quinta-feira, 30 de outubro de 2014

MOVIMENTOS SOCIAIS APÓS AS ELEIÇÕES.

Movimentos sociais prometem intensificar cobranças sobre governo e Parlamento

Publicado em outubro 30, 2014 
movimentos sociais

Centro do debate nesses primeiros dias após a divulgação do resultado das eleições, a economia não será o único desafio a tirar o sossego dos governantes que assumirem em 1º de janeiro. Independentemente do apoio dado durante o pleito, organizações sociais prometem intensificar a vigilância e a pressão sobre a presidenta reeleita Dilma Rousseff, sobre governadores e parlamentares para ver atendidas suas reivindicações e impedir o que classificam de “retrocessos em direitos sociais”.
“Vemos os próximos anos como de muitos riscos para os direitos das mulheres e para tudo o que conquistamos com muita luta nos últimos 30 anos. Nossa expectativa é de resistência”, disse à Agência Brasil a diretora do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea), Guacira Oliveira. A preocupação do movimento femininista diz respeito não só à diminuição do número de mulheres eleitas para o Congresso Nacional e para chefiar os executivos estaduais, mas, principalmente, com a nova composição do Parlamento, classificado pelo Cfemea como uma legislatura mais “reacionária, conservadora, anti-igualitária e fundamentalista”.
“Esse sistema político, impermeável ao ingresso das mulheres, favorece os segmentos menos compromissados com a consolidação de um poder democrático, com participação paritária feminina”, defendeu Guacira. “Por isso, lutaremos pela reforma do sistema político, além de continuar cobrando nossas outras bandeiras: direitos sexuais ou reprodutivos, descriminalização do aborto, enfrentamento à violência contra as mulheres, regulamentação da lei do trabalho doméstico e das políticas públicos relativas à infraestrutura de cuidado, como creches e albergues para cuidados com idosos”, completou.
A preocupação também é mencionada por representantes indígenas e indigenistas. “O resultado das eleições nos deixou mais preocupados devido ao fortalecimento de setores econômicos contrários aos povos indígenas e seus direitos. A julgar pela nova composição [do Congresso], o indicativo é que, no Poder Legislativo e nos estados, o processo de ataque [aos povos indígenas] que caracterizou os últimos anos se aprofunde”, declarou o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cléber Buzatto.
Sobre a reeleição de Dilma, o dirigente do Cimi disse que espera novos posicionamentos. “Ainda alimentamos a esperança de que, em seu segundo mandato, a presidenta mude em relação aos temas que envolvem estrutura fundiária. Que retome o curso de reconhecimento e homologação das terras indígenas e quilombolas e a reforma agrária”, disse Cléber.
Desde o fim do regime militar, em 1985, o governo Dilma foi o que menos homologou terras indígenas, segundo o Cimi. “Esperamos que a presidenta tenha a sabedoria para perceber que não será alimentando os setores conservadores que conseguirá implementar mudanças estruturantes urgentes. Se as urnas mostraram algo foi que, por mais que o governo federal tenha agradado ao agronegócio, paralisando a demarcação de terras tradicionais e a reforma agrária e subsidiando a atividade, nos estados em que o agronegócio é forte [Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo] a presidenta perdeu as eleições”, disse Cléber, destacando a importância da reforma política. “Já no campo da economia, que tanto destaque tem recebido, buscar soluções exclusivamente no mercado financeiro e nos bancos nos parece uma sinalização negativa.”
Para o sociólogo e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzybowski, o resultado das urnas indica que a população reconhece importantes conquistas recentes, mas cobra mudanças. Em nota, Grzybowski avalia que, mesmo frustrados com o que consideram um modelo de desenvolvimento incapaz de promover reformas estruturais, setores organizados da sociedade civil se engajaram na disputa e ajudaram a consolidar a vitória de Dilma Rousseff.
“Mas a reeleição por uma pequena margem de 3,5% precisa ser vista como um pedido de mais e não simplesmente do mesmo […] Demandamos um reformismo mais consistente, mais transformador […] A cidadania militante, despertada neste segundo turno, quer as mudanças esperadas que ainda não aconteceram. Se o poder constituído saberá se sintonizar com a cidadania reivindicante é uma questão em aberto”, afirma Grzybowski.
Para o assessor de Políticas Públicas do Greenpeace, Pedro Telles, a sociedade precisa se mobilizar para garantir avanços em relação à preservação da qualidade ambiental. Segundo ele, o Greenpeace vai manter “a mesma postura crítica dos últimos quatro anos”. Em nota, a organização afirma que o país retrocedeu em termos de proteção à natureza, pois optou por priorizar os investimentos em combustíveis fósseis, em detrimento de fontes renováveis; anistiou quem destruiu o meio ambiente por meio da promulgação do novo Código Florestal; interrompeu o ciclo de redução do desmatamento da Amazônia e criou menos unidades de conservação que em governos anteriores. “Lógico que, nos próximos quatro anos, isso pode mudar e essa é nossa esperança. Mas o que vemos é um cenário muito semelhante e preocupante, no qual teremos que continuar lutando muito não só para que tenhamos avanços, mas para evitar retrocessos.”
Uma das coordenadoras da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Isolete Wichinieski também considera que, para os trabalhadores rurais e as comunidades tradicionais, é grande a ameaça de retrocessos legislativos. “No Congresso Nacional e nas assembleias estaduais foram eleitas pessoas muito conservadoras. Por isso, prevemos dificuldades para manter os direitos constitucionais já assegurados aos trabalhadores do campo e conquistarmos novos avanços. A regulamentação do conceito de trabalho escravo, por exemplo, vai se tornar ainda mais difícil. Os movimentos sociais poderão ser ainda mais criminalizados e reprimidos. O que amplia as chances de um acirramento dos embates. Até porque, para nós, a articulação política no Congresso ficará ainda mais difícil. Por isso, acreditamos que os próximos anos serão de muita e intensa luta.”
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) destaca a luta por uma Assembleia Constituinte exclusiva, pela reforma agrária, pelo assentamento de mais de 120 mil famílias de trabalhadores do campo que, hoje, vivem acampadas em condições precárias e pela democratização da mídia. “Apesar do atendimento às pautas dos movimentos sociais estarem aquém do esperado – e basta ver os números da reforma agrária dos últimos quatro anos – fomos fundamentais para garantir a vitória de Dilma. Agora, seguiremos somando forças e ocupando latifúndios por uma sociedade mais justa e igualitária. O grande desafio para os movimentos sociais é seguir lutando por reformas estruturantes”, disse Alexandre Conceição, um dos coordenadores do MST no site da entidade.
Por Alex Rodrigues, da Agência Brasil.
Publicado no Portal EcoDebate, 30/10/2014

FALTA DE ÁGUA EM SÃO PAULO.

‘Aliança pela Água’ propõe soluções para a crise hídrica em São Paulo

Publicado em outubro 30, 2014 
água

Foi lançada ontem (29), na capital paulista, a Aliança pela Água – associação formada por mais de 20 organizações não governamentais (ONGs) voltadas à defesa do meio ambiente, como Greenpeace, SOS Mata Atlântica, WWF-Brasil e Rede Nossa São Paulo. O objetivo é propor sugestões para resolver a falta de água no estado de São Paulo.
A iniciativa começou com um mapeamento feito de agosto a setembro, com a ajuda de 281 especialistas, que listaram propostas emergenciais e para os próximos dez anos. O levantamento envolveu 368 organizações, em 60 municípios atingidos pelo desabastecimento, resultando em 20 ações principais, de curto e longo prazos.
O relatório aponta, como iniciativas de curto prazo, a instalação de um comitê de gestão de crise e de salas de situação de crise, pelo governo estadual, com ampla participação das prefeituras e da sociedade. A transparência na gestão, que garanta acesso da população aos horários e dias com risco de falta de água também foi considerada. Outra medida é ampliar a divulgação de informações ao cidadão, além da promoção de campanhas públicas.
A Aliança pela Água defende ainda a aplicação de multas em casos de desperdício e uso abusivo de água. Outra proposta é que a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (Daee) façam uma moratória das outorgas a grandes consumidores de águas subterrâneas, como indústrias de celulose, bebidas e irrigação.
Entre os projetos de longo prazo, estão a criação de um novo modelo de gestão de água, a revisão dos contratos de concessão pelos municípios e um plano que efetivamente acabe com o desperdício de água na rede, tanto por vazamento quanto pelos desvios irregulares. Os governos estadual e municipal podem também implementar uma política de reúso da água e aproveitamento da chuva.
Outro ponto defendido pelas ONGs é a recuperação e proteção dos mananciais. Na capital paulista, a Represa Billins, que tem a mesma capacidade de reserva do Sistema Cantareira e fica a apenas 20 quilômetros da cidade, poderia se tornar manancial, mediante negociação com o setor elétrico, que a utiliza atualmente. A despoluição de rios urbanos, como o Tietê e o Pinheiros, na capital, também entra no projeto.
De acordo com a coordenadora do Instituto Socioambiental (ISA), Marussia Whately, a meta é São Paulo chegar a abril de 2015 em situação segura para enfrentar a próxima estiagem. Segundo ela, o Cantareira tem pela frente o grande desafio de recuperar-se do esgotamento, que deixou o sistema com volume útil negativo de 15,4%.
A coordenadora explica que um conjunto de fatores levou à atual crise hídrica, impulsionada pela má gestão da água. “Uma gestão baseada na noção de que fontes de água são inesgotáveis. Essa gestão tem vários equívocos”, destacou. Além disso, a estiagem, a degradação dos mananciais e de fontes de água, a falta de transparência e participação no processo foram fatores prejudicais. Segundo Marussia, as eleições para governador ajudaram, este ano, a adiar o debate sobre falta de água. “Por não trazer medidas menos populares, como as multas, ao debate”, esclarece.
Para Marussia, a meta é, até o final do ano, ter informações mais consistentes sobre as propostas para que um documento seja apresentado aos governos e órgãos responsáveis pela gestão de água no estado.
Por Fernanda Cruz, da Agência Brasil.
Publicado no Portal EcoDebate, 30/10/2014

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CÂMARA DERRUBA DECRETO DE CONSELHO POPULAR.

