segunda-feira, 27 de julho de 2020

NECESSIDADE DE TRABALHAR, DESINTERESSE E GRAVIDEZ SÃO OS PRINCIPAIS MOTIVOS PARA ABANDONO ESCOLAR.

Necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez são os principais motivos para abandono escolar


IBGE
Necessidade de trabalhar, desinteresse e gravidez são os principais motivos que levam jovens brasileiros a abandonarem os estudos. Dos quase 50 milhões de jovens de 14 a 29 anos do País, aproximadamente 20,2% não completaram alguma das etapas da educação básica. São 10,1 milhões nessa situação, entre os quais 58,3% homens e 41,7% mulheres. Destes, 71,7% eram pretos ou pardos e 27,3% eram brancos. Esses são alguns dados do segmento Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), que traça um cenário do setor educacional em 2019.
Precisar trabalhar foi o motivo apontado por metade dos homens nessa faixa de idade para terem abandonado os estudos ou nunca frequentado a escola, e a falta de interesse a justificativa de 33,0%. A inexistência de escola, vaga ou turno desejado na localidade foi a razão de 2,7% e apenas 0,7% alegaram afazeres domésticos para ausência à escola. Já entre as mulheres, a falta de interesse ser a principal razão (24,1%) fica bem próxima da necessidade de trabalhar e da gravidez (ambas com 23,8%), seguidas por afazeres domésticos (11,5%).
A necessidade de trabalhar foi a principal razão alegada por jovens de todas as regiões, sendo que no Sul (48,3%) e no Centro-Oeste (43,1%) as taxas são maiores e no Nordeste, menor (34,1%). Já o não interesse em estudar foi o segundo principal motivo informado, sempre acima de 25%, com destaque para o Nordeste, com 31,5%.
“Esses dois principais motivos somados alcançam cerca de 70% desses jovens, independentemente da região, e sugerem a necessidade de medidas que incentivem a permanência dos jovens na escola. A taxa de analfabetismo no país (6,6%) está em queda constante, atingindo quase à universalização do ensino. Mas elevar o nível de escolarização até a conclusão do ensino médio ainda parece ser um desafio”, comenta a analista da pesquisa Adriana Beringuy.
Segundo a pesquisadora, no caso das mulheres, a gravidez como motivo de evasão escolar é também um importante ponto a ser observado pelas políticas públicas. “Com relação a essa temática temos o Sul com um índice bem menor (6,4%), sendo quase a metade da região com o maior índice, que é o Norte (12,7%)”, ressalta.
abandono escolar entre pessoas de 14 a 29 anos
A passagem do ensino fundamental para o médio é crucial em termos de abandono escolar. O percentual de jovens que parou de estudar a partir dos 15 anos é quase o dobro do das faixas etárias anteriores. Até os 13 anos, cerca de 8,5% abandonam os estudos. Aos 14 anos, a taxa é de 8,1%, mas, aos 15 anos, sobe para 14,1% e, aos 16, para 17,7%, chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais.
“É fundamental que se encontre formas de tornar a educação mais atrativa e formas de se possibilitar que o jovem concilie os estudos com o trabalho nas idades mais elevadas, que as políticas públicas compreendam o que se passa com o jovem nessa faixa etária entre 15 e 19 anos para que ele seja compelido a abandonar a escola”, ressalta Beringuy.
O padrão etário se mantém semelhante entre homens e mulheres e entre as pessoas de cor branca e preta ou parda. Em termos regionais, porém, há algumas diferenças. O abandono escolar precoce (até os 13 anos) foi mais acentuado no Norte (9,7%), no Nordeste (9,0%) e no Sudeste (8,7%). Já aos 14 anos, o Sudeste manteve um percentual de abandono semelhante ao da faixa mais nova e o Sul se destacou com 9,9% de saída da escola.
Por outro lado, o marco dos 15 anos, acontece em todas as regiões, sendo bem expressivo no Sul (16,3%), no Sudeste (14,9%) e no Nordeste (13,9%). Entre 16 e 18 anos, Norte e Nordeste exibiram percentuais de abandono entre 14,0% e 16,4%, saltando para, respectivamente, 26,6% e 22,2% aos 19 anos ou mais.
“Essa maior saída tardia da escola deve, provavelmente, estar associada a um esforço desses jovens para recuperar o atraso educacional”, ressalta Marina Fortes Águas, analista do IBGE.
abandono escolar entre pessoas de 14 a 29 anos
Pelos dados de 2019, o atraso ou abandono escolar atinge 12,5% das crianças e adolescentes de 11 a 14 anos e 28,6% dos adolescentes de 15 a 17 anos. Já entre os jovens de 18 a 24 anos, quase 75% estavam atrasados ou abandonaram os estudos, sendo que 11,0% estavam atrasados e 63,5% não frequentavam escola e não tinham concluído o ensino obrigatório.
Ensino integrado com técnico ou magistério tem mais jovens de cor branca
Visto como uma das alternativas para tornar o ensino médio mais atrativo, o ensino técnico ainda chega a poucos. Em 2019, no Brasil, dos 9,3 milhões de estudantes do ensino médio (regular ou da Educação de Jovens e Adultos – EJA), apenas 7,1% frequentavam curso técnico de nível médio ou o curso normal de nível médio para formação de professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. O percentual apenas em cursos técnicos de nível médio (6,6%) foi estatisticamente semelhante ao percentual de 2018 (6,2%).
O percentual de pessoas brancas que frequentavam o ensino médio integrado com habilitação técnica ou curso normal (7,8%) era maior do que o de pessoas pretas ou pardas (6,6%). Com relação ao sexo, não há diferença entre os percentuais.
O que cresceu entre 2018 e 2019 foi a busca por qualificação profissional. Em 2019, dos quase 171 milhões pessoas de 14 anos ou mais, 15,6% (26,7 milhões) já haviam frequentado algum curso de qualificação profissional, 2,5 pontos percentuais a mais que em 2018 (13,1%).
No entanto, a frequência em cursos de qualificação profissional cresce à medida que aumenta o nível de instrução. Entre as pessoas sem instrução ou com até o ensino fundamental completo, 7,4% haviam frequentado tais cursos em algum momento do passado. Entre as pessoas como ensino médio incompleto até o superior incompleto, foi cerca de 20,9% e entre aqueles com o ensino superior completo, o percentual alcançou 25,8%.
Do IBGE, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/07/2020

