quarta-feira, 16 de setembro de 2020

ANTROPOCENO : PRINCIPAIS CONCEITOS.

Antropoceno: principais conceitos

vertigo
Vertigo, lithograph by French artist Antonin Malchiodi, 2018.
Com o objetivo de entender os debates em curso sobre o Antropoceno, não basta apenas conhecer a palavra, criada pelo biólogo norte-americano Eugene F. Stoermer, em 1980, e popularizada pelo cientista atmosférico holandês Paul Crutzen no início dos anos 2000. Apresentamos aqui uma visão geral de alguns termos técnicos fundamentais.
Biocapacidade (capacidade biológica)
Este conceito foi inicialmente apresentado no início da década de 1990 pelo defensor da sustentabilidade, o suíço  Mathis Wackernagel(link is external), e pelo ecologista canadense William Rees(link is external). Sua pesquisa sobre a capacidade biológica do planeta, necessária para determinada atividade humana, levou ambos a definir dois indicadores: a biocapacidade e a pegada ecológica (ver abaixo). Desde 2003, esses dois indicadores são calculados e desenvolvidos pela Global Footprint Network(link is external), que define biocapacidade como “a capacidade dos ecossistemas de produzir materiais biológicos utilizados pelas pessoas e de absorver os resíduos gerados pelos seres humanos, nos atuais regimes de gestão e com as atuais tecnologias de extração”.
Capitaloceno
Esse termo foi apresentado pelo historiador ambiental e geógrafo histórico, o norte-americano Jason W. Moore(link is external), que preferia usar o termo Capitaloceno em vez de Antropoceno. Segundo ele, foi o capitalismo que criou a crise ecológica global que está nos levando a uma mudança de era geológica. Uma variante do Capitaloceno, a noção de Ocidentaloceno, declarada particularmente pelo historiador francês Christophe Bonneuil, afirma que a responsabilidade pela mudança climática recai sobre as nações ocidentais industrializadas, não sobre os países mais pobres.
Coevolução dos genes e da cultura
Segundo o sociobiologista norte-americano Edward O. Wilson(link is external), os genes tornaram possível o surgimento da mente e da cultura humanas (linguagem, parentesco, religião etc.) e, no sentido inverso, os traços culturais podem favorecer a evolução genética em contrapartida. Isso ocorre por meio da estabilização de determinados genes, que conferem uma vantagem seletiva aos membros do grupo em que o comportamento cultural é observado. Vários antropólogos e biólogos criticaram essa ideia de “coevolução” entre genes e cultura, argumentando que a transmissão de traços culturais é um fenômeno volátil que não obedece às leis da evolução darwiniana. Esses estudiosos também argumentam que, nos últimos 50 mil anos, a humanidade passou por transformações culturais significativas, enquanto o banco genético humano permaneceu inalterado – com apenas algumas exceções.
Pegada ecológica
De acordo com a Global Footprint Network(link is external), esta expressão é “uma medida de quanta área de terra biologicamente produtiva e quanta água um indivíduo, uma população ou uma atividade requer para produzir todos os recursos que consome e para absorver os resíduos que gera, utilizando a tecnologia e as práticas de gestão de recursos predominantes”.
Época geológica
A escala de tempo geológico é caracterizada por diferentes tipos de unidades, éons (períodos de tempo indefinidos, divididos em muitas eras), eras, períodos, épocas e idades (que dividem as épocas em partes menores). Para ser reconhecida como tal, cada subdivisão deve ter condições paleoambientais (características climáticas), paleontológicas (tipos de fósseis) e sedimentológicas (resultantes da erosão por seres vivos, solos, rochas, aluvião etc.), que sejam similares e homogêneas.. A Comissão Internacional sobre Estratigrafia (International Commission of Stratigraphy(link is external)) e a União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences – IUGS(link is external)) estabelecem os padrões globais para as escalas de tempo geológico. Atualmente, nós vivemos na época do Holoceno, que é associada à sedentarização humana e à agricultura. Se todas as condições acima forem atendidas, o Antropoceno poderá, em breve, ser definido como uma nova época geológica.
A grande aceleração
Os cientistas concordam que, desde a década de 1950, os ecossistemas foram modificados de forma mais rápida e profunda do que jamais ocorreu – sob os efeitos combinados do aumento sem precedentes do consumo em massa – em países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD(link is external)), –, do expressivo aumento populacional, do crescimento econômico e da urbanização. O químico norte-americano Will Steffen denominou esse fenômeno de “a grande aceleração”.
A grande divergência
A expressão “grande divergência”, criada pelo historiador norte-americano Kenneth Pomeranz, designa a expansão industrial que separou a Europa da China desde o século XIX. Segundo Pomeranz, a distribuição geográfica desigual de recursos carboníferos e a conquista do Novo Mundo deram o impulso determinante para a economia europeia.
Planeta (como unidade de medida)
A pegada ecológica tem um “equivalente planetário”, ou o número de planetas necessários para sustentar as necessidades da humanidade em determinado momento. Com o objetivo de determinar a pegada ecológica de um país, medimos o número de planetas que seriam necessários pela população mundial se ela consumisse tanto quanto a população daquele país. De acordo com o World Wildlife Fund (WWF), “todos os anos, a humanidade consome o equivalente a 1,7 planeta para atender a suas necessidades”.
Sexta extinção
A “grande extinção” é a expressão dada a um breve evento em tempo geológico (vários milhões de anos) durante o qual pelo menos 75% das espécies de plantas e animais desaparecem da superfície terrestre e dos oceanos. Das cinco grandes extinções já registradas, a mais conhecida é a do Cretáceo-Terciário, há 66 milhões de anos, que incluiu a extinção dos dinossauros. O biólogo norte-americano Paul Ehrlich sugeriu que entramos agora na sexta grande extinção – embora, por enquanto, sua destruição em termos de números de espécies seja consideravelmente menor do que das outras cinco: 40% dos mamíferos do planeta terão visto a extensão de seus habitats serem reduzidos em 80% entre 1900 e 2015.
Esferas
Para o mineralogista e geólogo russo Vladimir Vernadsky, que em 1926 desenvolveu o conceito de biosfera, o Planeta Terra é constituído pelo entrelaçamento de cinco esferas distintas – a litosfera, camada externa de rocha rígida; a biosfera, constituída por todos os seres vivos; a atmosfera, o invólucro de gases conhecido como ar; a tecnosfera, que resulta das atividades humanas; e a noosfera, a parte da biosfera ocupada pelo pensamento humano, incluindo todos os pensamentos e ideias. Desde então, outros autores adicionaram a essa lista as noções de hidrosfera (toda a água presente no planeta) e a criosfera (gelo).
Tecnodiversidade
O termo biodiversidade se refere à diversidade de ecossistemas, espécies e genes, e a interação desses três níveis, em determinado ambiente. Por analogia, a tecnodiversidade se refere à diversidade de objetos tecnológicos e de materiais utilizados para fazê-los.
Tecnofósseis
Fósseis são os vestígios mineralizados de indivíduos que viveram no passado. Por analogia, os tecnofósseis são os vestígios de objetos tecnológicos.
Tecnosfera
A tecnosfera se refere à parte física do ambiente que é modificada pelas atividades humanas. É um sistema globalmente interligado, que abrange: seres humanos, animais domesticados, terras agrícolas, máquinas, cidades, fábricas, estradas e redes, aeroportos etc.

