segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

DESASTRES AMBIENTAIS CADA VEZ MAIS FREQUENTES E CAROS.

Desastres ambientais cada vez mais frequentes e caros, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O contínuo crescimento da população e da economia fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica ultrapassou a Biocapacidade do Planeta, gerando um déficit ambiental crescente

“O que estava em jogo no velho conflito industrial do trabalho contra o capital eram positividades: lucros, prosperidade, bens de consumo. No novo conflito ecológico, o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças” (Ulrich Beck, Sociedade de Risco, 2010, p.3)

A humanidade tem aumentado o seu padrão de consumo nos últimos 200 anos e apresentado grandes melhorias na redução das taxas de mortalidade infantil, aumento da esperança de vida, elevação das taxas de escolaridade, avanços no padrão de moradias, etc. Contudo, o enriquecimento humano ocorreu às custas do empobrecimento ambiental. Este caminho é insustentável, pois sem uma ecologia saudável não pode haver economia sadia e próspera, já que a humanosfera é um subsistema da ecosfera.

Como mostrou Ulrich Beck, no livro Sociedade de Riscos, as primeiras fases do capitalismo foram marcadas por uma disputa pelo excedente da produção econômica entre o capital e o trabalho, o primeiro buscando aumentar os lucros e o segundo buscando aumentar os salários. Havia um conflito distributivo, mas o ambiente era de prosperidade global.

Porém, o contínuo crescimento da população e da economia fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica ultrapassou a Biocapacidade do Planeta, gerando um déficit ambiental crescente. Para enriquecer as sociedades o modelo hegemônico de produção e consumo extrai grande quantidade de recursos naturais, processa estes recursos com a utilização da energia proveniente dos combustíveis fósseis e descarta o lixo e os resíduos no meio ambiente e emite enormes montantes de gases de efeito estufa na atmosfera. Desta forma, a realidade mudou, os danos ambientais passam a se sobrepor sobre a distribuição de ganhos, com o mundo entrando na Era dos riscos onde: “o que está em jogo são negatividades: perdas, devastação, ameaças” (Beck, 2010).

Assim o mundo caminha para o “desenvolvimento deseconômico”, época em que os custos da produção econômica começam a superar os benefícios gerados pela produção de bens e serviços, como mostrou o economista ecológico Herman Daly. Por conseguinte, os desastres naturais assumem proporções catastróficas e a pandemia da covid-19 é apenas um aspecto da questão.

Como mostrei no artigo “Aumenta o custo humano dos desastres ambientais e climáticos” (Alves, 20/11/2020), o relatório “The human cost of disasters: an overview of the last 20 years (2000-2019)” da UNDRR (United Nations Office for Disaster Risk Reduction) publicado no dia 13/10/2020 para marcar o Dia Internacional para Redução do Risco de Desastres, confirmou que os eventos climáticos extremos passaram a dominar a paisagem de desastres no século 21.

No período de 2000 a 2019, ocorreram 7.348 grandes eventos de desastres registrados, ceifando 1,23 milhão de vidas, afetando 4,2 bilhões de pessoas (muitos em mais de uma ocasião), resultando em aproximadamente US$ 2,97 trilhões em perdas econômicas globais. Este é um aumento acentuado em relação aos vinte anos anteriores. Entre 1980 e 1999, 4.212 desastres foram associados a desastres naturais em todo o mundo, ceifando aproximadamente 1,19 milhão de vidas e afetando 3,25 bilhões de pessoas, resultando em aproximadamente US $ 1,63 trilhão em perdas econômicas.

Agora em outubro de 2021, o site Climate Central, Usando dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos EUA, identificou um aumento acentuado na frequência de desastres climáticos e meteorológicos de eventos com custos acima de bilhões de dólares nos EUA desde 1980. O tempo médio entre desastres de bilhões de dólares – tempo para ajudar as comunidades em todo o país a se recuperar – caiu de 82 dias na década de 1980 para apenas 18 dias em média nos últimos cinco anos (2016-2020), conforme mostra o gráfico abaixo.

desastres climáticos estão mais frequentes

 

O número de desastres climáticos e meteorológicos de bilhões de dólares (incluindo ciclones tropicais, incêndios florestais, ondas de calor, secas, inundações e tempestades severas) que atingem os EUA a cada ano tem aumentado – de uma média de 3 eventos por ano nos anos 1980 a 12 eventos por ano na década de 2010. No ano passado, houve um recorde de desastres climáticos e ambientais de 22 bilhões de dólares nos EUA, custando US$ 99 bilhões em danos (em termos reais), de acordo com a NOAA. Só nos últimos cinco anos representam quase um terço (31,8%) dos US$ 1,98 trilhão em custos totais de desastres de bilhões de dólares em todo o país desde 1980.

