar a visão estreita que considera a morte como única solução para o sofrimento, em seus contextos e desafios.
É preciso alertar que os sinais que figuram tão claros nas cartilhas, que tanto se tornam profusas neste mês de setembro, não se revelam tão claros na realidade. Assim, além da prevenção do suicídio, precisamos também falar daqueles que buscam consumar o ato suicida, de forma impulsiva ou planejada, e que não morreram e dos familiares que os acompanham, também desesperados, sem saber o que fazer – a quem, na maioria das vezes, a saga midiática sobre o suicídio desrespeita, machuca ou mesmo continua violentando. Observamos poucas referências sobre a questão dos cuidados nos documentos da OMS, nas políticas públicas do Ministério da Saúde e nas cartilhas apresentadas.
Neste particular, espero que neste Setembro Amarelo possamos também enfocar os cuidados a pessoas em situação de sofrimento e dor. No caso da UnB (e de outras universidades), para não sucumbirmos às responsabilizações manipulatórias de pessoas e ações midiáticas (jornais, mídias sociais etc.), que não contribuem para a solução, mas tão somente para uma exposição perversa de todas as colorações, precisamos abrir um debate (com base em estudos, pesquisas, levantamentos, fóruns e socialização de conhecimentos) sobre as nossas relações rigidificadas, verticalizadas, endurecidas, eivadas de assédio moral e sexual, violências verbais e psicológicas (incluindo bullying, trotes violentos, discriminação das diferenças, competitividades, vaidades e excelências, padrões produtivistas, falta de cuidado nas relações e convivências, exclusivismo do império do conhecimento versus a vida que flui etc.), que, não sendo a causa, contribuem para o caldo existencial do sofrimento de muitos.
Para finalizar, sendo propositivo, sugiro à UnB e demais universidades:
  1. Desenvolver estratégias de promoção de qualidade de vida, de educação, de proteção e de recuperação da saúde e prevenção de danos, em todas os ambientes e instituições;
  2. Desenvolver estratégias de informação, de comunicação e sensibilização da sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido;
  3. Organizar linha de cuidados integrais (promoção, prevenção, tratamento e recuperação) em todos os níveis de atenção, garantindo o acesso às diferentes modalidades terapêuticas (papel primordial do Estado de Atenção à Saúde);
  4. Identificar a prevalência dos determinantes e condicionantes do suicídio e tentativas, assim como os fatores protetores e o desenvolvimento de ações intersetoriais de responsabilidade pública, sem excluir a responsabilidade de toda a sociedade;
  5. Fomentar e executar projetos estratégicos fundamentados em estudos de custo-efetividade, eficácia e qualidade, bem como em processos de organização da rede de atenção e intervenções nos casos de tentativas de suicídio;
  6. Contribuir para o desenvolvimento de métodos de coleta e análise de dados, permitindo a qualificação da gestão, a disseminação das informações e dos conhecimentos;
  7. Promover intercâmbio entre os Sistema de Informações do SUS e outros sistemas de informações setoriais afins, implementando e aperfeiçoando permanentemente a produção de dados e garantindo a democratização das informações;
  8. Promover a Educação Permanente dos profissionais de saúde das unidades de atenção básica, inclusive do PSF, dos serviços de Saúde Mental, das unidades de urgência e emergência, de acordo com os princípios da integralidade e humanização.

Por fim, fica o pedido e a provocação: vamos falar de suicídio (e saúde mental) sem mistificações ou manipulações, não só nas universidades, mas na vida, e com cuidado e delicadeza?
 Referências
Berenchtein Netto, N. (2007). Suicídio: uma análise psicossocial a partir do materialismo histórico dialético. Dissertação de mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia social da PUC/SP, São Paulo.
Birman, J. (2003). Mal-estar na atualidade: A psicanálise e as novas formas de subjetivação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Cassorla, R. M. S. (2004). Comportamento suicida. In B. G. Werlang, & N. J. Botega. Suicídio e autodestruição humana. (pp. 21-33). Porto Alegre: Artmed.
Fensterseifer, L., & Werlang, B. S. G. (2006). Comportamentos autodestrutivos, subprodutos da pós-modernidade? Psicol. Argum., outubro/dezembro, Curitiba 24 (47), 35-44.
Husserl, E. (2001). Meditações cartesianas: introdução à fenomenologia. Porto: Rés.
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¹Coordenador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Atendimentos em Saúde Mental e Drogas (NESPAD) do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília

Artigo de UNB, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/09/2018