Ilustração:

Fonte: UNESCO

Nota da redação: Em relação ao tema “Antropoceno” sugerimos que leia, também:

Antropoceno: Emergência E Advertência Global

O Apartheid Ambiental É A Norma No Antropoceno

A Utopia Na Era Do Antropoceno

A Pandemia Da Covid-19: Entre Gaia E O Antropoceno

O Ano De 2020 Está A Caminho De Ser O Mais Quente Do Antropoceno

Antropoceno: A Era Do Colapso Ambiental

Frangos De Corte Modernos São Uma Característica Definidora Do Antropoceno

Ecocídio No Antropoceno: 60% Dos Animais Silvestres Foram Extintos Em 44 Anos

Água E Resíduos Sólidos: Ambiente, Saúde E Bem-Estar Humano No Contexto Do Antropoceno

O Antropoceno É Um Alerta Sobre As Ações Humanas No Planeta

O Implacável Antropoceno X A Resiliência Ecossistêmica

Brasil No Antropoceno: Desenvolvimento Predatório E Políticas Ambientais


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/07/2020

EVENTOS CLIMÁTICOS EXTREMOS E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.

efeitos do aquecimento global no mundo
Bulletin of the American Meteorological Society (BAMS) apresenta avaliações de como as mudanças climáticas causadas pelo homem podem ter afetado a força e a probabilidade de eventos climáticos extremos individuais.
Da Redação EcoDebate
As secas das planícies do norte dos EUA e da África Oriental de 2017, as inundações na América do Sul, China e Bangladesh e as ondas de calor na China e no Mediterrâneo foram mais prováveis pelas mudanças climáticas causadas pelo homem, segundo uma nova pesquisa publicada no Boletim da Sociedade Meteorológica Americana (BAMS) .
A sétima edição do relatório, Explaining Extreme Events in 2017 from Climate Perspective , também incluiu análises de eventos de calor oceânico, incluindo intensas ondas de calor no Mar da Tasmânia, fora da Austrália em 2017 e 2018, que eram “virtualmente impossíveis” sem causas humanas, das mudanças climáticas. Também estão incluídas análises de incêndios australianos e inundações no Uruguai.
Este é o segundo ano em que os cientistas identificaram eventos climáticos extremos que, segundo eles, não poderiam ter acontecido sem o aquecimento do clima por meio de mudanças climáticas induzidas pelo homem.
https://www.ametsoc.org/ams/assets/Image/publications/explaining_extremes/EEE_2017_cover.jpg
        1. Download por Capítulo:

Nota da Redação: Sobre o tema “Eventos Climáticos Extremos” sugerimos que leia, também:

  1. Eventos Climáticos Extremos – Calor Prolongado Na Sibéria Seria ‘Quase Impossível Sem Mudanças Climáticas’

  2. Eventos Climáticos Extremos – Como As Mudanças Climáticas Podem Impactar Tempestades Nos Oceanos Tropicais

  3. Influência Do Aquecimento Global Em Eventos Climáticos Extremos Tem Sido Frequentemente Subestimada

  4. A Estreita Relação Entre Mudanças Climáticas E O Aumento De Eventos Climáticos Extremos

  5. Dados De Estações Meteorológicas Comprovam Aumento De Eventos Climáticos Extremos Em São Paulo

  6. Comunidades Reagem E Discutem Sobre Mudanças Climáticas Após Eventos Climáticos Extremos

  7. Entre 168 Países, O Brasil É O 79º País Mais Impactado Por Eventos Climáticos Extremos

  8. Novos Dados Confirmam Aumento Da Frequência De Eventos Climáticos Extremos

  9. Estudo Indica Que Eventos Climáticos Extremos Serão Maiores Se Os Objetivos Do Acordo De Paris Não Forem Atingidos

  10. Entenda A Relação De Eventos Climáticos Extremos E O Aquecimento Global

  11. Gases Estufa E Aerossóis Na Atmosfera Influenciam Eventos Climáticos Extremos, Dizem Cientistas

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/07/2020