Esses números assustadores refletem principalmente os impactos diretos sobre os ativos (incluindo danos a casas, plantações e infraestrutura crítica) e, portanto, não refletem o número total de desastres – incluindo saúde e bem-estar humanos, deslocamento, abastecimento de alimentos e água, bem como perda de patrimônio cultural, biodiversidade e habitats. Nem esses números transmitem os impactos desproporcionais dos desastres sobre as pessoas que vivem na pobreza ou a necessidade de alocação equitativa da assistência federal a desastres de acordo com a vulnerabilidade social.

Tudo isto vai se agravar com o aquecimento global. A concentração de CO2 na atmosfera variava em níveis abaixo de 280 partes por milhão (ppm) durante todo o Holoceno (últimos 12 mil anos). A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a 418,3 ppm em 01/06/2020.

As emissões globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. Segundo o Acordo de Paris, aprovado em 2015 na ONU, existe a necessidade de reduzir imediatamente as emissões globais e chegar à emissão zero até 2050, para manter o aquecimento global abaixo de 1,5º C.

Os últimos 8 anos (2014-21) foram os mais quentes já registrados e a década 2011-20 é a mais quente da série histórica, conforme mostra o gráfico abaixo. A atmosfera do Planeta está ficando mais quente e isto tem um impacto devastador em diversos aspectos, pois, além do degelo, amplas áreas da Terra estão ficando inóspitas ou inabitáveis.

variação anual e decenal da temperatura da série histórica global

 

Um estudo publicado na revista Scientific Reports (12/11/2020), alerta para o fato de que, hipoteticamente falando, poderíamos “já estar além de um ponto sem volta para o aquecimento global”. Usando um modelo matemático simples, os autores simulam o que aconteceria em um mundo hipotético onde as emissões de gases de efeito estufa fossem interrompidas em 2020. Eles consideram que, nas simulações, o mundo continua a aquecer por centenas de anos como resultado de ciclos de feedback positivo como o degelo do permafrost.

Estes resultados devem servir de alerta para a COP26, no sentido de acelerar a descarbonização da economia e reduzir o desmatamento global. É cada vez maior o número de pessoas que percebem a insustentabilidade do modelo de produção e consumo do mundo. Por conta disto, cresce a percentagem de pessoas (especialmente jovens) com ansiedade climática e ambiental. A chamada “eco-ansiedade” é uma doença que ameaça a saúde mental no século XXI.

Como disse Greta Thunberg em atividade preparatória para a COP26, inconformada com a inatividade da governança global: “Isso é tudo o que ouvimos por parte dos nossos líderes: palavras. Palavras que soam bem, mas que não provocaram ação alguma. Nossas esperanças e sonhos se afogam em suas palavras de promessas vazias. Não existe um planeta B, não existe um planeta blá-blá-blá, economia verde blá-blá-blá, neutralidade do carbono para 2050 blá-blá-blá”. Ela completou: “30 anos de blá-blá-blá dos líderes mundiais e sua traição com as gerações atuais e futuras”. Ou o mundo muda, ou os desastres climáticos e ambientais vão deixar a Terra cada vez mais inóspita e inabitável.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Aumenta o custo humano dos desastres ambientais e climáticos, Ecodebate, 20/11/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/11/20/aumenta-o-custo-humano-dos-desastres-ambientais-e-climaticos/

BECK, Ulrich. Sociedade de Risco. Rumo a uma Outra Modernidade. São Paulo: Editora 34, 2010.

Climate Central. Disaster Fatigue, 06/10/2021
https://medialibrary.climatecentral.org/resources/disaster-fatigue

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/10/2021

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA REDUZ EM DOIS ANOS EXPECTATIVA DE VIDA EM TODO MUNDO.