Câmara derruba decreto de conselho popular de Dilma

Apenas dois dias depois da vitória da presidente Dilma Rousseff, o PMDB da Câmara liderou uma nova rebelião da base aliada e, junto com a oposição, provocou a primeira derrota do Palácio do Planalto após a reeleição da petista. Apesar das manobras regimentais do PT para evitar a conclusão da votação em plenário, os deputados aprovaram o projeto que susta os efeitos de um decreto editado por Dilma que criou novas instâncias de participação popular. 

"Essa derrota é para mostrar que o discurso de diálogo não pode ficar na teoria", disse o deputado Lúcio Vieira Lima(PMDB-BA) em um recado direto à presidente reeleita. Em seu discurso da vitória, no último domingo, a petista defendeu o diálogo com todos os setores.
A reportagem é de Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-10-2014.
Editado no final de maio, o decreto de Dilma institui a Polícia Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação (SNPS). O texto, apesar de não criar novos conselhos populares, estabelece que órgãos e entidades da administração pública federal, direta e indireta, deverão ouvir instâncias de participação social para a formulação de políticas públicas. O mesmo vale para agências reguladoras.
Desde que foi publicada, a medida tem sido bombardeada pela oposição e por integrantes da própria base, que a acusam de ferir prerrogativas do Congresso Nacional e de ser "bolivarianista".
O líder do DEM, deputado Mendonça Filho, classificou a proposta da presidente de "autoritária" e disse que ela está "passando por cima do Parlamento". "Ele é (um decreto) espelhado na Venezuela de Hugo Chávez. É um projeto que verdadeiramente afronta o Legislativo", declarou.
O deputado Afonso Florence (PT-BA), por sua vez, rebateu as críticas da oposição e alegou que o texto editado por Dilma apenas "organiza um sistema de conselhos que já existe". "Não há uma linha que possa ser citada para dizer que este decreto subtrai prerrogativas do Legislativo", disse o petista.
Preocupados com a perspectiva de um revés pouco depois da reeleição de Dilma, o PT obstruiu a sessão e acusou a oposição de buscar um "terceiro turno" da sucessão presidencial. Entretanto, na primeira votação de um requerimento que visava retirar o projeto de Mendonça Filho da pauta, o PT, PCdoB e PSOL ficaram isolados. Além do PMDB, siglas da base como PSD, PR e PDT foram contra a orientação do Palácio do Planalto. Com sua aprovação, a proposta ainda precisará ser analisada pelo Senado.
Quebra de braço
O confronto entre governo e oposição em torno da suspensão do decreto da presidente Dilma vem se estendendo ao longo dos últimos meses. O baixo quórum registrado nos meses em virtude da campanha eleitoral inviabilizaram a aprovação de qualquer matéria na Câmara.
Mesmo com o impasse, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), bancou a votação e tomou a dianteira para que o processo fosse concluído ainda na noite desta terça-feira. Ele se elegeu deputado pela primeira vez em 1970 e concorreu neste ano ao governo do Rio Grande do Norte, mas foi vencido pelo vice-governador Robinson Faria (PSD).
O peemedebista credita sua derrota a um vídeo de apoio a seu adversário gravado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, Alves nega que esteja "retaliando" o Palácio do Planalto ao pautar um projeto que pode causar um revés ao Palácio do Planalto. De acordo com ele, o tema tem inviabilizado que as discussões na Casa avancem há pelo menos três meses. "É uma desinformação. Há três meses, no processo eleitoral, abria (a votação) no mesmo item. Como não havia entendimento, a sessão caia por falta de quórum e ficava por isso mesmo", disse Alves.
O peemedebista também anunciou querer votar nos próximos dias uma proposta de emenda à Constituição (PEC)que torna obrigatório o pagamento de emendas parlamentares individuais.
Chamada de PEC do Orçamento Impositivo, esse projeto é uma promessa de campanha de Henrique Alves, que quer vê-lo aprovado antes de deixar o Congresso. Integram a lista de "projetos-bomba" do peemedebista a proposta que concede aposentadoria integral para o servidor que se aposentar por invalidez, outra que recupera o número de salários mínimos a que tinha direito o aposentado na concessão do benefício, o aumento de repasses do Fundo de Participação dos Municípios e o adicional noturno para policiais e para bombeiros.

TAXA DE FECUNDIDADE E SUA ESTABILIZAÇÃO.

A estabilização da queda da fecundidade mundial, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Publicado em outubro 29, 2014
taxa de fecundidade total

[EcoDebate] A transição demográfica (TD) é um dos fenômenos sociais mais importantes de todos os tempos. Ela começa com a queda da taxa de mortalidade e, depois de um certo lapso de tempo, é seguida pela queda da taxa de natalidade. O tamanho da prole fica menor, mas aumenta o número de crianças sobreviventes, com um alongamento da esperança de vida. A TD leva necessariamente a uma transição da estrutura etária, com a redução da base da pirâmide, o crescimento do percentual de pessoas em idade economicamente ativa e, em um prazo mais longo, ao envelhecimento populacional.
As taxas de fecundidade (número médio de filhos por mulher) sempre foram altas na maior parte da história da humanidade, pois as famílias precisavam ter muitos filhos para se contrapor às altas taxas de mortalidade. No quinquênio 1950-55 a taxa de fecundidade da população mundial era de 4,97 filhos por mulher e subiu ligeiramente para 5,02 filhos por mulher no quinquênio 1960-65. Portanto, até meados da década de 1960 as taxas de fecundidade do mundo estavam acima de 5 filhos por mulher.
Mas a queda da taxa de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil, após o fim da Segunda Guerra Mundial abriu espaço para a mulher recorrer menos à gravidez para atingir o tamanho ideal de família, pois cresceu o percentual de filhos sobreviventes.
O fato é que a taxa de fecundidade total (TFT) começou a cair a partir de 1960, passando de 5,02 filhos por mulher em 1960-65, para 2,53 filhos no quinquênio 2005-10. Ou seja, em 50 anos a TFT caiu pela metade. A queda média neste período foi de meio (1/2) filho por década.
O destaque foram as décadas de 1960, 1970 e 1980 com uma queda conjunta de 2 filhos por mulher, pois a TFT mundial estava em 5,02 filhos no quinquênio 1960-65 e caiu para 3,04 filhos no quinquênio 1990-95. A maior redução aconteceu na década de 1970, com uma queda de 0,84 filhos, sendo que países como a China e o Brasil tiveram reduções expressivas.
Na década de 1990 a taxa de fecundidade continuou caindo, mas já apresentou uma desaceleração, pois a redução foi de 0,45 filho por mulher. Mas a maior desaceleração aconteceu na primeira década do século XXI, com uma queda de somente 0,09 filho, pois a TFT estava em 2,59 filhos por mulher no quinquênio 2000-05 e caiu para 2,5 filhos por mulher no quinquênio 2010-15.
A projeção média da Divisão de População da ONU indica que a redução na fecundidade média da população mundial vai continuar desacelerando ao longo do século XXI. Ou seja, em 50 anos a TFT caiu 2,5 filhos por mulher, mas as projeções indicam que deve cair apenas meio (0,5) filho por mulher nos próximos 90 anos.
No caso da hipótese média da ONU, que pressupõe a estabilização da TFT ao nível de reposição, o volume total de população mundial ficaria ao redor de 11 bilhões de habitantes em 2100. Se a TFT ficar meio (0,5) filho acima do nível de reposição a população mundial chegaria a quase 17 bilhões de habitantes em 2100. Mas se a TFT ficar meio (0,5) filho abaixo do nível de reposição a população mundial ficaria abaixo de 7 bilhões de habitantes em 2100.
Portanto, uma variação de apenas meio (0,5) filho por mulher pode fazer a população mundial variar em torno de 10 bilhões de habitantes nos próximos 90 anos, ou seja, entre 7 e 17 bilhões de indivíduos da raça humana, em 2100. O futuro está aberto.
Estudos mais recentes – utilizando técnicas estatística bayesianas – mostram que ao contrário do que sugeriam alguns cenários anteriores, a população mundial não deverá declinar a partir da segunda metade deste século. Com maior grau de certeza, o mais provável é que a população mundial fique realmente entre 10 e 12 bilhões de habitantes em 2100, sendo extremamente improvável – ceteris paribus – o declínio da população global na segunda metade do século XXI.