ÁFRICA DO SUL ULTRAPASSA A CHINA EM NÚMERO DE MORTES PELA COVID-19.

África do Sul ultrapassa a China em número de mortes pela covid-19


Depois de escalar uma grande montanha se descobre que existem
muitas outras montanhas para escalar”
Nelson Mandela (1918-2013)
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] O mundo está chegando ao recorde de 14 milhões de casos e quase 600 mil mortes. No dia 16/07 foram registrados quase 250 mil casos, recorde absoluto. A maioria dos casos e dos óbitos estão concentrados na Europa e nas Américas. Mas nenhum canto do mundo está livre do impacto da pandemia da covid-19.
A África do Sul – com 60 milhões de habitantes – é o país mais desenvolvido da África Subsaariana e é também o país mais atingido pela pandemia do novo coronavírus no continente africano.
Ontem quinta-feira (16/07), a África do Sul ultrapassou 324 mil pessoas infectadas e chegou a 4.669 vidas perdidas, superando as 4.634 mortes da China. Somente no dia 16/07 foram 13 mil casos e 216 mortes, recorde do país e da região. A África do Sul tem cerca da metade dos casos e um terço das mortes do continente africano até aqui.
A África do Sul está em 6º lugar no ranking global de casos e já ultrapassou todos os países da Europa Ocidental (Espanha com 305 mil casos, Reino Unido com 292 mil casos, Itália com 244 mil casos, etc.), tendo ultrapassado também, nos últimos dias, Chile e México. Hoje ou amanhã deve ultrapassar o Peru e ficar em 5º lugar no ranking do número de casos.
Como mostra, o gráfico abaixo, os países com maior número acumulado de infecção da covid-19 são os EUA, Brasil, Índia e Rússia. Portanto, a África do Sul se junta ao grupo dos países mais afetados pelo Sars-CoV-2, com coeficiente de incidência de 5,5 mil casos por milhão de habitantes.
os países com maior número acumulado de infecção da covid-19 são os EUA, Brasil, Índia e Rússia. Portanto, a África do Sul
Mas, em termos de número acumulado de mortes, a África do Sul está em 23º lugar, tendo menos vítimas fatais do que a maioria dos países da Europa Ocidental e também da América Latina, ficando atrás não só do Brasil, México, Peru, Chile, mas também do Equador e da Colômbia. Para se ter uma ideia com o drama brasileiro, as 4,7 mil mortes da África do Sul são bem menores do que as 7,5 mil mortes da cidade do Rio de Janeiro.
Como mostra o gráfico abaixo, a África do Sul acaba de ultrapassar a China e possui uma cura de mortalidade mais vertical, mostrando que o ritmo do número de vítimas fatais está avançando em maior velocidade do que, por exemplo, a Rússia. Os EUA e o Brasil lideram o triste ranking do número de mortes para a covid-19. Entre os países do grupo BRICS, por incrível que seja, a China é o menos afetado pela pandemia.
a África do Sul acaba de ultrapassar a China e possui uma cura de mortalidade mais vertical
A África do Sul já estava passando por muitos problemas econômicos e sociais antes do surgimento da covid-19, mas com a pandemia o país vai ser profundamente afetado, econômica e socialmente, pela emergência sanitária e terá que lidar com uma grande recessão das atividades produtivas e com agravamento das condições de vida.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/07/2020