Poluição atmosférica reduz em dois anos expectativa de vida em todo o mundo

poluição do ar em são paulo

São Paulo supera em quase 3 vezes recomendação da OMS para material particulado no ar

ClimaInfo

Um relatório mostra que a poluição do ar por material particulado reduz em dois anos a expectativa média de vida das pessoas em todo o mundo.

O Air Quality Life Index (AQLI) destaca ainda que a poluição particulada era o maior risco para a saúde humana antes da COVID-19 — e deve voltar a ser se não houver políticas públicas voltadas a uma redução permanente após a pandemia.

“Embora a ameaça do coronavírus seja grave e mereça toda a atenção que está recebendo — talvez mais em alguns lugares –, enfrentar a gravidade da poluição do ar com um vigor semelhante permitiria que bilhões de pessoas em todo o mundo levassem vidas mais longas e saudáveis”, diz Michael Greenstone, professor de economia do Milton Friedman Distinguished Service e criador do AQLI junto com colegas do Energy Policy Institute da Universidade de Chicago (EPIC). “A realidade é que não há vacina que alivie a poluição do ar. A solução está numa política pública robusta”.

O documento afirma que se todos os países mantiverem a poluição particulada dentro dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde, que é de 10 μg/m3, a expectativa de vida atual subiria de 72 anos para 74. Em média, os seres humanos estão expostos a uma concentração de 29 μg/m3 desse tipo de contaminação.

Trabalhando dentro do corpo humano sem ser percebida, a poluição particulada tem um impacto mais devastador na expectativa de vida do que doenças transmissíveis como tuberculose e HIV/AIDS, assassinos comportamentais como o fumo e até mesmo a guerra. O tabagismo leva a uma redução na expectativa média de vida global de cerca de 1,8 ano. O uso de álcool e drogas reduz a expectativa de vida em 11 meses. A falta de água potável e de saneamento subtraem 7 meses. Na média, HIV/AIDS reduz a vida em 4 meses, e a malária em 3 meses. Conflitos e terrorismo cortam 18 dias de vida.

Poluição em São Paulo

Mariana Veras, coordenadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Hospital das Clínicas, teve acesso ao relatório e explica que os números referentes ao Brasil estão longe de refletir a realidade nos grandes centros urbanos do país, muitos deles sem monitoramento adequado de poluentes. “No estado de São Paulo, a questão do monitoramento é um pouco melhor, já que contamos com uma rede ampla da CETESB”, destaca a pesquisadora. “Dados dos últimos relatórios da qualidade do ar mostram que a média da concentração de PM2.5 está em torno de 28 ug/m³”. O dado citado por Veras é quase o triplo do recomendado pela OMS.

A pesquisadora explica que a poluição é uma ameaça mais grave a idosos e criança, e que moradores da periferia, que gastam mais tempo no trânsito, são mais impactados. “Os níveis atuais de poluição em São Paulo reduzem a expectativa de vida em cerca de um ano e meio, principalmente devido a câncer de pulmão e de vias aéreas superiores, infarto agudo do miocárdio e arritmias, bronquite crônica e asma”, afirma. Na capital paulista, Veras diz que a estimativa é que morre-se por poluição mais do que por acidentes de trânsito (1.556 no ano), 3 vezes e meia do que Câncer de mama (1.277), quase 6 vezes por AIDS (874) ou Câncer de Próstata (828).

A bióloga afirma que as políticas públicas brasileiras carecem de aplicação efetiva, e cita o PROCONVE e a Política Municipal da Mudança do Clima de São Paulo. “Nós fizemos um estudo na época do adiamento de uma das fases do PROCONVE. Os resultados mostraram que o adiamento por 3 anos da implementação em relação ao diesel provoca um excesso estimado de 13.984 mortes até 2040 e as despesas previstas com saúde aumentam em quase US $ 11,5 bilhões no mesmo período”.

Reduções na China

75% de toda a redução mundial da poluição atmosférica foi feita na China. Desde que o país começou a chamada “guerra contra a poluição”, em 2013, o país reduziu a poluição em quase 40% em 5 anos, adicionando cerca de 2 anos à expectativa média de vida da população. Para se ter uma ideia da magnitude dessas medidas, foram necessárias várias décadas de redução da poluição — e até de recessões econômicas — para que os Estados Unidos e a Europa conseguissem o mesmo alívio que a China conquistou em 5 anos, sem interromper o crescimento de sua economia.

