Mortalidade infantil pode ser até 23 vezes maior na periferia de São Paulo
ABr
O bairro de Perdizes, na zona oeste da capital paulista, registra 1,1 morte a cada mil nascidos vivos. Em Marsilac, distrito rural no extremo sul da cidade, o índice é cerca de 23 vezes maior: 24,6 crianças morrem antes de completar 1 ano em cada grupo de mil nascimentos. A comparação faz parte do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, divulgado ontem (12) pela Rede Nossa São Paulo.
“Essa questão da mortalidade demonstra como a nossa desigualdade é sistêmica, porque tem muito a ver com a questão de saúde, mas tem a ver com educação, com tipo de habitação, com mobilidade, com uma série de outros temas que a sociedade e a gestão pública têm que estar preocupadas”, afirma o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abraão.
O secretário executivo de Gestão de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, que representou a prefeitura durante a apresentação dos dados, disse que a vulnerabilidade é crítica em algumas partes da cidade. “Mortalidade infantil é um trabalho em que você vai por cada distrito”, disse Vargas, ao explicar a dificuldade em reduzir os índices. “Tem distritos que estão acima de 20 e que são uma vergonha. Um índice absurdo”, acrescentou o secretário, ao dimensionar o problema.
A média da mortalidade infantil na cidade ficou em 11 para cada mil nascidos vivos, sendo superior a 20 em dois distritos e a 15, em 10 regiões. Em 10 dos 96 distritos paulistanos, o índice era de até 5 mortes de crianças em menos de 1 ano para cada mil.
Antes de nascer
A pesquisa mostra que as desigualdades estão presentes antes mesmo do nascimento das crianças. O percentual de filhos de mães adolescentes varia mais de 53 vezes, entre Moema (0,35%), bairro nobre da zona sul, e Marsilac (18,85%). Também têm índices expressivos Parelheiros (16,53%), na zona sul, Cidade Tiradentes (16,42%), no extremo leste, e Brasilândia (14,29%), na zona norte. Em bairros nobres das zonas oeste e sul, os índices ficam abaixo de 1%: Perdizes (0,54%), Itaim Bibi (0,70%) e Jardim Paulista (0,74%).
Outros problemas são sequer registrados em algumas partes da cidade, como a violência sexual contra crianças de até 5 anos. Em 28 distritos, incluindo Alto de Pinheiros, Jardim Paulista, Butantã e Campo Belo, o índice desse tipo de agressão é zero, mas no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul, o percentual fica em 0,30%, seguido por Brasilândia, na zona norte, com 0,21%, e pelo Itaim Paulista, na zona leste, com 0,14%.
Em alguns itens avaliados, os bairros mais centrais aparecem com índices piores, como na quantidade de equipamentos públicos para a prática de esportes.
Em 10 distritos, incluindo o Alto de Pinheiros, a Vila Leopoldina, a República, a Bela Vista e o Jardim Paulista, não há registro desse tipo de espaço. No Pari, na zona norte, há 1,6 desses equipamentos para cada 10 mil habitantes, e no Jaguara, também na parte norte da cidade, 1,24.
Serviços públicos
O secretário Alexis Vargas informou que, para enfrentar os problemas, a prefeitura traçou um plano estratégico com foco nos distritos que têm os piores indicadores para a infância na cidade. “Temos que garantir vaga na creche, vacinação, atenção básica de saúde e visitação domiciliar para 80% das crianças em situação de vulnerabilidade nesses 10 distritos”, ressaltou Vargas.
Jorge Abraão, da Nossa São Paulo, destacou que garantir a qualidade dos serviços públicos é uma forma de reduzir as desigualdades na cidade. “Uma desigualdade você pode resolver efetivamente através de uma distribuição de renda, mas também com o acesso a serviços de qualidade. Então, vai ser uma combinação dessas questões que vai reduzir uma desigualdade vergonhosa como a gente em uma cidade como a nossa.”
Por Daniel Mello, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/02/2020
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