PROTOCOLO DE NAGOYA - O QUE SIGNIFICA A RATIFICAÇÃO ?

Protocolo de Nagoya – O que significa a ratificação?


Pauta se encontra sob apreciação do Senado, após decreto legislativo ser aprovado na Câmara dos Deputados em 08/7/2020; um acordo internacional na área da diversidade biológica, iniciado em 2010
Por Sucena Shkrada Resk*
O ano era 2010. A 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica estabeleceu, no Japão, o Protocolo de Nagoya, que regulamenta o Acesso a Recursos Genéticos e a Repartição Justa e Equitativa dos Benefícios Advindos de sua Utilização. Mas somente em 12 de outubro de 2014, o documento passou a vigorar de forma ‘vinculante’, após a ratificação nas legislações internas em mais da metade dos países signatários (51), que hoje chegam a 126. O Brasil ficou de fora nesta etapa, apesar do protagonismo na formulação. Só agora, em 2020, retomou o processo, neste hiato temporal.
Resumidamente, este acordo internacional traça os objetivos para o combate à chamada‘biopirataria’; para incentivar a biotecnologia e a bioeconomia; a defesa dos direitos de povos originários e tradicionais quanto aos seus conhecimentos tradicionais associados (CTA) e o respeito à soberania nacional em negociações internacionais.
Tramitação no Congresso Nacional
O processo de ratificação no Brasil se encontra agora sob apreciação no Senado, após a Câmara dos Deputados aprovar a ratificação do Protocolo, por meio do decreto legislativo (PDL 324/2020) , no último dia 8, de forma simbólica e unânime. Ainda deverá passar por sanção presidencial. Apesar de ser uma importante iniciativa, esta agenda carece de maior esclarecimento e de participação da sociedade.
Lei Nacional da Biodiversidade
Para se entender esta conjuntura, vale esclarecer que o Brasil tem uma importância fundamental ao mundo, por sua megadiversidade, e aprovou somente em 2015, a Lei da Biodiversidade (13.123/2015), que, por sua vez, introduziu regras quanto ao patrimônio genético e o conhecimento tradicional antes desta ratificação internacional, que também não contou com a participação dos EUA.
Enquanto havia este descompasso com o processo do Protocolo, a legislação brasileira criou o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético – SISGen e o  Fundo Nacional para a Repartição de Benefícios (FNRB), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, que tem agora como gestor dos recursos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também instituiu um Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, que teve sua 23ª reunião adiada, que estava prevista para maio, sem data a ser retomada, de acordo com informe do MMA. A última ata disponível no site é da 21ª reunião realizada em 4 de dezembro de 2019.
Este conjunto de ações, apesar de importantes, precisa de uma integração mais ampla com os atores de interesse direto, como povos indígenas e tradicionais, pesquisadores, instituições de fomento e setores da economia, entre outros. E acima de tudo, transparência contínua à toda sociedade.
No âmbito da Convenção
Ao fazer estas considerações, é possível retornar ao Protocolo de Nagoya. O atraso de anos quanto à ratificação pelo Brasil, foi em grande parte decorrente da pressão exercida por setores econômicos que avaliavam que seriam prejudicados principalmente em relação ao cultivo de grandes monoculturas . Dessa forma, o que se constatou foi o comprometimento da participação do país nas negociações internacionais, nesta agenda, nas conferências das partes da CDB, criada em 1992 (ratificada em 1998 pelo Brasil), que são realizadas no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso, uma das vantagens de ratificar o protocolo é que o Brasil deverá passar a participar destas reuniões com direito a voto, podendo influenciar nas decisões que ainda precisam ser tomadas para sua implementação.