A redução da poluição atmosférica em alguns países foi anulada globalmente pelo agravamento das condições em outras regiões. A situação mais alarmante é a do Sul da Ásia, que registou um aumento de 44% na poluição, reduzindo a expectativa de vida em 5 anos em média em Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão. Cerca de um quarto da população mundial vive nestes quatro países, mas eles representam 60% dos anos de vida perdidos devido à poluição.

Bangladesh é o país mais poluído do mundo, mas uma região específica da Índia — Uttar Pradesh, com quase 250 milhões de habitantes — está expondo a população a um nível de contaminação que não é comparável a nenhum outro lugar do planeta e pode custar até 8 anos de vida de seus moradores.

Sobre o Índice de Qualidade de Vida do Ar (AQLI)

O AQLI é um índice de poluição que traduz a poluição atmosférica particulada na métrica mais importante que existe: seu impacto na expectativa de vida. Esse parâmetro foi desenvolvido por Michael Greenstone, professor de Economia do Milton Friedman Distinguished Service e criador do AQLI junto com colegas do Energy Policy Institute da Universidade de Chicago (EPIC).

O AQLI é embasado em pesquisas que quantificam a relação causal entre a exposição humana de longo prazo à poluição do ar e a expectativa de vida. O índice então combina medições de partículas hiperlocalizadas e globais, produzindo uma percepção sem precedentes do verdadeiro custo da poluição por partículas em comunidades ao redor do mundo. O Índice também ilustra como as políticas de poluição do ar podem aumentar a expectativa de vida quando cumprem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde para o que é considerado um nível seguro de exposição, padrões nacionais de qualidade do ar existentes ou níveis de qualidade do ar definidos pelo usuário. Estas informações podem ajudar a informar as comunidades locais e os formuladores de políticas sobre a importância das políticas de poluição do ar em termos concretos.

Do ClimaInfo, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/07/2020

ENERGIA NUCLEAR É ENERGIA LIMPA ?

 

resíduos nucleares

Energia nuclear é energia limpa? artigo de Heitor Scalambrini Costa

Uma das maiores mentiras propagandeadas pelos defensores da energia nuclear é chamá-la de limpa. Talvez acreditam que será mais facilmente aceita, digerida, absorvida pela sociedade brasileira a construção de usinas nucleares.

Até o reino mineral sabe que não existe fonte de energia que não cause problemas sociais, impactos ao meio ambiente, produzam resíduos e contaminações; e assim não poderiam ser chamadas de limpas. Afinal não existe energia limpa, e sim sujas e menos sujas.

As fontes de energia sujas são conhecidas, as fontes não renováveis, como o petróleo e seus derivados, o carvão mineral, e o gás natural; os vilões das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa). Também nesta classificação, é considerada a energia produzida pelos minerais radioativos.

E as fontes menos sujas, são as fontes renováveis provenientes do Sol, do vento, da água, da biomasssa, … Dependendo de como é produzida a energia elétrica, a partir das fontes renováveis, se tornam menos ou mais sujas. A produção centralizada, em grandes usinas, parques, centrais, são as mais sujas. Enquanto a produção descentralizada de energia nos telhados, ocupando pequenas áreas são as menos sujas. Esta nomenclatura corresponde ao que realmente acontece em campo ao analisar a geração centralizada e a geração descentralizada. No caso da geração centralizada, as boas práticas socioambientais foram abandonadas pelas empresas que se dedicam ao negócio do vento e do Sol.

Os defensores de usinas nucleares insistem em chamar esta fonte de energia elétrica, de limpa. Pura esperteza, má fé, “fake news”. Tentam confundir, influenciar, e assim formar opinião com base em premissas falsas. Enganam os incautos, pois mundialmente, e no país, a fonte nuclear desperta na população temor, repulsa, medo, perigo. Chamando-a de limpa querem tornar mais palatável esta fonte de energia perigosa, cara e suja.

É preciso saber que existem várias fases e processos industriais envolvidos, que transformam o minério de urânio no combustível que vai gerar energia térmica (reações nucleares) e sua conversão em eletricidade nos reatores nucleares. Para se obter o combustível usado nas usinas, denomina-se de ciclo do combustível nuclear os vários processos industriais envolvidos, desde a mineração e beneficiamento do minério radioativo, a conversão em gás, o enriquecimento isotópico, a reconversão de gás para material sólido, a fabricação das pastilhas e do combustível, e a geração na usina nuclear. Rejeitos de alto grau de radioatividade são produzidos nos reatores nucleares e devem ser tratados e armazenados.