projeção da população mundial até 2100 
Demografia não é destino e o ser humano tem livre arbítrio e pode construir o futuro. A humanidade pode escolher o caminho do maior ou do menor crescimento demográfico, desde que haja respeito aos direitos sexuais e reprodutivos e a regulação da fecundidade seja uma escolha livre dos casais e das pessoas.
Qualquer que seja a decisão será preciso levar em consideração as condições ambientais do Planeta, a sobrevivência das demais espécies, a manutenção da biodiversidade e a saúde dos ecossistemas. A economia faz parte da ecologia e a humanidade faz parte da diversidade da vida na Terra. Na determinação do futuro é preciso considerar que o egoísmo deve ser substituído pelo altruísmo, para o bem da vida na Terra.
Referências:
ALVES, JED. O Decrescimento Demo-Econômico e a Sustentabilidade Ambiental. XI ENABER  –  XI Encontro Nacional Da Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos, Foz do Iguaçu, 02 a 04 de outubro de 2013
ALVES, JED. Novas projeções da população mundial até 2100. EcoDebate, Rio de Janeiro, 12/07/2013
ALVES, JED. Explosão, implosão ou divisão demográfica? EcoDebate, Rio de Janeiro, 25/09/2013
ALVES, JED. Projeções para a população mundial 2000-2300: o futuro está aberto. EcoDebate, Rio de Janeiro, 04/10/2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Publicado no Portal EcoDebate, 29/10/2014

DOCUMENTÁRIOS SOBRE ATUALIDADES : ENEM 2014.

InfoEnem



Posted: 24 Oct 2014 09:28 AM PDT
O Enem é um dos vestibulares mais interdisciplinares do Brasil. Por isso, assuntos da atualidade podem ser recorrentes em questões de vários cadernos, de humanas à biológicas, além da redação.
Confira então a lista de documentários que preparamos para você!

1) Junho – O Mês que Abalou o Brasil

Mostra a evolução das manifestações que começaram com a demanda de redução das tarifas do transporte públicos no Brasil em junho de 2013.

2) Promises

Retrata os conflitos do Oriente Médio pela visão de crianças palestinas e israelenses que vivem em Jerusalém.

3) Quebrando Tabu

Mostra como funciona o comércio e o tráfico ilegal de drogas. O assunto é bem atual graças à legalização da maconha no Uruguai e em alguns estados norte-americanos.

4) Ilha das flores

Mostra a questão do lixo nas grandes cidades e todos os transtornos causados pelo descarte inadequado de tanto material.

5) A história das coisas

Aborda temas como sustentabilidade e sociedade do consumo.

6) Verdade 12.528

Traz depoimentos dos parentes de mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar e explica como funciona e qual a importância da Comissão da Verdade.
Tem coisa melhor do que aprender enquanto descansa? Você também pode aproveitar para debater sobre esses assuntos com seus colegas e/ou escrever redações que envolvam essas temáticas. Desejamos boas reflexões!


Garanta a melhor Apostila de Redação para o Enem 2014!

    Artigo Original: 6 Documentários sobre Atualidades para o Enem 2014 Baixe gratuitamente o e-Book: Manual do Enem 2014

PRECONCEITO É CRIME.

Comentários preconceituosos contra nordestinos na web podem ser punidos, diz ONG

Publicado em outubro 28, 2014 
discurso de ódio

Assim que o resultado das eleições presidenciais foi divulgado, às 20h de domingo (26), os comentários sobre a participação dos votos do Nordeste na vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, começaram a surgir nas redes sociais. Segundo o diretor-presidente da organização não governamental (ONG) SaferNet Brasil, Thiago Tavares, as páginas na internet e nas redes sociais que têm violações aos direitos humanos serão investigadas e seus autores poderão ser punidos. Tavares explica que, assim como quem cria, quem compartilha um conteúdo de ódio e preconceito também pode ser responsabilizado criminalmente.
Tavares, que é professor de direito da informática da Universidade Católica de Salvador, disse ontem (27) que, desde domingo, a ONG recebeu 421 denúncias referentes a 305 novas páginas nas redes sociais, especialmente no Twitter e no Facebook, com o objetivo de promover o ódio e a discriminação contra a população de origem nordestina. “Lamentavelmente, tudo indica que hoje essas manifestações devem continuar crescendo e ao longo desta semana também”, disse o professor.
As denúncias feitas após a divulgação do resultado do segundo turno são 342,03% maiores em relação àquelas recebidas no dia 5 de outubro, do primeiro turno das eleições. E, segundo Tavares, 662,5% maiores em relação às no dia 26 de outubro de 2013, fora do contexto eleitoral. Tavares diz que as pessoas precisam valorizar a diversidade e respeitar os direitos humanos. “Mas, diante de uma campanha tão polarizada e tão radicalizada, é difícil muitas vezes conter o ímpeto de alguns usuários que resolvem descarregar nas redes sociais as suas frustrações e todo seu preconceito em relação à população nordestina”, disse.
Para Tavares, o mais preocupante é que existem usuários que não são tipicamente criminosos, mas compartilham mensagens de ódio que muitas vezes são postadas “por grupos de extrema direita, de orientação neonazista, inclusive, que se sentem legitimados, fortalecidos e encorajados em momentos como este e encontram nesses eleitores inconformados uma espécie de instrumento para propagar esse tipo de mensagem de ódio e desestabilizar o país”.
A ONG foi criada em 2005 com foco na defesa dos direitos humanos na internet e é operada em parceria com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. As denúncias podem ser feitas de forma anônima na página da SaferNet, apenas copiando o link da página que tem a violação. A Lei 7.716, de 1989, pune, com pena que pode chegar a cinco anos de reclusão, aquele que utiliza os meios de comunicação social, como a internet, para promover o ódio e a discriminação em razão da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Para o professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, Sadi Dal Rosso, algumas pessoas acusam os nordestinos de votar apenas por causa de algum benefício financeiro que recebam do governo, sem se preocupar com o projeto social como um todo. “O governo agora tem esse papel de dialogar, há um laço comum no país, até porque a Dilma [Rousseff] teve votos de Norte a Sul. Não há desunião no país, mas questões ideológicas que debatemos quando o ‘sangue sobe à cabeça’; ações concretas para elevar as condições de vida da população são importantes, políticas reais e afirmativas para diluir essas questões”, disse o sociólogo.
Para Dal Rosso seria problemático se surgissem movimentos de rua truculentos, como alguns que atuaram nas manifestações de junho de 2013, mas ele diz que já viu um usuário pedindo desculpas nas redes sociais por ter usado “expressões muito duras”, reconhecendo os exageros, o que, para ele, indica que o clima pode estar esfriando.
Segundo Thiago Tavares, da SaferNet, há dois exemplos emblemáticos de crime de ódio na internet. “Nas eleições de 2010, a estudante de direito da Universidade Mackenzie, Mayara Petruso, de 21 anos, declarou no Twitter, logo que saiu o resultado, que os usuários da rede deveriam fazer um favor a São Paulo e matar um nordestino afogado. Em razão dessa mensagem, ela foi condenada pela Justiça Federal, perdeu o estágio, teve que prestar serviço comunitário, pagar multa, o que gerou um transtorno para a vida dela”, contou.
O outro caso aconteceu nas eleições deste ano. Segundo Tavares, uma auditora do Trabalho da Bahia foi indiciada por usar as redes sociais para pregar a violência física e o ódio contra nordestinos. “Os casos estão começando a chegar ao Judiciário e ele tem se pronunciado no sentido de condenar as pessoas que tem usado a internet para essa finalidade”, completou.
** Para acessar a página da Safernet clique aqui
Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil.
Publicado no Portal EcoDebate, 28/10/2014

SISTEMA ALIMENTAR E OS SEUS MITOS.