Mas ao mesmo tempo, o país tem o dever de fazer valer por aqui os objetivos do documento, que têm como premissa, que ‘as partes encorajarão usuários e provedores a direcionar os benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos para a conservação da diversidade biológica e para a utilização sustentável de seus componentes’.
O biólogo Braulio Dias, professor da Universidade de Brasília (UnB), e ex-secretário-executivo da CDB, entre 2012 e 2017, analisou no canal Alive, que esta ratificação tem como um dos aspectos positivos possibilitar clareza jurídica sobre direitos e regras nas relações internacionais em investimento em biotecnologia, mas que o Brasil precisa ter um posicionamento mais assertivo nesta área. Ele defende a abertura de parcerias entre Academia, empresas e governos para que flua gradualmente a ampliação do processo de inovação com iniciativas de valor agregado à biodiversidade e geração de renda. Ao mesmo tempo, cita a necessidade de maior capacitação das instituições financeiras e de fundos para o apoio a esta área e reforça a importância do respeito aos conhecimentos tradicionais associados determinado no documento.
O que é o protocolo de Nagoya?
A importância deste tratado ambiental multilateral é de estabelecer um sistema comercial global para investimento, pesquisa e desenvolvimento na composição genética e bioquímica dos organismos vivos (plantas, animais ou micro-organismos nativos). Vários especialistas definem o documento como uma janela de oportunidade para a expansão da chamada ‘bioeconomia’ baseada no respeito ao direito da soberania nacional, com regras mais claras na relação internacional.
Muitos setores têm relação a este segmento. Entre eles, de alimentos e bebidas, cosméticos, medicina & saúde e agricultura. “O protocolo prevê acordos bilaterais, em que o provedor deve autorizar o parceiro (externo) ao acesso”. No caso do setor agropecuário, no qual havia maior dificuldade para consenso, Dias explica que foi criado um Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura, que está sendo administrado pela FAO, braço da segurança alimentar da ONU, em determinadas espécies de interesse econômico. Nas demais, valem as regras do Protocolo de Nagoya.
Entenda alguns pontos importantes do protocolo:
– Reconhece que os países têm soberania sobre os recursos genéticos existentes em seu território, os quais possuem inquestionável valor, e podem exigir uma participação dos benefícios decorrentes de sua utilização pelos interessados, sejam eles um particular, uma empresa ou mesmo uma entidade governamental;
– Estabelece que os lucros de produção e a venda de produtos elaborados com recursos genéticos serão obrigatoriamente compartilhados com o país de origem. Isso pode acontecer por meio do pagamento de royalties, parcerias, transferência de tecnologias ou capacitação;
– Reconhece expressamente o direito ao recebimento de benefícios para comunidades indígenas e locais detentoras de conhecimentos tradicionais que venham a ser utilizados por usuários. Implica estímulo à criação de protocolos comunitários e do estabelecimento de requisitos mínimos e transparentes para a autorização de acesso a estes conhecimentos;
– Obriga os países signatários a proporcionar segurança jurídica, clareza e transparência em sua legislação ou seus regulamentos nacionais de acesso e repartição de benefícios;
O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista e da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Câmara dos Deputados, explica que esta aprovação pode ser considerada um significativo avanço na pauta, que estava travada. “Foi fruto de um entendimento entre a bancada ambientalista e ruralista no Congresso Nacional. A proposta também tem grande relevância para a garantia de direitos dos povos tradicionais. Depois de longos anos, o Brasil, enfim, poderá participar das negociações e sentar à mesa com as demais nações”, diz.
*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/07/2020