Um dos maiores problemas causados pelo volume descartado, popularmente chamado de “lixo nuclear”, merece uma discussão a parte, sobre o que fazer com este “lixo”, como armazená-lo com segurança, pois a radioatividade, e o perigo que ela representa para as pessoas e meio ambiente, pode perdurar por milhares de anos. E a pergunta que não quer calar é sobre a questão ética de legar para as gerações futuras, mais este grandioso problema.

Também pouco é discutido com a sociedade, o que fazer com as usinas depois de findarem suas vidas úteis de funcionamento. O processo de descomissionamento é caro e longo. Alguns estudos mostram que o custo envolvido nesta etapa pode ser próximo do valor gasto na instalação da própria usina. E quem finalmente pagará será o consumidor.

Além das questões postas sobre os inúmeros motivos para ser contra a instalação de usinas nucleares, sem dúvida a falta de transparência do setor nuclear é sua marca indelével. Está no DNA do setor o desrespeito completo para com a sociedade, sobre as explicações, ações, motivações e justificativas das decisões tomadas. Sem dúvida interesses militares contribuem para que informações não cheguem à população, sejam dificultadas e mesmo omitidas. O debate democrático é necessário sobre o futuro das usinas nucleares no país. Se é que haja futuro para esta fonte de energia.

Diferentemente do que afirmam os nucleopatas, o Brasil não precisa da energia nuclear para garantir sua segurança energética. O atendimento do consumo de energia elétrica pode ser ofertado apenas com fontes renováveis de energia sem recorrer a usinas nucleares de potência. Inúmeros estudos apontam para a exuberância e o enorme potencial dos recursos solares, eólicos, e da biomassa existentes nas várias regiões do país. Além de uma extensa costa marítima que permitiria o uso das marés, das ondas, das correntes marítimas como fonte de energia em futuro próximo.

Outra afirmação que ofende a inteligência alheia diante da realidade é que esta fonte energética esteja crescendo no mundo, com grande aceitação entre os países. Mentira deslavada.

Na reunião do Clima em Glasgow-COP26 pouco se falou na alternativa nuclear para o enfrentamento da emergência climática. A exceção foi a presença dos grupos de pressão, que se beneficiam economicamente desta insana escolha, dos lobistas, das grandes corporações interessadas em fazer negócios.

Todavia, merece destaque a declaração conjunta assinada pela Alemanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca, nesta reunião, defendendo que não devem ser disponibilizados recursos financeiros da Comunidade Europeia para financiar novas usinas nucleares. Os italianos já haviam em 2011, através de referendo popular, por larga margem (94% dos votantes), serem favoráveis ao banimento das centrais nucleares de seu território. As quatro que existiam foram fechadas. Na Alemanha foi decisão do governo, de que em dezembro de 2021, metade dos reatores nucleares ainda em operação sejam desativados. A outra metade deverá sair de operação no próximo ano, e assim de vez abolir a energia nuclear de seu território.

Em outros países existem fortes resistências ao uso da energia nuclear para geração elétrica. Mesmo naqueles poucos países que têm aumentando a participação do nuclear em suas matrizes elétricas, existem fortes embates entre as posições pró e contra, e questionamentos sobre o uso destas “chaleiras atômicas”.

Não se pode aceitar que decisões de pequeno grupo, sobre questões essenciais, tão relevantes para a sociedade, sejam acatadas simplesmente, em detrimento da opinião do povo brasileiro que não gosta da ideia de ter usinas nucleares no país. A reivindicação é de que a sociedade brasileira seja ouvida com relação a instalação de usinas nucleares. Ainda mais sendo uma escolha que compromete não só as gerações atuais, como também as futuras, a uma fonte energética polêmica, para falar o mínimo, e desnecessária.

A energia nuclear não é a fonte prioritária para ser apoiada e disseminada, e compor um mix com outras fontes para diversificar a matriz elétrica, como recentemente declarou o almirante-ministro de Minas e Energia. Posição equivocada, contrária aos interesses públicos e da natureza. Sem lastro em análises técnicas, econômicas, ambientais; a decisão de priorizar a fonte nuclear na matriz elétrica é um erro que está sendo cometido açodadamente, sem que verdadeiramente haja um debate nacional sobre o papel desta fonte de energia insustentável no cenário elétrico brasileiro. Existe em todo território brasileiro disponibilidade de fontes energéticas mais econômicas, mais seguras, menos sujas.