Os mitos do sistema alimentar, artigo de Esther Vivas

Publicado em outubro 27, 2014 


opinião

Dizem-nos que o sistema agrícola e alimentar é o melhor dos possíveis. Um modelo altamente produtivo que permite dar de comer a todo o mundo, muito eficiente, que oferece uma grande variedade de alimentos, que facilita o trabalho aos agricultores e o melhor… que nunca antes tínhamos comido de uma maneira tão segura. É sério?
No entanto, quando analisamos em detalhe, e com números na mão, a cada uma destas afirmações vemos que são falsas. Quem as diz pensa que pelas repetir muitas vezes nós vamos engoli-las. A verdade é que o atual modelo de produção, distribuição e consumo de alimentos assenta numa série de mitos que são mentira.
Acabar com a fome
Um dos ‘mantras’ mais repetidos é que a agricultura industrial e intensiva, com a sua alta produtividade, pode acabar com a fome. De facto, na atualidade, segundo dados de Jean Ziegler que foi relator especial das Nações Unidas para o direito à alimentação, há comida no mundo para 12.000 milhões de pessoas, e no planeta somos 7.000 milhões. Não deveria haver ninguém sem comer. A realidade, porém, é bem diferente: um em cada oito habitantes no mundo, quase mil milhões, passa fome. Comida há, e muita, mas não acaba nos nossos estômagos… só no daqueles que se podem permitir a isso.
Mais comida não significa poder comer. Porquê? Os alimentos no sistema agroalimentar converteram-se numa mercadoria. A cadeia que une o campo à mesa está nas mãos de umas poucas empresas do agronegócio e dos supermercados que converteram o direito à alimentação num privilégio. Em consequência, ou tens dinheiro para pagar o preço cada dia mais caro da comida ou o acesso àquilo que dá de comer (terra, água, sementes) ou não comes. Não temos um problema de falta de produção ou superpopulação, mas de democracia, de acesso aos alimentos.
E quando nos falam de eficiência… que eficiência? A de um sistema que desperdiça anualmente, segundo dados da FAO, um terço da comida que produz para o consumo humano: um total de 1.300 milhões de toneladas. Alimentos para comer ou desperdiçar? Eis a questão. A agroindústria é o negócio da fome, assim como a banca é o negócio da pobreza.
Liberdade e variedade
Fazem questão de nos dizer que somos “livres” para escolher entre uma grande “variedade” de produtos. Os supermercados Caprabo dão-nos as boas-vindas, como “livre comprador”. No entanto, sob a ilusão da diversidade esconde-se a mais estrita uniformidade.
No campo, fornecem ao agricultor todo o tipo de sementes híbridas e transgênicas. No supermercado vendem-nos imensos alimentos. Mas nunca como agora tivemos tão pouca variedade de culturas. Em apenas um século, perdemos 75% da diversidade agrícola e alimentar, segundo dados da FAO. Alimentos que até há umas décadas eram inabituais, como a soja, atualmente tornaram-se onipresentes. Nas linhas da grande distribuição encontramos sempre as mesmas marcas. Liberdade? Variedade? Bem, pelo contrário.
De pobres camponeses a camponeses pobres
Uma agricultura que beneficia o camponês? Onde? A agricultura industrial está pensada por e para o agronegócio e em detrimento daqueles que sempre cuidaram e trabalharam a terra. Senão, como se explica que na Europa mais de mil explorações agrárias tenham que fechar em cada dia? Assim o diz a Coordenadora Europa da Via Camponesa. Ou, que no Estado espanhol unicamente 4,3% da população ativa se dedique à agricultura? A resposta é fácil: quando se trata de vender os alimentos, quem menos ganha é quem os produz.
A diferença entre o preço que se paga ao agricultor no campo e o que nós pagamos no supermercado continua a subir. Hoje, o custo do produto alimentar multiplica-se em média por 4,52 da origem até ao destino. A diferença percentual entre o que se paga ao produtor e o que é pago ao “supermercado” por alimentos como abóbora, repolho e berinjela é de 950%, 808% e 717% respectivamente, segundo o Índice de Preços na Origem e Destino. Passamos dos pobres camponeses aos camponeses pobres.
Segurança alimentar?
Afirmam que a comida nunca tinha sido tão segura. Mas então, como se explicam os escândalos alimentares que nos abanam dia sim dia sim? Desde as vacas loucas, passando pelo frango com dioxinas até aos produtos com carne de cavalo onde se supunha que só havia vaca. Não temos nem ideia do que colocamos nas nossas bocas.
Ao mesmo tempo, as doenças ligadas ao que comemos continuam a aumentar. As “doenças ocidentais”, como a obesidade, a diabetes, os problemas cardiovasculares e o cancro resultado de uma “dieta ocidental”, altamente processada, com muita carne, gordura e açúcar são, tristemente, a melhor prova. Somos o que comemos. As consequências de uma agricultura e de uma alimentação “viciada” em agrotóxicos, transgênicos e aditivos vários são claras.
Que o sistema agrícola e alimentar é o melhor dos possíveis? Por favor, não nos enfiem o capuz.
*Artigo publicado em Publico.es a 10 de outubro de 2014. Traduzido por Esquerda.net.
**Esther Vivas, Colaboradora Internacional do Portal EcoDebate, é ativista e pesquisadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares, autora de vários livros, entre os quais “Planeta Indignado”. Esther Vivas é licenciada em jornalismo e mestre em Sociologia. Seus principais campos de pesquisa passam por analisar as alternativas apresentadas por movimentos sociais (globalização, fóruns sociais, revolta), os impactos da agricultura industrial e as alternativas que surgem a partir da soberania alimentar e do consumo crítico.

Publicado no Portal EcoDebate, 27/10/2014

sábado, 25 de outubro de 2014

CINCO DESAFIOS ECONÔMICOS PARA O NOVO GOVERNO.

Cinco desafios econômicos do novo governo

Seja quem for o vencedor da votação deste domingo, dia 26, este terá de tomar decisões-chave sobre questões que afetam o seu bolso.
PT e PSDB podem divergir em muitos temas, mas a desaceleração do crescimento parece ter criado um certo consenso de que a economia está em uma encruzilhada.
A reportagem é de Ruth Costas, publicada por BBC Brasil, 23-10-2014.

Como os tucanos costumam enfatizar, a expectativa oficial é que o país cresça só 0,9% este ano e analistas do mercado são ainda mais pessimistas, estimando uma expansão de menos de 0,3%.

Por outro lado, como ressaltam os petistas, o desemprego tem se mantido em patamares historicamente baixos, o que tem evitado que a população seja duramente afetada - embora não esteja claro por quanto tempo esse cenário positivo no mercado de trabalho pode ser mantido sem uma retomada.

Economistas de diversas linhas teóricas concordam que impulsionar a economia depende tanto de uma agenda de curto prazo, que inclui o controle da inflação e ajuste das contas públicas, quanto de uma de longo prazo, ligada a reformas estruturais.

Confira abaixo os seis desafios que, na opinião deles, o novo governo deve enfrentar na área econômica:

1) Inflação

Boa parte dos brasileiros já sente o peso da alta de preços no bolso e caberá ao próximo governo evitar um descontrole nessa área.

Aécio Neves, do PSDB, diz que perseguirá uma meta de 3% de inflação e a presidente Dilma Rousseff, do PT, garante que será "duríssima" contra o problema.

Espera-se que a alta de preços deste ano fique próxima do teto da meta do Banco Central – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

Para muitos economistas, porém, a meta só será alcançada com o adiamento dos reajustes de preços administrados (definidos ou influenciados por órgãos públicos).

"Em 2015, será difícil evitar a recomposição de alguns desses preços, o que deve ser um desafio a mais no controle da inflação", diz o conselheiro senior e ex-vice presidente do Banco Mundial Otaviano Canuto.

Entre os que podem subir estão o preço da energia, as tarifas de ônibus e combustíveis.

Canuto explica que, em 2015, uma possível desvalorização do real também pode ter um impacto inflacionário adicional (em função da alta dos importados).

"Caberá a nova gestão achar uma solução para a questão da inflação, que até pode ser via política monetária. Mas, como os juros já estão relativamente elevados, o ideal seria que se tentasse uma política fiscal mais retraída", opina.

2) Investimentos

O consumo interno e o estímulo ao crédito estiveram entre os principais motores do crescimento brasileiro nos últimos anos.

Os investimentos, porém, não acompanharam essa expansão (e caíram do patamar de 20% para 17% do PIB), o que contribuiu para a freada.

Economistas veem diferentes razões para tal descompasso.

Alguns culpam a falta de reformas para amenizar problemas como a complexa burocracia do país, as deficiências de infraestrutura e gargalos de mão de obra – que inibiriam investimentos.

Outros criticam o governo por supostos erros de gestão que teriam atrasado projetos importantes (como o pré-sal) e afastado empresários de parcerias na área de infraestrutura.

Há certo consenso de que a falta de investimentos também estaria ligada a "expectativas negativas".

Para o governo, porém, esse "pessimismo" seria politicamente motivado e intensificado pela crise internacional. Já consultorias econômicas o atribuem a incertezas relacionadas à condução da política econômica.

Sem destravar os investimentos é difícil pensar que a economia possa voltar a crescer no patamar dos 4% da década passada.

"Por isso, impulsionar os investimentos privados na produção e em infraestrutura será um dos principais desafios do novo governo", diz o economista André Biancarelli, da Unicamp.

3) Contas públicas


Analistas calculam que as contas públicas fecharão 2014 com um "déficit nominal" superior a 4% do PIB – o pior resultado em mais de uma década.

O calculo de tal déficit contabiliza receitas e despesas do governo, além do pagamento dos juros da dívida pública.

O governo se comprometeu a poupar 1,9% do PIB para pagar esses juros, mas há dúvidas sobre se atingirá a meta.

Para Otto Nogami, do Insper, a expansão dos gastos e deterioração das contas públicas têm tido um impacto negativo na inflação, além de abalar a credibilidade do país frente a investidores.

Muitos economistas também vêm denunciando que, em uma tentativa de se aproximar da meta, o governo teria lançado mão de uma "contabilidade criativa" - manobras contábeis que fariam parecer que se estaria economizando recursos, quando isso não ocorreria.

"Para colocar as contas públicas em dia, o novo governo poderia adotar basicamente duas estratégias: aumento de impostos ou corte de gastos", explica Lourdes Sola, professora da USP especialista em economia política.

A primeira seria extremamente impopular. A segunda precisaria ser planejada com cautela - cortar em gastos sociais e investimentos, por exemplo, poderia ser um "tiro no pé".

"A questão das metas fiscais é uma discussão de curto prazo, mas não podemos perder de vista seu objetivo de longo prazo, que é tornar o Estado mais eficiente para investir no que interessa", diz Biancarelli.

