Três ações que podem ‘mudar’ as mudanças climáticas globais
Publicado em dezembro 1, 2015
Caso não se adotem medidas, milhões de latino-americanos poderão cair na pobreza extrema em 2030
Para o mundo, pôr fim à pobreza extrema tem data de validade, e é o ano de 2030. Essa meta, porém, parece inatingível quando se analisam os efeitos das mudanças climáticas sobre as pessoas: desde doenças transmitidas pela água, que se intensificam durante as ondas de calor, ao fracasso das colheitas por causa de secas ou inundações e seu impacto nos preços dos alimentos ou os desastres naturais que obrigam muitos a se deslocarem para outras áreas.
De acordo com o relatório “Grandes Catástrofes: Como Enfrentar os Efeitos das Mudanças Climáticas na Pobreza”, do Banco Mundial, uma maior consciência sobre o clima poderia afastar da pobreza mais de 100 milhões de pessoas por volta do ano 2030. Mas, se não se agir logo, haverá quase três milhões de pobres a mais na América Latina e no Caribe na mesma data.
“O futuro não está escrito na pedra”, diz Stephane Hallegate, economista sênior do Banco Mundial, que dirigiu a equipe encarregada do relatório. “Temos uma janela de oportunidade para conseguir nossos objetivos de pobreza em face das mudanças climáticas, desde que tomemos decisões políticas sábias agora.”
O certo é que, em dezembro, 196 nações signatárias participarão em Paris da COP21, a esperada conferência sobre mudanças climáticas. Os países inscritos já estão apresentando suas propostas sobre quanto se comprometem a reduzir nas emissões de carbono.
Em conformidade com isso, o estudo afirma ser “necessário estabilizar as temperaturas mundiais em um nível seguro, o que significa que as emissões líquidas mundiais de carbono precisam ser reduzidas a zero antes de 2100”.
De concreto, o que os países podem fazer para evitar que as consequências das mudanças recaiam sobre os mais pobres? “Grandes catástrofes” aponta várias soluções. Aqui, as principais:
Agricultura inteligente
Os vaivéns do clima podem deixar sem trabalho muitos moradores de povoados. O setor da agricultura dá emprego a quase 20% da população da América Latina e do Caribe, e representa mais da quinta parte do PIB regional.
Sem poder produzir, muitas famílias rurais ficam sem alimentos para comer e, além disso, têm de sair para comprar comida a preços mais elevados. Sem precisar ir muito longe, há pouco mais de um ano a América Central enfrentou uma das secas mais duras da história: 40 dias sem chuva deixaram mais de dois milhões de pessoas com fome.
Diante desse cenário, o relatório destaca a importância de desenvolver práticas de cultivo e de pecuária com maior resistência ao clima. Embora não sejam muitos, na região há vários exemplos dessas iniciativas.
No Uruguai, um país de apenas três milhões de habitantes, que na atualidade produz alimentos para 28 milhões de pessoas, uma das chaves para chegar a esse marco tem a ver com as diversas formas de fomentar a adaptação às mudanças climáticas entre os produtores rurais.
Existe, por exemplo, um sistema totalmente informatizado que obriga os camponeses a apresentar um plano de rotação de culturas para manter a qualidade dos nutrientes e evitar a erosão. Mediante imagens de satélite, os especialistas do governo podem detectar os lugares com maior risco de erosão e contatar o produtor responsável para que ele explique por que não cumpriu seu plano de rotação de culturas.
No Brasil, por sua vez, agricultores de Italva, a 311 quilômetros do Rio de Janeiro, aplicam técnicas para reduzir (ou eliminar) a necessidade de pesticidas e fertilizantes artificiais, constroem caixas de contenção nas colinas para armazenas a água da chuva e instalam fossas sépticas para recolher as águas residuais provenientes das residências da região. Chamam a si mesmos de “fabricantes de água”.
Punição a poluidores
De acordo com o relatório, na maioria dos países os recursos que poderiam ser obtidos de um imposto sobre o carbono (ou da reforma dos subsídios para a energia) permitiria melhorar a assistência social ou outros investimentos que beneficiem os pobres.
Na Costa Rica, por exemplo, o mercado doméstico do carbono serve para que as empresas compensem as emissões de CO2 que não possam reduzir de suas operações, transferindo esse excedente para atividades de eficiência energética, reflorestamento e proteção de matas. Para os costa-riquenhos é também “uma maneira de transferir recursos para as regiões mais pobres do país”.
A proteção social também pode ser uma aliada para defender os pobres das inclemências do clima.
No México, por exemplo, os beneficiários do Prospera, o programa nacional de transferências de recursos, são menos propensos a retirar os filhos da escola quando enfrentam desastres climáticos. No Peru, a emissão de títulos de propriedade para mais de 1,2 milhão de habitantes do meio urbano estimulou mais investimento na infraestrutura de suas residências, o que reduz a vulnerabilidade delas no caso de ameaças naturais.
Proteção ‘concreta’
Se a temperatura média mundial continuar aumentando, a região será uma das mais afetadas pelos desastres naturais no mundo e, em poucos anos, como o que ocorreu com as grandes guerras do século 20, poderá haver migrações maciças de pessoas em todas as partes do mundo, expulsas de suas casas e comunidades em razão das mudanças climáticas.
Não se trata somente disso: os mais desprotegidos diante dos desastres naturais são os pobres. Quando o furacão Mitch golpeou Honduras em 1998, as pessoas em condições de pobreza perderam proporcionalmente três vezes mais ativos e receita que as demais.
Por isso, o relatório recomenda financiar infraestrutura mais robusta que beneficie, justamente, as pessoas mais pobres.
Informe do Banco Mundial, in EcoDebate, 01/12/2015
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