A boiada no setor nuclear deve ser contida.

Heitor Scalambrini Costa
Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco
Membro da Articulação Antinuclear Brasileira

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2021

O QUE FAZER AO TER O CELULAR ROUBADO.

 celular

Foto: EBC/ABr

O que fazer ao ter o celular roubado

Além de fazer boletim de ocorrência e bloquear o aparelho após o incidente, há uma série de medidas que podem ser adotadas de forma preventiva

Por Patricia Cançado e Naiana Oscar

Roubos de celulares estão cada vez mais comuns. Além do valor de revenda dos aparelhos, criminosos se aproveitam das informações armazenadas nos smartphones para aplicar golpes financeiros.

“Não precisamos esperar o pior acontecer para começar a pensar na segurança dos dados que estão em nossos aparelhos. Há alguns cuidados simples que podem ser adotados imediatamente e ajudam a evitar problemas no futuro”, diz Anchises Moraes, especialista em cibersegurança do C6 Bank. Ele aponta seis medidas para aumentar a segurança dos dados e dá quatro dicas do que se deve fazer caso o celular caia em mãos erradas.

Previna-se

Não espere perder o aparelho para começar a pensar na segurança dele. Quanto mais bem protegidas suas informações estiverem hoje, melhor para você no futuro.

1) Faça backups constantes

Além da preocupação com segurança de informação, ter um celular roubado, furtado ou perdido também traz a questão de perder memórias importantes, como fotos e conversas. Garanta que seu smartphone faz backups periódicos no iCloud ou Google Drive. Você também pode ativar o backup de e-mails e aplicativos de mensagens, como o WhatsApp.

2) Não deixe suas senhas salvas

Apesar da praticidade, deixar sites, redes sociais e e-mails com preenchimento automático de senhas pode ser um problema quando o celular cai em mãos erradas. Para garantir a segurança de seus dados, é preferível digitar a senha toda vez que for entrar em um aplicativo. Também não é recomendável anotar senhas em blocos de notas, nem compartilhar com outras pessoas através de e-mails ou conversas de aplicativos de mensagens.

3) Use verificação em 2 etapas

Habilite esse recurso sempre que possível. Ele cria mais uma barreira de proteção para os dados, pois permite que as informações sejam acessadas apenas por quem tem acesso ao dispositivo (algo que você possui, mas pode perder) e conhecimento da senha (algo que só você sabe).

4) Faça uma limpeza nas suas fotos

Não armazene fotos de documentos no celular. Esses registros podem ter dados sensíveis (que muitas vezes são usados como senhas), como data de nascimento e nome dos pais, além de dados pessoais, como RG e CPF. Caso precise compartilhar esse tipo de arquivo, lembre-se de apagar depois.

5) Desabilite notificações na tela bloqueada

Caso o seu celular esteja bloqueado no momento do furto ou roubo, o criminoso pode ter acesso às suas conversas e notificações privadas na tela do celular. Além disso, ao permitir a visualização de SMS na tela bloqueada, fraudadores podem receber códigos de verificação para alterar sua senha em sites e redes sociais.

6) Deixe o serviço de geolocalização habilitado

Isso facilita a busca do seu aparelho, caso você não saiba onde ele está, ou bloqueio em casos de furto e roubo. Alguns aplicativos, como os de transporte, perguntam se você deseja habilitar a geolocalização. Mas, além disso, é importante se certificar de que a geolocalização do smartphone está sempre ativa.

E depois?

Mesmo que você tome todos os cuidados, seu aparelho ainda pode cair em mãos erradas. Há algumas medidas que podem ajudar contra prejuízos financeiros.

1) Notifique seu banco

Se você usa aplicativos de banco em seu smartphone, esse é o primeiro passo para proteger suas contas e evitar danos financeiros maiores. Entre em contato com as centrais de atendimentos das instituições financeiras que você usa para bloquear o uso da conta pelo aplicativo e as transações com cartões.