4) Inclusão social

O aumento da renda dos trabalhadores, a formalização do trabalho e programas sociais ajudaram milhares de pessoas a cruzar a linha da pobreza nos últimos anos.

Mas se o país se mantiver com um nível de crescimento baixo, em algum momento o emprego pode ser afetado, colocando em risco esses ganhos.

A campanha do PT tem defendido que o partido seria o mais apto a impedir retrocessos - "protegendo o emprego" e investindo no social.

Já a campanha do PSDB acabou na defensiva, repetindo à exaustão que não pretende cortar gastos sociais ou fazer um ajuste drástico, ao custo de uma escalada do desemprego.

Nogami admite que de fato é possível que um ajuste, ainda que gradual, tenha algum efeito sobre o nível de emprego.

"A questão é que ele é inevitável e, ao adiar essas reformas, também podemos estar aumentando seus custos", opina.

"O grande desafio não é simplesmente crescer, mas sim crescer com estabilidade e emprego", resume Carlos Melo, cientista político do Insper.

5) Problemas estruturais

Há certo consenso de que, para garantir o crescimento da economia no médio e longo prazo, é preciso atacar os problemas estruturais que afetam a competitividade das empresas no país.

Entre eles estão a complexa burocracia e sistema tributário brasileiro e as deficiências de infraestrutura.

"Trata-se de uma agenda de médio e longo prazo, mas que precisa começar a ser colocada em prática o quanto antes", diz Canuto.

O objetivo seria ampliar o chamado PIB potencial do país, que leva em consideração a sua capacidade instalada para estimar quanto ele pode crescer sem que sejam criadas pressões inflacionárias (por falta de oferta).

"O próximo governo precisará fazer reformas estruturais para realmente mudar o ambiente de negócios no Brasil, porque só isso lançará as bases para um crescimento sustentado", diz Canuto.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos.

CERRADO E A HIDROGRAFIA

A complexa teia hídrica que brota do Cerrado está ameaçada. Entrevista especial com Altair Sales Barbosa

“A questão atual do desaparecimento dos pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a ponta de um ‘iceberg’ que tende a se tornar cada vez mais evidente”, adverte o antropólogo.
 Foto: tvbrasilcentral
O problema que gera as crises de abastecimento de água que afetam o estado de São Paulo “jamais será solucionado em sua totalidade”, alerta Altair Sales Barbosa, na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.
Segundo ele, a dificuldade de solucionar tais crises está relacionada a outros dois fenômenos: “o primeiro é a estiagem prolongada provocada por fatores que independem da ação humana, como el Niño, por exemplo. O segundo é a vazão dos rios alimentadores das represas, que não ostentam mais a quantidade de água de tempos atrás. A consequência: com a normalização da precipitação pluviométrica depois de certo tempo (uns quatro anos), os níveis das represas podem atingir a plenitude. Entretanto, com o advento de outra estiagem cíclica, a situação voltará a se repetir”.
Na entrevista a seguir, o pesquisador explica que o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de São Paulo, “é abastecido principalmente pelo rio Piracicaba, afluente do rio Doce, que aparentemente nada tem a ver com a bacia do Paraná”, que é formada e alimentada pelas águas do Cerrado. Entretanto, esclarece, “se penetrarmos além das aparências, iremos constatar que além das águas que fluem da Serra do Mar, as águas do aquífero Guarani são as responsáveis pela alimentação das nascentes da represa, basta ver a geotecnia das nascentes do rio Piracicaba, bacia do rio Doce, e suas relações com as nascentes do ribeirão Baguaçu, proveniente do aquífero Guarani e pertencente a Bacia do Paraná”. Isso significa, pontua, que o “Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde a aurora do Cenozoico até a parte central da América do Sul, também é conhecido como o ‘berço das águas’ ou a‘cumeeira’ do continente, porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul”.
Somente na abrangência do Cerrado, destaca, “encontram-se três grandes aquíferos responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios continentais. Um deles e o mais conhecido é o aquífero Guarani, associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas mais antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam a bacia hidrográfica do Paraná, além de alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. Os outros dois são os aquíferos Bambuí e Urucuia (...) Os aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e as sub-bacias hidrográficas do TocantinsAraguaia, além de outras situadas na abrangência do Cerrado”. Isso significa que, “representada por uma complexa teia, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul”.
Fundador do Memorial do CerradoGoiânia-GO, o antropólogo adverte que o Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas, e “já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade”. A vegetação nativa do bioma é responsável pela alimentação dos lençóis profundos, contudo, com a introdução da agricultura no Cerrado, parte da vegetação já foi extinta e impacta diretamente no funcionamento dos corpos hídricos. “No caso específico das plantas do cerrado, estas possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo. Estas plantas existiam até bem pouco tempo, nas áreas de recargas do aquífero Guarani, responsáveis pelas águas da bacia do Paraná. Com a introdução da monocultura, essas plantas foram substituídas por vegetais com raízes subsuperficiais que não sugam as águas como as plantas nativas. A consequência é que com o passar dos tempos as águas dos aquíferos vão diminuindo. Num primeiro momento ocorre o fenômeno denominado migração de nascentes das partes mais elevadas para as partes mais baixas. Num segundo momento os cursos d’águas menores iniciam um processo de desaparecimento e assim por diante, são veias menores que deixam de irrigar as maiores”, informa.
Se a atual situação do Cerrado não for alterada, o futuro será ainda mais catastrófico. De acordo com o diagnóstico de Barbosa, “o primeiro aquífero a ter suas reservas diminuídas será o Urucuia, até o quase total desaparecimento, seguido do aquífero Bambuí e do aquífero Guarani”. Posteriormente, frisa, “os fenômenos ocorridos nos chapadões centrais do Brasil, em função do desaparecimento do cerrado, afetarão, de forma direta, várias partes do continente” e a “floresta equatorial deixará de existir na sua configuração original, sendo paulatinamente substituída por uma vegetação rala do tipo caatinga, salpicada em alguns locais por espécies de plantas adaptadas a um ambiente mais seco”.
 Foto: tvbrasilcentral
Altair Sales Barbosa é graduado em Antropologia pela Universidade Católica de Chile e doutor em Arqueologia Pré-Histórica - Smithsonian Institution National Museum Of Natural History (1991). É professor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - O senhor está entre os pesquisadores que já afirmam a extinção do Cerrado. Quais fatores levaram a esse quadro? É possível revertê-lo?
Altair Sales Barbosa - Em primeiro lugar, o Cerrado dos Chapadões Centrais do Brasil se nos apresenta como um Sistema Biogeográfico, que envolve vários subsistemas. Esses subsistemas se diferenciam por solos, fisionomia vegetal, quantidade de água nos lençóis, comunidades animais, etc., e qualquer modificação nos elementos dos subsistemas provoca modificações nos Sistema como um todo.
Em segundo lugar, convém destacar que o Cerrado é uma das matrizes ambientais mais antigas da história recente doPlaneta Terra, que tem seu início no Cenozoico. Isto significa que este ambiente já chegou ao seu clímax evolutivo, ou seja, uma vez degradado, não se recupera jamais na plenitude de sua biodiversidade.
Em terceiro lugar, a maior parte das plantas do cerrado tem um desenvolvimento lento, algumas levam séculos para atingir a maior idade, fato que torna quase impossível um trabalho de recomposição vegetal. Sem mencionar que estas plantas estão condicionadas a um tipo de solo oligotrópico com balanço hídrico específico, fato hoje difícil de ser encontrado em equilíbrio no Cerrado.
Não se mede a degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta. Há de se considerar comunidades, tanto vegetais como animais, incluindo insetos polinizadores, água, etc., tudo isto já não existe no cerrado de forma contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área total.
IHU On-Line - Qual a função do Cerrado brasileiro enquanto elo para garantir o abastecimento da água tanto no Norte quanto no Sul do país? Ainda nesse sentido, qual é a conexão existente entre o Cerrado e os demais biomas brasileiros?
Altair Sales Barbosa - O Sistema Biogeográfico do Cerrado, que ocupa desde a aurora do Cenozoico até a parte central da América do Sul, também é conhecido como o “berço das águas” ou a “cumeeira” do continente, porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas da América do Sul.
Isso ocorre porque, na área de abrangência do Cerrado, encontram-se três grandes aquíferos responsáveis pela formação e alimentação dos grandes rios continentais. Um deles e o mais conhecido é o aquífero Guarani, associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas mais antigas. Esse aquífero é responsável pelas águas que alimentam a bacia hidrográfica do Paraná, além de alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. Os outros dois são os aquíferos Bambuí e Urucuia. O primeiro está associado às Formações geológicas do Grupo Bambuí, e o segundo está associado à Formação arenítica Urucuia, que em muitos locais está sobreposta à Formação Bambuí. Em certos pontos, há até um contato entre os dois aquíferos, apesar de existir entre ambos uma imensa diferença cronológica. Os aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras situadas na abrangência do Cerrado.
Esses três grandes aquíferos, armazenados nos lençóis artesianos, intercalam-se na parte central dos chapadões do continente sul-americano, formando lagoas conhecidas como águas emendadas, que tomam a direção norte, sul, leste e oeste do continente. Essa direção está condicionada à estrutura geomorfológica que caracteriza cada área, definindo e delimitando, dessa forma, as bacias e sub-bacias hidrográficas.
Dos planaltos do centro da América do Sul brotam águas responsáveis pela grande alimentação do rio Amazonas, pela sua margem direita. Das entranhas dos arenitos de idades Mesozoicas brota a grande maioria das águas da imponente bacia do Paraná, que verte para o sul do continente. Do alto da Serra da Canastra, juntando águas oriundas do arenito da Formação Urucuia e águas retidas nas galerias do calcário Bambuí de idade Proterozoica, correm em direção ao nordeste do Brasil as águas do São Francisco.