AS PROJEÇÕES DEMOGRÁFICAS E O FUTURO DA POPULAÇÃO MUNDIAL.

As projeções demográficas e o futuro da população mundial

A população mundial precisa ser estabilizada e, idealmente, reduzida gradualmente
Alerta dos cientistas mundiais sobre a emergência climática (05/11/2019)
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A revista The Lancet publicou no dia 14 de julho de 2020 um artigo que apresenta novas projeções para a população mundial e para os diversos países. Os pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, na sigla em inglês) apresentam números para a população humana do Planeta em 2100 que são menores do que o cenário médio apresentado ano passado pela Divisão de População da ONU (que é a referência maior nesta área de projeções demográficas). Para Vollset, et. al. (14/07/2020) o maior nível educacional das mulheres e o maior acesso aos métodos contraceptivos acelerarão a redução das taxas de fecundidade, gerando um crescimento demográfico global mais lento.
Se este cenário acontecer de fato será um motivo de comemoração, pois a redução do ritmo de crescimento demográfico não aconteceria pelo lado da mortalidade, mas sim pelo lado da natalidade e, principalmente, em decorrência do empoderamento das mulheres, da universalização dos direitos sexuais e reprodutivos e do aumento do bem-estar geral dos cidadãos e cidadãs da comunidade internacional.
De modo geral, a imprensa tratou as novas projeções como uma grande novidade dizendo que a população mundial não ultrapassará 10 bilhões de pessoas até o final do século e que, no caso do Brasil a população apresentará uma queda de 50 milhões de pessoas na segunda metade do corrente século.
Na verdade nada disto é novidade, pois a possibilidade de uma população bem abaixo de 10 bilhões já estava presente. Diante das incertezas, normalmente, se elabora cenários para o futuro com amplo leque de variação. A Divisão de População da ONU tem vários números para o montante de habitantes em 2100, que variam entre 7 bilhões e 16 bilhões. O gráfico abaixo, apresentado no Twitter, pelo demógrafo Patrick Gerland, da ONU, faz uma comparação entre os diferentes cenários da ONU, do IIASA e do IHME.
cenários da população mundial em 2100
Ou seja, as projeções do IHME não trazem nada de novo em relação aos cenários mais baixos das projeções da ONU, apenas assumem, que os cenários de maior queda das taxas de fecundidade são as hipóteses mais prováveis. Os autores (Vollset, et. al. 2020) assumem que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU serão efetivos para melhorar a qualidade de vida em geral e que haverá um amplo avanço da educação e da saúde no mundo. Seria ótimo se isto se tornar verdadeiramente uma realidade.
Mas o fato é que os cenários demográficos para 2100 apresentados pela Divisão de População da ONU são mais bem elaborados do que as projeções do IHME. No cenário mais provável da Divisão de População, o número de habitantes ficaria em torno de 9 bilhões em 2100, mas na hipótese baixa seria algo em torno de 7 bilhões de habitantes no final do século.
projeções da população mundial
Do ponto de vista da qualidade de vida humana e ambiental, quanto menos gente houver no mundo melhor. Como disse o respeitado ambientalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos gente e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”.
A questão é que não vai ser fácil colocar em prática os ODS da Agenda 2030 da ONU, pois há uma tendência de estagnação secular na economia e existem muitas forças pronatalistas que atuam junto ao conservadorismo moral e o fundamentalismo religioso no sentido de barrar os direitos sexuais e reprodutivos. O Brasil, do governo Bolsonaro, tem atuado nos fóruns internacionais no sentido de restringir os direitos reprodutivos e os direitos das mulheres.
Por conta disto, 11 mil cientistas divulgaram ano passado o documento “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency” (BioScience, 05/11/2019) onde afirmam: “O crescimento econômico e populacional está entre os mais importantes fatores do aumento das emissões de CO2 em decorrência da combustão de combustíveis fósseis”(RIPPLE, WJ. et. al. 05/11/2019).
Felizmente, o Brasil apresenta um cenário médio de redução da população em 2100. O gráfico abaixo mostra que na hipótese alta (pouco provável) a população brasileira chegaria a 273 milhões em 2100. Na hipótese média (a mais provável) a população chegaria a 181 milhões. E na hipótese baixa (também menos provável) chegaria a 114 milhões.
três cenários de projeções populacionais do Brasil
Em síntese, o cenário de decrescimento da população é positivo. O documento dos cientistas diz: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano, ou mais de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada – e, idealmente, reduzida gradualmente – dentro de uma estrutura que garante a integridade social. Existem políticas comprovadas e eficazes que fortalecem os direitos humanos enquanto diminui as taxas de fecundidade e diminui os impactos do crescimento populacional sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e sobre a perda de biodiversidade. Estas políticas devem tornar os serviços de planejamento familiar disponíveis para todas as pessoas, removendo barreiras ao seu acesso e buscando alcançar equidade total de gênero, inclusive estabelecendo o ensino primário e secundário como uma norma para todas as pessoas, especialmente meninas e mulheres jovens”
Desta forma, as projeções que indicam uma redução da população trazem alguma esperança para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e das demais espécies vivas da Terra. Porém, isto só vai ocorrer, na prática, se houver esforço geral e consciência da necessidade do respeito aos direitos humanos e dos direitos ambientais.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
VOLLSET, S.E. et. al. Fertility, mortality, migration, and population scenarios for 195 countries and territories from 2017 to 2100: a forecasting analysis for the Global Burden of Disease Study, The Lancet, 14/07/2020
RIPPLE, WJ. et. al. World Scientists’ Warning of a Climate Emergency, BioScience, 05/11/2019
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/07/2020

MUDANÇAS CLIMÁTICAS: PESQUISADORES ALERTAM PARA SOBREVIVÊNCIA DE URSOS POLARES ATÉ O FINAL DO SÉCULO.

