Com a pompa de sempre, o governo lançou o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) para a safra 2013/14, rito nesta época do ano a tempo de se preparar o plantio das culturas de verão, inverno e safrinha. O calendário agrícola está mais para maio a abril do ano seguinte do que para o convencionado pelo papa Gregório XIII, em 1582.
Desta vez, o PAP foi além do eterno mais do mesmo, pero no mucho.
O volume de recursos para investimento, custeio e comercialização, cresceu 18%, para R$ 136 bilhões. Uma magnanimidade bem dosada, pois as autoridades econômicas sabem que parte desses recursos não é utilizada, perdida que fica nas teias burocráticas das instituições financeiras ou no bloqueio de passados inadimplentes.
De qualquer jeito, houve tempos piores, quando a correção era pequena ou nem mesmo existia. O Fundo Monetário Internacional não deixava e o “virem-se” da Fazenda era seguido de irônica pergunta à fazenda: “Quem mandou você trocar o trator e a caminhonete, não sabia que o preço da soja ia cair”?
De pouco adiantava responder que não. Assim reza a cartilha ortodoxa.
As melhores novidades no PAP estão nos recursos destinados aos investimentos públicos e privados para aumento da capacidade de armazenagem de grãos, na ampliação dos mecanismos para o seguro rural e na continuidade da concessão de crédito e programas de apoio à agricultura familiar.
Fazer crescer a renda nesse segmento da população rural ajudou na mobilidade de classes que ocorreu nos últimos dez anos.
Entre o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e outros programas menores, coordenados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, é intenção disponibilizar 39 bilhões reais às atividades agropecuárias que, segundo o IBGE, incluem 84% das unidades produtoras e 74% de nossa mão de obra rural.
De quebra, daí vêm cerca de 70% da produção de alimentos destinados ao consumo interno.
Nada disso, porém, será motivo para que os atentos e céticos leitores de CartaCapital, tomados de espírito ufanista, saiam por aí, qual Galvões Buenos, bradando: esse é o Agronegócio Brasileiro que queríamos ver!
Pelo menos, ainda não.
Existe uma fatal equação, de difícil resolução, que vira e mexe frequenta folhas e telas cotidianas e faz arquearem as sobrancelhas de William e Patrícia: como fazer os preços dos alimentos contentarem tanto os que produzem como os que consomem.
Simplificando: produz-se muito e gera oferta excedente o agricultor venderá sua colheita a preços que os deixarão quebrado fazendo vibrarem os consumidores e os monetaristas; no ano ou safra seguinte, descapitalizado, o produtor plantará menos, usará pouca tecnologia, a produção não atenderá a demanda e os preços subirão, fazendo vibrarem as concessionárias de veículos.
É a velha lei da oferta e procura, acrescida de intermediários, que no sistema capitalista não pode ser revogada, mas sim atenuada, no que nossa política agrícola é tímida em fazer.
Faltam-nos ações que permitam gerar estoques reguladores, garantia de preços mínimos de comercialização condizentes com os custos reais dos fatores de produção e leilões frequentes de compra pelo governo.
Mais do que o crédito farto, que diante de quedas expressivas nos preços fatalmente acaba em inadimplência e renegociação de dívidas, seria indicado que parte importante desses recursos fosse destinada à solução dessa equação.
Ô cara, por acaso, você tá falando em subsídio? Estou. Que sejamos tão desavergonhados quanto os países desenvolvidos e o façamos sem escondê-los todos nas taxas de juros cobradas para a agricultura.
Fonte : Revista Carta Capital
Fonte : Revista Carta Capital
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