“No início do século XXI, encontra-se em suspenso o destino do Cerrado”

Bacias hidrográficas independentes
Além dessas imponentes bacias hidrográficas de dimensões continentais, no cerrado, ainda brotam águas que dão origem a bacias hidrográficas independentes de grande importância regional. Algumas são tão fenomenais que formam acidentes únicos. É o caso da bacia do Parnaíba, que nasce na Chapada das Mangabeiras, alimentada com águas oriundas do arenito Urucuia, situado no cerrado do Jalapão, estado do Tocantins. A bacia do rio Parnaíba, apesar de as dimensões serem bem menores que as anteriores, está associada a um grande transporte de sedimentos, que são distribuídos por vasta área do litoral norte do Brasil, formando dunas, lagoas, os lençóis maranhenses, os lençóis piauienses, estendendo até as dunas de Jericoacoara, no Ceará. No seu encontro com o oceano Atlântico, forma o Delta do Parnaíba, tão complexo e ao mesmo tempo impressionante que está entre os maiores do Planeta.
Outro exemplo importante refere-se à sub-bacia do rio Gurgeia, oriunda do cerrado piauiense, responsável pela irrigação de uma vasta área e pela formação dos poços jorrantes com águas que brotam com tanta pressão que, ao surgirem até a superfície, atingem vários metros de altura.
O Cerrado e os rios do Amazonas
Bacia Amazônica é considerada a maior rede hidrográfica do Planeta. Para descrevê-la, um observador, mesmo do espaço, é incapaz de avaliar sua complexidade em meio a ilhas, furos, paranás e igarapés.
A bacia hidrográfica do Amazonas tem sua gênese a partir de três importantes regimes: águas de origem glacial, provenientes dos Andes; águas de origem pluvial, que alimentam a bacia pela margem esquerda; e águas tanto de origem pluvial como de lençóis profundos, que a alimentam pela margem direita. Na realidade, são esses rios da margem direita que contribuem para os maiores volumes de água na alimentação do Amazonas e também são responsáveis pela sua regularidade e sua perenização, já que as águas pluviais e glaciares da sua margem esquerda e nascentes, apesar de volumosas, possuem regimes irregulares.
Tomando a orientação de leste para oeste, pode-se constatar quão extensos e volumosos são os afluentes da margem direita do rio Amazonas, que brotam no coração do cerrado e cujas vertentes, qual artérias interligadas, são bombeadas para irrigar e oxigenar o pai dos rios.
Tocantins ou Araguaia
As sub-bacias do Tocantins e Araguaia são tão complexas e extensas que não se tem certeza de qual dos dois chega primeiro ao Amazonas, ao sul de Marajó. Oficialmente é o Tocantins, mas é ele que deságua no Araguaia, e não o inverso. Porém a nomenclatura não é um fator relevante. O mais importante é a quantidade de água e sedimentos que esses rios levam até a foz do Amazonas, transformando-a num ecossistema extremamente complexo.
Tocantins, um rio de vários nomes
rio Tocantins bem poderia ser chamado de rio Uru, que nasce nos contrafortes da Serra Dourada e segue ao norte, ao passo que seus irmãos de nascentes tomam rumo oeste em direção ao Araguaia ou rumo sul em direção ao Paranaíba.
Entre as pedras, o Uru é Uruíta, mais abaixo dialoga com dona Ana e se formou Uruana. Depois de tanto se encorpar, tornou-se Uruaçú ou Uru-grande, nos vocábulos do Tupi. Ou o Tocantins seria o Rio das Almas, proveniente dos Pirineus, ou Maranhão ou ainda o Paranã, que vem do longínquo lugar onde as águas se emendam? O fato é que o rio Tocantins é todos eles e muito mais. Inúmeros afluentes caudalosos o alimentam pela margem direita e pela margem esquerda. Alguns da margem direita têm suas nascentes emendadas com águas que correm para a bacia doSão Francisco, como é o caso das águas provenientes do Jalapão e as águas do Paranã, oriundas do atual município de Formosa, em Goiás.
O mesmo fenômeno acontece em relação aos afluentes da margem esquerda, com aqueles da margem direita do Araguaia. São as reentrâncias do interflúvio formado pela Serra do Estrondo que os separam.
Rio Araguaia
rio Araguaia nasce em formações pertencentes à bacia geológica do Paraná, mas integra a bacia hidrográfica doAmazonas. Seu berço e seu curso superior são compostos por águas do Aquífero Guarani. No seu nascedouro, esse aquífero se encontra nas formações Baurú e Botucatu. No mesmo local nascem os rios Taquari, que corre no sentido oeste integrando a sub-bacia do rio Paraguai no Pantanal Mato-grossense, e o Aporé, que corre para sudeste, desaguando no Paranaíba, formador do Paraná.
Entretanto o Araguaia segue sereno para o norte, recebendo a todo instante portentosos afluentes tanto pela margem direita quanto pela esquerda. Alguns desses afluentes são tão extensos e complexos que delimitam, no tempo e no espaço, histórias próprias. Esse é o caso do rio das Mortes, cuja nascente brota das reentrâncias da Serra do Roncador, a pouca distância, onde ao sul nascem os rios do Pantanal Norte, sub-bacia do Paraguai. No seu curso intermediário, o Araguaia abraça a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Na realidade, trata-se de um grande território com rios próprios, lagos e uma diversidade biótica impressionante. Em meio a essa complexidade, segue o Araguaia, até encontrar-se com o Tocantins ou vice-versa, como já foi dito.
Bem próximo à nascente do Rio das Mortes, emergem também das reentrâncias da Serra do Roncador os grandes afluentes do Xingu. Aí também se situam as nascentes do caudaloso Teles Pires. Na borda oeste dessa Serra, surgem as águas do rio Arinos, que mais abaixo se une com as águas do Juruena, formado por uma complexa rede de nascentes oriundas da borda norte da chapada dos Parecis, toda coberta por cerrado. Teles Pires, Arinos e Juruena se juntam para formar o Tapajós, que deságua no Amazonas na cidade de Santarém.
Guaporé, Mamoré e Madeira têm suas nascentes situadas nos limites oeste do Cerrado, desde a depressão relativa do Pantanal Mato-Grossense até as águas provenientes das ilhas de cerrado situadas nos longínquos planaltos de Alta Lídia, Serra dos Pakaás-Novos. Daí, então, descambam águas do Jamarí que vão engrossar o já grandioso Ji-Paraná, que deságua no Madeira.

“O que se pode afirmar é que enquanto o desejo de explorar o Cerrado tiver raízes estrangeiras, a possibilidade de um programa racional de desenvolvimento será nula”