Mudanças Climáticas: Pesquisadores alertam para a sobrevivência de ursos polares até o final do século


ursos polares
Foto: Pixabay
Prevê-se que a perda de gelo do mar, devido às mudanças climáticas ,ameace a sobrevivência de populações de ursos polares no Ártico até o final do século, mostram novas pesquisas.
Por Rebecca Falconer*
Por que importa: “Os ursos polares são considerados mensageiros dos sintomas da mudança climática, que afetarão toda a vida, inclusive os humanos”, diz Steven Amstrup, cientista chefe da Polar Bears International.
“Os impactos podem ocorrer mais cedo – e, de fato, no Alasca, eles já estão ocorrendo antes do que projetamos”.
– Steven Amstrup, da Polar Bears International
O que há de novo: o novo estudo , em co-autoria de Amstrup e publicado na revista Nature Climate Change, marca a primeira vez que os cientistas foram capazes de prever quando, onde e como os ursos polares provavelmente desaparecerão. Os modelos anteriores não foram avaliaram as diferentes condições de vida no Ártico e os níveis de subpopulações de gelo marinho.
  • O professor da Universidade de Wyoming, Merav Ben-David, que estuda ursos polares com Amstrup há 20 anos, mas não participou deste trabalho, disse que a modelagem seria uma ferramenta essencial para a conservação.
Antecedentes: Os ursos polares dependem do gelo marinho para caçar presas. O gelo está desaparecendo em regiões como o Alasca, que no ano passado viu uma perda de gelo sem precedentes no mar de Bering e uma rápida redução nos mares de Chukchi e Beaufort.
  • Os cientistas reconheceram mudanças significativas no gelo do mar Ártico no final dos anos 90, disse Ben-David. “Desde então, começamos a ver os efeitos das mudanças climáticas nos ursos polares”.
  • As fêmeas podem se reproduzir sem o gelo. Mas, com acesso limitado a alimentos, Ben-David disse que eles não têm nutrientes para alimentar os filhotes e energia para caçar – deixando-os “incapazes de nutri-los e criá-los na idade adulta”.
O que eles fizeram: “Ao estimar quão magros e quão gordos os ursos polares podem ser, e modelar seu uso de energia, conseguimos calcular o número limite de dias que os ursos polares podem jejuar antes que as taxas de sobrevivência de filhotes e / ou adultos comecem a declinar, “disse o autor do estudo Péter Molnár, da Universidade de Toronto Scarborough, em comunicado.
  • O artigo explora o que está reservado para os ursos polares em dois cenários diferentes de emissão de gases de efeito estufa.
  • Em um cenário de emissões moderadas (conhecido como ” caminho representativo da concentração 4.5 “), eles encontraram ursos polares no mar de Laptev, norte da Rússia, e no mar de Beaufort, norte do Alasca, enfrentariam “possível” colapso reprodutivo até 2080. Subpopulações em outros lugares também seria ameaçado.
  • Sob um cenário de crescimento de emissões muito alto ( RCP 8.5 ), as ilhas Queen Elizabeth do Canadá “podem ser o único lugar em que os ursos polares podem continuar a prosperar” até 2080, disse Amstrup.
  • Outras subpopulações enfrentariam algum nível de ameaça de falha reprodutiva – com esse resultado “inevitável” para aqueles no mar de Barents, entre a Rússia e a Noruega, e a baía de Hudson, no sul do Canadá.
Sim, mas: alguns pesquisadores acreditam que o cenário é improvável porque o custo das tecnologias de baixo carbono está caindo e o uso global de carvão também.
  • Amstrup disse que é importante considerar, pois alguns líderes ainda estão pressionando pelo uso de combustíveis fósseis e “ainda temos que ver muita mudança na taxa de aumento das concentrações de CO2”.
O que prestar atenção: Movimentos como os 2019 e greves climáticas têm motivados governos para agirem, com vários países europeus prometendo grandes cortes e emissões e iniciativas verdes , diz o cientista climático Robert McLachlan, do New Zealand Centre for Planetary Ecology .
  • Isso poderia ajudar a mitigar a ameaça às populações de ursos polares.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/07/2020