2) Apague os dados do aparelho

É possível apagar os dados do seu smartphone remotamente via iCloud ou Google. Isso impede que terceiros tenham acesso a redes sociais, e-mail, aplicativos de mensagens, senhas e fotos, além de apagar apps bancários, de e-commerce e delivery, impedindo que o criminoso faça fraudes. Não se preocupe, você consegue recuperar essas informações em um novo aparelho, basta deixar o backup em dia.

3) Avise operadora de celular e solicite o bloqueio da linha

Essa medida impede que criminosos usem seu aparelho para fazer ligações para contatos da sua agenda e usem seu plano de dados para acessar a internet e aplicativos. A operadora também pode bloquear o IMEI, o número de identificação do seu aparelho, impedindo que ele seja utilizado pelo criminoso.

4) Faça um B.O. para se proteger judicialmente

O boletim de ocorrência (B.O.) – que pode ser feito na delegacia mais próxima ou online, no site da Polícia Civil de cada estado – é fundamental para contestar ações de terceiros usando seus dados e serve para que a polícia possa investigar o delito.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/11/2021

ANTROPOCENO : PRINCIPAIS CONCEITOS.

Antropoceno: principais conceitos

vertigo

Vertigo, lithograph by French artist Antonin Malchiodi, 2018.

Sobre o Antropoceno, não basta apenas conhecer a palavra

Com o objetivo de entender os debates em curso sobre o Antropoceno, não basta apenas conhecer a palavra, criada pelo biólogo norte-americano Eugene F. Stoermer, em 1980, e popularizada pelo cientista atmosférico holandês Paul Crutzen no início dos anos 2000. Apresentamos aqui uma visão geral de alguns termos técnicos fundamentais.

Biocapacidade (capacidade biológica)

Este conceito foi inicialmente apresentado no início da década de 1990 pelo defensor da sustentabilidade, o suíço  Mathis Wackernagel(link is external), e pelo ecologista canadense William Rees(link is external). Sua pesquisa sobre a capacidade biológica do planeta, necessária para determinada atividade humana, levou ambos a definir dois indicadores: a biocapacidade e a pegada ecológica (ver abaixo). Desde 2003, esses dois indicadores são calculados e desenvolvidos pela Global Footprint Network(link is external), que define biocapacidade como “a capacidade dos ecossistemas de produzir materiais biológicos utilizados pelas pessoas e de absorver os resíduos gerados pelos seres humanos, nos atuais regimes de gestão e com as atuais tecnologias de extração”.

Capitaloceno

Esse termo foi apresentado pelo historiador ambiental e geógrafo histórico, o norte-americano Jason W. Moore(link is external), que preferia usar o termo Capitaloceno em vez de Antropoceno. Segundo ele, foi o capitalismo que criou a crise ecológica global que está nos levando a uma mudança de era geológica. Uma variante do Capitaloceno, a noção de Ocidentaloceno, declarada particularmente pelo historiador francês Christophe Bonneuil, afirma que a responsabilidade pela mudança climática recai sobre as nações ocidentais industrializadas, não sobre os países mais pobres.

Coevolução dos genes e da cultura

Segundo o sociobiologista norte-americano Edward O. Wilson(link is external), os genes tornaram possível o surgimento da mente e da cultura humanas (linguagem, parentesco, religião etc.) e, no sentido inverso, os traços culturais podem favorecer a evolução genética em contrapartida. Isso ocorre por meio da estabilização de determinados genes, que conferem uma vantagem seletiva aos membros do grupo em que o comportamento cultural é observado. Vários antropólogos e biólogos criticaram essa ideia de “coevolução” entre genes e cultura, argumentando que a transmissão de traços culturais é um fenômeno volátil que não obedece às leis da evolução darwiniana. Esses estudiosos também argumentam que, nos últimos 50 mil anos, a humanidade passou por transformações culturais significativas, enquanto o banco genético humano permaneceu inalterado – com apenas algumas exceções.

Pegada ecológica

De acordo com a Global Footprint Network(link is external), esta expressão é “uma medida de quanta área de terra biologicamente produtiva e quanta água um indivíduo, uma população ou uma atividade requer para produzir todos os recursos que consome e para absorver os resíduos que gera, utilizando a tecnologia e as práticas de gestão de recursos predominantes”.