O Cerrado e a Bacia hidrográfica do São Francisco
rio São Francisco e toda sua bacia hidrográfica correm por inúmeras terras do território brasileiro. O São Francisco tem sua nascente situada em áreas de cerrado, na Serra da Canastra, estado de Minas Gerais. É alimentado especialmente pelas águas acumuladas no aquífero Urucuia e no aquífero Bambuí. Seu regime é marcado por diferenciações básicas. A grande totalidade dos afluentes da margem direita que recebe suas águas principalmente das chuvas sofre influência direta de climas semiáridos, conduzidos até o curso médio superior do grande vale, pelos eixos de expansão de semiaridez. Esses rios são classificados como rios temporários, que desaparecem na estação seca. Portanto, a perenização do São Francisco está na dependência direta dos seus afluentes que o alimentam pela margem esquerda.
Esses rios caudalosos e outrora cristalinos correm encaixados e paralelos na formação geológica Urucuia. A grande maioria provém dos contrafortes leste da Serra Geral ou Espigão Mestre, como é o caso dos rios Carinhanha, Pratudinho, Pratudão, Formoso, Arrojado, Correntina, do Meio, Guará, Santo Antonio, Corrente e Grande.
Outros que o alimentam na porção superior têm suas nascentes nas águas emendadas próximas ao Distrito Federal, como é o caso dos rios Preto e Urucuia. Este dá nome à formação geológica que abriga o aquífero Urucuia, responsável por quase 80% das águas que alimentam o São Francisco.
O rio Paracatu é o responsável pela junção das águas dos aquíferos Bambuí e Urucuia. E tem suas nascentes situadas numa mancha isolada da formação Urucuia. Ainda pela margem direita, o rio das Velhas contribui com o São Francisco, no seu curso superior, com águas oriundas, quase em sua totalidade, do aquífero Bambuí.
A última grande nascente ao norte se constitui no nascedouro do rio Preto, afluente do rio Grande. As nascentes do rio Preto estão em áreas aflorantes do arenito Urucuia, na região do Jalapão, um pouco ao sul da nascente do Parnaíba, com água quase emendada com o rio do Sono, afluente do Tocantins.
O Cerrado e as Águas do Paraná
Bacia hidrográfica do Paraná é outra formada e alimentada pelas águas do Cerrado. Apenas em sua porção inferior, após receber o rio Uruguai, esse fenômeno não é tão evidente.
As águas nascentes da bacia do Paraná se espalham como um leque a partir do coração do Cerrado, correndo em direção ao sul do continente. Das escarpas sul da Chapada dos Parecis e das escarpas oeste da Serra do Roncador fluem as águas formadoras da sub-bacia do Paraguai. O rio Paraná é formado pela junção dos rios Paranaíba e Grande. As águas iniciais do Paranaíba são originárias das águas emendadas que viajam desde o norte do Distrito Federal, e se juntam às que vertem da Serra das Divisões do Centro-Sul de Goiás, até as que vêm das bordas leste e sul da Serra do Caiapó. As águas do rio Grande se precipitam da borda oeste da Serra da Mantiqueira, numa área de Mata Atlântica, mas seu curso maior percorre de leste a oeste o estado de Minas Gerais, e são as águas do Cerrado mineiro que lhes dão corpo.
Assim, representada por uma complexa teia, as águas que brotam do Cerrado são as responsáveis pela alimentação e configuração das grandes bacias hidrográficas da América do Sul.
 Foto: gpsdoagronegocio.blogspot.com.br
IHU On-Line - O senhor associa a recente crise de abastecimento de água em São Paulo à condição ambiental do Cerrado?
Altair Sales Barbosa - Para entender este assunto, é necessário compreender que um aquífero possui sua área de descarga e de recarga. A área de recarga de um aquífero se situa nos chapadões ou em suas áreas mais planas. Quem exerce a função de alimentar os lençóis profundos é a vegetação, especialmente a vegetação nativa.
No caso específico das plantas do cerrado, estas possuem um sistema radicular extremamente profundo e complexo. Estas plantas existiam até bem pouco tempo, nas áreas de recargas do aquífero Guarani, responsáveis pelas águas da bacia do Paraná.
Com a introdução da monocultura, essas plantas foram substituídas por vegetais com raízes subsuperficiais que não sugam as águas como as plantas nativas. A consequência é que com o passar dos tempos as águas dos aquíferos vão diminuindo. Num primeiro momento ocorre o fenômeno denominado migração de nascentes das partes mais elevadas para as partes mais baixas. Num segundo momento os cursos d’águas menores iniciam um processo de desaparecimento e assim por diante, são veias menores que deixam de irrigar as maiores.
No caso específico das crises de abastecimento de água que afetam o Estado de São Paulo, por exemplo, o problema jamais será solucionado em sua totalidade. Isto porque a situação está intimamente ligada a dois problemas: o primeiro é a estiagem prolongada provocada por fatores que independem da ação humana, como el Niño, por exemplo. O segundo é a vazão dos rios alimentadores das represas, que não ostentam mais a quantidade de água de tempos atrás. Consequência: com a normalização da precipitação pluviométrica depois de certo tempo (uns quatro anos), os níveis das represas podem atingir a plenitude. Entretanto, com o advento de outra estiagem cíclica, a situação voltará a se repetir. O Sistema Cantareira é abastecido principalmente pelo rio Piracicaba, afluente do rio Doce, que aparentemente nada tem a ver com a bacia do Paraná. Entretanto, se penetrarmos além das aparências, iremos constatar que além das águas que fluem da Serra do Mar, as águas do aquífero Guarani são as responsáveis pela alimentação das nascentes da represa, basta ver a geotecnia das nascentes do rio Piracicaba, bacia do rio Doce, e suas relações com as nascentes do ribeirão Baguaçu, proveniente do aquífero Guarani e pertencente à Bacia do Paraná.
IHU On-Line - Qual é a atual situação dos rios que nascem no Cerrado? É possível constatar alguma mudança no fluxo da água deles ao longo dos últimos anos? O senhor mencionou recentemente que dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. É possível estimar quantos pequenos rios já desapareceram e o que isso significa num quadro geral acerca dos recursos hídricos do cerrado?
Altair Sales Barbosa - A partir de 1970, uma nova matriz territorial foi implantada na área do Cerrado. Essa matriz tem raízes e consequências predatórias. A partir desse momento foi só uma questão de tempo para que os problemas ambientais viessem a aparecer e se agravarem com o tempo.
A questão atual do desaparecimento dos pequenos cursos d’água, alimentadores dos maiores, é apenas a ponta de um “iceberg” que tende a se tornar cada vez mais evidente.
IHU On-Line - É possível avaliar qual a situação ambiental do Aquífero Guarani?
Altair Sales Barbosa - É muito difícil precisar esta situação em função da ausência de pesquisas. Entretanto, se projetarmos as consequências advindas da degradação, podemos afirmar que se não houver uma solução científica e tecnológica capaz de aumentar a recarga deste aquífero, num tempo muito mais curto que possamos imaginar, suas reservas desaparecerão quase que por completo. Veja o que já está acontecendo com o rio São Francisco, alimentado pelos aquíferos Urucuia e Bambuí, que estão passando pelo mesmo processo de degradação.
IHU On-Line - Com a crise de abastecimento em São Paulo, fala-se em possíveis riscos de desertificação, como de extermínio das reservas hídricas existentes no subsolo. Esse risco existe de fato? Em que proporção no atual momento? Se o Cerrado já está extinto, como reverter a crise hídrica? Por quais razões não se trata e não se menciona a importância do Cerrado nas discussões acerca da crise de abastecimento da água?
Altair Sales Barbosa - O potencial agrícola que o cerrado tem demonstrado o transformou em uma das últimas reservas da terra capazes de suportar, de modo imediato, a produção de cereais e a formação de pastagens. E o desenvolvimento das técnicas modernas de cultivo tem atraído, recentemente, grandes investimentos e criado modificações significativas do ponto de vista da infraestrutura de suporte. O fato da não existência de uma política global para agricultura tem provocado o êxodo rural e o crescimento desordenado dos núcleos urbanos. Todos esses fatores, no seu conjunto, têm provocado situações nocivas ao meio ambiente, com perspectivas preocupantes.
De todos os grandes Domínios Morfoclimáticos e Fitogeográficos Brasileiros, para usar a linguagem do Prof. Ab’Saber, ou Sistemas Biogeográficos, o Cerrado tem sido o que mais transformações vem sofrendo nos últimos anos. Porém, não só transformações das técnicas de produção, mas outras muito mais profundas, isto é, transformações culturais, que têm afetado o próprio modo de vida das populações, desestruturando os valores e, muitas vezes, provocando um vazio, não repondo algo que venha a preencher o espaço deixado pelos elementos que foram ou estão sendo subtraídos.
Os antigos núcleos urbanos, quase todos originados em torno de atividades mineradoras, principalmente os do início do século XVIII, veem-se de repente transformados em polos regionais de inovações e agenciadores de “mudanças radicais” nos sistemas de relações, com seus inúmeros serviços, quase todos voltados para atividades agroindustriais e com preocupações imediatistas.
A criação de Goiânia, posteriormente Brasília, juntamente com o desenvolvimento do sistema viário e o processo de modernização da agricultura, veio contribuir com certa radicalização nas modificações dos fatores até então estruturados, rompendo em estilhaços seus traços mais tradicionais.
Até bem pouco tempo, as áreas do Sistema Biogeográfico do Cerrado não eram muito valorizadas, nem procuradas para implantação de grandes atividades agropastoris. As suas partes mais intensamente ocupadas eram restritas ao Subsistema de Matas, ou seja, áreas florestadas que existem dentro do Sistema e que estão sempre associadas a solos de boa fertilidade natural. Por isso essas áreas, também denominadas de “terras de cultura”, foram as primeiras a receber o impacto de uma degradação maior. Ao seu lado, em escala menor, podem ser citadas as áreas que compõem o Subsistema Cerradão e as Matas-Galerias.

“Não se mede a degradação ambiental apenas pela ocorrência de uma ou outra planta. Há de se considerar comunidades, tanto vegetais como animais, incluindo insetos polinizadores, água, etc., tudo isto já não existe no cerrado de forma contínua. O que há são fragmentos que não representam 10% da área total”

As demais áreas, que constituem as maiores superfícies do Sistema, como os Subsistemas do Cerrado, do Campo, dasVeredas e Ambientes Alagadiços, em virtude das características dos seus solos, não favorecem de imediato uma ocupação intensiva, não tiveram tanto impacto no início maciço da ocupação humana. Essas áreas, outrora ocupadas pelo criatório extensivo, tinham como suporte uma pastagem nativa, cujo teor alimentício estava condicionado à sazonalidade climática, fato que obrigava os rebanhos a migrações longas. E durante a estação seca eram conduzidos para as “veredas”, onde a umidade mantinha o capim verdejante, mesmo no auge da seca. Entretanto, essas áreas de veredas não ocupam grande extensão e, na época da estação chuvosa, em função de muitos fatores, não é propícia a sua ocupação por rebanhos. Nessa época chuvosa, o rebanho pode ser transportado para as áreas mais elevadas (campos e cerrado). Esse fator das migrações sazonárias é responsável por um sistema pastoril que exige grandes extensões de terras, que poderiam ser compradas, arrendadas ou simplesmente ocupadas na forma de posse ou “fechos”.
A utilização do calcário para a correção da acidez do solo e do adubo para aumento da sua fertilidade, a introdução do arado e de sistemas mecânicos de desmatamento e a facilidade de irrigação transformaram essas áreas, anteriormente impróprias para atividades agrícolas, em terras produtivas. Outrossim, a substituição das pastagens nativas por espécies estrangeiras modificou radicalmente o quadro pastoril.
Os impactos causados sobre o ambiente por esse novo modelo de ocupação são visíveis e podem ser caracterizados pelos itens seguintes:
  • empobrecimento genético;
  • empobrecimento dos ecossistemas;
  • destruição da vegetação nativa;
  • propagação de ervas exóticas;
  • extinção da fauna nativa;
  • diminuição e poluição dos mananciais hídricos;
  • compactação e erosão dos solos;
  • contaminação química das águas e da biota;
  • proliferação de doenças desconhecidas, etc.
Exploração do cerrado
Esses fatores em conjunto geram inúmeros outros que, por sua vez, funcionam como agentes de atração populacional e de modificações significativas do ambiente. Como exemplo, podemos citar a demanda de energia que exige a formação de grandes reservatórios e usinas geradoras que criam inúmeras frentes de trabalho, diretas e indiretas, acarretando entropias de grande alcance natural e social.
Assim é que, no início do século XXI, encontra-se em suspenso o destino do Cerrado. Se as próximas décadas trarão sua ruína ou salvação, ainda não se pode dizer. Embora sejam grandes as lacunas no nosso conhecimento, dispomos de informações suficientes para impedirmos que ocorra uma degradação irreversível.
O que se pode afirmar é que enquanto o desejo de explorar o Cerrado tiver raízes estrangeiras, a possibilidade de um programa racional de desenvolvimento será nula.
O cerrado está incluído no Planejamento Político Brasileiro como região de expansão da fronteira agrícola, orientada por práticas predatórias, causando um cenário estarrecedor.
A retirada total da cobertura vegetal afetará, de forma decisiva, a já reduzida recarga dos aquíferos, cujas reservas chegarão a um nível crítico, pois as águas pluviais que conseguirem penetrar através do solo serão de imediato absorvidas por estes, dado seus estados de aridez em função da insolação. A pouca umidade retida se evaporará de forma rápida pelas mesmas causas. No início, os problemas oriundos dessa situação tentarão ser contornados com a construção de barramentos, através de curvas de níveis e pequenos açudes, para reter as águas das chuvas. Entretanto, os ambientes que surgem desse processo têm caráter bêntico, fato que origina a argilicificação e a consequente impermeabilização do fundo dos poços, que, associada à forte insolação, resultará numa ação de nula eficácia.
 Foto: cmbbc.cpac.embrapa.br
Aquíferos
O primeiro aquífero a ter suas reservas diminuídas será o Urucuia, até o quase total desaparecimento, seguido do aquífero Bambuí e do aquífero Guarani.
Com o desaparecimento do lençol freático, seguido da diminuição drástica da reserva dos aquíferos, os rios iniciarão um processo de diminuição da perenidade, oscilando sempre para menos, entre uma estação chuvosa e outra, e desaparecendo quase por completo na estação seca. Esse fato afetará primeiro os pequenos cursos d’água, depois os de médio porte e, em seguida, os grandes rios.
Os fenômenos ocorridos nos chapadões centrais do Brasil, em função do desaparecimento do cerrado, afetarão, de forma direta, várias partes do continente.
A parte sul da calha do rio Amazonas, representada pelos baixos chapadões, terá uma rede de drenagem insignificante no que diz respeito ao volume d’água, uma vez que os grandes afluentes da margem direita, que têm suas nascentes e seus alimentadores situados no cerrado, deixarão de existir ou terão seus volumes diminuídos de forma significativa nos cursos superiores e médios. Os grandes afluentes do rio Amazonas, pela sua margem direita, serão alimentados apenas nos seus cursos inferiores, fato que reduzirá em mais de 80% suas vazões.
A floresta equatorial deixará de existir na sua configuração original, sendo paulatinamente substituída por uma vegetação rala do tipo caatinga, salpicada em alguns locais por espécies de plantas adaptadas a um ambiente mais seco.
O vale do Parnaíba, englobando a bacia geológica Parnaíba-Maranhão, será invadido na direção sul/norte por dunas arenosas secas provenientes da Formação Urucuia, existentes no Jalapão e na Chapada das Mangabeiras. E, na direção norte/sul, será invadido por sedimentos arenosos litorâneos que caracterizam os Lençóis Maranhenses ePiauienses, que, em virtude de condições favoráveis, terão facilidade de transporte eólico em direção ao interior. Os atuais poços jorrantes do vale do Gurgueia deixarão de ser fluentes.
Com o desaparecimento dos principais afluentes do rio São Francisco, pela sua margem esquerda, que cortam o arenito Urucuia, a ausência de alimentação constante e o assoreamento contribuirão para o desaparecimento do grande rio, nos seus aspectos originais. Permanecerão algumas lagoas e cacimbas, onde o terreno tiver característica argilosa, ou outra rocha impermeabilizante originária da metamorfose do calcário Bambuí.
Caatinga, que já caracteriza parte do curso inferior do rio São Francisco, avançará um pouco mais em direção ao norte, transicionando paulatinamente para a formação de uma grande área desértica que certamente abrangerá o centro, o oeste, o sul da Bahia e norte e centro de Minas Gerais.
A região da Serra da Canastra permanecerá com alguns elementos originais, como uma espécie de enclave geoecológico, com clima subúmido.
Nas áreas correspondentes aos formadores e às bordas da Bacia Hidrográfica do Paraná, as desintegrações intensas dos arenitos Botucatu e Bauru – que já formaram na região, durante os períodos Triássico e Cretáceo, grandes desertos, acordarão de um sono profundo, expandindo seus grãos de areia em várias direções, provocando erosões colossais, assoreamento e acúmulos de sedimentos na configuração de dunas. Do curso médio da Bacia do Paraná até a parte superior de seus afluentes, haverá muitas áreas desérticas separadas por formações rochosas ostentando vegetação de características áridas e semiáridas.
A sub-bacia do rio Paraguai, alimentada pelo aquífero Guarani, sofrerá as mesmas consequências das demais regiões hidrográficas do Cerrado, transformando o atual Pantanal Mato-Grossense numa área de desertos arenosos, tal como já ocorreu na região durante o Pleistoceno Superior, onde ali existia o deserto do Grande Pantanal.
Logo após o desaparecimento por completo das comunidades vegetais nativas, a agroindústria terá seus dias de grande apogeu em termos de produtividade.
Grave processo de modificação
Os núcleos urbanos criados ou dinamizados como suportes dessas atividades atingirão também seu apogeu em termos de aumento demográfico e em termos de ofertas e oportunidades de serviços de natureza diversa.
Passado certo tempo, contado em alguns poucos anos, essa realidade experimentará um grave processo de modificação. A produtividade agrícola começará a diminuir assustadoramente, causando ondas de demissões nas empresas estabelecidas. Isso acontecerá porque a água dos lençóis subterrâneos não será mais suficiente para sustentar a produção no sistema de rotatividade de antes. Não haverá água para fazer funcionarem os pivôs centrais. A atividade agrícola sobrevivente se restringirá à época da estação chuvosa, que já se manifestará com instabilidades sazonais.
Os solos, outrora preparados intensivamente para os cultivos, serão ocupados em pequenas parcelas, deixando exposta uma grande superfície desnudada. Da mesma forma as pastagens que sustentavam a pecuária serão afetadas, provocando a redução paulatina dos rebanhos.
Essa situação começará a refletir de forma visível nos polos urbanos. Haverá racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos rios, que, por sua vez, provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamento de energia elétrica também será imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os serviços, antes fartos e variados, afundarão numa crise sem precedentes.

“O cerrado está incluído no Planejamento Político Brasileiro como região de expansão da fronteira agrícola, orientada por práticas predatórias, causando um cenário estarrecedor”

Isso provocará o aumento de pessoas ociosas e vadias nas cidades, situação que criará enormes embaraços sociais desagradáveis. Haverá a intensificação da criminalidade de todas as espécies, desde pequenos furtos, saques, assaltos e assassinatos. A prostituição se generalizará, trazendo consequências consideráveis para a saúde pública, que se apresenta cada vez mais decadente. Os serviços públicos, incluindo a educação, por falta de arrecadação e manutenção, começarão a beirar o caos.
Depois de certo tempo a ausência de água nos rios criará uma paisagem desoladora. Áreas outrora ocupadas pelas lavouras serão caracterizadas por formas vegetacionais rasteiras e exóticas, típicas de formações desérticas, com um ciclo vegetativo muito curto.
Grande parte dos campos agrícolas abandonados, sem a cobertura vegetal necessária para fixar o solo, passará, durante algumas épocas do ano, a ser assolada por ventos e tempestades fortes, que criarão uma atmosfera escura carregada de grãos finos de poeira em extensões quilométricas.
Os polos urbanos serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarmantes de mortalidade. A maioria da população sucumbirá diante da miséria crescente.
Fonte : Instituto Humanitas Unisinos
(Patricia Fachin)