Época geológica

A escala de tempo geológico é caracterizada por diferentes tipos de unidades, éons (períodos de tempo indefinidos, divididos em muitas eras), eras, períodos, épocas e idades (que dividem as épocas em partes menores). Para ser reconhecida como tal, cada subdivisão deve ter condições paleoambientais (características climáticas), paleontológicas (tipos de fósseis) e sedimentológicas (resultantes da erosão por seres vivos, solos, rochas, aluvião etc.), que sejam similares e homogêneas.. A Comissão Internacional sobre Estratigrafia (International Commission of Stratigraphy(link is external)) e a União Internacional de Ciências Geológicas (International Union of Geological Sciences – IUGS(link is external)) estabelecem os padrões globais para as escalas de tempo geológico. Atualmente, nós vivemos na época do Holoceno, que é associada à sedentarização humana e à agricultura. Se todas as condições acima forem atendidas, o Antropoceno poderá, em breve, ser definido como uma nova época geológica.

A grande aceleração

Os cientistas concordam que, desde a década de 1950, os ecossistemas foram modificados de forma mais rápida e profunda do que jamais ocorreu – sob os efeitos combinados do aumento sem precedentes do consumo em massa – em países pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD(link is external)), –, do expressivo aumento populacional, do crescimento econômico e da urbanização. O químico norte-americano Will Steffen denominou esse fenômeno de “a grande aceleração”.

A grande divergência

A expressão “grande divergência”, criada pelo historiador norte-americano Kenneth Pomeranz, designa a expansão industrial que separou a Europa da China desde o século XIX. Segundo Pomeranz, a distribuição geográfica desigual de recursos carboníferos e a conquista do Novo Mundo deram o impulso determinante para a economia europeia.

Planeta (como unidade de medida)

A pegada ecológica tem um “equivalente planetário”, ou o número de planetas necessários para sustentar as necessidades da humanidade em determinado momento. Com o objetivo de determinar a pegada ecológica de um país, medimos o número de planetas que seriam necessários pela população mundial se ela consumisse tanto quanto a população daquele país. De acordo com o World Wildlife Fund (WWF), “todos os anos, a humanidade consome o equivalente a 1,7 planeta para atender a suas necessidades”.

Sexta extinção

A “grande extinção” é a expressão dada a um breve evento em tempo geológico (vários milhões de anos) durante o qual pelo menos 75% das espécies de plantas e animais desaparecem da superfície terrestre e dos oceanos. Das cinco grandes extinções já registradas, a mais conhecida é a do Cretáceo-Terciário, há 66 milhões de anos, que incluiu a extinção dos dinossauros. O biólogo norte-americano Paul Ehrlich sugeriu que entramos agora na sexta grande extinção – embora, por enquanto, sua destruição em termos de números de espécies seja consideravelmente menor do que das outras cinco: 40% dos mamíferos do planeta terão visto a extensão de seus habitats serem reduzidos em 80% entre 1900 e 2015.

Esferas

Para o mineralogista e geólogo russo Vladimir Vernadsky, que em 1926 desenvolveu o conceito de biosfera, o Planeta Terra é constituído pelo entrelaçamento de cinco esferas distintas – a litosfera, camada externa de rocha rígida; a biosfera, constituída por todos os seres vivos; a atmosfera, o invólucro de gases conhecido como ar; a tecnosfera, que resulta das atividades humanas; e a noosfera, a parte da biosfera ocupada pelo pensamento humano, incluindo todos os pensamentos e ideias. Desde então, outros autores adicionaram a essa lista as noções de hidrosfera (toda a água presente no planeta) e a criosfera (gelo).

Tecnodiversidade

O termo biodiversidade se refere à diversidade de ecossistemas, espécies e genes, e a interação desses três níveis, em determinado ambiente. Por analogia, a tecnodiversidade se refere à diversidade de objetos tecnológicos e de materiais utilizados para fazê-los.

Tecnofósseis

Fósseis são os vestígios mineralizados de indivíduos que viveram no passado. Por analogia, os tecnofósseis são os vestígios de objetos tecnológicos.

Tecnosfera

A tecnosfera se refere à parte física do ambiente que é modificada pelas atividades humanas. É um sistema globalmente interligado, que abrange: seres humanos, animais domesticados, terras agrícolas, máquinas, cidades, fábricas, estradas e redes, aeroportos etc.

Ilustração:

Antonin Malchiodi(link is external)

Fonte: UNESCO

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/07/2020